terça-feira, abril 08, 2014

I.F.A. É AFROBEAT PRA NIGERIANA NENHUMA BOTAR DEFEITO

I.F.A., em foto de Glauco Neves
Assim como o jogo de búzios (o oráculo africano chamado ifá), o som da banda local I.F.A. é firmemente calcado nas tradições da cultura negra.

“A concepção (da banda) está no nome”, conta Fabricio Mota, baixista e diretor musical.

“I.F.A. não surgiu pelo significado do jogo do ifá, mas pelo cruzamento de  gêneros: Ijexá, Funk, Afrobeat”, enumera.

“O ijexá brotou na Bahia é a trilha sonora dos terreiros e afoxés. O funk (na sua origem) é o gênero mais forte e politizado da música negra norte-americana. E o afrobeat é o funk que voltou a África, formatado pelos gênios de Fela Kuti e Tony Allen na Nigéria”, detalha Fabrício.

Formada no ano passado, a I.F.A surgiu inicialmente da parceria entre o baixista, Jorge Dubman (bateria) e Átila Santtana (guitarra).

“Fazíamos uns ensaios experimentais misturando afrobeat, dub e funk. A gente gravava esses ensaios e ficava  imaginando chamar  outros amigos que compreendessem o som e nos ajudassem a  amadurecer os arranjos”, relata.

Os amigos logo vieram, formando uma azeitada big band: Prince Áddamo (guitarra), Alexandre Espinheira (percussão), Tiago Tamango (teclados), Normando Mendes (trompete), Matias Hernan Traut (trombone) e Ráiden Coelho (sax).

No estúdio com Sistasoul

O I.F.A. na formação com a cantora nigeriana Veronny "Sistasoul" Odili
Mas o destino ainda tinha um búzio surpresa reservado para o grupo.

“Ainda  ano passado, fui apresentado a uma cantora de Lagos (metrópole nigeriana) chamada Veronny Odili, então em residência artística no Instituto Sacatar (localizado na Ilha de Itaparica)”, diz.

Conversa vai, conversa vem, a banda e Veronny (conhecida como Sistasoul em seu país) rumaram para um estúdio.

“Foi em junho, no contexto dos movimentos de rua e da Copa das Confederações, então o primeiro tema que compusemos foi chamada Afro Funk Revolution. Sentimos que havia algo ali e fizemos uma apresentação com ela em junho mesmo”, relata Fabrício.

Sempre ligado, o produtor andré t. soube do encontro da banda com a cantora.

”Ele logo se interessou em produzir o registro de estúdio. Gravamos um EP de cinco faixas com Veronny, que depois voltou à África. Acredito que em julho sai”, diz.

Volta e meia, o  I.F.A se apresenta  pela cidade (como banda instrumental) em shows suingados e cada vez mais concorridos.

“Hoje nossa maior pretensão é tocar para o maior número de pessoas. A música negra sempre teve esse princípio, de ensinar a humanidade a conviver a com diversidade”, diz.

Na verdade, é de até de se admirar que uma cidade "tão ligada" à música negra já não tivesse, há muito tempo, toda uma cena de bandas de afrobeat, ska (só outro dia apareceu uma, a Skanibais) e outros gêneros black menos manjados que os sempre presentes reggae e blues.

"Às vezes também me faço essa pergunta", diz Fabrício. "Minha opinião é que, ao mesmo tempo que somos o estado mais representativo da população negra, a música feita na Bahia esbarra muito na indústria cultural da musica baiana. O que é uma contradição muito viva e limitante. O que explica esse surgimento tardio é que tem uma turma que foi adolescente nos anos 1990 e pegou a transição para os formatos digitais, ampliando sua educação musical para muito além do toca nas rádios. O cenário sound system local é reflexo disso. Pudemos ouvir essa coisa em tempo real. O Jorge Dubman é o melhor exemplo disso: é um pesquisador de um conhecimento sonoro de música negra incrível. Isso só aumenta nossa sede de conhecimento e nossa capacidade de buscar isso", observa.

"Agora, o mercado não é tão aberto as novidades. Só hoje em dia se fala que a cena axé music se exauriu - mas até isso é bem recente. É necessário percorrer todo um caminho para esses outros sons estarem tocando por aí. Não é fácil, ninguém consegue pagar tudo só com isso (tocando na I.F.A.), mas é a luta. Essa é a mensagem do Fela Kuti com o afrobeat dos anos 70, como ele reinvadiu a África com a música africana retrabalhada. A reinvasão afrobeat é a música do nosso tempo", reivindica. 

Dia 2, veja o I.F.A. no Pelô com André Sampaio, da banda carioca Ponto de Equilíbrio, outro entusiasta do afrobeat.

I.F.Á. e André Sampaio (Ponto de Equilíbrio, RJ) / 2 de maio, 20 horas, Largo Tereza Batista, R$ 20 e R$ 10

I.F.A.



NUETAS

CD do Pastel quentinho

A instituição punk baiana Pastel de Miolos lança Novas Ideias, Velhos Ideais, seu aguardado disco novo (o primeiro de inéditas desde Da Escravidão ao Salário Mínimo, de 2010), sexta-feira, no Dubliner’s. A night ainda conta com as bandas Latryna, Não & Ploriferação e AntiBanda (Uruguai), mais o DJ Bruno Aziz. 22 horas, R$ 10.

3 bandas, 30 Segundos

As bandas Callangazoo, Efeito Manada e Circo de Marvin invadem o 30 Segundos nesta sexta-feira, 22 horas. R$ 20 (moças) e R$ 30 (rapazes).

Monstro inglês

O violonista inglês Jon Gomm faz show (20 horas) e workshop (17 horas) domingo, no Portela Café. O rapaz é um monstro. R$ 150 (pacote),  R$ 35 (show antecipado) ou R$ 50 (na hora). Mais para o fim da semana, aguardem entrevista exclusiva com Mister Gomm neste blog.

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