terça-feira, janeiro 12, 2016

ADEUS, STARMAN

1947-2016

Ele bem que avisou.

Em seu último vídeo clipe, Lazarus (aquele que Jesus ressuscita na Bíblia), David Bowie aparece vendado e agonizando, tendo convulsões em uma cama de hospital.

“Olhe aqui pra cima, eu estou no Paraíso / tenho cicatrizes que não podem ser vistas”, canta o Starman, enquanto uma outra versão sua, em um traje preto e branco, senta-se em uma escrivaninha, rabiscando.

No fim do vídeo, ele entra em um armário enorme de madeira – um caixão apropriado para um esteta.

Ele bem que tentou nos avisar – mas ninguém viu (ou quis ver) que era mesmo um aceno de despedida.

Como sempre, David Bowie estava anos-luz à frente do resto da humanidade.

Até que a manhã de ontem caiu como um viaduto sobre o mundo, trazendo o comunicado oficial de sua morte: “David Bowie morreu em paz hoje, cercado por sua família depois de uma corajosa batalha de 18 meses contra o câncer. Enquanto muitos vão dividir a dor pela sua perda, pedimos que vocês respeitem a privacidade da família neste período de luto”.

Ziggy tocava guitarra

Nascido David Robert Jones em Londres, no dia 8 de janeiro de 1947, o homem que morreu apenas dois dias após seu aniversário – e do lançamento do seu último álbum, Black Star – não é, nem nunca foi, apenas mais um roqueiro remanescente dos anos 1960 / 70.

Com sua voz inconfundível, David Bowie foi, ao lado de  gigantes como Bob Dylan e os Beatles, um dos responsáveis por fazer do rock uma forma de alta arte.

Ou seja, de trilha sonora para bailinhos de debutantes da era Elvis Presley, Bowie fez rock para refletir o mundo que o cercava e o assombrava, com suas guerras, drogas e foguetes para o espaço sideral.

Sua vasta discografia, com 25 álbuns de estúdio, é uma das mais brilhantes e diversas da história da música pop.

A cada disco, ele parecia querer começar tudo de novo: o folk hippie de Space Oddity (1969) deu lugar ao rock pesado de The Man Who Sold the World (1970), que levou pré-glam de Hunky Dory (1971) e ao glam total de Ziggy Stardust (1972), obra conceitual sobre um astro alienígena do rock, com o qual conquistou de vez o planeta Terra.

Podemos ser heróis

Se tivesse feito só essa sequência de álbuns geniais, David Bowie já seria lembrado como um dos maiores nomes do rock.

Mas o homem, definitivamente, não era deste mundo.

Nas décadas seguintes, Bowie captaria no ar as vibrações da disco music antes que esta se tornasse moda (Young Americans, 1975), profetizaria a ascenção da música eletrônica via Kraftwerk (Trilogia Berlim, com os álbuns Low, “Heroes” e Lodger), anteciparia a onda new romantic (Scary Monsters, 1980) e reabilitaria o pop radiofônico (Let’s Dance, 1983).

No fim dos anos 1980, sentiu, antes do grunge, que era hora de um retorno ao rock pesado, formando a banda Tin Machine, com a qual lançaria dois álbuns.

E seguiu ao longo dos anos 1990 lançando bons álbuns, como Black Tie White Noise (1993) e Outside (1995).

Se tivesse apenas lançado todas essas obras, já seria considerado um dos maiores artistas da música popular do século 20.

Mas Bowie nunca  foi “só” músico. Foi também ator de cinema, em inesquecíveis filmes de vanguarda como O Homem Que Caiu na Terra (1976), Fome de Viver (1983) e Basquiat (1996).

 Ainda fez teatro, sendo lembrado  pela sua atuação como o trágico John Merrick, o  Homem-Elefante.

Desenhava as roupas de seus personagens e produziu álbuns fundamentais de Iggy Pop e Lou Reed.

Foi um talento de outro mundo.

Let’s Dance: Guia básico para amar David Bowie 

The Man Who Sold The World (1970)


Após o hit Space Oddity, inaugura a prolífica parceria com Tony Visconti (produtor) e o guitarrista Mick Ronson. Além da faixa-título, traz os petardos Saviour Machine e Black Country Rock









Hunky Dory (1971)

Obra-prima que alterna baladas emocionantes (Life on Mars?, Oh! You Pretty Things, Kooks) com rocks densos como Queen Bitch, Changes, Andy Warhol e Song for Bob Dylan. Sim, era um gênio que despontava

The rise and fall of Ziggy Stardust (1972)

Um dos maiores clássicos da história do rock e álbum que o tornou mundialmente famoso. Além da faixa-título, traz todas as outras, igualmente geniais e essenciais, de cabo a rabo

“Heroes” (1977)

Segundo LP da Trilogia Berlim e um dos mais influentes. A produção cheia de texturas, inspirada por Brian Eno, emoldura a lindíssima faixa-título, sobre amantes que se encontram no Muro de Berlim.

Let’s Dance (1983)

Em plena New Wave, Bowie entra em campo para mostrar como é que se faz. A faixa-título, Modern Love, China Girl (de Iggy Pop) e Cat People (tema do filme A Marca da Pantera) levantam pistas de dança até hoje

2 comentários:

Franchico disse...

Roy Batty nasceu no mesmo dia que David Bowie - só que este ano.

https://twitter.com/The_Wookie/status/685238583574147072

Rodrigo Sputter disse...

nunca pirei no Bowie...embora tenha um puta respeito por quem ele foi e representou para a música e cultura pop...gostava da figura dele...parecia um cara legal...e fiquei bem triste - e surpreso - com a morte dele....