quinta-feira, setembro 23, 2010

COQUETEL MOLOTOV CHEGA À SALVADOR, (ESPERA-SE) PARA FICAR

De vez em quando (bem de vez em quando, na verdade), uma graça divina concede um alívio para os sofridos roqueiros baianos e lhes oferece um show de rock internacional realmente interessante – para compensar as falácias anuais de verão.

Depois do Placebo em 2005 e do Mudhoney em 2008, chegou a hora de a Bahia conferir, ao vivo, as melodias e o peso que celebrizaram os norte-americanos do Dinosaur Jr. como uma das bandas mais representativas do rock alternativo na década de 1990.

O grupo, liderado pelo super guitarrista J. Mascis, se apresenta na Concha Acústica do Teatro Castro Alves neste próximo domingo, último dia do festival recifense No Ar Coquetel Molotov, que acontece todos os anos na capital pernambucana desde 2004 – e chega a Bahia para ficar, segundo a sua idealizadora, Ana Garcia.

Festa de três dias

Mas ainda há mais. No mesmo dia, a programação do festival ainda prevê apresentações da festejada Cidadão Instigado e da pernambucana A Banda de Joseph Tourton, que volta à cidade um mês depois de estrear em Salvador, no Pelourinho.

Um dia antes, no sábado, a Concha Acústica recebe a banda local Dubstereo Sound e duas (doces) cantoras: a brasileira Céu e a francesa Soko.

Mas essa festa toda começa mesmo é na sexta-feira, com uma festa de abertura animada pela banda Radiola e pelo trompetista Guizado, na Zauber.

Via Conexão

A sabedoria popular aconselha a sempre desconfiar quando a esmola parece muita. Daí a surpresa, nos bastidores da comunidade roqueira local, quando a notícia da vinda do festival No Ar Coquetel Molotov para Salvador – trazendo a adorada banda Dinosaur Jr. como atração principal – começou a se espalhar.

Mas a incredulidade foi, aos poucos, dando lugar à satisfação advinda da confirmação: o negócio era “quente“, mesmo. Surgido em 2004 em Recife, o No Ar Coquetel Molotov é um festival anual realizado pelo coletivo indie Coquetel Molotov, e que, em um esforço de expansão, crava sua primeira filial permanente em terras baianas.

“Salvador tem uma carência muito parecida com a de Recife, aonde tem muita coisa acontecendo, mas mesmo assim, não consegue entrar no rota dos eventos internacionais. Até por isso, não me sinto insegura de levar o festival aí“, observa a produtora Ana Garcia.

A ideia de trazer o evento para a cidade começou a se desenhar na cabeça de Ana quando ela esteve aqui conferindo a edição baiana do festival Conexão Vivo (parceiro do Coquetel), na Praça Wilson Lins, na orla da Pituba. “Estive aí no Conexão Vivo e me apaixonei pela cidade“, conta.

Ano que vem tem mais


Dias depois, durante um encontro de produtores em Belo Horizonte, ela encontrou duas figuras essenciais para a vinda do Coquetel: Dalmo Peres (da empresa baiana Caderno 2 Produções) e Maurílio Kuru Lima, coordenador do Conexão Vivo.

Este último foi, como Ana define, sua “inspiração“: “Eu vejo os eventos que ele consegue fazer em outras cidades fora de Belo Horizonte e o considero um exemplo a seguir“, define.

Já Dalmo foi o contato local que viabilizou o processo, através do Fazcultura: “Durante uma conversa com Dalmo, a gente viu que seria muito legal (levar o Coquetel para Salvador). Na hora, ele se prontificou a inscrever o projeto (no Fazcultura)“, conta Ana.

A ideia é que o NACM também seja anual em Salvador, e cada vez mais parecido com a matriz: ”Vamos fazer uma segunda edição aí sim, e espero que seja ainda mais parecido com o que fazemos aqui em Recife, com mostra de cinema, debates e oficinas, que são uma parte muito importante do conceito do festival”, detalha.

A seleção das atrações é feita pela própria Ana e seus parceiros, através de diversas fontes: ”A gente viaja muito e assiste ao máximo de shows, recebe muito material e utiliza todas as ferramentas da internet. É uma mistura disso tudo”, conta.

”Ano que vem é possível que role inscrição para bandas. Mas, por enquanto, a curadoria é feita por nós mesmos, pescando o que há de novo”, conclui.

SERVIÇO:

Festival No Ar Coquetel Molotov / Sexta-feira: Abertura com Guizado (SP) e Radiola / Zauber Multicultura / 22 horas / R$ 10 / Sábado: Dubstereo, Soko (França) e Céu (SP) / domingo: A Banda de Joseph Tourton (PE), Cidadão Instigado (CE) e Dinosaur Jr. (EUA) / 18 horas / Concha Acústica TCA / R$ 20 e R$ 10



CONCORRÊNCIA É ESTÍMULO PARA PRODUTORES LOCAIS

A realização do Coquetel Molotov em Salvador mexeu, de certa forma, com os brios dos produtores roqueiros locais.

Há décadas batalhando no ingrato cenário soteropolitano, alguns deles tiveram dificuldade em aceitar que uma produtora de fora da cidade de repente chegasse e conseguisse, aparentemente sem grandes dificuldades, realizar um festival na Concha Acústica, com uma banda internacional de respeito.

Para Rogério Big Brother Brito, idealizador do festival Big Bands, a dúvida é simples: “Se fosse alguém daqui, procurando o Fazcultura para botar bandas estrangeiras desconhecidas na Concha Acústica, será que seria aprovado?“, pergunta.

”Na verdade, nunca tentei pelo Fazcultura por que tudo isso ainda é uma coisa nova pra gente. Esse tipo de possibilidade só surgiu nos últimos anos. É só recentemente conseguimos o CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica), exigência para poder dar entrada de um projeto no Fazcultura”, contemporiza.

”Mas tudo bem, ano que vem, também vou inscrever o Big Bands no Fazcultura”, diz.
”Confesso que de início fiquei meio pirado, mas agora caiu a ficha. Vamos lá curtir o Dinosaur Jr., claro. Mas ano que vem, vamos fazer um festival do caralho”, promete, motivado.

Já Sandra de Cássia, idealizadora do Palco do Rock, que rola há 16 anos no Carnaval, diz não ter ”nada contra”. ”Mas acho que esses apoios também devem estar acessíveis aos produtores locais. Isso gera uma frustração, parece que não somos capazes. Mas espero que dê tudo certo, claro”, conclui.


ENTREVISTA: J. Mascis

"Nunca pensamos em vender toneladas de discos"

Joseph Donald Mascis (pronuncia-se mass-kiss), cantor e guitarrista norte-americano de 45 anos, nascido no estado de Massachusetts, é um homem de poucas palavras. É fato: entrevistas não são o seu forte. Sua linguagem de preferência, como seus muitos fãs ao redor do mundo bem sabem, é a dos marcantes riffs de guitarra que notabilizaram sua banda, a Dinosaur Jr., como uma das mais representativas do rock alternativo norte-americano – um movimento que surgiu na esteira do pós-punk, se firmou no underground nos anos 1980 e arrebentou no mainstream na década seguinte, depois que o Nirvana meteu o pé na porta. Nesta entrevista exclusiva, J. Mascis fala pouco – mas diz tudo.

Pergunta: Como vai ser o repertório dos shows no Brasil? Vai ter alguma música de sua banda paralela, The Fog?

J. Mascis: Muitos hits, de quase todos os álbuns, mas nenhuma canção do The Fog.

P: Você é considerado um dos mais importantes músicos do rock alternativo norte-americano. Mas alternativo ao quê? As influências de rock clássico em seu som são bem claras – como Neil Young, por exemplo. Como você vê esse lance de "rock alternativo"?

JM: Suponho que é porque, quando começamos, éramos definitivamente alternativos, não tínhamos fãs. Só tínhamos uma ideia de que música queríamos ouvir. Nos espelhávamos nas bandas do (clássico selo independente) SST e queríamos excursionar no circuito que o Black Flag (banda punk pioneira dos EUA, liderada por Henry Rollins) estabeleceu. Não pensávamos em estar numa gravadora major ou vender toneladas de discos.

P: Após vários anos desativada, a banda voltou com a formação original. Está tudo bem entre os membros agora? Podemos esperar uma reunião definitiva, de longo prazo?

JM: Nós vivemos um dia por vez. E nossa relação está OK nesse momento.

P: Quem são suas influências como guitarrista? Por que seu som é tão barulhento?

JM: Greg Sage (da banda punk Wipers), Ron Asheton (The Stooges), Keith Richards, Mick Taylor (ambos dos Rolling Stones) são minhas influências. Sempre adorei barulho.

P: Farm (2009), seu último álbum, é um dos melhores da carreira do Dinosaur Jr. O que podemos esperar do seu próximo disco?

JM: Sem planos por enquanto. Mas vou lançar um novo disco solo em fevereiro.

P: É a primeira vez que a banda vem ao Brasil, não? Por que demorou tanto? Você conhece algo de música brasileira?

JM: Não sei muito de música brasileira. Não sei por que nunca tocamos no Brasil antes, sempre quisemos ir aí.

P: Se pudesse escolher um produtor, vivo ou morto, quem seria?

JM: John Leckie (produtor britânico, famoso por produzir, entre outros, álbuns como Stone Roses, da banda homônima e The Bends, do Radiohead).

P: Indicaria alguma banda surgida nos últimos dez anos de que gostou?

JM: Magik Markers (banda noise de Hartford, Connecticut. www.myspace.com/theemagikmarkers).

P: Qual seu álbum preferido do Dinosaur Jr? Por que?

JM: You‘re Living All Over Me (1987). Foi quando nos firmamos como banda e fizemos nossa música, nosso som. Nós meio que desmoronamos depois disso.

15 comentários:

Franchico disse...

Alan Moore foi em um programa de rádio e mandou uma mensagem para os ETs.

http://www.omelete.com.br/quadrinhos/mensagem-de-alan-moore-e-enviada-possiveis-racas-alienigenas/

Trechinho:

"Sim, alô? Hã, se você está aí, atenda. Ok, bom, é o Alan. O Alan da Terra. Você não deve lembrar, eu fico na espiral oeste da Via Láctea, embora saiba que você possa ter nos dado outro nome de chocolate."

Franchico disse...

Domingo, 26, dia do show do Dinosaur Jr. em Salvador, é também o aniversário de 160 anos daquele simpático senhor do Tenessee, o Jack.

http://www.jackdaniels.com/TennesseeWhiskey/CommemorativeBottles.aspx?langType=1046

Sim, aquele mesmo, o Jacó Daniel.

Tchim-tchim.

Anônimo disse...

vai chuver pra caralho domingo e o schow vai ser cancelado. dinosaur jr é chato demais

Franchico disse...

Mi mi mi mi mi mi.

Sabe o que mais?

Não choveu. Nem uma gota.

E, enquanto vc ficava deprimidinho em casa (mi mi mi mi mi), o Dinosaur Jr. atropelou todo mundo com um SHOW DE ROCK como poucas vezes se viu nessa "província besta e bela".

A definição é juatemente essa: a banda ATROPELOU a audiência.

SHOWZAÇO. Profissa, no talo, rock 'n' roll pra caralho. Uma lição de rock e profisssionalismo pra muita gente aqui.

Chapei geral e voltei pra casa de alma lavada.

Perdeu, mané.

cebola disse...

Assino embaixo, Chicovsky! Agora você não vai acreditar no que rolou depois! VÊ aqui: www.fotolog.com/jupitercebola
Batata e Prix "furaram" A Tarde, blogueiros e quetais...;)

osvaldo disse...

showzaço.quem não gosta de rock não ia gostar.barulho demais, esporro sonoro e , sim a tal da parede de som garantida por um muro de amplificadores marshall.nestas horas fica claro que algumas das definições usadas para definir o som de algumas bandas ficam meio que sem sentido. o dinosaur tem um pé na tradição do rock com os inspirados solos de guitarra de mascis ( excelente axeman), e outro no punk com a despretensão e musicas não muito longas. e o principal, a banda é boa ao vivo, concisa. toca no talo, sem alivio, como deve ser um show de rock, e o esporro sonoro e a excelente performance musical da banda compensam a falta de carisma de mascis como frontman.a se lamentar o pequeno publico (1000 pessoas +/-), e as explicações são varias ou nenhuma e as de sempre, e selvador segue inabalavel na sua trajetoria como o tumulo do rock.

Anônimo disse...

poxa. só deu 1000 pessoas? pensei q pelo divulgação e pelo valor q deu a banda a concha tinha lotado. mal né galera. e nem choveu

Franchico disse...

Agradeço pela importância que o anônimo me atribui, especialmente quando supõe que, "pelo divulgação e pelo valor q deu a banda", a Concha deveria ter lotado.

Sorry, caro admirador, mas esse blog aqui não faz parte da grande mídia. O veículo no qual trabalho, sim, mas é muita ingenuidade de sua parte crer que uma matéria de jornal vai fazer um show de rock em Salvador (por melhor que seja a banda ou talvez, justamente por isso) lotar.

Ou vc está se fazendo de bobinho para melhor passar? Tolinho.

O cinismo vai te destruir, rapaz. Se liga.

Franchico disse...

Só para concluir: e mesmo dando "só" algo em torno de mil pessoas, o show foi maravilhoso, a banda foi extremamente profissional e sim, certamente haverá um Coquetel Molotov 2011 em Salvador. Maior e melhor.

Chupa, mané.

cebola disse...

Acho que o público deste show é representativo do público de rock em Salvador. É isso aí mesmo. Não é crítica. Não há o que criticar. É constatação. Túmulo do rock. Foi um puta show mesmo. Só comparável àquele do Placebo, centenas de anos atrás.

Franchico disse...

Exatamente, Cebola. O público do show foi do tamanho do público de rock em Salvador.

Anônimo disse...

Lendo este texto dá pra ter a clara noção de que os nossos produtores de rock - e aqui me incluo tb -, com todo respeito, ainda estão engatinhando em articulação. Existe um mercado a ser mantido e outro a ser "conquistado" aqui em Salvador e no interior, de maneira mais profissional e sustentável.

Que venham mais eventos como o Conexão Vivo e o Coquetel Molotov por aí...

Agora, na moral, Dinosaur Jr. não me vontade de ir não. Não me sinto obrigada só porque é uma banda gringa. Mas achei massa o projeto ter vindo pra cá. Placebo e Mudhoney eu fui e curti! É isso aí, que venham novas ideias e mais shows! Nada de mi mi mi...

Abçs,
Lívia

Franchico disse...

Oi, Lívia!

Olha, não é o caso de ir "só por que é banda gringa". Se eu pensasse assim, tinha ido assistir Eagle-Eye Cherry e o Men At Work (caindo aos pedaços) naquele outro festivalzinho detestável lá.

Dinosaur Jr. não é, nem em milhão de anos, "só mais uma banda gringa".

Dinosaur Jr. é uma banda FODA, histórica, influente, altamente respeitável, de uma competência monstra no palco.

Simples assim. Quem viu, viu. Quem não viu, só lamento.

Claro, gosto é gosto. É normal vc não gostar. Aliás, aqui na Bahia, é mais normal não gostar de Dinosaur Jr. do que o contrário.

Ainda temos muito o que aprender.

Beijo!

Sid disse...

Eu também não sou fã da Dinosaur Jr., mas o show foi bem legal sim (eu gostei mesmo foi do show anterior, do Cidadão Instigado). Quanto ao público, realmente não dava pra esperar mais de Salvador, considerando que mesmo para o público "roqueiro" (que em Salvador a gente sabe como é...), Dinosaur Jr. não é lá tão famosa. Enfim, valeu à pena e que venham mais festivais. Só acho engraçado o povo que reclama sempre que "Salvador não tem nada" e quando acontece um festival ou algo assim, coloca defeito em tudo e não vai...

Sid

Ernesto Ribeiro disse...

Alan Moore matou de rir toda a galáxia com essa mensagem.

Perfeito, man...