segunda-feira, março 31, 2014

MARCELO NOVA, CASCADURA E ADÃO NEGRO FAZEM NOITE MEMORÁVEL EM CAJAZEIRAS

Cascadura no Campo da Pronaica, Cajazeiras, 29 de março de 2014
De uma só tacada, a noite do rock de sábado em Cajazeiras, com Marcelo Nova e Cascadura – mais o reggae do Adão Negro – serviu para fazer cair por terra duas antigas falácias.

Uma é que o soteropolitano médio não gosta de rock nem de graça. E a outra é que na periferia só se ouve pagode e arrocha.

Dada a recepção calorosa (e civilizada) com que as atrações foram recebidas no campo da Pronaica, por um público entre 8 e dez mil pessoas (estimativa de Pedro Machado, promotor de eventos da Saltur), o rock é sim muito apreciado por aqueles lados da cidade.

A coreografia dos pinguços no show do Casca
Tudo começou pouco depois das 19 horas, com o Adão Negro, banda de público cativo, fazendo a alegria do público heterogêneo que compareceu.

Em clima de tranquilidade, havia de tudo: coroas, crianças brincando e correndo por todo lado, roqueiros de camisa preta, rastas, pagodeiros de boné cuidadosamente desajeitado sobre a cabeça e claro, os pinguços locais – um show à parte.

Pouco depois, veio o Cascadura, que fez um belo show alternando canções do último álbum, Aleluia! (2012), com antigas favoritas dos fãs, como Queda Livre, Senhor das Moscas e O Centro do Universo.

Conquistaram o público e saíram sob aplausos calorosos – senão consagradores. “Era uma vontade antiga nossa tocar aqui”, disse o baterista Thiago Trad, após o descer do palco.

“A resposta do público foi muito boa. Não teve briga, todo mundo se divertindo, que público massa. Um show marcante em nossa carreira”, disse.

No dia 20 de abril, a banda se apresenta no Parque da Cidade, em show gratuito comemorando 22 anos de atividades.

Rato Punk de Cajazeiras, fã da Agressivos
Velho e miserável

Mas boa parte da galera – inclusive gente que veio de outros bairros, queria mesmo Marcelo Nova.

Punks  da periferia e roqueiros contemporâneos do Camisa de Vênus se aglomeraram defronte o palco.

“Tenho 51 anos e briguei com minha mulher para estar aqui hoje. Vou aos shows dele e do Camisa desde os tempos do New Fred's (boate / casa de shows dos anos 80)", contou Alcimar Ramos, da banda Os Canalhas.

"Tenho ate´hoje o compacto Controle Total / Meu Primo Zé", confidenciou, quase em segredo.

Mais jovem, um rapaz que se identificou apenas como Rato Punk de Cajazeiras contou que viu o Camisa no Festival de Verão.

"Tem muito punk aqui no bairro”, disse. Eu gosto muito da banda Agressivos, que é daqui de Cajazeiras", acrescentou.

Outro homem, aparentando 45 / 50 anos, rodava com o olhar fixo pelo público, exibindo uma folha de papel ofício na qual se lia, impresso: “Marcelo Nova, o Rei do Rock Nacional”. Ia seguido de perto por uma jovem, que segurava seu casaco de couro.

“Vim com meu pai e meu tio (o homem do cartaz) para ver Marcelo e o Adão. A família toda está aqui hoje”, contou a moça, que se chama Juliana Ribeiro.

Juliana Ribeiro, sobrinha e filha de fãs de Marcelo
“Somos uma família bem roqueira, cresci ouvindo Raul, Camisa, Rita Lee”, disse.

Com uma banda enxuta porém musculosa de três membros e uma pegada da pesada, Marcelo subiu no palco às 22h30.

Alternou músicas de 12 Fêmeas, último CD, com clássicos do Camisa e solo.

Alucinado, o público mais à frente do palco respondia a todos os sinais de Marcelo, gritando o velho bordão “Bota pra foder”.

Visivelmente contentes, Marcelo e banda soltaram os cachorros em versões pesadas e arrasadoras para hits como Hoje, Muita Estrela Pouca Constelação, Negue e a épica A Ferro e Fogo.

Marcelo chegou mesmo a provocar o público, enxertando versos de improviso em uma das músicas: “Na Highway to Hell tem uísque e tem cerveja / Melhor do que ficar em casa / Ouvindo duplinha sertaneja / Na Highway to Hell nem tudo pode / mas é melhor do que ouvir pagode”, cantou, tapando o nariz.

Felizmente, nem uma lata sequer foi atirada do público.

Marcelo Nova e banda: show pesado que agradou o povo em Cajazeiras
“Tá velho, mas tá miserável”, comentou um popular ao repórter, que concordou.

Uma noite singular (e feliz) em Cajazeiras.

As fotos profissionais (Cascadura e Marcelo Nova) são de Ramsés Moura/Agecom. E as fotos de personagens (pinguços, Rato e Juliana) são do blogueiro, mesmo. 

O repórter pede desculpas à banda Adão Negro. Quando chegou ao local, o show já havia acabado. O trânsito estava infernal nas redondezas do evento.

terça-feira, março 25, 2014

PODCAST ROCKS OFF DISSECA: MOTT (1973), DO MOTT THE HOOPLE

Mott The Hoople, circa 1974
Com Osvaldo Braminha Silveira Jr., Nei Bahia e Miguel Cordeiro.

Sugestão de tema de Bramis.








PROMISSORA, LILY BRAUN TEM CANTORA IMPRESSIONANTE E SE APRESENTA QUINTA NO IRISH

Bruna Barreto pilota a banda Lily Braun em alta velocidade. Foto Milena Palladino
Difícil não se impressionar com a voz de Bruna Barreto.

Se até no The Voice Brasil, com toda a concorrência, a moça fez sucesso com seu vozeirão e sua performance visceral, irreverente, que dirá no autoindulgente cenário independente local?

À frente da banda Lily Braun desde 2009, ela e seus parceiros lançaram recentemente um EP autointitulado com quatro faixas: três autorais e uma releitura para Nega do Cabelo Duro, de David Nasser e Rubens Soares.

Não é difícil vê-la cantando na noite. “Fim de semana passado tocamos sexta-feira na Commons, sábado no Grito Rock Feira de Santana e domingo no Grito Rock Camaçari, conta Bruna pelo telefone.

“O mais legal é que as plateias não são mais só nossos amigos, são pessoas que nunca vimos antes, cantando todas as nossas músicas autorais“, conta, feliz.

Nesta quinta-feira, uma possível nova leva de fãs conhecerão o poder de sua voz e a competência da banda que a acompanha em show no Dubliner’s com o combo psicodélico Van Der Vous, outra boa novidade do cenário.

Na batalha desde os 16

Com letras divertidas povoadas por travestis, prostitutas, drogados e golpistas, “a Lily Braun começou em 2009, mas ficamos dois anos sem tocar, só preparando a banda. Até fazermos um show de covers dos mutantes, em 2011”, conta Bruna.

Hoje com 28 anos, Bruna veio de Jequié aos 16. “Nunca fiz faculdade. Chutei o pau da barraca mesmo. Não tive outro trabalho. Vivo disso desde sempre. Já cantei de tudo na noite”.

Até que a baterista da Lily, Julia Dell’Orto, a inscreveu no tal do programa de TV. “O The Voice foi uma experiência incrível. Pisar naquele palco dá muito medo, mas ao mesmo tempo você se sente grande. Tipo ‘agora ninguém me segura’, sabe”?

Com a experiência na tela da Globo agora se distanciando no retrovisor, Bruna, Julia, Olivier Lamorthe (maestro francês, teclados), Bryneo Jumonji (baixo), Átila Santtana (guitarra) e Dani Mota (percussão) querem mais é tocar muito por aí e, no segundo semestre, lançar seu primeiro álbum cheio.

“Já temos repertório para um CD com doze faixas, estamos só concluindo os arranjos. E é tudo  música autoral, por que é a alma do artista”, afirma.

Mais adiante, eles planejam levantar voo rumo a horizontes mais promissores.

“Pretendemos ralar mais um pouco na cena local e quando sairmos vai ser de coração partido. Mas só Salvador não dá”, diz.

No show de quinta-feira, a banda apresenta a nova música Só Que Não. “A gente fala da cidade. Do Farol, da meninado Rio Vermelho, como se fosse tudo lindo. E aí no final... Só Que Não”, diverte-se Bruna.



Lily Braun e Van Der Vous / Dubliner’s Irish Pub / Quinta-feira,  22 horas / R$ 15 (lista amiga), R$ 20
 

www.facebook.com/bandalilybraun

NUETAS

CMTN rodando muito

Ligada no movimento crescente de interiorização do rock baiano, a  banda Canto dos Malditos na Terra do Nunca realiza extensa turnê que já passou por Bom Jesus da Lapa, Caetité, Vitória da Conquista e Camaçari. Nesta semana a trupe invade  Jequié (sábado) e Ilhéus (domingo). O giro encerra dias 12 (Teofilândia) e 13 (Feira de Santana). Iniciativa viabilizada por meio do Edital Setorial de Música da Funceb - SecultBA.

Punks de Amsterdam

As bandas punk rock holandesas Zibabu e Bucket Boys quebram tudo no Dubliner’s domingo, às 16 horas, R$ 10.

Feira Vinil Domingo

Domingo tem mais uma edição da Feira do Vinil. Portela Café, das 12 às 20 horas, grátis. ATUALIZANDO: Acabam de ser confirmadas as bandas Soda Acústica, Garotas de Liverpool e Circo de Marvin para animar o evento. Os shows começam a partir das 17h e são em formato acústico, mas a Feira estará aberta das 12h às 20h.

sexta-feira, março 21, 2014

HOJE: ENIO LANÇA "AXÉ" COM SHOW GRATUITO NO EVA HERZ

Enio, em foto de Victor Marinho
Paulista residente em Salvador desde os oito anos de idade, Enio Nogueira é um dos guitarristas e compositores mais versáteis da cidade.

E é essa característica que marca Axé, CD que ele lança hoje, com um show no Teatro Eva Herz.

O álbum foi gravado entre Salvador e o Rio de Janeiro e contou com três produtores (andré t., JR Tostoi e Paulinho Rocha) e participações especiais de Seu Jorge, Mateus Aleluia, Letieres Leite, Saulo Fernandes e Sanbone Pagode Orquestra.

“Axé é o som da diversidade. Uma mistura com a minha cara”, resume Enio.

Músico com livre trânsito entre o underground do rock e o mainstream local, o Enio diz que o álbum é “antropofágico, nesse lance de comer o que eu acho que tem de melhor na nossa música”, afirma.

“Desde o  ancestral, da coisa do tambor à música eletrônica. O disco tem muito isso. Tem samba – mas não o tradicional, algo mais pro funk, pop rock. Tem voz e violão, harmônio (antigo órgão de pedais), instrumentos indianos”, diz.

Para Enio, o disco também marca um momento de transição, em que a própria música baiana parece se renovar.

“Sim, Axé é uma celebração do que esta acontecendo na música baiana ao meu redor”.

“Inclusive, esse título se refere ao sentido original da palavra, de força, de fazer o bem, de felicidade. E não no sentido de axé music”, esclarece.

Hoje, Enio sobe no palco do Eva Herz acompanhado de Paulinho Rocha (bateria), Bruno Aranha (teclado) e  DJ Mangaio (samplers e efeitos).

Lançamento do Cd Axé, de Enio Nogueira / Hoje, 19 horas / Teatro Eva Herz (Livraria Cultura Salvador Shopping) / Entrada franca

www.facebook.com.br/enioofficial



Leia o perfil do Rock Loco para Enio, feito em 2012.

quinta-feira, março 20, 2014

PODCAST CLASH CITY ROCKERS #26

Com Osvaldo Braminha Silveira Jr., Sérgio Cebola Martinez e Caio Tuy.

A galera digere o show do Elton John e especula o que pode vir por aí.

quarta-feira, março 19, 2014

MICRO-RESENHAS ENQUANTO SUA PAUTA NÃO VEM

Fuzzca envenenado

Ótima surpresa a estreia da banda carioca Fuzzcas. Rock ‘n’ roll brasuca com pegada Jovem Guarda, um toque de psicodelismo e letras bem decentes entoadas com entusiasmo pela cantora Carol Lima. Ainda há esperança pro rock. Fuzzcas / Feliz dia de hoje / Independente / CD: R$ 15 / Baixe: www.fuzzcas.com













Estourando

Três bandas baianas (Pastel, Agressivos, Derrube) e uma finlandesa (Riiva) de punk rock harcore estouram tímpanos, amplificadores e claro, o sistema, em 24 faixas plenas de ódio e desprezo. Legal! Riiva, Pastel De Miolos, Agressivos, Derrube O Muro / 4Waysplit / Brechó - Big Bross Records  / R$ 5 no www.brechdiscos.bandcamp.com








Suicídios corporativos

Em meio a uma sucessão de casos  de suicídios e colapsos nervosos em uma grande empresa de telefonia (como aconteceu na France Telecom em 2008), uma médica do trabalho toma uma atitude desesperada e de consequências funestas para tentar deter o assédio profissional. Ágil e estarrecedor. No limite / Marin Ledun / Tordesilhas/ 368 p./ R$ 46/ tordesilhaslivros.com.br







Salvem os ursos polares!

A triste imagem de ursos polares encurralados em territórios gelados cada vez menores inspirou esta linda HQ de tons ecológicos dos espanhois Emilio Ruiz e Ana Miralles. Wáluk é um filhote perdido no Alaska que é meio que adotado por Esquimó, um urso já velho e cansado. Juntos, tentam sobreviver em um ambiente degradado, entre caçadores e a exploração de gás natural. Apesar do tema, não resvala para o tom ecochato, gerando uma HQ emocionante para todas as idades. Wáluk / Emilio Ruiz e Ana Miralles / Nemo/ 56 p./ R$ 34/ editoranemo.com.br
Bela voz, só falta repertório

Dona de bela voz, a cantora Andreia Mota mira alto no CD de estreia, uma obra de arranjos e poesia densas, jazzística-ortodoxa. Por isso mesmo, nem sempre acerta, tornando a audição  uma tarefa mais cabeça do que agradável. Diz a que veio. Andreia Mota / Paisagem invisível / Independente / R$ 20






Dever de casa com o professor Nile

Ótima banda de baile, medíocre no quesito ideias, o Jota Quest faz o dever de casa neste sétimo álbum. Tanto que até chamaram o professor  Nile Rodgers (Chic) para tocar em duas faixas. Festeiro, tem sido apontado como o melhor CD da banda. Jota Quest / Funky funky boom boom / Sony Music / R$ 24,90







Traquinagens nas ruas de Bruxelas

Criador do intrépido repórter Tintim, o belga Hergé (1907-1983) não tinha nenhuma outra obra sua publicada no Brasil. A espera acabou com este Quick e Flupke, dois moleques travessos das ruas de Bruxelas, inpirados na infância do autor. Divertido e inocente, para todas as idades. As diabruras de Quick e Flupke – Volume 1 / Hergé / Globo Livros/  R$ 39,90/ 184 p./ globolivros.globo.com






Relato forte

O jornalista e professor da UnB Flávio Tavares desceu ao inferno da ditadura e voltou para contar o que passou neste impressionante relato, que saiu em 1999 e volta ampliado. Elogiado por Saramago e Ernesto Sábato, vem em boa hora, quando aquele golpe vergonhoso faz 50 anos. Memórias do esquecimento / Flávio Tavares / L&PM/ 272 p./ R$ 19,90/ lpm.com.br







A velha lenga-lenga R&B pra inglês ver

Bombada no Reino Unido, a cantora escocesa Emeli Sandé solta o primeiro registro ao vivo, já no nobilíssimo Royal Albert Hall de Londres. Pena que não saia da lenga-lenga do R&B contemporâneo: produção de mais, música de menos. Emeli Sandé / Live at the Royal Albert Hall / Universal / R$ 39,90







Sofisticação pernambucana

O cantor pernambucano Gonzaga Leal faz aqui uma sofisticada imersão na poesia e na música brasileira mais profunda. Composições de Luiz Tatit, Jota Velloso, Públius, Paulo César Pinheiro, Júnio Barreto e outros. Um passeio pela MPB mais tradicional. Gonzaga Leal / De Mim / Independente / R$ 29,90






Para fãs de John Mayer e olhe lá

Em seu CD de estreia, o duo paulista Manuche (de Tom Gil e Feeu Moucachen) pratica um blues rock light (John Mayer, alguém?), que até soa bem, com bons timbres de guitarra, gaita e Hammonds. Mas peca pela suavidade demasiado pop. Blues sem dor?  Valeu, mas, não. Manuche / Livre / Warner / R$ 24,90







Hard rock 80's competente

O quarteto local de hard rock 80’s Batrákia mostra o cartão de visitas neste EP de seis faixas em que segue o padrão ortodoxo do gênero. Fãs de Skid Row e Mötley Crüe podem se jogar: speed, peso,  refrões, voz rasgada, solos. Tudo confere. Batrákia / Batrákia / Independente/ facebook.com/batrakia









Beto Barbosa sorri

A imprensa sulista está hipnotizada por qualquer coisa que venha do Pará. OK, é uma música rica, dançante, alegre, como este CD da guianense Lia Sophia, com  carimbós, merengues e guitarradas. Em algum lugar, Beto Barbosa dá um sorriso irônico. Lia Sophia / Lia Sophia / Natura Musical - Som Livre / R$ 22,90






Segunda geração dos Godoy

Primos, esta segunda geração dos Godoy (do Zimbo Trio) mostra a que veio neste primeiro CD de releituras de clássicos da MPB. No esquema voz, sax e piano, há Milton, Tom, Zé Keti, Vinícius, Chico, Monsueto e claro, os pápis. 3G Trio / O que a gente ouvia lá em casa / Tratore / Preço não divulgado






Bermudas e good vibes

Adorada pela galera em sua terra, a banda carioca ForFun desfia seu repertório do típico pop rock de bermudas local. Muita vibe com mensagens positivas um balancinho maneiro para quem só quer se divertir. Não é ruim, mas... Forfun / Ao Vivo no Circo Voador Dez. 2012 / CD: R$ 29,90 / DVD: R$ 47,90 /









Cello heroes

Luka Šulić and Stjepan Hauser são dois violoncelistas croatas que viraram rock stars na Europa, graças as interpretações vigorosas que dão a clássicos do rock como Back in Black (AC/DC), Hurt (Nine Inch Nails), Smells Like Teen Spirit (Nirvana) etc. 2Cellos / Live at Arena Zagreb /  Sony Music / DVD: R$ 31,90









Vera velha e Loca

O Rio Grande do Sul e sua cena rock autossuficiente. A Vera Loca, desconhecida no resto do Brasil, com 11 anos de estrada, surge neste DVD nos braços de um grande público que canta todas as músicas. Pop rock maneiro, poderia ser mais conhecido. Vera Loca Ao Vivo / Ímã Records / DVD: R$ 27,90 / CD: R$ 22,90







Tradição resgatada

Bela surpresa o resgate da tradição dos grupos vocais neste primeiro CD do Grupo Ecco. Entre releituras (Sobradinho, Mercy Mercy Me) e inéditas (Terra Desolada), participações preciosas de Alceu Valença, Fabiana Cozza e Izzy Gordon. Grupo Ecco / As Forças da Natureza / Tratore / R$ 24,90






Do The Voice para o underground local

Banda da cantora Bruna Barreto, que ganhou certa notoriedade no The Voice Brasil, estreia com EP de quatro faixas. Impressiona pela pegada segura, as letras legais e claro, o vozeirão de Bruna. Há a sombra de Cassia Eller pairando aqui, mas nada que a estrada não dissipe. Lily Braun / Idem / Independente / facebook.com/bandalilybraun








Sacanagem sequencial

Se tem uma coisa de que os europeus entendem, é de sacanagem (especialmente quando se trata de f%$%r com outros povos, mas deixa pra lá). Nesta linda coletânea, 12 HQs de alguns dos melhores quadrinistas europeus, sempre temperadas com muito sexo e safadezas, no clima do verão. Breve, mais três volumes: Encontros, Lingerie e Natal. Uma suadeira, só para adultos. Safadas: Verão/ Vários autores / Nemo/ 72 p./ R$ 39/ editoranemo.com.br






Raio-X no cambalacho

Uma das seitas mais esdrúxulas de todos os tempos (e olha que a concorrência é forte), a Cientologia cooptou muitos astros de Hollywood. Neste livro, os bastidores dessas relações de poder e manipulação de corações, mentes e fortunas. A Prisão da Fé: Cientologia, celebridades e Hollywood /L. Wright / Companhia das Letras/ 600 p./ R$ 57/ E-book: R$ 38/ companhiadasletras.com.br






Que diabos eles tanto cantam, hein?

Todo mundo algum dia já se perguntou sobre que diabos tanto se canta em óperas clássicas, como A Flauta Mágica, Tristão & Isolda, Aída e tantas outras. Bem, aqui está o, literalmente, Resumo da Ópera para responder com os libretos em forma de conto. Pronto, fim do mistério. Resumo da ópera /  A.S. Franchini / L&PM/ 400 p./ R$ 44,90/ E-book: R$ 35/ lpm.com.br







Chama o The Roots de novo

Dono de belíssima voz, John Legend rende melhor quando está acompanhado de bons músicos, como em Wake Up! (2010), com a banda The Roots. Nas mãos de produtores mais preocupados com as paradas de sucesso... nem tanto. Infelizmente é o caso deste Love In The Future, em que pouca coisa se salva. John Legend / Love in the future / Sony Music /R$ 24,90






O Brasil bonito

Que beleza a abordagem cheia de personalidade e bom humor do cantador e violeiro Paulo Freire para a música caipira de Minas Gerais. A sonoridade ancestral de sua viola se dá ao luxo de contar causos engraçados (É Meu) e até homenagear Chet Baker (Pintando o Chet). Paulo Freire / Alto Grande / Vai ouvindo / R$ 25









Dia D dissecado

Relato inestimável do mais sangrento combate da Segunda Guerra Mundial, este clássico do jornalismo traz a visão in loco do desembarque na Normandia no Dia D, quando o conflito começou a ser vencido pelos aliados. Preciso, emocionante, magnético, fundamental. O mais longo dos dias / Cornelius Ryan / L&PM / 328 p. / R$ 29,90 / E-book: R$ 17 / lpm.com.br







Da tela para as páginas

Com o sucesso da série Sherlock, da BBC (não confundir com Elementary, da Universal), chega ao mercado uma trilogia de livros originais do velho detetive: Um Estudo em Vermelho, As Aventuras e As Memórias de Sherlock Holmes, com os atores na capa. Para fãs ou quem nunca leu, esta é a hora. Um estudo em vermelho / Sir Arthur Conan Doyle / Companhia Editora Nacional / 200 p. / R$ 33,90 / editoranacional.com.br

quinta-feira, março 13, 2014

CANTOR DA VELOTROZ, GIOVANI CIDREIRA SE LANÇA SOLO EM SÉRIE DE SHOWS

Giovani Cidreira, em foto de Nathália Miranda
Revelado na cultuada banda local Velotroz, o cantor e compositor Giovani Cidreira tem feito desde janeiro série de shows itinerantes para preparar o lançamento do  trabalho solo.

Gravado na  Caverna do Som, o EP de quatro faixas foi produzido pelo cada vez mais onipresente Irmão Carlos.

A faixa Veleiro Contra o Vento foi liberada para download e dá a  ideia do que esperar.

Melancólica, pegada caetânica 70’s flertando com a estética psicodélico-nordestina de Fagner do mesmo período. É uma bela canção, que parece falar de sentimentos urgentes demais para serem nomeados.

Nesta semana, é possível ver Giovani no palco duas vezes: sexta-feira dia 4 de abril (obrigado Ana Camila, pela correção de data) ele faz uma participação no show da banda Lily Braun na Commons.

E sábado tem pocket-show com a banda Andaluz no Dubliner’s.

“Na verdade, não é carreira solo como se tivesse deixado a Velotroz”, avisa o músico.

Diálogo aberto

“Todos na banda tem outros projetos em música, cinema e outros lances. Eu só aproveitei uma pausa para trabalhar umas músicas que eu já tinha composto há tempos”, conta.

"É basicamente o som que eu estava ouvindo. Agora é o que estou fazendo, mas não sei por quanto tempo. Ano que vem eu posso estar lançando um disco de pagode, quem sabe. É uma retroalimentação do que estou ouvindo mesmo. A gente nunca sabe o que vai dar", observa.

"Aliás, eu acho que o grupo dos pagodeiros talvez seja único na Bahia que renovou sua música e criou uma linguagem própria. Ritmicamente, é genial. Fora isso, tem uma coisa que é o critério mais importante para avaliar musica, que é o quanto aquilo é verdadeiro. E nisso, eles estão muito além", afirma.

"Como sou morador de periferia, me identifico muito com as músicas. Acho que os caras escrevem e tocam o que realmente vivem. É perceptível. E essa história de música obscena é bobagem. Sempre teve isso. O que falta é aprender a namorar. Mas é um processo. A musica (pagode) ainda tá muito nova, tem muito o que acontecer, ainda", reflete Giovani.

Acompanhado de Thiago Brandão (bateria), Dinho Castilho (baixo), Sílvio De Carvalho (guitarra), Felipe Cerqueira (percussão) e “às vezes” de Fabricio Della Vecchia (trombone) e Normando Mendes (trompete), Giovani dialoga em seu trabalho com  linguagens como cinema, dança, poesia e artes visuais.

“Minhas influências passam muito por isso. Tenho amigos poetas, cineastas, artistas. Os filmes que eles fazem, as coisas que eles escrevem, tudo acaba aparecendo no trabalho”, diz.

“E sim, existe um interesse de levar isso para os shows. São coisas muito próximas e que, quando der, estarão comigo nos shows, no palco”, afirma.

“Compareçam aos shows e venham com suas opiniões. Venham interessados não só em música, mas também em experiências para construirmos uma coisa legal, precisamos abrir o leque. E também precisamos parar com essa diplomacia louca de que tudo é bom e todo mundo é legal. Quando só supervalorizamos as coisas, acabamos desvalorizando nosso trabalho", acredita.

"Posso ser seu amigo e dizer que não gosto da sua música. Podem fazer isso comigo, sei lidar com as criticas. A gente se ajuda assim também. Antigamente tinha muito isso. Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos eram amigos mas discordavam politicamente e esteticamente. As coisas são para serem diferentes, mesmo”, conclui.

Andaluz e Giovani Cidreira / Sábado, 22 horas / Dubliners Irish Pub / R$ 15

www.giovanicidreira.com




NUETAS

Vivendo e Teenage Buzz

Vivendo do Ócio e Teenage Buzz quebram tudo no Dubliners Irish Pub. Night rock que promete: sexta, 22 horas, R$ 20.

Rocknbeats sábado

A terceira edição da festa Rocknbeats rola sábado no Portela Café com os DJs Junior Passini (SP), Dieguito Reis (VdÓ) e Fernando Siciliano (SP). Gelatina de vodka em forma de ursinho, Lookbook e outras frescuras, R$ 20 (antecipado), R$ 25 (lista) ou R$ 35 (na hora), 23 horas.

Grito Rock à tardinha

Lo Han, Rivermann, Decliniun e Bilic Roll fazem o festival Grito Rock Salvador neste sábado, em horário de matinê: a partir das 15 horas. Boas bandas no Dubliner’s Irish Pub, R$ 10.

quarta-feira, março 12, 2014

PODCAST ROCKS OFF: STREETS OF NY, DE WILLIE NILE



Miguel Cordeiro sugeriu e Nei Bahia e Osvaldo Braminha Silveira Jr. aceitaram dissecar o álbum Streets of New York (2006), de Willie Nile.

Abaixo, ouça a faixa-título (sorry, não achei o álbum completo):



Mas achei o LP de estreia:

Willie Nile - Willie Nile (1980 Full Album) from Funk Drops on Vimeo.



terça-feira, março 11, 2014

ESPAÇO CULTURAL DO IRMÃO CARLOS OFICIALIZADO

Contemplado em um edital de dinamização de espaços, o Dona Neuza garante festa tradicional e realização de oficinas pelos próximos seis meses

Don Carlinhos, senhor dos seus domínios. Foto Denisse Salazar
A persistência pode até tardar, mas uma hora ela dá resultado.

Dez anos depois de seu início, a festa Faustão Falando Sozinho, do músico Irmão Carlos, ganha reconhecimento oficial através de um Edital de Dinamização de Espaços Culturais (nº 23/2012), da SecultBA.

A partir do dia 6 abril, o Espaço Cultural Dona Neuza vai abrigar durante seis meses – além da festa mensal também conhecida como Domingo de Cabeça Pra Baixo – o projeto Ponto Sonoro.

Tudo acontece no “complexo” de Dona Neuza, a simpática mãe do Irmão Carlos, que dispõe de bar, espaço para shows e um estúdio de ensaios e gravações – o Caverna do Som.

Com um apoio governamental no valor de R$ 99.940 (informa o site da SecultBA), a ideia é estabelecer o espaço como referência do circuito de música independente, oferecendo, além dos shows a cada primeiro domingo do mês, oficinas, palestras, programas de web TV e ensaios gratuitos para bandas iniciantes.

“É um projeto ousado, que tem muito detalhe, muita coisa pra fazer e pouco dinheiro”, afirma Carlos Fernando Ribeiro Paiva Júnior, o Irmão Carlos.

Tudo começa no dia 6 de abril, quando a festa Domingo de Cabeça Pra Baixo botará no palco do Dona Neuza a banda anfitriã do dono da casa – Irmão Carlos & O Catado – e mais duas outras convidadas, ainda a serem divulgadas.

“Como fazemos há dez anos, minha banda toca em todos os Domingos de Cabeça Pra Baixo. Na verdade, o  evento surgiu para a gente poder tocar. A banda e o evento caminham juntos. Não existe Domingo de Cabeça Pra Baixo sem O Catado”, estabelece Carlinhos.

Any given Sunday - de cabeça pra baixo no Marback
Subsidiado é mais gostoso

Além dos shows, o Espaço Dona Neuza oferecerá oficinas de Produção Musical, Executiva e Coordenação de Produção, Produção Fonográfica, Assessoria de Comunicação, Fotografia e Design Gráfico.

“Tudo com inscrição gratuita e sem qualquer tipo de restrição. Qualquer pessoa interessada pode participar. A inscrições logo estarão disponíveis no site do espaço”, diz.

Agora com sua iniciativa de dez anos apoiada por um órgão do governo, Carlinhos diz que “é bacana ter esse reconhecimento – principalmente por ser subsidiado, já que aqui é um local aberto, na rua mesmo, não tem nem como cobrar ingresso”, percebe o músico.

“Subsidiado, todo mundo trabalha feliz, já que antes era tudo pelo nosso bolso: aluguel de som, equipe técnica etc. O dinheiro que entrava era da venda de cerveja”, conta.

Agora, Carlinhos e seus parceiros trabalham na seleção das bandas que vão se tocar e dos profissionais que vão ministrar oficinas ao longo dos próximos seis meses.

“Pretendemos aproveitar também artistas do cenário independente nacional que estejam passando pela Bahia. E não só para fazer shows, mas também para bate-papos com o público, palestras”, afirma.

A coroa punk e o cadeirudo

Dona Neuza, a própria, em momento "buliçoso"
Com centenas de edições, algumas interdições da Sucom e tudo o que advém de uma festa que nasceu na rua, Carlinhos afirma que “o melhor de tudo é a integração social. O Espaço fica bem na intercessão entre um conjunto habitacional (Marback), uma favela (Barreiro) e dois bairros (Imbuí e Boca do Rio)”, diz.

“Então mistura moradores de todas essas localidades, mais os frequentadores que vem de outros pontos da cidade”, observa.

Depois de dez anos, muitas histórias e personagens são lembradas aos risos por Carlinhos e sua mãe.

“Tem um cara que tem uma bunda desse tamanho, um cadeirudo que fica na frente do palco, fazendo uma dancinha, conhecido como Bahia Quieta. É por causa do bordão dele, que é ‘Deixa a Bahia Quieta, rapaz’’, conta.

Mas ninguém é mais querido por ali do que a própria Dona Neuza. Apreciadora contumaz de uma cerveja gelada, a senhora de 71 anos costuma subir no palco para cantar e dançar com as bandas.

“Quando a música bole comigo, eu subo”, conta, copo na mão.

“Sou parente de Dercy Gonçalves. Hein? É que eu sou pornográfica, meu filho”, afirma.

“Tô dizendo? Minha mãe é a coroa mais punk da Bahia”, orgulha-se Carlos, o bom filho.

Domingo de Cabeça Pra Baixo /  Irmão Carlos & O Catado, mais duas bandas / Espaço Cultural dona Neuza / Rua Pedro Batista de Almeida, casa 01, Conjunto Marback, setor 2, Boca do Rio / 6 de abril, 16 horas / Gratuito

Programação e inscrições no www.espacodonaneuza.com.br

quinta-feira, março 06, 2014

VELOZES, OS AUTORAMAS RODAM O MUNDO E CONTAM COMO FOI EM UM DOCUMENTÁRIO

Power trio carioca Autoramas lança documentário que registra turnês da banda pela Europa e América do Sul, com direito a passagem pelo Carnaval da Bahia

Gabriel, Flávia Couri e Bacalhau em Buenos Aires
Dificilmente existe hoje no cenário do rock independente brasileiro uma banda tão articulada quanto o power trio carioca Autoramas.

Por que só mesmo um grupo muito articulado para, contando apenas com os próprios meios, fazer turnês anuais pelos melhores inferninhos da Europa e América do Sul.

O recém-lançado DVD Internacional registra justamente uma parte de diferentes giros pelo estrangeiro realizado pelos três músicos desde 2008.

Dirigido por Pedro Serra, o documentário traz imagens dos membros da banda percorrendo 15 países, do frio da Alemanha, Áustria e Holanda até as ruas de Buenos Aires, Lima e Santiago do Chile, passando pela Itália, Espanha, Portugal, Inglaterra, Suíça, França, Bélgica e claro, pelo Brasil também.

O documentário é dividido em blocos de países, entrecortados pela narração em off dos Autoramas e alguns clipes.

“Os offs não percorrem  o filme todo, é mais em  alguns trechos que achamos que precisava de explicação”, conta o guitarrista e vocalista Gabriel Thomaz.

“A gente participou da produção mais no sentido de identificar as imagens e contar algumas histórias (nas vozes em off). Mas o roteiro, a linha narrativa é do Pedro Serra”, diz.

Gabriel chama a atenção para uma evolução que vai ocorrendo ao longo do filme: “Começamos em 2008, tocando em lugares bem pequenos, com pouca gente. Mas no final você pode perceber que já estamos em lugares maiores, tem mais gente na plateia”, afirma.

“Quisemos mostrar uma história, não era só para charlar, como vocês falam aí na Bahia”, ri Gabriel. “Queremos mostrar as coisas boas e as ruins”, diz.

Em cima do trio

Quem estranhou Gabriel familiarizado com a gíria local não deve estar sabendo que pelo uma vez por ano eles se apresentam na Bahia (sem contar que é casado com a cantora baiana Erika Martins).

E é justamente a passagem mais inesquecível do trio por Salvador a que está registrada em Internacional, quando eles se apresentaram a bordo do trio Foguetão, puxado pelos Retrofoguetes no Carnaval 2009.

“Isso é uma das coisas de que mais nos orgulhamos na nossa carreira. Somos muito gratos a Rex e Morotó, que  são nossos ídolos. Também gostaria de fazer de novo, mas se não rolar, também será uma lembrança para a vida toda”, agradece.

...E olha eles aí de novo, agora em Barcelona
Agora, o trio já se prepara para nova maratona de shows pelo mundo, começando agora em março pelo México, Abril Pro Rock de Recife no mês que vem (com a participação de Renato Barros, do Renato & Seus Blue Caps) e um novo giro europeu a partir de junho.

“Esse show no México já é fruto desse  trabalho internacional que vimos fazendo há muitos anos”, conta.

“É no final de março, em um festival que é tipo o Rock in Rio mexicano. Seremos a primeira banda brasileira lá,  eles escolheram a gente. As portas vão se abrindo e a gente vai aproveitando. E em junho na Europa, vamos desbravar um país que nunca fomos, que é a Finlândia. Faremos Helsinque (capital), mais duas cidades”, conta.

Minha pátria é minha língua

Com Internacional, os Autoramas não apenas querem mostrar que uma banda de rock brasileira cantando em português pode rodar o mundo e fazer fãs, mas também que, para tudo isso, nunca precisou tocar pandeiro, usar cocar nem botar mulatas para sambar no palco.

“Isso é o pior clichê, por que a imagem que a galera lá fora tem do Brasil não tem nada a ver com o que gente acha”, diz.

“A verdade é que, se for bom, eles gostam de qualquer tipo de música. Isso aumentou muito nossa autoestima, até porque  lá eles dizem que temos um balanço original do Brasil. Nós mesmos não identificamos isso”, percebe Gabriel.

“O engraçado é que lá encontramos bandas alemãs e italianas que cantam em inglês e comentaram com a gente depois ‘precisamos cantar na nossa própria lingua’. Os clichês rolam lá fora também”, observa.

"O importante é a música. O cara que pensa 'vou cantar em inglês para conquistar o mercado tal' já começou errado. O que importa é o som, cara. Se eu ouço alguém falando isso, eu nem compro o disco. Agora, pra chegar e lançar um CD nos EUA, para entrar no mainstream, eu realmente precisaria cantar em inglês. Mas na Europa, não Você chega na Romênia, eles cantam em romeno. E em Portugal eles falam essa língua esquisitíssima que é o português", acrescenta.

Além do Internacional, os Autoramas também estão divulgando o EP Auto Boogie, gravado com o rapper carioca BNegão, liberado para download no final do ano passado e que está prestes a ganhar versões em CD e vinil.

"Estamos agora fazendo bastante coisa diferente. Tem o trabalho com o BNegão, que sai físico em breve. Tem o show com Renato Barros dos Blue Caps no APR... Estamos muito animados, e ainda tem a divulgação do DVD, que foi foi um processo bem trabalhoso de crowdfunding. Então temos que saborear isso também", afirma.

Como se não fosse o bastante, o hiperativo Gabriel já pensa em entrar no estúdio no segundo semestre para gravar disco novo.

"O disco novo também já está em estudo. Estou esperando ter um tempo, pois estou com muitas ideias soltas. Precisamos parar e juntar o quebra-cabeças, colar as ideias. Eu estou louco para começar. Se pudesse, lançava dois álbuns por ano. É que hoje em dia não é mais assim, mas veja as histórias dos Beatles. Teve ano que eles soltaram dois discos geniais. Hoje é difícil, isso. As coisas tem outro ritmo", conclui.

Internacional: gravado ao redor do mundo / Autoramas / Coqueiro Verde Records / DVD: R$ 22,90 / www.autoramasrock.com.br


quarta-feira, março 05, 2014

BANDA MARCANTE DOS ANOS 90, A SÍNCOPE ESTÁ DE VOLTA

Síncope: Maurício Uzeda, Ronaldo Pitanga, Tito Mutti, Bruno Uzeda. Foto João Franco
Uma das raras bandas de heavy metal clássico de Salvador (o pessoal aqui é mais chegado no black / death metal), a Síncope teve marcante   passagem pelo cenário local, entre os anos de 1992 e 1997.

17 anos anos depois, eis a trupe de volta – e você já pode assisti-los hoje mesmo, no Palco do Rock, na praia de Piatã.

(O show foi ontem, mas em abril tem show de novo no Dubliner's, em data a ser confirmada. Interessados se liguem).

Nos anos 1990, o então quinteto teve certa projeção e tocou bastante pelos palcos locais, apesar de não ter deixado um registro fonográfico mais significativo, tendo se limitado a  participar de coletâneas como a Dois da Bahia, organizada pelo grande Ruy Mascarenhas.

(Como se sabe, naquela época ainda não havia Pro-Tools, então não era tão fácil gravar e lançar como é hoje.)

Volta pelo Facebook

Ainda assim, foi a vencedora absoluta de um badalado concurso de bandas da época, o Top Biz Cajuba – promovido por uma marca de suco de caixinha –, deixando para trás centenas de outros grupos inscritos.

“Retornamos com a banda no ano passado e já fizemos alguns shows no Dubliners com a King Kobra”, conta o vocalista, Ronaldo Pitanga.

“Da formação original, só um não voltou. O resto é a mesma banda dos anos 90: eu, (os irmãos) Bruno (guitarra) e Mauricio Uzeda (baixo) e Tito Mutti (bateria)”, escala Pitanga.

Dono de garganta privilegiada – sério, o cara chega a lembrar o saudoso Dio em alguns momentos – Pitanga conta que nos últimos anos cantou em bandas de outros estilos e chegou até a trabalhar em navios de cruzeiro, conhecendo o mundo e soltando a voz por aí.

Há alguns meses, o cantor comentou no Facebook que estava com saudade do heavy metal: “Aí meu irmão sugeriu que eu procurasse os caras da banda para tocar de novo. Eles aceitaram, as pessoas começaram a curtir no Face e isso foi dando empolgação para voltarmos”.

Hoje, a banda executa o repertório clássico, incluindo uma música inédita da época, Cerberus – mais três covers: “Tocamos I Am a Viking, do Yngwie Malmsteen e duas do Iron Maiden: Two Minutes to Midnight e The Evil That Men Do”, conclui Pitanga.

E fiquem de olho no Facebook da Síncope, que em breve tem mais novidades.



NUETAS

Curtição no Jardim

Essa é bacana: o Tardal Jardim de Alah –  parece que é um coletivo de produtores e bandas – tem organizado guerilla gigs no gramado defronte o Apart Hotel Jardim de Alah. O próximo é dia 16, com três bandas de cover: Forma Padrão (Pitty), Jacked (Los Hermanos) e Produto do Meio (Raimundos). Grátis, mas leve R$ 2 para colaborar... 15 horas. Veja mais: facebook.com/tardalSalvador.

Tropical Selvagem X3

O Tropical Selvagem (Ronei Jorge e João Meirelles) faz temporada na Casa Preta (Largo 2 de Julho). Próximas três sextas-feiras (dias 7, 14 e 21). Olha o horário: 20 horas, R$ 12.

O dia de São Patrício

As bandas Abismo Solar e Poor Boys (Creedence Cover) animam o Dia de São Patrício do Dubliner’s Irish Pub. 15 horas, grátis. Vá de roupa verde.

domingo, março 02, 2014

NÃO ME PEÇAM PARA FALAR MAL DO CARNAVAL DA BAHIA*

Então o pessoal  me pediu para escrever sobre o Carnaval. Desconheço o motivo. Não gosto de axé music, pagode, funk carioca e sertanejo.

Reconheço a legitimidade do pagode baiano – reflexo fiel das aspirações socioeconômicas e sexuais do baiano médio.

Mas não me entendam mal: sou um soteropolitano de 42 anos, vivi a vida inteira neste chão à beira do Atlântico.

Minha infância foi entre os anos 1970 e 80, então eu vi exatamente o que era o Carnaval – e o que se tornou.

E ainda há quem se admire quando descobre que não gosto mais dele. Por quê? Aí recorro à máxima de Louis Armstrong quando lhe perguntaram “o que é jazz”: “Man, if you gotta ask, you’ll never know”. Cara, se você ainda precisa perguntar, é por que nunca vai entender.

Mas vamos lá.

Porém, aviso que não vou aqui chorar pitangas dos antigos carnavais, quando a rua era do povo e não de camarotes monstruosos e bregas, cheios de gente que parece feita de plástico.

Tampouco lamentarei a música do Carnaval atual, igualmente plastificada em uma fórmula que já nasceu velha – há  uns 30 anos.

Engana-se também quem acha que vou tapar o nariz para o fedor onipresente e sufocante de mijo.

Não direi uma palavra sobre a pobre pipoca, perigosamente imprensada entre as cordas (vergonha inominável) e os tapumes dos camarotes.

Juro que vou ignorar a poluição visual da propaganda invasora de todos os espaços possíveis.

E depois, quem sou eu para falar mal de alguma coisa?

Se até um homem poderoso como Nizan Guanaes foi quase linchado ao ousar dizer o que pensa, imagina o que pode acontecer com um jornalista pé-rapado que nem eu?

Enfim: é muita areia pro meu  caminhãozinho.

Mas como um rápido exemplo, deixo uma reflexãozinha rápida e caceteira sobre  Raiz de Todo Bem, hit de Saulo Fernandes.

Nada contra o rapaz. Até aprecio sua vibração caymmiana-hipster-telúrica.

Mas é que é estranho tanta gente bem informada deslumbrada com a música, como se  fosse um prodígio de criatividade.

Gente, olha só: em coisa de um minuto, o rapaz consegue rimar “África-iô-iô” (hein?) com “Salvador” e “meu amor”.

“Fé” com “candomblé”.

E “Nordeste” com “caba da peste”.

Precisa mesmo dizer mais?

*Artigo publicado hoje no jornal A TARDE, após solicitação da redação.

FATOS & FOTOS DE UM BISBILHOTEIRO DO BARULHO

Jornalista reúne em livros imagens e lembranças de encontros com mitos do pop

Bob D., crente que não seria reconhecido em Copacabana. Fotos: Jotabê Medeiros
Se tem uma coisa que baiano se amarra é botar gringo em esparro.

Foi durante uma esparrela histórica na Bahia que o jornalista Jotabê Medeiros teve a ideia para seu livro O bisbilhoteiro das galáxias – no lado B da cultura pop (Lazuli).

“Eu estive aí em Salvador naquela célebre passagem do U2 pelo Carnaval (2006), quando Bono cantou Chupa Toda com a Ivete  e o Gil. Fui enviado aí atrás deles”, conta o repórter do jornal Estado de São Paulo.

“Fui do aeroporto pra casa do Gil, quando  cheguei lá a imprensa toda barrada na porta do condomínio”, relata.

“Aí uns garotos botaram eu e um fotógrafo para dentro – dei de cara com o U2 entrando na casa do Gil. Conversei com Bono lá, estavam gostando muito. Esse é um dos fatos que teriam entrado no livro, se eu tivesse máquina fotográfica”, conta.

“Meio que começou  ali essa história de bisbilhoteiro”, diz.

Depois desse episódio – e de outros encontros mais ou menos casuais com figuras como Van Morrison, Chico Buarque e Salman Rushdie – Jotabê decidiu andar sempre com uma máquina, até para o pessoal não duvidar mais dele.

Astros de pé no chão

Em 50 textos acompanhados de fotos exclusivas clicadas por ele mesmo, Jotabê relata encontros e desencontros com grandes artistas da música, incluindo suas  impressões pessoais, sacações e  conexões que ele mesmo estabelece, com a perspicácia que seus leitores já conhecem.

Iggy de chinelos com meias no aeroporto
“Alguns textos foram retrabalhados (a partir de matérias anteriormente publicadas), mas a maioria é totalmente nova. Escrevi com base em anotações,  textos do meu blog, impressoes de viagem. Documentei esses fatos – e alguns obviamente adquirem mais relevo por serem sobre figuras míticas”, conta.

E bota mítica nisto. Entre outros flagras incríveis, Jotabê capturou Bob Dylan caminhando sozinho na Avenida Nossa Senhora de Copacabana (“Sim, Bob Dylan intimida. Foi como estar frente a Deus, aquele que forjou quem você é”, lembra o Bisbilhoteiro), Iggy Pop de chinelos com meias no saguão de um aeroporto, Roberto Carlos e Perry Farrel em Jerusalém, Manu Chao em um boteco no Itaim Bibi e Wayne Coyne no Chile.

Tem ainda Eumir Deodato em Recife, Fatboy Slim em Salvador, Zé Ramalho em Piritiba  e até o célebre arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé), em São Paulo.

“Sou fã e admirador do Lelé ha muitos anos. Ele, (a fotógrafa) Maureen Bisilliat, (o poeta) Roberto Piva e (o escritor) Abdias do Nascimento são pessoas que tem um tipo de diálogo com a contemporaneidade e uma compreensão da cultura popular que os coloca no mesmo patamar dos outros”, diz.

Porém, mais do que avaliações deste ou daquele show, o que o livro do Jotabê realmente traz são momentos desprevenidos dos artistas enfocados.

“O ponto de partida dessas histórias são os encontros, a aproximação com um astro, mitos da cultura popular que eu vi em algum momento mais humanizado, mais próximo do chão”, observa.

“O Iggy Pop com o cartão de embarque no bolso é um exemplo perfeito. Várias fotos foram feita em circunstâncias em que eu não estava trabalhando. Pude vê-los sem aquela urgência do jornalismo diário”, nota.

Procura-se cronistas pop

Por isso mesmo, O Bisbilhoteiro das Galáxias é um livro acessível não só para fãs destes artistas ou outros jornalistas, mas para qualquer pessoa interessada em cultura popular.

“Tive a preocupação de não fazer um livro de jornalista para jornalista, mas que pode ser lido por qualquer pessoa que queira compreender o que significam essas figuras, o mundo em que elas se inserem, o que representam na cultura”, afirma.

Perry Farrel em Jerusalém
“Outra coisa é que já há no Brasil elementos para uma crônica pop. Temos muitas boas histórias – Kurt Cobain bêbado encomendando  drogas no hotel, Axl Rose jogando a TV pela janela –, mas os profissionais brasileiros são meio tímidos, fora um Fabio Massari (Mondo Massari), um André Barcinski (Barulho). Podemos ter uma crônica pop tupiniquim cabocla estabelecida, gerando um confronto de fatos e comportamentos e ideias nesse mundo em que circulamos. A gente vive muito dos escritores dos Estados Unidos e Inglaterra - Lester Bangs, Nick Hornby e tantos outros. Há um leque muito grande desse tipo de literatura na língua inglesa, mas ainda muito modesto em português. Eu achei que tinha uma documentação que valia a pena ser conhecida. Quem sabe isso inspira os colegas a fazer outros livros? O (jornalista baiano) Hagamenon Brito, que inventou o termo axé music, que se incorporou ao dicionário e tem um conhecimento muito grande da história musical da Bahia é um exemplo. Eu quero ler um livro do Hagamenon", exorta Jotabê.

Entre outras histórias interessantes apresentadas no livro, Zé Ramalho tem uma especial: durante um São João na cidade baiana de Piritiba, o trovador paraibano foi praticamente obrigado a se apresentar, meio contra sua vontade: "A história com o Zé Ramalho foi emblemática. Eu fiquei ali por perto dele, mas ele não sabia quem eu era. E pra mim ele tem a mesma dimensão de um Dylan na minha vida – e ali eu o vi meio acuado sabe? Ele é um homem cuja maturidade não trouxe uma liberdade plena. Ele parecia preso numa armadilha. Era uma situação emblemática da nova circunstância da musica, que obriga os caras a voltarem a estrada e fazer 150 shows por ano, por que os discos não vendem mais. E você pega esse cara que atingiu o estrelato e o coloca para fazer shows em feiras agropecuárias. Em Piritiba, o abuso o deixou meio desorientado. Zé foi um dos caras que me ajudaram a centrar meu pensamento, então foi meio que um choque ve-lo assim", relata.

"Mas muitas coisas me surpreenderam nessa estrada. Quando o Led Zeppelin, uma das principais referências do rock, da formação roqueira de gerações inteiras, fez a coletiva de lançamento do filme Celebration Day no MoMA (NovaYork), um templo por si só, a excitação da imprensa em volta daquilo era tanta que as pessoas não conseguiam se concentrar. E eles mesmos pareciam ter saido de um túnel do tempo com aquela mesma indisposição contra a imprensa. Natural: era o mesmo aporrinhamento, as mesmas perguntas inconvenientes. Aquilo me deixou meio assim... Rolou um estranhamento", lembra.

Sobre o jornalismo cultural que se pratica hoje em dia, Jotabê acredita que "melhorou em sua forma de acesso. Era muito mais difícil para um cara como eu, que veio do interior, expor minhas ideias sobre musica e cultura numa redação. Era mais difícil por que era muito mais afunilado o processo. Hoje não, o cara tem como chegar mais fácil se tiver boas ideias, se tiver uma iniciativa original, sem precisar se submeter as regras das redações. Na verdade, a grande redação é coisa do passado. Ao mesmo tempo, há o jornalismo de musica que também implica em uma certa uma estrutura empresarial: o jornal que te paga um salario é importante – e você vê que a velha imprensa, a mesma que dizem morta ainda é a única que dá condições de fazer um trabalho de forma isenta e independente. Por mais contraditório que isso pareça", observa.

"Quanto aos blogs eles são totalmente independentes, mas tem ainda a coisa de fã. Parece mais uma profusão de fanzines. A coisa mais sistemática, com método, continua sendo da imprensa. Se você quer saber o que aconteceu nas últimas sete edições do Rock In Rio, foi a grande imprensa que estava lá cobrindo. Muita gente acha que jornalismo cultural é só opinião, e não reportagem. A reportagem é importante, mas esse trabalho ficou mais caro, por que é muito mais barato trabalhar só com opinião. Quem faz o trabalho bruto de reportagem mesmo é pouca gente. São eles que produzem até as fontes básicas, indo até elas", conclui Jotabê.

O bisbilhoteiro das galáxias – no lado B da cultura pop / Jotabê Medeiros / Lazuli / 216 p. / R$ 29,90