quinta-feira, novembro 17, 2016

FESTIVAL LADO BA TESTA FORMATO QUE UNE MÚSICA E NEGÓCIOS

Com 21 shows – 17 deles gratuitos –, conferências e rodadas de negócios, o Festival Lado BA reafirma o novo momento da música independente na Bahia

Júlio Caldas: amanhã, com Okwei Odili na Arena Sesc. Foto Pedro Deliege
É cada vez mais claro: só ouve mais do mesmo quem quer. A música independente na Bahia – seja MPB moderna, rock, afrobeat, eletrônica etc – está na ordem do dia, ganhando o público que abriu mão de ouvir a tosqueira de sempre das rádios comerciais.

A volta do Festival Lado BA - Música e Processos Colaborativos é apenas mais um sintoma disso.

Realizado em 2010, 2011 e 2012, o festival volta a cartaz graças ao Prêmio Funarte de Programação Continuada de Música Popular 2015, mais apoios da Skol e Secretaria da Cultura do governo estadual.

Na programação, além de 21 shows (17 gratuitos) de artistas locais, nacionais e internacionais, conferências com produtores e músicos, além de rodadas de negócios com direito à speed meetings e acesso exclusivo ao diretório on-line de compradores.

O formato unindo shows e ações de mercado não é novo – WOMEX, MIDEM e SXSW já ocorrem há alguns anos na Europa e Estados Unidos, com grande sucesso.

O responsável por traze-lo à Bahia é o produtor e músico Vince de Mira, sócio da casa Commons.

“Este formato de convenções ou Panoramas de música e mercado vem acontecendo já há algum tempo. Tem o WOMEX, que acontece de forma itinerante na Europa, MIDEM (França), Circularte (Colombia), FIMPRO (México), SXSW (USA) e até mesmo a SIM e o Porto Musical aqui no Brasil. São eventos que prestam serviço de construção de network para produtoras, selos e artistas que precisam ampliar o raio de ação de seus projetos”, diz.

A paulista Iara Rennó: sábado, com Márcia Castro. Ft Chris Vonameln
As rodadas de negócios prometem ser uma mão na roda, garante Vince: “Pense quanto uma produtora baiana economiza, podendo participar de uma rodada de negócios com compradores internacionais e nacionais aqui em Salvador. Isso já seria um ponto. Já pensou em quanto se investe nisso? Com passagem, hospedagem fora do país, ou até mesmo em São Paulo, ou em Pernambuco?”.

“Para os artistas que se apresentam, é um trunfo. Além de poder participar das reuniões e sensibilizar o comprador, ele pode  convida-lo para os shows. Eu mesmo estive na FIMPRO (México). Saí de lá com três shows fechados pro ÀTTØØXXÁ no México”, diz.

Curador do festival, ele conta que "Eu trabalho em torno da diversidade. Se você for ver as atrações, verá artistas que já tem uma estrada maior como outros, que são chamados de emergentes. Na programação dos largos do Pelourinho você vai poder ouvir Cumbia, MPB contemporânea, rap, reggae e por aí vai. Agora, o processo curatorial também não abre mão de recortes de parcerias para conseguir realizar os 21 shows. A parceria com o Bolsa Estúdio Skol, por exemplo. Eles selecionaram, através de uma curadoria interna, 20 artistas pra gravarem seus fonogramas em estúdio. Destes 20 artistas, eles sustentaram cinco, que foram escolhidos por mim para se apresentar no festival. A parceria com o programa Latino América 360 (México) e a KLI Records (Chile), eu fiz quando estive presente na Feira Internacional da Música de Guadalajara. Eles já tinham seus arranjos de apoio com os seus respectivos países para passagem. Isso ajuda e eu preciso levar isso em consideração. Assim, pude trazer as bandas Sonido Satanás (México) e a Maria Colores (Chile). Da mesma forma acontece com os artistas de Minas Gerais que estão no festival. Eles estão organizados, buscando parcerias locais para poder atuar em outros estados e países. É preciso pegar estes atalhos, respeitando a linha curatorial que o Lado BA pretende apresentar, para poder realizar o evento com  maior impacto", explana.

Do México, a banda Sonido Satanas
Atuando na linha de frente dessa nova cena de música popular na Bahia, Vince faz uma reflexão sobre essa nova geração de artistas.

"Eu não sei exatamente o que os une, ou se estão unidos em termos de ideais, enfim… Acho que é uma geração que faz música e produz música, ao mesmo tempo. Uma geração com um hiper acesso aos meios de produção e difusão. Que buscam se comunicar de forma mais independente. Se estrutura de baixo para cima, através de nichos. Hoje, você consegue ter shows de segmentos ditos como independentes em casas diferentes, e estes shows não concorrem entre si. Eu vejo também uma unidade de narrativa. Esta unidade não quer dizer que eles queiram falar das mesmas coisas, mas sim, que buscam se comunicar de dentro para fora, naturalmente, inseridos em um contexto. Não vejo estes artistas que eu tenho experiência em trabalhar querendo ser subproduto de nada", afirma.

Com o sucesso de bandas como Baiana System, Scambo e IFÁ Afrobeat, caiu por terra o velho argumento – mal-intencionado, quase sempre – de que aqui “não há público” para artistas alternativos.

“Eu acho que você está certo. Caiu por terra. Para mim,  ser auto-sustentável é uma meta. Eu não posso te dizer o que falta, porque eu não tenho esta fórmula. Eu acredito que os formatos de se estruturar no mercado te ajuda a estar preparado para quando existir uma oportunidade mas antes de tudo a música precisa bater onda no público”, diz.

“Para você viver de palco, é necessário que a música bata, emocione o público. Olhe como as pessoas ficam no show do Baiana System. Não é à toa que colocam quase 2 mil pessoas a R$ 50 (o ingresso). Esta é uma receita considerável. Olhe como as pessoas ficam no show da Scambo. Não é à toa que  arrecadaram mais de R$ 60 mil para gravar o disco deles. Agora, não dá para se desesperar caso você não consiga isso. Viver de música não é só viver de palco”, afirma.

Prince Addamo. Amanhã, com Toco Y Me Voy, no Largo Quincas
Atento ao complicado momento político-econômico do país, Vince acredita que a Bahia ainda está em melhor situação quue muitos outros lugares.

"É. Tá complicado. As vezes tenho a impressão que a gente tá voltando para os anos noventa, mas mesmo naquela época, a gente fazia, claro que em condições precárias. Hoje, com uma habilidade maior, com certeza conseguiremos fazer melhor do que naquela época. Dentro do espectro pessimista, podemos dizer que a Bahia está um paraíso. Existe ainda uma política de fomento a cultura no Estado que, por mais que atrase os recursos, eles ainda acontecem. Além disso, Salvador, finalmente, terá uma lei de incentivo a cultura. Eu vejo com bons olhos os espaços permanentes. Nós aqui na Bahia temos uma quantidade de espaços permanentes para a música e cultura que precisa ser considerado. Tanto os públicos, como os privados. O ideal é que a gente se conheça melhor. Cada vez mais. Produtores, donos de espaços e artistas. Precisamos entender a lógica um do outro para poder superar as dificuldades e propor trocas mais justas", conclui.

Vulcanidades de Lívia

Lívia Nery abre hoje o festival, seguida de Enio. Foto Davi Caires
Responsável por abrir o festival hoje, na Arena Sesc Pelourinho, Livia Nery é exemplo desta nova atitude dos artistas locais.

Sua música, apesar de dialogar com tradições locais, não tem nada de comercial. Ainda assim, ela tem circulado pelo Brasil e acaba de voltar da Argentina.

“Tenho tocado fora, em casas de pequeno porte, com shows bem intimistas. Tem sido muito boa a recepção do público, as pessoas tem ficado  atentas e colado comigo na viagem do show”, afirma.

“Em Buenos Aires, recebi convite para tocar de novo, já num espaço maior, então tem sido ótimo firmar e ampliar a rede de circulação”, conta.

No palco, Livia oferecerá ao público um pocket do seu show Vulcanidades: “O show que vou fazer no Lado BA é o experimento solo do Vulcanidades, que comecei fazendo em banda. É diferente, por que algumas músicas ganharam outro arranjo para serem tocadas  solo, comigo no sampler, synth e loop. Tem música que não entrou, tem música nova”.

"É engraçado, no comecinho eu fiz alguns shows solo ou em dueto, numa proposta mais experimental e improvisativa. Depois, quando formei a banda, o show ganhou mais corpo e passei a chamá-lo de Vulcanidades, que pra mim foi o marco de um início com mais potência e vigor. Agora o mundo deu volta e retornei ao formato solo, mais reduzido, que permite circular melhor", reflete.

Apesar de, por enquanto, transitar em uma abordagem experimental, Lívia acredita que seu trabalho está próximo do formato convencional da canção.

"Meu trabalho está dentro de um universo experimental, pelo fato de ter uma formação não-convencional em permanente estado de mudança. Até hoje modifico muito o jeito de tocar cada música, vou descobrindo novas possibilidades com os aparelhos e na interação com outros músicos. Experimental também pela preocupação com a atmosfera e a viagem sensorial proposta, mas se você for ver, quase tudo ali é canção! Enquanto composição, minhas músicas são canção pra caramba, só que executadas dessa maneira diferente. Sobre gêneros, tenho uma grande inspiração da música soul, do trip-hop, música jamaicana. Percebo uma impressão digital muito forte da canção brasileira dos anos 70 e 80, que ouvia em casa e no rádio e um certo repertório baiano que costuma penetrar em quem nasce aqui: Gerônimo, Luiz Caldas, Timbalada, etc", analisa.

Para 2017, Lívia busca gravar seu primeiro álbum cheio. "Primeiramente (fora temer) lançar o disco, que está sendo gravado, com músicas que já toco no show e outras inéditas. Estou trabalhando aceleradamente pra lança-lo antes do Carnaval. Quero muito tocar em festivais e o Lado BA vai ser uma boa oportunidade para encontrar muitos organizadores e firmar shows. Devo também passar temporadas maiores entre Rio e São Paulo, para divulgar o trabalho"conclui.

Festival Lado BA - Música e Processos Colaborativos / de hoje até sábado / 21 Shows nos largos Pedro Archanjo e Quincas Berro d’Água e na Arena Teatro SESC Senac  / 11 Conferências no Teatro Sesc e Casa XIV / Programação: www.facebook.com/FestivalLadoBa

4 comentários:

Franchico disse...

Olha o nível dos alucinados delirantes que invadiram a Câmara dos Deputados ontem em Brasília:

http://www.brasilpost.com.br/2016/11/17/manifestante-confunde-comunista-bandeira-japao_n_13042982.html?utm_hp_ref=brazil

OLHA. O. NÍVEL.

Franchico disse...

Esse senhor está certo: Tribunal Internacional para os políticos, jornalistas, "filósofos" e setores da mídia que cuidam de alastrar essa onda de ódio no Brasil:

http://www.conversaafiada.com.br/brasil/aragao-este-pais-esta-doente

Franchico disse...

O Dicionário Oxford determinou que "pós-verdade" é a palavra do ano. Sabe o que é pós-verdade: Bob Fernandes (bom jornalista, que por sinal, é baiano), explica:

https://youtu.be/lXchMEKqvLo

Franchico disse...

Lembram da cena "Martha" em Batman vs. Superman? Então, saiu uma "homenagem" pra ela em uma revista recente dos X-Men...

https://omelete.uol.com.br/quadrinhos/noticia/hq-dos-x-men-parodia-o-martha-de-batman-vs-superman/