quinta-feira, janeiro 07, 2016

ADEUS AO SENHOR WR

Wesley Rangel, morto na madrugada de quarta-feira, enviou o que pode ser seu derradeiro depoimento à imprensa ao repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde.

Início dos 1990: Wesley com Jimmy Cliff, que gravou com o Olodum no WR
Agora que o homem não mais caminha entre os vivos, todos tem algo a dizer sobre o produtor e empresário baiano Wesley Rangel, morto aos 65 anos na madrugada de quarta-feira, no Hospital Aliança. 

E, certamente, são muitos os que lhe devem homenagens. Dos artistas fundadores da axé music ao pagode, do rock ao regional, do samba ao reggae, dos blocos afro às filarmônicas, do jazz ao blues: todo mundo que é alguém na música baiana dos últimos quarenta anos deve ter tido seu momento de reflexão sobre o senhor Wesley Rangel, desde que foi divulgado o seu falecimento.

Homem prático, mas de intuição acuradíssima, Rangel vinha ele mesmo refletindo sobre sua carreira e a música baiana em seus últimos dias.

Em outubro de 2015, ele concedeu o que deve ter sido seu último depoimento ao jornal A TARDE, a propósito de uma matéria publicada no Caderno 2+ (em 31 de outubro), sobre os 40 anos de fundação dos Estúdios WR. Por questões de espaço, quase nada foi aproveitado na matéria.

Anexo ao texto, um arquivo zipado trazia dezenas de fotos do seu arquivo pessoal. Algumas delas estão aqui.

Já debilitado pelo câncer, Rangel ignorou as perguntas enviadas por email pelo repórter e lhe enviou um extenso documento em que passava a limpo sua carreira – um texto meio currículo, meio memórias e reflexões.

“Fundei a WR em 1975, com a missão de modernizar a produção publicitária de áudio na produção de spots, jingles, trilhas e áudio visuais na Bahia”, foi como ele iniciou o texto.

Momento histórico: Dr. Cascadura e Dead Billies assinam no WR
Do Fricote ao pagode

Em trecho mais adiante, ele demonstra sua afiada intuição ao interferir de forma decisiva na gravação da fundamental Fricote, de Luiz Caldas: “Quando aluguei uma bateria eletrônica  Simmons em São Paulo, foi uma iniciativa que ainda não contava com a aprovação de Luiz e dos músicos da Acordes verdes. Avisei a ele minha decisão de gravarmos o LP Magia em meados de 1984, em uma lanchonete na Rua Manoel Barreto (Graça). Quando lhe apresentei a Simmons, ele ficou com dúvida da sonoridade”.

Mais adiante, Wesley reflete sobre o atual estado da indústria musical baiana: “Estamos em um momento de grande crise. Com o surgimento dos pequenos estúdios, nossos cantores  esqueceram que o sucesso vem com a inovação, com uma identidade definida. O que estamos presenciando é a era dos clones”, escreve.

“Outro fenômeno muito sério é o sucesso do evento em detrimento do sucesso do artista. Vimos, nos últimos anos, várias bandas surgindo com elevadas quantias investidas em marketing, esquecendo que o sucesso do artista é o que alavanca os eventos”, afirma.

Arto Lindsay, caetano Veloso e amigo no WR
Outra crítica do produtor é a tendência a imitação de estilos estrangeiros: “Vejo  uma tendência de vários profissionais baianos em copiar a música externa. Isso não traz novidade e nenhum benefício para nossa música, que tem sido matriz para vários cantores de prestígio internacional, a exemplo de Michael Jackson, Paul Simon, David Byrne e outros que vieram à Bahia para ‘beber da fonte’. E nós querendo copiar o que eles já nem fazem mais”, indignou-se.

Falando sobre o pagode, citou o preconceito dos próprios músicos com o estilo: “O próprio artista baiano nutre um velado preconceito com esse produto tão popular e tão importante para o nosso carnaval. A Bossa Nova, nossa música de maior prestígio nacional, por exemplo, não é apreciada por uma parte considerável da população brasileira que passou mais de trinta anos cega, surda e muda com aquele golpe militar que acabou com a educação em nosso País. Ao mesmo tempo, músicas como Chupa Toda e Na Boquinha da Garrafa, eu tive dificuldade de grava-las, e foram produtos de grande aceitação pelas gravadoras, meios de comunicação e o público”.

“Depois que vi Jô Soares, Xuxa e outros nomes da comunicação nacional descendo na boquinha da garrafa, depois de ver Ivete ‘chupando toda com Gilberto Gil e Bono, comecei a perceber que eu mesmo carregava uma grande dose de preconceito, o que me atrapalhou muito profissionalmente. Hoje, fujo dos preconceitos que só atrapalham o ser humano”, concluiu Rangel.


WR 40 - Após quatro décadas de criação, o Estúdio WR sofre com crise e concorrência desleal, mas segue firme fazendo a história da música baiana

(Matéria publicada  no Caderno 2+ em 31 de outubro de 2015)

Wesley (de bigode) com Elomar (de chapéu) e sua trupe
Em tempos de crise, o que mais se vê por aí é urubu torcendo pelo fracasso alheio.

Para esses, é bom reservar a máxima do rapper local MC DaGanja: “Deixa de fofoca e vai trabalhar”.

Aos 40 anos completos em agosto último, os Estúdios WR parecem levar o dito muito a sério, seguindo firme no jogo duro do negócio musical.

Criado pelo administrador e advogado Wesley Rangel em 1975 como estúdio de jingles, o WR é considerado o primeiro estabelecimento profissional da sua categoria na Bahia.

Desde então, sua trajetória e a do seu estúdio se confundem com a própria história da música baiana. Muito já se escreveu e se falou sobre a saga do estúdio e dos músicos a ele ligados na criação de todo um gênero (a axé music) e do mercado voraz que o explorou até seu quase esgotamento.

Quatro décadas depois de criado e três depois da axé music, o WR pode não ter mais o tamanho e a influência que marcaram boa parte de sua história.

Mas quem pensa que a decadência de sua cria derrubou o estúdio está redondamente enganado.

Há pouco mais de uma semana, o Caderno 2+ foi ao WR conferir um dia normal no estúdio – e tudo estava em seu devido lugar, com as duas salas principais da casa funcionando a pleno vapor.

Enquanto, no térreo, o produtor e gerente técnico Luis Fernando Apu Tude comandava as gravações do primeiro disco da banda de rock Batrákia, o cantor Pierre Onassis ocupava o estúdio do segundo andar, ensaiando com sua rediviva banda Afrodisíaco.

“Não se pode negar que há uma crise”, admite Apu, dando uma pausa com a Batrákia. “Mas aqui não pára, não. Sempre tem gente passando por aqui: Pierre Onassis, Banda Eva, É o Tchan, Tuca, Pablo e muitos outros”, afirma.

O produtor Nestor Madrid, que fez história no WR
De sua casa, onde luta contra uma enfermidade, o fundador Wesley Rangel enviou um depoimento à reportagem, na qual reflete sobre o atual estado do mercado.

“Estamos em um momento de grande crise na música baiana.  Com o surgimento dos pequenos estúdios, nossos cantores  esqueceram que o sucesso vem com a inovação, com uma identidade definida. O que estamos presenciando é a era dos clones”, escreve.

“O mercado precisa entender que o artista novo tem que ser cuidado com um produtor profissional para estudar sua linguagem”, acrescenta.

Essa é a principal dificuldade dos estúdios profissionais hoje: com o barateamento das tecnologias, artistas de fundo de quintal gravam a torto e a direito – e os resultados podem variar do sublime à mais completa porcaria.

“A grande concorrência hoje vem mesmo é dos home studios (estúdios caseiros)”, admite Apu.

“Tem o lado bom, que facilita ao artista criar coisas novas. O lado ruim é que derruba  a qualidade do áudio”, pesa.

Templo da música

Saques geniais, glórias passadas, poder, influência, dificuldades, enfermidade: de tudo isso se faz a trajetória de 40 anos desse sítio histórico da cultura musical baiana.

Mas talvez o principal ponto a ser destacado nesse momento seja a correção de uma injustiça histórica.

“Acho errado continuarem chamando o WR de ‘Templo do Axé’”, protesta Apu, se referindo ao título amealhado nos tempos de reinado do estúdio.

“O WR é na verdade o Templo da Música Baiana. Porque todo mundo gravou aqui. Da Orquestra Sinfônica (Osba) às filarmônicas, do pessoal do rock ao pessoal do samba, da MPB, foi todo mundo”, diz.

Rangel e Roberto Mendes. Todas as fotos: arquivo WR
De fato: não só pedras fundamentais do axé e do pagode foram gravadas no WR, mas também obras clássicas  da MPB, do rock e da música regional foram lá registradas.

No exterior, já é comum  estúdios históricos se tornarem até parte do circuito turístico e abertos à visitação, como Electric Lady (Nova York), Sun (Memphis),  Hansa (Berlim) e Abbey Road (Londres).

O WR, com certeza, já reúne as credenciais para tanto.

“Depois que vi Jô Soares e Xuxa  descendo na Boquinha da Garrafa,  de ver Ivete chupando toda com Gil e Bono, vi que eu mesmo carregava uma grande dose de preconceito que me atrapalhou profissionalmente. Hoje, fujo dos preconceitos que só atrapalham o ser humano”, conclui Rangel.

18 comentários:

Ernesto Ribeiro disse...

Momento histórico: sorrindo ingenuamente, Dr. Cascadura e Dead Billies assinam na WR pra chegar a lugar nenhum.

Franchico disse...

Deixe de ser venenoso, rapaz. Ninguém ficou rico, mas foda-se: os registros (álbuns) estão aí, são históricos, representam uma geração brilhante, que dá frutos até hoje. Enquanto isso, onde andam mesmo seus ídolos do THC, Lígia Cabus e aquele outro guitarrista lá que até esqueci o nome? Em lugar nenhum, filho. Nada contra esses artistas, dos quais não duvido do talento, mas... SUMIRAM. Relevância zero. O que eu quero dizer é que não adianta nada vc ficar destilando seu eterno rancor aqui. Nada. Tenho certeza absolta que ninguém dessas bandas tem rancor de Wesley. Pelo contrário. Fábio Cascadura fez o seu melhor com o Cascadura e se mandou para o Canadá, em busca de uma vida melhor. E os Retrofoguetes e os Les Royales não dependem de música para viver, continuam tocando por prazer, por que amam o que fazem e mesmo assim continuam fazendo história na música baiana. Reflita um pouco: é isso mesmo que vc quer ser? O cão que late inutilmente enquanto a caravana passa? Vc é mais inteligente do que isso. Pense melhor, se eu puder te sugerir algo para 2016....

Franchico disse...

E nossa hypada (tô brincando!) Ivan Motosserra acaba de lançar a primeira faixa do seu primeiro EP: Suf-a-Billy!

http://ivanmotosserrasurftrash.bandcamp.com/releases

É delícia, mamãe!

Rodrigo Sputter disse...

Jimmy Cliff aumentou o conceito dele comigo mais ainda-ehhehehe
falando em Jimmy, ele lançou tem uns anos, num sei se é o último dele, um PUTA DISCAÇO, produzido pelo tim armstrong do rancid (nem gosto de rancid), só ska pedrada, rocksteady e reggae pesadão...tem até um soul bem pra frente...aliás o jimmy começou tocando ska...dos bão!!

tomara que hypem mesmo a Ivan, pra ver se os caras ganham uma ponta legal!!

com todo respeito, mas a banda q Chico citou que Ernesto gosta, nem só não ficou rico, mas não tem uma relevância histórica na cena local, embora muitas bandas boas não tenham...ficar rico não seria ruim, pq ficar sem grana nem pra comer e morrer de fome, como um bróder meu, é BIZARRO, mas pra mim isso é coisa de rockstar...fazemos ROCK como música, atitude, estilo de vida...esses caras acumulam cifrões...não fazem rock...creio que o erro dos billies foi não enxergar-se como indie...underground...poderiam tá até hj tocando pelos eua, europa, como mystifier e headhunter...

ps.: a piada ferina que num podia ser feita na foto das duas bandas baianas que Ernesto comenta é "Essa é a foto de Fábio assinando o contrato de descobrimento do Dead Billies???"?
heheheheheh
não resisti...Rex entenderia e riria da minha piada-hehehehe

Franchico disse...

Sensacional essa HQzinha do Deadpool / Homem-Aranha, escrita pelo cara que fez do Daedpool, o Deadpool que todos conhecemos e amamos:

http://www.bleedingcool.com/2016/01/06/some-of-the-reasons-why-we-are-so-happy-joe-kelly-is-back-on-deadpool-and-ed-mcguinness-too/

Ernesto Ribeiro disse...

Quem falou em "ficar rico", meninos?


Eu não fui.


Leiam direito o que eu disse: estou falando em INVESTIMENTO no artista.


Principalmente quando o artista ou banda JÁ POSSUI UM PÚBLICO CONSOLIDADO DE MILHARES DE FÃS, seu público consumidor, potencial fonte de receita e lucro.


Qualquer gravadora sensata investe nesse público. Não foi o caso aqui.


Qual o investimento que as gravadoras dão ao lixo do axé? TOTAL.


E ao rock baiano na Bahia? NENHUM.


Estou falando em igual tratamento. Só isso. Entenderam?



Quanto aos meus ídolos do THC, Lígia Cabus e Sergio Belov, eles se RETIRARAM da cena musical porque QUISERAM. Nada a ver com gravadoras. Foi uma decisão pessoal. Não profissional ou econômica.



Quanto á banda q Chico citou que eu gosto, não é que a fantástica THC "não tem uma relevância histórica na cena local" — é Rodrigo Sputter que não tem um conhecimento histórico relevante sobre a cena local.



Afinal, esse é o mesmo Rodrigo Sputter que demonstrou total ignorância sobre a relevância histórica do Camisa de Vênus — a própria banda que DEU ORIGEM á cena de rock local. Além de demonstrar seu total desconhecimento sobre Kurt Cobain e sobre a relevância histórica / cinematográfica do filme MATRIX. Que se formou em Filosofia e não foi capaz de reconhecer NENHUM dos inúmeros aspectos filosóficos embutidos no filme. (São tantos que gerou um livro inteiro para enumerá-los: "Matrix and Philosophy", com a colaboração de vários filósofos e estudiosos de Filosofia).



Alguém mais aqui quer discutir comigo?

Ernesto Ribeiro disse...

Sobre o tema “relevância histórica”:


O nome de Lygia Cabus está na lista de agradecimentos no encarte do disco do Gonorréia, lançado em 2005 --- mais de UMA DÉCADA depois do fim do THC, que no início dos anos 90 causou um furor de público e crítica comparável ao dos próprios Dead Billies.


Quem perguntou pelos integrantes do THC Lygia Cabus e Sergio Belov foram ninguém menos que os próprios integrantes do Camisa de Vênus: Eduardo Scott, Gustavo Müllem e Karl Franz Hummel. Em 2014. Depois de DÉCADAS sem os verem.


Então, em vez de minimizarem a importância histórica de músicos assim, seria mais sábio ter uma atitude humilde de admitir que não sabe tudo e tentar aprender com quem sabe: os próprios músicos que fizeram a HISTÓRIA do Rock & Roll de Salvador.

Anônimo disse...

Eu nunca ouvi falar de nenhum desses. E o Camisa de Vênus não inventou nada, não deu inicio a nada e nao tem relevancia alguma

Ernesto Ribeiro disse...

Finalizando: o ÓBVIO.


Qualquer pessoa com um QI normal percebe facilmente que a situação de diferença de tratamento dos donos do poder econômico na Bahia entre a supremacia do axé / pagode / timbalada / breganejo / sofrência e a marginalização do Rock & Roll é uma realidade ESCANDALOSA que salta aos olhos de todos. Principalmente considerando que não pode ser por falta de público, lembrando o fato que 3 dos maiores nomes de sucesso do Rock Nacional são baianos que já tinham um público consolidado em Salvador: Raul Seixas, Camisa de Vênus e Pitty.


Rogério Big Brother: “Sabe qual foi a fórmula de sucesso de Raul Seixas, Camisa de Vênus e Pitty? Todos eles caíram fora da Bahia na hora certa.


No Sul e no Sudeste do Brasil, as gravadoras investem em todos os estilos de música, sem discriminar ninguém. Empresas de promoção de eventos agendam shows de atrações internacionais como os Rolling Stones, Black Sabbath, Deep Purple e o Iron Maiden para tocar normalmente em todos os Estados. Menos na Bahia.


Então essa hostilidade / discriminação / boicote do setor empresarial a qualquer investimento no rock baiano na Bahia enquanto investe seus capital e infra-estrutura para produzir e promover o que há de pior no axé / pagode / timbalada / breganejo / sofrência é uma atitude no mínimo SUSPEITA e CONDENÁVEL tanto do ponto de vista cultural como dos negócios. Porque além da atitude consciente de bloquear a inteligência, a beleza e o talento para privilegiar a porcaria mais estúpida e de pior mau gosto no nível mental mais baixo possível, também se trata da INSANIDADE de deixar de ganhar dinheiro. E só os empresários baianos fazem isso. Só as gravadoras baianas agem assim. Sistematicamente. Desde sempre. Há 34 anos.


Qualquer pessoa com mais de dois neurônios sabe perfeitamente que isso não é normal. Que essa situação da indústria musical baiana é ABERRANTE. Os sulistas comentam isso enojados. O pessoal da MTV comentava essa VERGONHA quando alguns apresentadores e VJs lamentavam o boicote aos Dead Billies. E o grande jornalista especialista em Rock & Roll, o senhor Chico Castro Jr., um profissional de inteligência, conhecimento e erudição muito acima da média de seus pares, deve saber disso até melhor do que todos nós. Que o papel das gravadoras na Bahia tem uma responsabilidade decisiva para produzir esse descalabro. É uma pura questão de lógica. Eu sei disso. Você sabe disso. Todo mundo sabe disso.


Ernesto Ribeiro disse...

Miguel Cordeiro: “Paul McCartney toca até em Vitória do Espírito Santo, mas não pode entrar em Salvador. É como se isso aqui fosse uma cidadela cercada de muralhas onde o rock não pode entrar. Mesmo com um público imenso querendo ouvir. (...) Os empresários preferem investir na cultura baiana limitada á atitude de ‘Sai do chão... Bate na palma da mão... Dedinho pra cima... Bumbum pra trás...’ Porra, mermão. Isso é ridículo.”


Marcelo Nova: “É mais fácil eu tocar em Xanxerê, uma cidadezinha na fronteira de um Estado do Sul, do que fechar um contrato para fazer um show em Salvador, onde eu nasci, cresci e comecei minha carreira. (...) Aqui, todos os privilégios de produção em palcos, estúdios, CDs e DVDs vão pra qualquer vagabundo fazendo musiquinha de treinador de macaco: ‘Agora todo mundo enfia o dedinho no cu! Agora todo mundo passa o dedinho na boca!’ Como eu já dizia desde o começo: Tá tudo armado pra te imobilizar.”


Franchico, considerando que você é o dono desse blog, que eu sou até agora apenas tolerado aqui, e que esse post é dedicado á memória de um presidente de gravadora, é bastante razoável que não sejam admitidas quaisquer críticas ao procedimento da empresa do recém-falecido senhor Wesley Rangel. Reconheço os méritos dele como empresário. Mas também reconheço as atitudes questionáveis — não apenas dele ou da gravadora WR, mas de TODA a classe empresarial que lida com negócios de música na Bahia e que COLETIVAMENTE têm o poder de decidir o que acontece ou deixa de acontecer. E que portanto são todos eles responsáveis por essa situação dantesca daquilo que o Brasil inteiro conhece como a famigerada música baiana que vem sendo vendida largamente nas últimas décadas. E esse fato, como você mesmo publicou aqui no texto derradeiro do falecido, é algo sobre o que o próprio Wesley Rangel reconheceu ter uma grande parcela de responsabilidade.


Isso é tudo.


O resto é silêncio.

Anônimo disse...

Vc ta viajando... furor igual ao Dead Billies. Acho que só você e meia duzia de gatos pingados ouviram essa banda. Provavelmente você é o fã numero 1 deles (número um, por ser o único). Não viaja, broder. O fato de você gostar e endeusar a banda não aumenta em nada a importancia real da tal THC (aliás, que nome imbecil. No rio de janeiro já existia uma banda THC - Terrible Head Cream).

Aposto que nenhum dos citados optou se retirar. Ninguem opta se retirar se tem público, se tem gente que acompanha sempre shows e afins. Se retiraram por total irrelevancia. Ou falando em português claro: desistiram!

Ernesto Ribeiro disse...

Perdeu a aposta.


Você deveria conhecer melhor a História dos artistas que sofreram tanto com a superexposição que preferiram mesmo voltar á privacidade do anonimato.


FAMA nunca foi o objetivo de Lygia Cabus e Sergio Belov. Eles corriam disso.


Seu erro é medir as outras pessoas pelos SEUS próprios interesses e ambições.


VOCÊ valoriza a fama. E pensa que TODOS são iguais a você nesse sentido.


Mas a Humanidade é muito mais plural e diversificada do que você pensa.


A maioria da massa ignara deseja o bônus da fama sem arcar com o ônus da perda do controle da vida pessoal --- e a perda da PAZ.



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Vou te dizer uma coisa que você NÃO vai gostar de saber — e provavelmente esse é um FATO que você jamais vai admitir, nem para si mesmo:



Você NÃO CONHECE toda a História do Rock Baiano.



EU vivi aquela época. Sou uma testemunha da Historia.



Você não.



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A repercussão na imprensa tornou o THC uma banda tão falada nos meios culturais soterpolitanos quanto desconhecida nos meios incultos. O sucesso dos Típicos Habitantes da Cidade foi um fenômeno meteórico tão estrondoso que culminou nos inesquecíveis shows no Rio Vermelho na casa de espetáculos Off The Wall e no grande Teatro Gamboa, com todas as lotações esgotadas e filas dando voltas no quarteirão com mais gente querendo entrar.



As ligações telefônicas diárias da imprensa com convites de programas de TV e rádio, e a exposição constante nos jornais e revistas marcaram o nome de Lygia Cabus ao mesmo tempo nas páginas dos cadernos culturais, de música e teatro, como jurada de programas de auditório na TV e também como personalidade nas colunas sociais.



Durante anos, Lygia Cabus foi a musa inspiradora absoluta do lendário colunista Béu Machado, que a defendia com entusiasmo contra os ataques da invejosa editora do Caderno Cultural.



Infelizmente, nesse nível intermediário de sucesso, os artistas ficam completamente expostos a todo tipo de invasões, cobranças e assédios. Todo dia. O dia todo. Eles ainda não contavam com nenhum agente ou empresário para administrar a situação e gerir os negócios, para se poupar do desgaste diário e da pressão crescente de serem assediados em suas vidas pessoais, corroendo as relações entre os músicos e expandindo o sofrimento para suas famílias. Para completar, as intrigas internas, ambições desmedidas e ciúmes por parte da namorada de Belov levaram ao fim da banda.



Os dois abandonaram até a vida SOCIAL.



Sergio Belov se retirou dos palcos por razões de saúde que eu não tenho autorização para tornar públicas. Mas a vida selvagem típica do Rock & Roll levou aos fatores que exacerbaram a deterioração física, mental e psicológica dele ao ponto do esgotamento.



Lygia Cabus também foi uma estrela do teatro e do rock baiano nos anos 80 e 90, como atriz, roteirista e diretora, estrelando peças adultas de autores como Jean-Paul Sartre e Paulo Ponte, dirigida pelo tio, o ator e diretor Eduardo Cabus, e outros dramaturgos de renome, brilhando no Teatro Gamboa como a jóia da elite cultural da metrópole.



Lygia Cabus conheceu toda a pressão do sucesso e do assédio permanente da mídia e do público ao administrar duas carreiras simultaneamente, no teatro e na música. Por isso mesmo tomou a decisão corajosa e ponderada de abandonar o show business. Pois faz questão de lembrar que “todas as artes são marciais.” Ela sabe tudo sobre as armadilhas dessa terra movediça. E aprendeu a nadar com os tubarões.

Ernesto Ribeiro disse...

Repetindo:


Aprenda com os próprios músicos que fizeram a HISTÓRIA do Rock & Roll de Salvador.


Aprenda com os próprios integrantes do Camisa de Vênus: Eduardo Scott, Gustavo Müllem e Karl Franz Hummel.


Diga a eles : "só você e meia duzia de gatos pingados ouviram nessa banda THC."



Eles vão rir da sua cara, filho. Vão te ridicularizar impiedosamente. MUITO.
E vão gargalhar da sua ignorância.
Mal-disfarçada por sua arrogância.



Engula esse FATO HISTÓRICO:



Em 1982, o Gonorréia de Eduardo Scott abria os shows SUPER-LOTADOS da histórica e legendária banda Camisa de Vênus.



Em 1992, o Gonorréia de Eduardo Scott abria os shows SUPER-LOTADOS da histórica e legendária banda THC.



Em 2005, o Gonorréia de Eduardo Scott pôs o nome de Lygia Cabus na lista de agradecimentos do CD O Resgate da História . Sabe porquê? Por Lygia ter reerguido a carreira do Gonorréia ao lhe dar a honra de abrir o show da THC e lhe conceder a maior exposição ao grande público soteropolitano no palco do superlotado e prestigiadíssimo Teatro Gamboa.



E aí, já caiu a ficha?



Meu conselho pra você se poupar de sofrer mais humilhação aqui no ROCK LOCO:



“Pegue o seu banquinho / E saia de mansinho...”

Franchico disse...

Olha, eu tenho mais o que fazer do que ficar dando assunto pra incutido, como diz meu guru Franciel Cruz, mas alguns pontos precisam ser contestados nos argumentos de Ernesto.

Quando os Dead e o Casca assinaram PARA GRAVAR UM DISCO, tenho certeza que eles sabiam muito bem que era só PARA GRAVAR UM DISCO, que todo o trabalho que viria depois teria que partir deles mesmos e das pessoas que trabalhavam com eles. Eles podiam ser jovens, mas nunca foram imbecis ou ingênuos, como vc parece supor.

Tudo isso que vc diz do axé system é de largo conhecimento de todos, vc se limita a bater na mesma tecla, a apontar que o rei está nu - a eterna prerrogativa das crianças e dos tolos, diga-se de passagem -, sem indicar qualquer solução ou caminho alternativo. Ou seja, além de destilar megalomania e rancor no RL, vc não faz nada pela cena.

Alguém tão inteligente e com tantas habilidades e capacidade como vc poderia fazer algo, um blog próprio que fosse, com entrevistas, dicas de bandas locais etc. Mas acho que deve ser mais divertido pra vc apenas... fazer isso aí que vc faz, seja lá o que for isso.

Sobre a THC, eu sou da mesma idade ou até mais velho que vc. Lembro sim, OK, de ler uma ou duas matérias em jornal sobre a banda. E só. O que não é nada difícil, já que as bandas de rock locais sempre tiveram amigos nas redações (ou mesmo simpáticos a sua causa), como eu, que sou jornalista, sei muito bem. Aliás, vc classificou bem a trajetória da THC: "meteórica", passou voando e quase ninguém viu. Ninguém que eu conheça fora vc, aliás.

Lembro também que Ligia era atriz de teatro, o que é ótimo, maravilha. Como não frequentava muito teatro naquela época, não tenho o que dizer sobre isso.

Mas tem duas coisinhas: 1: o teatro Gamboa, que vc classifica como "grande", tem capacidade para 80 pessoas.

2: em 1992, se havia alguma banda de rock NO AUGE, era, com certeza absoluta, a Úteros em Fúria, filho. Por que, diferente de você, EU sim, ESTAVA LÁ em todos os shows.

Desculpe se soei um pouco mais assertivo do que de costume m alguns momentos, não tenho intenção de te "bater", mas como vc está sempre por aqui cornetando tudo e todos a torto e a direito, acho justo que tb seja cornetado de vez em quando, especialmente quando não concordo com a sua cornetada.

OK?

Abraço.

Franchico disse...

E só avisando, com isso encerro minha participação nesse debate, por que o a vida real me espera.

Ernesto Ribeiro disse...

1 - Eu já sei desde o início que o Dead e o Casca assinaram PARA GRAVAR UM DISCO.
O problema é... eles não deviam ter ficado só isso. Ficaram.



2 - Eu não suponho nada. Simplesmente conheci os sujeitos pessoalmente. SEI que eles esperavam mais. E sei que a decepção por não conseguirem foi uma das causas da mudança de atitude de pelo menos UM dos integrantes dos DB.



3 - Quem diz que os roqueiros baianos têm essa atitude de ingenuidade não sou eu; é Rogério Big Brother: “Eles querem que as coisas caiam do céu na mão deles. Não querem ralar. Eles querem que um grande empresário arranje um grande contrato com uma grande gravadora.”



4 - Eu me referi ao fato de que o Teatro Gamboa sempre foi grande em PRESTÍGIO.



5 - A solução ou caminho alternativo? Isso eu já sugeri: por favor, leia de novo com atenção o que eu escrevi sobre as gravadoras e empresas de shows do Sul e Sudeste do país. Está tudo lá. Isso não é bater na mesma tecla; é não ter aqui um leitor suficientemente atento.



6 - Eu já fiz DEMAIS pela cena do rock baiano nos anos 90 e início dos anos 2000.
Inclusive no departamento de divulgação e contatos com a imprensa. E sou reconhecido por isso na gratidão de meus amigos músicos. Se não consegui dobrar o sistema sozinho, não adianta me culpar, pois eu sempre fiz a minha parte. Já os músicos... Quase nunca se mexiam.



7 - O seu problema sobre o THC é: você não prestou atenção ao meteoro ou o cometa passando e não conhece tantas pessoas na cena quanto eu conheço. No sentido de conhecer mesmo as atitudes de certas pessoas e o que está se passando POR DENTRO das engrenagens do sistema.



8 - Um blog próprio sobre esse assunto, eu já fiz. Foi deletado anos atrás. Hoje eu nem tenho mais tempo pra isso. Nem interesse. O rock baiano é melhor no passado do que no presente.



9 - O que eu fiz durante anos como pesquisador profissional: pesquisei em TODAS as fontes de informações disponíveis, garimpei os dados antigos em revistas e jornais de décadas atrás em bibliotecas públicas e particulares, entrevistei músicos de gravador em punho, transcrevi os depoimentos, comparei os relatos, editei textos, escrevi as narrativas e organizei todas as informações.


Mas isso pra mim acabou. Acaba agora.



10 - No mais, eu estudo e trabalho também como publicitário e articulista.



PS : E com isso encerro minha participação nesse debate.

Franchico disse...

Melhor série de western de todos os tempos, que acabou inconclusa, pode ganhar um longa.

http://omelete.uol.com.br/series-tv/noticia/deadwood-hbo-confirma-producao-de-filme-baseado-na-serie/

Boato velho, mas que agora volta com força de notícia quente.

Franchico disse...

http://ultimateclassicrock.com/david-bowie-dead/

http://www.mojo4music.com/22823/david-bowie-dies-after-battle-with-cancer/

http://www.rollingstone.com/music/news/david-bowie-dead-at-69-20160111

http://www.nme.com/blogs/nme-blogs/how-david-bowie-told-us-he-was-dying-in-the-lazarus-video

Vou mudar o nome deste blog para Morto Loco.

RIP Starman.