terça-feira, setembro 15, 2009

FAMÍLIA DISFUNCIONAL, U.S.A.

A família, o amor e a solidão vistos pelos quadrinistas indies do século 21

A cena americana de quadrinhos independentes sempre demonstrou um vigor criativo acima da média em relação aos seus pares no mainstream, mais sujeitos aos altos e baixos da indústria do entretenimento. Essa vertente se verificou dos anos 60 para cá, com o surgimento da geração contracultural, que teve em Robert Crumb (Fritz The Cat) e Gilbert Shelton (Freak Brothers) seus maiores expoentes.

O tempo passou e as HQs indies continuaram, ainda que tenham se transformado de forma radical de lá para cá. Saíram de cena os delírios lisérgicos, os bacanais hippies e os questionamentos políticos. No seu lugar, entra em cena uma geração macambúzia, assombrada pela AIDS, bombardeada pelo marketing das megacorporações, sem identidade e deprimida pela falta de perspectivas – sem contar a possibilidade de ser convocada para matar e morrer no Oriente Médio.

Umbigo sem fundo (Quadrinhos na Cia.) e Local (Devir), duas HQs tipicamente indies dos anos 00, refletem tudo isso, mesmo sem tocar em quaisquer desses assuntos.

A primeira, um drama familiar sensível e magnificamente executado, é um tijolo de 720 páginas que conta a história de uma família que se reúne pela última vez numa casa de praia – também personagem da trama.

Túneis e passagens

Tudo começa quando Maggie e David Loony (lunático), casados há 40 anos, anunciam para seus três filhos – Dennis, Claire e Peter – que não se amam mais, e, por isso, vão se separar.

Reunidos nesta casa de praia isolada do mundo, cada personagem reage de uma forma.

Dennis, o mais velho, surta – não aceita a separação. Conversa com os pais para demovê-los da ideia, discute com a mulher e, por fim, começa a explorar os recônditos da casa onde os pais vivem há décadas em busca de respostas. Assim como na vida, encontra chaves misteriosas, baús, armários secretos e até um túnel subterrâneo.

Já sua irmã Claire e sua filha Jill não dão muita importância à notícia. Em vez disso, embarcam numa jornada de autoconhecimento em que buscam descobrir mais sobre si mesmas e uma sobre a outra. Jill, uma adolescente com problemas de baixa autoestima, acaba por protagonizar uma das melhores sequências do livro, ao escapar para a cidade e se envolver com álcool, cigarros e traições.

Mas o personagem mais interessante mesmo é o caçula Peter. Retratado como um sapo, ele simboliza o outsider definitivo, o resto do tacho, o filho indesejado que, por mais que todos neguem, sempre é visto como um estranho dentro da sua própria família.

Inseguro até o âmago, Peter vive sua própria jornada rumo a maturidade quando, em uma de suas caminhadas, conhece Kat, uma mulher que trabalha entretendo crianças na praia. E é ela, e apenas ela, quem consegue enxergar Peter como humano e não sapo – mesmo que por um único quadrinho, num dos melhores momentos da HQ.

Escrita e desenhada pelo americano Dash Shaw quando tinha apenas 23 anos, Umbigo sem fundo demonstra a notável maturidade do seu autor – tanto no sentido do drama propriamente dito, quanto na forma com que ele orquestra personagens, cenários, diagramação (um show à parte) e os muitos efeitos sonoros e sensoriais que descrevem o que os personagens estão ouvindo e sentindo.

Com uma narrativa fluida e gentil, Shaw carrega nos braços o leitor para o seio da sua família disfuncional – com tanta competência, que é capaz de fazê-lo sentir saudade no inevitável momento das despedidas.

Umbigo sem fundo
De Dash Shaw / Tradução: Érico Assis
720 p. / R$ 59
Quadrinhos na Cia. (Cia. das Letras)



LOCAL: BUSCA DAS RAÍZES E DESESTRUTURAÇÃO FAMILIAR

Uma coisa que todo soteropolitano sabe muito bem: o lugar onde se nasce e se é criado molda muito do que as pessoas acabam por se tornar. A influência e a relação das pessoas com o lugar de onde elas vêm é o grande tema por trás de Local, série em dois volumes da Devir cujo segundo livro, Fim da jornada, chegou há poucos dias nas livrarias.

O primeiro, Ponto de Partida, é de 2008. Criada por Brian Wood (roteiros) e Ryan Kelly (desenhos), Local é protagonizada por Megan McKeenan, uma garota com um gosto pela estrada e, a primeira vista, sem raízes.

Histórias autocontidas

Dividida em 12 capítulos (seis em cada volume), cada um deles apresenta uma história autocontida que se passa em uma cidade diferente da América do Norte (Canadá incluído) e representa um ano na vida de Megan.

Nem sempre ela é a protagonista central do capítulo em questão (Tempe, Arizona, é um exemplo), aparecendo por meio de cartas ou coadjuvando com os personagens que os autores escolheram para centrar a narrativa. A cada capítulo / ano / cidade, o leitor vai sabendo um pouco mais sobre Megan, sua origem e por que, afinal, a cada ano ela está em um lugar diferente.

Por serem autocontidas, cada capítulo pode até ser lido separadamente, pois suas histórias se resolvem dentro das 24 páginas regulamentares que é o padrão do comic book americano.

Mas o grande barato de Local é mesmo é ler tudo e juntar as peças que formam o pequeno quebra-cabeças que é a vida de Megan McKeennan.

Entre o romance de formação, o drama familiar e o painel de comentários sociais sobre a solidão e a vida americana, Local acabou impulsionando a carreira dos seus autores, ambos hoje contratados exclusivos do selo Vertigo, da DC.

Local - Fim da jornada
De Brian Wood (roteiros) e Ryan Kelly (arte)
208 p. / R$ 36,50
Devir Livraria
www.brianwood.com / www.funrama.blogspot.com
Site da HQ: localthecomic.blogspot.com

26 comentários:

Franchico disse...

E aí, o que vcs acharam do no site da Cascadura?

http://www.bandacascadura.com/

Eu particularmente, achei muito bom - especialmente o texto de apresentação do #1.

Esse rapaz sabe das coisas, hein?!?

;-)

osvaldo disse...

R.I.P. punk poet and Basketball Diaries author Jim Carroll.

A ultima ironia... people who died.

ah chicao, seu texto sobre o # 1 esta otimo.congrats.


http://www.theprovince.com/entertainment/Basketball+Diaries+author+Caroll+dies/1990567/story.html

Franchico disse...

Valeu, Bramz!

glauberovsky disse...

moçada, alguem aí sabe onde comprar a nova caixa remasterizada em stereo dos beatles, com um preço bacana??

http://beatles.fanfire.com/cgi-bin/WebObjects/Store.woa/wa/product?sourceCode=BEAGGL&sku=BEA47212

chicão, brahma, andré t, paulinho oliveira, nei bahia, HELP!

GLAUBER

osvaldo disse...

glauber,
ta por $242,00 na minha fonte favorita, a insound. os remasters estao por $ 17,00, cada.
www.insound.com

Animal disse...

Bah,

vlws as dicas ae !! Vou conferir depois posto aqui o que achei por lá !!

Abração !

E viva o rock and roll !!!

glauberovsky disse...

vixe, muito obrigado, brahma! o preço ta bem abaixo de outras lojas.
GLAUBER

glauberovsky disse...

ói, no site dos beatles tá mais barato. $219, por aí. parcelando dá, mas de uma vez só, complica. o peppers já comprei e vale cada centavo, embora eu ache preço de CD abusivo. ele, o magical e o white album [no mínimo] merecem a melhor qualidade de som possível. e os encartes são jóia!
GLAUBER

Nei Bahia disse...

Bem aqui ao lado tem um link pra coluna de Jamari França no Globo; tem todas as informações sobre o relançamento da discografia dos Beatles.
A caixa em estéreo vai ser mais fácil e bem mais barata que a mono, essa só pra Xiitas de última laia.

Nei Bahia disse...

Pra Cláudio Moreira e quem mais possa interessar:

Thin lizzy com Cozy Powell na bateria?

http://www.youtube.com/watch?v=bPyqwptQklk

cebola disse...

man, cduniverse esta c os melhores preços

Franchico disse...

Programação do BoomBahia, ops, BigBands 2009. Só por trazer Frank Jorge, Big já merece seu lugarzinho no paraíso dos doidões.

Programação | Big Bands 2009
23/10, SEXTA-FEIRA

PALESTRAS

14:00: "Abertura e Manutenção de Casas Noturnas", com os palestrantes:

* Cláudio Vieira Rocha - Membro fundador da ABRAFIN, realiza o Festival de Música Instrumental em BH e o Festival Primeiro Campeonato Mineiro de Surf. Dono da Obra, casa noturna mais badalada de Belo Horizonte.

* Rafael Bandeira - Membro da ABRAFIN, realiza o Festival Ponto (CE) e proprietário do Hey Rock Bar, membro fundador da Casas Associadas (Associação de Casas Noturnas de todo o país).

* Theo Filho - Músico e proprietário da casa de eventos Boomerangue. (mediador)

16:00: "Produção Cultural e Formação Musical: Entrar e permanecer no mercado da musica independente", com os palestrantes:

* Iuri Fresberger - Produtor de discos, realizador do Festival Gig Rock (RS), consultor técnico dos principais festivais da ABRAFIN.

* Frank Jorge - Músico, criador do primeiro curso superior especializado em rock no Rio Grande do Sul, professor universitário

* Rex - Baterista da Banda Retrofoguetes

* Messias Bandeira (mediador) - Produtor do festival Boom Bahia, músico, acadêmico

22:00: FESTA DE ABERTURA com
O Melda (MG)
e Djs Bigbross, Claudão Pilha (MG), Cassicas e neechee
(local: Boomerangue)

24/10, SÁBADO
Praça Tereza Batista, Pelourinho

* Demoiselle
* Pastel de Miolos
* Tom Bloch (RJ/RS)
* Messias
* Frank Jorge (RS)
* Nancy e os Nunca Vistos

Horário: a partir das 16hs
Entrada: sugestão de um livro infanto-juvenil para a ong CRIA

25/10, DOMINGO
Praça Tereza Batista, Pelourinho

* Mortícia
* Yun-Fat
* Júlia Says (PE)
* Os Irmãos da Bailarina
* Black Drawing Chalks (GO)
* Estrada Perdida

Horário: a partir das 15hs
Entrada: sugestão de um livro infanto-juvenil para a ong CRIA


Blog: http://festivalbigbands.blogspot.com
Twitter: http://twitter.com/festbigbands

glauberovsky disse...

valeu, moçada. logo, logo, EP novo do teclas pretas. chama-se "nó dos mais gravatas". coloquei a capa lá no myspace pra fazer aquele suspense e tals, hahaha.

http://c4.ac-images.myspacecdn.com/images02/73/l_6c4d43b3729d411cbd517f2c32354e57.jpg

GLAUBER

Franchico disse...

Rapaziada do mal, fiz uma conta na BlipFM.

http://blip.fm/franchico

Fiz mais por questões profssionais (matéria sobre streaming) do que por vontade própria mesmo.

Ainda tô indeciso se escrevo em inglês ou em português.

De qualquer forma, tá lá a bagaça. Quem tiver Blip tb por aí me mande um prop, um blip, um credit, sei lá.

Ai, ai.

(Algo me diz que em poucos tempo vou abandonar esse blip, que nem fiz com o LastFm aí do lado, que já virou mobília da casa).

Franchico disse...

Ah! Amanhã (quinta, 17), posto a matéria sobre streaming, OK?

Franchico disse...

Volta, Mário Jorge!

glauberovsky disse...

só hoje vi o clipe de "mais uma vez", da "dois em um". música excelente, ouvi umas 10 vezes aqui...o video dirigido por xanxa e rodrigo luna também é muito bom...

http://www.youtube.com/watch?v=NFHemMt53u0#

GLAUBER

Franchico disse...

Porra, eu adorava o Esquadrão Classe A.

http://www.omelete.com.br/cine/100022177/Jessica_Biel_e_o_novo_nome_no_elenco_de_Esquadrao_Classe_A.aspx

Tomara que fique legal esse filme.

Franchico disse...

Concordo em gênero, número etc

Emprestar meus gibis? Aqui, ó!

Por Marcus Ramone (16/09/09)

http://www.universohq.com/quadrinhos/2009/rec_naoempresto.cfm

Anônimo disse...

Chicão, tô sempre na área. É que eu fico na espreita... O esquadrão A era do caralho, os novos dos beatles nem se fala (a onda é que eu tenho que ter um som doméstico de melhor qualidade para investir nesses discos), fiquei verdadeiramente triste com a morte de Mussoto (que gravou até a demo de i'm bad). Fechando o comentário condensado acho que um bom produtor pode direcionar, mas não fazer um (verdadeiro) grande artista como o velho MJ.
abços amigos.
Mario

glauberovsky disse...

esquadrão classe A era sensacional. eu, rex e nosso falecido avô, seo adhemar, éramos fãs incondicionais. "eu adoro quando um plano dá certo!"

GLAUBER

Anônimo disse...

aê mario. fica por aí mesmo. e como vai a vidinha aí no pet shop, rapá?

osvaldo disse...

Holy Shit: Pavement Reunion Is Real!
Indie tb fica velho. Malkmus é foda, força a barra na pose slacker, mas na real toca pra caralho.
http://pitchfork.com/news/36505-holy-shit-pavement-reunion-is-real/

e o mj foda é mario. o outro era café com leite.

Anônimo disse...

Ô anonimo, aqui no pet shop estou lidando com animais mais interessantes que você, rapá...
Mario

Franchico disse...

Pessoal, vamo pegar leve. Vamo parar com esse negócio de ficar descarregando frustração no blog alheio. Senão, já sabe.

glauberovsky disse...

é uma pena que com a moderação, a coisa esfrie e sem moderação, degringole.
GLAUBER