quinta-feira, abril 21, 2016

A OUTRA FACE

Aos 69 anos, o ídolo popular Jerry Adriani arrisca um novo repertório em DVD filmado em P&B

Jerry e suas maracas. Foto: Débora 70
Artistas consagrados, com público fiel e décadas de carreira, geralmente, seguem um de dois caminhos.

Ou se acomodam no trono como um rei, gravando a mesma obra por anos a fio, ou se arriscam por novos caminhos artísticos, já que não tem mais nada a provar.

Jerry Adriani reafirma, em seu novo DVD ao vivo, que segue o segundo caminho. Não por acaso, o título da obra, lançada em CD e DVD, é Outro Jerry Adriani.

"Estamos vivendo uma época em que o artista tem que se desafiar para não cair na mesmice", acredita  Jerry  por telefone, do Rio de Janeiro.

"E até a mesmice, que na verdade, é fazer as coisas de acordo com seu estilo, não cabe mais nos esquemas de execução de rádio. Tá tudo muito diferente. Tem que tentar novos caminhos para chamar atenção, mostrar outros lados", acrescenta.

Gravado em um distinto preto & branco, em um estúdio sem plateia, o show traz Jerry muito à vontade, desfiando um repertório que parece se situar  entre a memória afetiva do cantor e canções incluídas para “surpreender” os fãs.

Entre as primeiras há You’ve Changed (sucesso na voz de Nat King Cole), Lembra de Mim (de Ivan Lins e Vitor Martins), Resposta ao Tempo (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc) e Georgia on my Mind (grande hit de Ray Charles), entre outras.

As surpresas ficam por conta de Sugar Man (de Sixto Rodriguez, o cantor folk resgatado pelo premiado documentário Searching for Sugar Man), A Medida da Paixão (Lenine e Dudu Falcão) e e Judiaria, de Lupicínio Rodrigues.

“Nos meus momentos de folga, eu canto essas músicas em saraus, em casa. Eu toco piano, então a esposa do Paulo Mendonça, diretor do Canal Brasil, me ouviu cantando Georgia on My Mind e sugeriu que fizéssemos um CD com esse repertório”, conta Jerry.

Para quem já fez álbuns dedicados aos repertórios de Elvis Presley em português (Elvis Vive, 1990) e Legião Urbana em italiano (Forza Sempre, 1999), a ideia não seria nada estranha.

“Eu sou uma pessoa com uma formação musical bem eclética”, afirma Jerry.

“Quando eu era menino, ouvia as canções italianas da minha avó. Na minha casa também tinha serestas, pois vários parentes tocavam instrumentos. Sabe a (atriz) Matilde Mastrangi? Ela é  minha prima e os pais dela tocavam, então  eram reuniões musicais com muito Orlando Silva, Chico Alves. Tudo isso acrescentou”, conta.

"Quando minha avó faleceu, eu era pequeno e ficava aos cuidados de uma família de espanhóis enquanto minha mãe trabalhava de dia. Aí vieram outras canções, os cantores do rádio, os americanos, Cauby. Fui criando isso, estudei canto lírico, criei uma tecelagem musical. Meu primeiro disco foi de canções italianas pelas minhas raízes e também em função do grande sucesso da música italiana no brasil dos anos 60, que concorria com Beatles e a música americana. Por isso, vim com o nome Adriani como cantor de rock", relata.

Letras polêmicas

"Gravamos um também fado do António Zambujo, Guia, que é belíssimo, muito bem construída a letra, uma coisa que hoje tem pouco espaço em rádio. As letras mais bonitas não são executadas,
tem uma fórmula de sucesso que se você sai... Minha opinião é que há uma infinidade de grandes artistas e letristas que precisam ser valorizados, as coisas mais trabalhadas não são muito fáceis. As diferenças que existe na musica de hoje é que, a música de consumo fácil da época da Jovem Guarda retratavam uma mudança comportamental, tinha uma crônica social. Quem entendeu logo isso foi Bethania, que passou para Caetano e eles passaram a assimilar a coisa da Jovem Guarda, por que viam o potencial popular daquilo. A contrapartida é que você tinha coisas fantásticas do outro lado da MPB, era uma loucura: Paulo Sérgio Valle, Vitor Martins... Hoje, não que não exista, o que acontece é que não é divulgada", percebe.

Não bastasse, o veterano jovem guardista ainda se dá ao luxo de cantar em cinco línguas diferentes: português, inglês, francês, italiano e espanhol.

“Algumas músicas eu mesmo escolhi, aí fomos compondo (o repertório) de acordo com essa pluralidade de estilos. Por isso, não poderia deixar de cantar em italiano, aí escolhi uma do Pino Daniele que não é muito conhecida, Quando. O triste é que, ao escolher a música, descobri que ele tinha morrido”, conta.


Cuidadoso em tempos de intensa vigilância midiática, Jerry quase deixa de fora as canções de Lupicínio, Sixto Rodriguez e Raul Seixas & Paulo Coelho (Medo da Chuva).

“Raul e Paulo fizeram essa música para mim, na época, mas eu não quis gravar por causa do trecho do padre (Eu não posso entender / Tanta gente aceitando a mentira/ De que os sonhos desfazem aquilo / Que o padre falou), conta.

Já a  do Lupicínio tem uma mensagem mais forte: “Eu estou lhe mostrando a porta da rua / Pra que você saia sem eu lhe bater”.

“Acabei cantando uma música que tem mensagem que eu sou contra, Judiaria. Falei: 'olha a Lei Maria da Penha, gente. A mulherada vai me bater'. Mas eu sou um intérprete, não sou a favor disso é uma coisa que retrata uma época e uma realidade que existiu, não faço apologia de nada", afirma.

"Já a do Sugar Man eu não queria gravar, questionei por que é a história de um traficante, fala de cocaína, mas eu não faço apologia de nada disso. Como não gosto de fazer cópia, demos uma mudadinha nesse ritmo. Em vez de rock, fizemos um salsa merengue. Sempre gostei de salsa, então fomos construindo assim”, conclui Jerry.

Outro Jerry Adriani / Jerry Adriani / Coleção Canal Brasil - Deck Disc / DVD: R$ 29,90 / CD: R$ 20,90

4 comentários:

Franchico disse...

Prova de credibilidade jornalística é isso aí: o cara é atacado pela (com o perdão da má palavra) Veja:

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/greenwald-tenho-orgulho-em-ser-atacado-pela-veja-uma-piada-a-fox-do-brasil-menos-confiavel/

O cara trouxe os arquivos do Edward Norton a tona e ganhou o Pulitzer.

A Veja louva Marcela Temer por ser "bela, recatada e do lar".

E aí, vou confiar em quem, jornalisticamente falando? Brincou, né?

Queria eu ser atacado por aquele pasquim. É o ponto altíssimo da carreira de qualquer jornalista que se preze. Qualquer.

Old School disse...

E o rolo compressor da morte nao para.
Descanse em paz,Prince.

Franchico disse...

Puta que pariu, que ano horroroso. E ainda estamos em abril.

Já estava no caminho de casa, tive que voltar à redação.

Amanhã posto minha humilde elegia ao eterno Príncipe Púrpura do Pop.

Franchico disse...

Agora foi a Economist, mostrando que não há mocinhos nessa farsa do impeachment.

http://www.brasilpost.com.br/2016/04/21/capa-da-revista-economist_n_9749000.html?utm_hp_ref=brazil

Para horror da grande imprensa golpista, claro.

Tô adorando isso!