Robô gigante! Soco nuclear!
Na década de 90, Frank Miller (O Cavaleiro das Trevas) e Geoff Darrow (designer de produção de Matrix) assinaram dois álbuns em parceria: Hard-Boiled - À Queima-Roupa, lançado no ano passado pela Devir, e este Big Guy & Rusty, O Menino-Robô, que também chega as livrarias pela mesma editora. Se, em Hard Boiled a ultra-violência demencial dava o tom da HQ, em Big Guy, a dupla parte de um tom grandiloquente para homenagear os filmes e desenhos animados japoneses onde robôs e monstros gigantes se digladiavam semanalmente entre os edifícios de Tóquio. Do clássico Robô Gigante a Gigantor, passando por Astro Boy, Frankenstein Jr. (Hanna-Barbera) e muitos outros, é possível sacar diversas referências a cada página, graças a arte detalhista – em um nível quase microscópico – de Geoff Darrow. O gibi fez sucesso nos Estados Unidos, chegando a ganhar uma série de desenhos animados, disponível no You Tube. Diversão em alta-voltagem.
Big Guy & Rusty, o Menino-Robô
Frank Miller & Geoff Darrow
Devir
80 p. | R$ 38,50
www.devir.com.br
BÔNUS: EPISÓDIO DE BIG GUY & RUSTY THE BOY ROBOT
Guia para se dar bem em festas
O amigo leitor já se sentiu “por fora” naquelas rodinhas de bate-papo onde se discutia a obra de James Joyce, as ideias econômicas de John Maynard Keynes ou mesmo a lenda milenar de Beowulf? Ora, seus problemas acabaram! O livro Cultura inútil para festas e eventos, organizado pela equipe da revista americana Mental Floss (Fio Dental da Mente) preparou pequenos resumos sobre os mais variados assuntos para que ninguém fique de fora quando alguém mencionar a trágica história das irmãs escritoras Brontë ou mesmo os intrigantes Pergaminhos do Mar Morto. Se não leva ninguém à erudição de fato, pelo menos diverte.
Cultura inútil para festas e eventos
Equipe Mental Floss
Matrix
192 p. |R$ 29,90
www.matrixeditora.com.br
Estreia no rock farofa
Revelada no programa de calouros do Raul Gil, a jovenzinha Letícia, aos 17 anos, vestiu uma roupa preta de “roqueira“, assumiu o nome artístico de Twiggy e entrou em um estúdio de gravação assessorada pelos músicos da banda de hard rock farofa Dr. Sin (Ué? Ainda existe?) e se saiu com este seu primeiro CD, autointitulado. Com boa voz – ainda que nada original – e bom domínio dos seus recursos vocais, sem recorrer àqueles exageros caricatos típicos dos calouros de Raul Gil, a mocinha até que não manda mal. Desde que o ouvinte curta o estilo farofeiro impresso na sonoridade pelo produtor e baixista da Dr. Sin, Andria Busic. Para garantir uma maior aceitação, o repertório tem muitos covers, como Ovelha Negra (Rita Lee), Pense e Dance (Barão Vermelho), O Nosso Amor a Gente Inventa (Cazuza), Escorregadia (Erasmo Carlos) e Piggies (George Harrison). Talento em formação, pode render mais adiante – se escolher melhor seus parceiros musicais.
Twiggy
Twiggy
Discobertas
Preço não divulgado
www.myspace.com/twiggybr
Sergipanos psicodélicos
Ainda pouco conhecida em Salvador, a banda sergipana Plástico Lunar pratica um rock setentista e psicodélico de primeira linha, mais ou menos como fazem o gaúcho Júpiter Maçã e os alagoanos da banda Mopho, entre outros. Formado por Daniel Torres (voz e guitarra), Rafael Costello (guitarra), Plastico Jr. (baixo), Leo AirPlane (órgao, piano e synths) e Odara (bateria), o grupo apresenta um trabalho bastante consistente na sua musicalidade abertamente riponga – e sem deméritos por isso. Faixa a faixa, o álbum vai se superando, deixando-os no mesmo patamar de qualidade que os exemplos de psicodelia extemporânea citados acima. Destaque para Moderna, Formato Cereja, Banquete dos Gafanhotos e sua letra bandeirosa cantada pelo baterista Odara: as folhas já estão tratadas / feche a porta e vamos curtir / guarde logo a sua parada / o toque é melhor enrustir“. É rock vigoroso aliado ao experimentalismo lisérgico sem soar chato, algo raríssimo nas bandas do gênero. A cena sergipana está bem servida.
Coleção de Viagens Espaciais
Plástico Lunar
Independente
Preço não divulgado
www.myspace.com/plasticolunar
Mutts no jornal e álbum
Criada pelo escritor infantil e ativista pelos direitos dos animais Patrick McDonnell em 1994, a tirinha Mutts é uma das novas atrações da página de passatempos do Caderno 2, revezando-se dia sim, dia não, com o Recruta Zero. Estrelada pelo cachorro Duque e pelo gato Chuchu (ou Furreca, no jornal) ela mostra o dia a dia desses dois animaizinhos, vizinhos de porta e grandes amigos. Com um humor simples e ingênuo, acessível a todas as idades, a tira conquistou fãs no mundo inteiro, sendo publicada em 700 jornais distribuídos em 20 países. Neste álbum da editora Devir estão as primeiras (e hilárias) tiras da dupla.
Mutts - Os vira-latas
Patrick McDonnell
Devir
128 p. | R$ 23
www.devir.com.br
Show, não: aula magna
O cantor, poeta e romancista canadense Leonard Cohen, é, não raro, comparado ombro a ombro com outros grandes bardos do rock e folk, como Bob Dylan, Neil Young e Lou Reed. Há até quem o considere superior, pelo menos a Young e Reed – já que Dylan é ruim de derrubar. Não é de se admirar, portanto, que o recém-lançado CD / DVD ao vivo Live in London, apresentando o show gravado no dia 17 de julho de 2008 na O2 Arena da capital inglesa, esteja levando nota máxima em todas – todas mesmo – resenhas de sites, jornais e revistas mundo afora. Não é para menos: aos 75 anos incompletos, acompanhado por uma numerosa banda em estado de graça, este canadense de Quebec, de origem judia, simplesmente hipnotiza o público com sua voz roufenha, letras geniais e arranjos delicados para os clássicos selecionados de todas as fases de sua longeva carreira. Estão aqui versões irretocáveis para monumentos folk como Suzanne, Bird on a Wire, So Long Marianne, Everybody Knows, The Future e várias outras. Música de gente grande.
Live in London
Leonard Cohen
Sony Music
R$ 39,90 (CD duplo)
www.leonardcohen.com
O que gira em torno do que?
A história do cientista italiano Galileu Galilei (1564-1642) é uma das mais reveladoras de quão danosa pode ser a interferência das religiões sobre os avanços da ciência. Em 1610, o físico e astrônomo (não confundir com astrólogo), descobriu que era a Terra que girava em torno do Sol, e não o contrário, como defendia a Igreja Católica. Por conta de sua “heresia“, foi convocado a Roma e, para não morrer queimado vivo em uma fogueira, foi obrigado a voltar atrás e assinar um documento dizendo que sua descoberta era apenas “uma suposição“. Michael White, autor do livro, também escreveu as biografias Leonardo: o primeiro cientista e Isaac Newton: o último feiticeiro.
Galileu anticristo
Michael White
Record
336 p. | R$ 47
www.record.com.br
As lições do mestre das HQs em edição ampliada
O quadrinista Will Eisner (1917-2005), criador do personagem Spirit e grande responsável pela popularização das graphic novels, não era comumente chamado de “mestre“ a toa. Se cada uma de suas páginas já guardava lições preciosas de como contar uma história em quadrinhos, imagine-se então o que ele não era capaz de oferecer quando se propunha, de fato, a ensinar o seu ofício. O livro Narrativas gráficas, cuja segunda edição revisada e ampliada chegou há pouco tempo nas livrarias, oferece justamente isso: as lições do mestre. Continuação natural do seu primeiro livro teórico, Quadrinhos & arte sequencial, em Narrativas gráficas Eisner tratou da “missão e o processo de contar histórias com desenhos“, como ele mesmo disse no prefácio. Obra referencial tanto para quem trabalha com HQ e ilustração quanto para fãs e pesquisadores, o livro é, como não poderia deixar de ser, fartamente ilustrado. Para exemplificar suas lições, Eisner lançou mão não apenas de histórias inteiras de suas próprias HQs (do Spirit e das graphic novels), mas também de obras monumentais do gênero, como Terry & O Piratas (de Milton Cannif), Ferdinando (de Al Capp) e O Príncipe Valente (de Hal Foster). Nesta 2ª edição ampliada pelo autor pouco antes de morrer, ele chega mesmo a abordar os quadrinhos na internet, um campo que só tem crescido ultimamente. Fundamental.
Narrativas gráficas
Will Eisner
Devir
176 páginas
R$ 40
www.devir.com.br
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
segunda-feira, junho 29, 2009
sexta-feira, junho 26, 2009
quinta-feira, junho 25, 2009
O BOM FILHO
Com a saída de César Vieira, Cândido Soto volta a Theatro de Seraphin, que solta material anterior com o guitarrista pródigo
Uma das melhores e mais maduras bandas do rock local – e por “madura“, não me refiro apenas à idade dos seus integrantes – a Theatro de Seraphin vem passando por algumas mudanças.
A primeira é que o guitarrista César Vieira, o eterno indie guitar hero da extinta brincando de deus, saiu da banda. No seu lugar, volta o membro original Cândido Soto Jr., que havia saído do grupo, por volta de 2006, para integrar a Cascadura [e na qual ele também continua tocando].
Por conta disso – e até por que a Theatro andava meio parada ultimamente –, Marcos Rodrigues [baixo], Arthur [voz] e Dantas [bateria], tiraram da gaveta as músicas gravadas com Cândido em 2005, para o que seria o primeiro álbum da banda: Tristes Trópicos.
”Quando César saiu – e ele saiu numa boa, de forma muito tranquila, aliás –, a primeira coisa que pensamos era que não tínhamos mais motivos para não lançarmos essas músicas“, conta Marcos.
”O Tristes Trópicos ia ter 13 faixas. Quando Cândido saiu e César entrou, selecionamos seis dessas treze para César refazer as guitarras e as lançamos no EP, em 2007. Ou seja, mais da metade do trabalho com Candinho ficou de fora. Pegamos essas 7 faixas ‘perdidas’, mais uma que saiu no EP, chamada 12X8, intitulamos como Quando as Catedrais Eram Brancas e estamos disponibilizando na internet para quem quiser baixar“, explica Marcão.
O álbum com as oito faixas estará disponível a partir do dia 30, no endereço http://quandoascatedraiserambrancas.blogspot.com/. No www.myspace.com/theatrodeseraphin já há 2 faixas e um vídeo para 12X8. ”Tudo isso é uma ponte para o próximo álbum de inéditas, que deve sair em dezembro“, conclui o músico.
12X8
NUETAS
Rock pós-São João
Contenda, Minerva, Lumpen, Jonas e Ocarina fazem uma noite hardcore de alta octanagem no Dubliner‘s Irish Pub neste sábado (27). Pelo release, parece que a primeira está se despedindo do seu público. 19h, R$ 10.
Metal gringo de primeira na Boomerangue
No dia seguinte, domingo (28), Salvador recebe a veterana banda americana Omen (quem foi banger nos 80’s tá ligado) e a mexicana Strikemaster, além do clássico local Headhunter DC. As bandas gringas estão em turnê de mais de 20 datas pelo Brasil. A festa metálica será na Boomerangue, a partir das 18 horas. Ingressos: R$ 25 (antecipado) e R$ 30 na hora. O que vai ter de cabeludo acordando na segunda-feira de torcicolo...
Retros no TCA
E a Sala Principal do Teatro Castro Alves, nosso palco mais nobre, recebe dia 5 de julho o show de lançamento de Cha Cha Chá, o novo CD dos Retrofoguetes. A farra é no domingão, 11 horas, por R$ 1. E nada de dançar em cima das cadeiras, OK? Senão, nunca mais, etc etc...
Uma das melhores e mais maduras bandas do rock local – e por “madura“, não me refiro apenas à idade dos seus integrantes – a Theatro de Seraphin vem passando por algumas mudanças.
A primeira é que o guitarrista César Vieira, o eterno indie guitar hero da extinta brincando de deus, saiu da banda. No seu lugar, volta o membro original Cândido Soto Jr., que havia saído do grupo, por volta de 2006, para integrar a Cascadura [e na qual ele também continua tocando].
Por conta disso – e até por que a Theatro andava meio parada ultimamente –, Marcos Rodrigues [baixo], Arthur [voz] e Dantas [bateria], tiraram da gaveta as músicas gravadas com Cândido em 2005, para o que seria o primeiro álbum da banda: Tristes Trópicos.
”Quando César saiu – e ele saiu numa boa, de forma muito tranquila, aliás –, a primeira coisa que pensamos era que não tínhamos mais motivos para não lançarmos essas músicas“, conta Marcos.
”O Tristes Trópicos ia ter 13 faixas. Quando Cândido saiu e César entrou, selecionamos seis dessas treze para César refazer as guitarras e as lançamos no EP, em 2007. Ou seja, mais da metade do trabalho com Candinho ficou de fora. Pegamos essas 7 faixas ‘perdidas’, mais uma que saiu no EP, chamada 12X8, intitulamos como Quando as Catedrais Eram Brancas e estamos disponibilizando na internet para quem quiser baixar“, explica Marcão.
O álbum com as oito faixas estará disponível a partir do dia 30, no endereço http://quandoascatedraiserambrancas.blogspot.com/. No www.myspace.com/theatrodeseraphin já há 2 faixas e um vídeo para 12X8. ”Tudo isso é uma ponte para o próximo álbum de inéditas, que deve sair em dezembro“, conclui o músico.
12X8
NUETAS
Rock pós-São João
Contenda, Minerva, Lumpen, Jonas e Ocarina fazem uma noite hardcore de alta octanagem no Dubliner‘s Irish Pub neste sábado (27). Pelo release, parece que a primeira está se despedindo do seu público. 19h, R$ 10.
Metal gringo de primeira na Boomerangue
No dia seguinte, domingo (28), Salvador recebe a veterana banda americana Omen (quem foi banger nos 80’s tá ligado) e a mexicana Strikemaster, além do clássico local Headhunter DC. As bandas gringas estão em turnê de mais de 20 datas pelo Brasil. A festa metálica será na Boomerangue, a partir das 18 horas. Ingressos: R$ 25 (antecipado) e R$ 30 na hora. O que vai ter de cabeludo acordando na segunda-feira de torcicolo...
Retros no TCA
E a Sala Principal do Teatro Castro Alves, nosso palco mais nobre, recebe dia 5 de julho o show de lançamento de Cha Cha Chá, o novo CD dos Retrofoguetes. A farra é no domingão, 11 horas, por R$ 1. E nada de dançar em cima das cadeiras, OK? Senão, nunca mais, etc etc...
terça-feira, junho 16, 2009
XAXADO ACERTA NO MILHAR DO HUMOR
Antônio Cedraz lança álbum e faz planos, apesar de interromper, temporariamente, a produção de tiras diárias do personagem
As tirinhas da Turma do Xaxado, a premiada criação do baiano Antônio Cedraz, ganharam um compêndio a altura da sua importância: trata-se do álbum 1.000 Tiras em quadrinhos.
"O 1.000 Tiras foi um projeto em parceria com o governo estadual via o Fundo de Cultura da Secult, em comemoração aos dez anos da publicação do Xaxado em A TARDE. O projeto contempla o livro, que publica as tiras de número 2.001 até 3.000 e uma exposição itinerante, onde quadrinistas convidados de todo o Brasil homenageiam a Turma do Xaxado", explica Cedraz.
Lançado na última Bienal do Livro da Bahia, o projeto foi um sucesso, apresentando tirinhas de artistas como Cau Gomez, Spacca, Bira Dantas e Flávio Luiz.
"Além da Bienal, a exposição já passou por Itaparica, pelo Colégio Anchieta e pela Biblioteca dos Barris, e temos outros lugares na pauta, inclusive pelo interior, como Itaberaba e Jacobina", comemora.
Mais reconhecido e respeitado fora da Bahia do que dentro dela – como costuma acontecer com aqueles que se pautam por ideias próprias, e não pelo que o mercado dita –, Cedraz reuniu no livrão boa parte do trabalho desenvolvido por ele e seus assistentes no estúdio.
Xaxado abrilhantou as páginas do jornal A TARDE durante quase 12 anos. No momento, o artista se retirou das páginas do periódico, já que passa por um momento de reestruturação de sua empresa, o Estúdio Cedraz, com a promessa de que voltará assim que for possível.
Enquanto isso, ele segue na divulgação seu último lançamento, o álbum 1.000 Tiras em Quadrinhos.
"Saí por decisão própria e por ter entregado o controle do Estúdio Cedraz aos seus funcionários", conta. "A produção das tirinhas está interrompida por enquanto, por decisão minha. E o jornal foi muito, muito importante para a divulgação do Xaxado. Sou muito agradecido por isso. Íamos completar 12 anos de publicação ininterrupta em outubro próximo", acrescenta.
Universal – Dono de um trabalho excepcional, que faz rir e pensar, Cedraz é um daqueles poucos capazes de conjugar humor universal com fortes doses de crítica social, abordando temas difíceis como seca, coronelismo, analfabetismo e a perda das raízes culturais. “O povo fica aí falando de Halloween e ninguém fala do saci”, reclama.
A maior preocupação de Cedraz é justamente essa revalorização da cultura regional, o incentivo à leitura e o resgate de figuras esquecidas de nossa história e folclore.
Depois de homenagear Zumbi dos Palmares e manifestações folclóricas em publicações anteriores, ele pretende resgatar do limbo a figura de Maria Felipa, uma heroína esquecida da independência da Bahia. Consta que ela, uma negra corpulenta, forte e sensual, teria liderado uma ofensiva – a base de surra de cansanção – contra uma armada portuguesa em Itaparica.
“Meus próximos projetos são para contar a história de Maria Felipa e de Caramuru. O que não falta na Bahia é assunto: Guerra dos Alfaiates, Revolta dos Malês, Cosme de Farias... Eu quero é dar ênfase à nossa história, à nossa cultura”, estabelece.
Em julho, Cedraz viaja à São Paulo, onde acompanhará a cerimônia de premiação do HQ Mix, o “Oscar” dos quadrinhos brasileiros – troféu que ele já papou por seis vezes, à vezes derrotando seus próprios ídolos, como Maurício de Sousa e Ziraldo. Este ano, ele concorre mais uma vez, com o livro Xaxado - Ano 3.
“Meu primeiro HQ Mix foi em 1999, ano em que o troféu tinha justamente a forma do Horácio. Subi para receber, com o Maurício e o Ziraldo na plateia me aplaudindo. Foi muito emocionante”, lembra.
Por falar em Maurício, Cedraz, junto com outro artista de A TARDE, Cau Gomez, estão escalados – com outros 48 quadrinistas –, para participar do álbum comemorativo dos 50 anos de carreira do criador da Mônica. Adequadamente, Cedraz fará seu Xaxado encontrar sua contraparte sulista, Chico Bento.
1.000 Tiras em quadrinhos
Antônio Cedraz
Estúdio Cedraz
215 p. | R$ 60 (Na LDM)
www.xaxado.com.br
As tirinhas da Turma do Xaxado, a premiada criação do baiano Antônio Cedraz, ganharam um compêndio a altura da sua importância: trata-se do álbum 1.000 Tiras em quadrinhos.
"O 1.000 Tiras foi um projeto em parceria com o governo estadual via o Fundo de Cultura da Secult, em comemoração aos dez anos da publicação do Xaxado em A TARDE. O projeto contempla o livro, que publica as tiras de número 2.001 até 3.000 e uma exposição itinerante, onde quadrinistas convidados de todo o Brasil homenageiam a Turma do Xaxado", explica Cedraz.
Lançado na última Bienal do Livro da Bahia, o projeto foi um sucesso, apresentando tirinhas de artistas como Cau Gomez, Spacca, Bira Dantas e Flávio Luiz.
"Além da Bienal, a exposição já passou por Itaparica, pelo Colégio Anchieta e pela Biblioteca dos Barris, e temos outros lugares na pauta, inclusive pelo interior, como Itaberaba e Jacobina", comemora.
Mais reconhecido e respeitado fora da Bahia do que dentro dela – como costuma acontecer com aqueles que se pautam por ideias próprias, e não pelo que o mercado dita –, Cedraz reuniu no livrão boa parte do trabalho desenvolvido por ele e seus assistentes no estúdio.
Xaxado abrilhantou as páginas do jornal A TARDE durante quase 12 anos. No momento, o artista se retirou das páginas do periódico, já que passa por um momento de reestruturação de sua empresa, o Estúdio Cedraz, com a promessa de que voltará assim que for possível.
Enquanto isso, ele segue na divulgação seu último lançamento, o álbum 1.000 Tiras em Quadrinhos.
"Saí por decisão própria e por ter entregado o controle do Estúdio Cedraz aos seus funcionários", conta. "A produção das tirinhas está interrompida por enquanto, por decisão minha. E o jornal foi muito, muito importante para a divulgação do Xaxado. Sou muito agradecido por isso. Íamos completar 12 anos de publicação ininterrupta em outubro próximo", acrescenta.
Universal – Dono de um trabalho excepcional, que faz rir e pensar, Cedraz é um daqueles poucos capazes de conjugar humor universal com fortes doses de crítica social, abordando temas difíceis como seca, coronelismo, analfabetismo e a perda das raízes culturais. “O povo fica aí falando de Halloween e ninguém fala do saci”, reclama.
A maior preocupação de Cedraz é justamente essa revalorização da cultura regional, o incentivo à leitura e o resgate de figuras esquecidas de nossa história e folclore.
Depois de homenagear Zumbi dos Palmares e manifestações folclóricas em publicações anteriores, ele pretende resgatar do limbo a figura de Maria Felipa, uma heroína esquecida da independência da Bahia. Consta que ela, uma negra corpulenta, forte e sensual, teria liderado uma ofensiva – a base de surra de cansanção – contra uma armada portuguesa em Itaparica.
“Meus próximos projetos são para contar a história de Maria Felipa e de Caramuru. O que não falta na Bahia é assunto: Guerra dos Alfaiates, Revolta dos Malês, Cosme de Farias... Eu quero é dar ênfase à nossa história, à nossa cultura”, estabelece.
Em julho, Cedraz viaja à São Paulo, onde acompanhará a cerimônia de premiação do HQ Mix, o “Oscar” dos quadrinhos brasileiros – troféu que ele já papou por seis vezes, à vezes derrotando seus próprios ídolos, como Maurício de Sousa e Ziraldo. Este ano, ele concorre mais uma vez, com o livro Xaxado - Ano 3.
“Meu primeiro HQ Mix foi em 1999, ano em que o troféu tinha justamente a forma do Horácio. Subi para receber, com o Maurício e o Ziraldo na plateia me aplaudindo. Foi muito emocionante”, lembra.
Por falar em Maurício, Cedraz, junto com outro artista de A TARDE, Cau Gomez, estão escalados – com outros 48 quadrinistas –, para participar do álbum comemorativo dos 50 anos de carreira do criador da Mônica. Adequadamente, Cedraz fará seu Xaxado encontrar sua contraparte sulista, Chico Bento.
1.000 Tiras em quadrinhos
Antônio Cedraz
Estúdio Cedraz
215 p. | R$ 60 (Na LDM)
www.xaxado.com.br
sábado, junho 13, 2009
TSUNAMI DE HQS LEGAIS
A Bahia é destaque em safra que inclui adaptações de Jubiabá e O Pagador de Promessas. A primeira é parte da leva inicial de lançamentos do selo de quadrinhos da Cia. das Letras, que chegou arrebentando
Um ano e 8 meses depois de sua visita a Bahia para “sentir o clima e colher referências“, o cartunista Spacca finalmente vê chegar as livrarias sua adaptação para HQ do romance Jubiabá, de Jorge Amado.
Intitulado justamente Jubiabá de Jorge Amado, o belíssimo álbum é um dos quatro a inaugurar o selo Quadrinhos na Cia., criado pela Companhia das Letras para para abrigar seus lançamentos na área.
Em Jubiabá de Jorge Amado, Spacca demonstra vigor artístico e habilidade plástica inequívocas ao traduzir em quatro cores todo o clima, os cenários e tipos humanos da velha Bahia no século XX.
Sua visão se apropriou tão bem do universo amadiano que, folheando suas páginas, é quase possível sentir o cheiro de maresia no cais do porto no qual Antônio Balduíno, o herói do romance, participa de uma greve.
Experiência semelhante – Mas tudo isso, claro, não foi resultado de uma mera visita a cidade. “Ajudou ter vindo aí“, conta Spacca, por telefone. “Mas foi fundamental ter feito a ‘lição de casa‘ antes. Estudei mapas e fotos antigas. Quando passei aqueles dias aí, reconheci o que tinha estudado. Dei também um pulinho na Fundação Gregório de Mattos para olhar as fotos da antiga Praça da Sé. Sentir a ambientação, o terreno, ter a noção de andar por aí. Nem sei se aparece na história, mas é bom ter essa noção da cidade. Foi bom andar da Praça Castro Alves até o Pelô, sentir as distâncias“, avalia.
Para Spacca, o mais importante não era nem recontar o romance utilizando desenhos e balões de fala, mas sim, “oferecer ao leitor uma experiência semelhante a de ler um livro de Jorge Amado, utilizando os recursos da HQ. Então meu trabalho tem que ser tão divertido e envolvente quanto um livro de Jorge Amado“, diz.
“Por que no álbum eu tô representando Jorge Amado para muitos quem não o conhecem. Não quero vender gato por lebre, quero oferecer uma experiência similar a de ler um livro dele, mesmo“, estabelece.
Ainda assim – ou talvez exatamente por isso, adaptar um romance como Jubiabá está longe de ser tarefa fácil.
“O livro tem trezentos personagens, então muitas situações não iam ter como entrar. Fiz várias leituras. Na segunda, eu já peguei o esqueleto da obra. Aí li de novo para selecionar trechos. Não dá para fazer isso numa primeira leitura. Tem que conhecer mesmo para poder se embasar, além de ler livros paralelos, como os dois guias de Jorge Amado sobre Salvador“, ensina.
Jubiabá de Jorge Amado
Spacca / Jorge Amado
Companhia das Letras
96p. | R$ 33
www.quadrinhosnacia.com.br
SÓ OBRAS PREMIADAS NO SELO DA CIA. DAS LETRAS
O que era um tórrido namoro, entre a editora Companhia das Letras e os quadrinhos, agora virou casamento mesmo. A união tornou-se oficial com o lançamento de um selo exclusivo para HQs, o Quadrinhos na Cia. De cara, o enlace originou quatro filhos: Jubiabá de Jorge Amado, O chinês americano, Retalhos e Nova York: A vida na grande cidade.
E, a julgar pelos planos da editora para o selo, outras crias de nobre estirpe virão em breve por aí. A impressão que dá é que a as obras a serem publicadas são pinçadas diretamente das listas de premiações estrangeiras. Um exemplo é a cultuada graphic novel Jimmy Corrigan: The smartest kid on Earth, de Chris Ware, prevista para outubro.
Ainda pouco conhecida no Brasil, a obra costuma figurar ao lado do clássico Maus, de Art Spiegelman, como uma das responsáveis pelo reconhecimento das HQs como uma forma respeitável de expressão artística.
Já nessa primeira leva, a impressão de obras escolhidas a dedo é bem evidente, com algumas das graphic novels mais badaladas dessa década.
Além do soberbo tijolão Nova York: A vida na grande cidade, reunindo quatro obras de Will Eisner – mestre que dispensa apresentações – sobre a Grande Maçã, saltam aos olhos dois lançamentos há muito aguardados pelos apreciadores de HQs adultas: O chinês americano, de Gene Luen Yang e Retalhos, de Craig Thompson.
A primeira ganhou fama na imprensa internacional após ter sido indicada ao National Book Award, um dos prêmios literários mais prestigiosos do mundo, tendo sido a primeira vez que uma HQ conseguiu tal feito.
Trata-se uma história sobre aceitação (especialmente de si mesmo) e preconceito, contada em três camadas que, ao fim da narrativa, tornam-se uma só, com grande efeito dramático. A primeira história é sobre Jin Wang, um jovem imigrante chinês tentando se entrosar com os adolescentes de uma típica high school americana.
A segunda é uma adaptação do autor para a lenda do Rei Macaco, uma das mais conhecidas do folclore chinês. E a última trata das agruras de Danny, um rapaz que sofre horrores todas as vezes que recebe a visita de Chin Kee, um primo distante que reúne em si mesmo todos os piores estereótipos sobre os chineses.
Já Retalhos é outra pérola das HQs alternativas americanas, premiada diversas vezes tanto com o Eisner, quanto com o Harvey. A obra, um volumão de quase 600 páginas, não faria feio diante de romances de formação clássicos, como O apanhador no campo de centeio (J. D. Salinger) ou mesmo Grandes esperanças (Charles Dickens).
Repressão religiosa, a relação com o irmão menor, o tédio da vida em uma cidadezinha gélida do meio-oeste e a descoberta do amor são alguns dos temas abordados por Thompson com com extrema sensibilidade.
O chinês americano
Gene Luen Yang
Companhia das Letras
240 p. | R$ 47,50
www.quadrinhosnacia.com.br
Retalhos
Craig Thompson
Companhia das Letras
592 p. | R$ 49
www.quadrinhosnacia.com.br
Nova York: A vida na grande cidade
Will Eisner
Companhia das Letras
440 p. | R$ 55
www.quadrinhosnacia.com.br
ESTILO PICTÓRICO PARA O PAGADOR DE PROMESSAS
Adaptação da obra de Dias Gomes por Eloar Guazzelli demonstra boas influências do francês Jacques de Loustal
Elas começaram a (re)aparecer de uns quatro anos para cá. Pouco a pouco, foram ganhando espaço nas prateleiras das livrarias, bibliotecas e listas de leituras recomendadas pelo MEC. Hoje parece que as adaptações de clássicos da literatura nacional para os os quadrinhos voltaram mesmo para ficar. E O pagador de promessas, um marco da dramaturgia nacional, é o mais novo capítulo dessa história.
Publicado dentro da coleção Grandes Clássicos em Graphic Novel (Editora Agir) e adaptado pelo artista gaúcho Eloar Guazzelli, o texto do baiano Dias Gomes ganha uma nova releitura, diferente daquelas já vistas no cinema – em um filme igualmente clássico de Anselmo Duarte, a única vez que o Brasil ganhou a Palma de Ouro em Cannes – e na TV, em minissérie da Globo estrelada por José Mayer em 1988.
A bela edição, impressa em papel de alta qualidade, ganha ainda mais valor com o texto introdutório de Ferreira Gullar, que dá ao leitor a exata dimensão da importância da obra de Dias Gomes, definida por ele como “sem exagero, uma obra-prima da dramaturgia brasileira“.
Pictórico – Na HQ de Guazzelli, os personagens Zé-do-Burro, Rosa, o padre, o cafetão e outros ganham um jeitão de terem saído direto de um quadro (ou HQ) de Jacques de Loustal, artista francês com livre trânsito no cenário da bande desinèe, publicado no Brasil anos atrás, na extinta revista Animal.
A referência, contudo, não passa pela cópia, e sim, por uma bem trabalhada influência.
“Sou formado em artes plásticas, mas trabalho com HQ há muito tempo. O fato de ser um trabalho em homenagem ao Dias Gomes e de ser publicada em uma coleção com uma marca de apuro gráfico me fez buscar um estilo mais requintado. Eu me senti meio que na necessidade de elaborar mais. E o Loustal é mesmo minha grande referência, desde que comecei a fazer HQ. Desta forma, explorei propositalmente algumas características gráficas, busquei um resultado meio pictórico“, conta Gazzelli, por telefone.
Desafio & privilégio – Texto de mensagem política fortíssima, O pagador de promessas conta a história de Zé-do-Burro, uma matuto do interior da Bahia que, para salvar a vida de Nicolau, seu burro de estimação, faz uma promessa à Santa Bárbara em um terreiro, ou melhor dizendo, à Iansã, sua contraparte no sincretismo religioso.
A promessa consistia em carregar uma cruz, do tamanho da que Jesus Cristo carregou, desde a roça onde vivia, até a Igreja de Santa Bárbara, em Salvador. Aqui chegando, o caboclo e sua mulher, Rosa, sofrem o diabo na mão do pároco (que não aceita que uma promessa feita em terreiro seja paga em sua Igreja), de um cafetão (que consegue prostituir a esposa de Zé), da imprensa (que o transforma em um comunista revolucionário) e outras criaturas malignas da cidade grande.
Uma fábula até certo ponto simples, que enaltece o “bom selvagem“, como notou Ferreira Gullar, mas que ganha tons épicos pela qualidade literária dos diálogos de Dias Gomes, bem como pelo clímax trágico.
“Sou fã do Dias Gomes desde minha infância, quando assistia O Bem-Amado em preto & branco na TV. Com o tempo, fui tomando pé da obra dele“, lembra Guazzelli. “O peso (de adaptar O pagador) é grande. Primeiro, por que é Dias Gomes, e segundo, por que o filme é um dos grandes clássicos do nosso cinema. Por outro lado, esta é minha profissão. É um desafio e um privilégio. Se não achasse que eu não estou a altura, ia trabalhar com outras coisas“, observa.
“Mas passado o susto, teve outro problema, já que adaptar uma peça é um processo complicado. Às vezes a peça fica muito ancorada no texto. Por outro lado não posso fazer uma adaptação totalmente ancorada nisto, já que não tinha muitas páginas. Como a peça é muito ambientada num espaço só, trabalhei bastante a cidade como personagem. Adicionei detalhes e narrativas paralelas“, conclui.
O pagador de promessas
Dias Gomes / Eloar Guazzelli
Agir
72 p. | R$ 44,90
www.editoraagir.com.br
BÔNUS: TRAILER DE O PAGADOR DE PROMESSAS
FILME DE 1962, PREMIADO COM A PALMA DE OURO EM CANNES
Um ano e 8 meses depois de sua visita a Bahia para “sentir o clima e colher referências“, o cartunista Spacca finalmente vê chegar as livrarias sua adaptação para HQ do romance Jubiabá, de Jorge Amado.
Intitulado justamente Jubiabá de Jorge Amado, o belíssimo álbum é um dos quatro a inaugurar o selo Quadrinhos na Cia., criado pela Companhia das Letras para para abrigar seus lançamentos na área.
Em Jubiabá de Jorge Amado, Spacca demonstra vigor artístico e habilidade plástica inequívocas ao traduzir em quatro cores todo o clima, os cenários e tipos humanos da velha Bahia no século XX.
Sua visão se apropriou tão bem do universo amadiano que, folheando suas páginas, é quase possível sentir o cheiro de maresia no cais do porto no qual Antônio Balduíno, o herói do romance, participa de uma greve.
Experiência semelhante – Mas tudo isso, claro, não foi resultado de uma mera visita a cidade. “Ajudou ter vindo aí“, conta Spacca, por telefone. “Mas foi fundamental ter feito a ‘lição de casa‘ antes. Estudei mapas e fotos antigas. Quando passei aqueles dias aí, reconheci o que tinha estudado. Dei também um pulinho na Fundação Gregório de Mattos para olhar as fotos da antiga Praça da Sé. Sentir a ambientação, o terreno, ter a noção de andar por aí. Nem sei se aparece na história, mas é bom ter essa noção da cidade. Foi bom andar da Praça Castro Alves até o Pelô, sentir as distâncias“, avalia.
Para Spacca, o mais importante não era nem recontar o romance utilizando desenhos e balões de fala, mas sim, “oferecer ao leitor uma experiência semelhante a de ler um livro de Jorge Amado, utilizando os recursos da HQ. Então meu trabalho tem que ser tão divertido e envolvente quanto um livro de Jorge Amado“, diz.
“Por que no álbum eu tô representando Jorge Amado para muitos quem não o conhecem. Não quero vender gato por lebre, quero oferecer uma experiência similar a de ler um livro dele, mesmo“, estabelece.
Ainda assim – ou talvez exatamente por isso, adaptar um romance como Jubiabá está longe de ser tarefa fácil.
“O livro tem trezentos personagens, então muitas situações não iam ter como entrar. Fiz várias leituras. Na segunda, eu já peguei o esqueleto da obra. Aí li de novo para selecionar trechos. Não dá para fazer isso numa primeira leitura. Tem que conhecer mesmo para poder se embasar, além de ler livros paralelos, como os dois guias de Jorge Amado sobre Salvador“, ensina.
Jubiabá de Jorge Amado
Spacca / Jorge Amado
Companhia das Letras
96p. | R$ 33
www.quadrinhosnacia.com.br
SÓ OBRAS PREMIADAS NO SELO DA CIA. DAS LETRAS
O que era um tórrido namoro, entre a editora Companhia das Letras e os quadrinhos, agora virou casamento mesmo. A união tornou-se oficial com o lançamento de um selo exclusivo para HQs, o Quadrinhos na Cia. De cara, o enlace originou quatro filhos: Jubiabá de Jorge Amado, O chinês americano, Retalhos e Nova York: A vida na grande cidade.
E, a julgar pelos planos da editora para o selo, outras crias de nobre estirpe virão em breve por aí. A impressão que dá é que a as obras a serem publicadas são pinçadas diretamente das listas de premiações estrangeiras. Um exemplo é a cultuada graphic novel Jimmy Corrigan: The smartest kid on Earth, de Chris Ware, prevista para outubro.
Ainda pouco conhecida no Brasil, a obra costuma figurar ao lado do clássico Maus, de Art Spiegelman, como uma das responsáveis pelo reconhecimento das HQs como uma forma respeitável de expressão artística.
Já nessa primeira leva, a impressão de obras escolhidas a dedo é bem evidente, com algumas das graphic novels mais badaladas dessa década.
Além do soberbo tijolão Nova York: A vida na grande cidade, reunindo quatro obras de Will Eisner – mestre que dispensa apresentações – sobre a Grande Maçã, saltam aos olhos dois lançamentos há muito aguardados pelos apreciadores de HQs adultas: O chinês americano, de Gene Luen Yang e Retalhos, de Craig Thompson.
A primeira ganhou fama na imprensa internacional após ter sido indicada ao National Book Award, um dos prêmios literários mais prestigiosos do mundo, tendo sido a primeira vez que uma HQ conseguiu tal feito.
Trata-se uma história sobre aceitação (especialmente de si mesmo) e preconceito, contada em três camadas que, ao fim da narrativa, tornam-se uma só, com grande efeito dramático. A primeira história é sobre Jin Wang, um jovem imigrante chinês tentando se entrosar com os adolescentes de uma típica high school americana.
A segunda é uma adaptação do autor para a lenda do Rei Macaco, uma das mais conhecidas do folclore chinês. E a última trata das agruras de Danny, um rapaz que sofre horrores todas as vezes que recebe a visita de Chin Kee, um primo distante que reúne em si mesmo todos os piores estereótipos sobre os chineses.
Já Retalhos é outra pérola das HQs alternativas americanas, premiada diversas vezes tanto com o Eisner, quanto com o Harvey. A obra, um volumão de quase 600 páginas, não faria feio diante de romances de formação clássicos, como O apanhador no campo de centeio (J. D. Salinger) ou mesmo Grandes esperanças (Charles Dickens).
Repressão religiosa, a relação com o irmão menor, o tédio da vida em uma cidadezinha gélida do meio-oeste e a descoberta do amor são alguns dos temas abordados por Thompson com com extrema sensibilidade.
O chinês americano
Gene Luen Yang
Companhia das Letras
240 p. | R$ 47,50
www.quadrinhosnacia.com.br
Retalhos
Craig Thompson
Companhia das Letras
592 p. | R$ 49
www.quadrinhosnacia.com.br
Nova York: A vida na grande cidade
Will Eisner
Companhia das Letras
440 p. | R$ 55
www.quadrinhosnacia.com.br
ESTILO PICTÓRICO PARA O PAGADOR DE PROMESSAS
Adaptação da obra de Dias Gomes por Eloar Guazzelli demonstra boas influências do francês Jacques de Loustal
Elas começaram a (re)aparecer de uns quatro anos para cá. Pouco a pouco, foram ganhando espaço nas prateleiras das livrarias, bibliotecas e listas de leituras recomendadas pelo MEC. Hoje parece que as adaptações de clássicos da literatura nacional para os os quadrinhos voltaram mesmo para ficar. E O pagador de promessas, um marco da dramaturgia nacional, é o mais novo capítulo dessa história.
Publicado dentro da coleção Grandes Clássicos em Graphic Novel (Editora Agir) e adaptado pelo artista gaúcho Eloar Guazzelli, o texto do baiano Dias Gomes ganha uma nova releitura, diferente daquelas já vistas no cinema – em um filme igualmente clássico de Anselmo Duarte, a única vez que o Brasil ganhou a Palma de Ouro em Cannes – e na TV, em minissérie da Globo estrelada por José Mayer em 1988.
A bela edição, impressa em papel de alta qualidade, ganha ainda mais valor com o texto introdutório de Ferreira Gullar, que dá ao leitor a exata dimensão da importância da obra de Dias Gomes, definida por ele como “sem exagero, uma obra-prima da dramaturgia brasileira“.
Pictórico – Na HQ de Guazzelli, os personagens Zé-do-Burro, Rosa, o padre, o cafetão e outros ganham um jeitão de terem saído direto de um quadro (ou HQ) de Jacques de Loustal, artista francês com livre trânsito no cenário da bande desinèe, publicado no Brasil anos atrás, na extinta revista Animal.
A referência, contudo, não passa pela cópia, e sim, por uma bem trabalhada influência.
“Sou formado em artes plásticas, mas trabalho com HQ há muito tempo. O fato de ser um trabalho em homenagem ao Dias Gomes e de ser publicada em uma coleção com uma marca de apuro gráfico me fez buscar um estilo mais requintado. Eu me senti meio que na necessidade de elaborar mais. E o Loustal é mesmo minha grande referência, desde que comecei a fazer HQ. Desta forma, explorei propositalmente algumas características gráficas, busquei um resultado meio pictórico“, conta Gazzelli, por telefone.
Desafio & privilégio – Texto de mensagem política fortíssima, O pagador de promessas conta a história de Zé-do-Burro, uma matuto do interior da Bahia que, para salvar a vida de Nicolau, seu burro de estimação, faz uma promessa à Santa Bárbara em um terreiro, ou melhor dizendo, à Iansã, sua contraparte no sincretismo religioso.
A promessa consistia em carregar uma cruz, do tamanho da que Jesus Cristo carregou, desde a roça onde vivia, até a Igreja de Santa Bárbara, em Salvador. Aqui chegando, o caboclo e sua mulher, Rosa, sofrem o diabo na mão do pároco (que não aceita que uma promessa feita em terreiro seja paga em sua Igreja), de um cafetão (que consegue prostituir a esposa de Zé), da imprensa (que o transforma em um comunista revolucionário) e outras criaturas malignas da cidade grande.
Uma fábula até certo ponto simples, que enaltece o “bom selvagem“, como notou Ferreira Gullar, mas que ganha tons épicos pela qualidade literária dos diálogos de Dias Gomes, bem como pelo clímax trágico.
“Sou fã do Dias Gomes desde minha infância, quando assistia O Bem-Amado em preto & branco na TV. Com o tempo, fui tomando pé da obra dele“, lembra Guazzelli. “O peso (de adaptar O pagador) é grande. Primeiro, por que é Dias Gomes, e segundo, por que o filme é um dos grandes clássicos do nosso cinema. Por outro lado, esta é minha profissão. É um desafio e um privilégio. Se não achasse que eu não estou a altura, ia trabalhar com outras coisas“, observa.
“Mas passado o susto, teve outro problema, já que adaptar uma peça é um processo complicado. Às vezes a peça fica muito ancorada no texto. Por outro lado não posso fazer uma adaptação totalmente ancorada nisto, já que não tinha muitas páginas. Como a peça é muito ambientada num espaço só, trabalhei bastante a cidade como personagem. Adicionei detalhes e narrativas paralelas“, conclui.
O pagador de promessas
Dias Gomes / Eloar Guazzelli
Agir
72 p. | R$ 44,90
www.editoraagir.com.br
BÔNUS: TRAILER DE O PAGADOR DE PROMESSAS
FILME DE 1962, PREMIADO COM A PALMA DE OURO EM CANNES
quarta-feira, junho 10, 2009
RÉQUIEM PARA UM DELIRIUM TREMENS
Movidos a Álcool anuncia interrupção nas atividades e Eduardo Cachaça se lança solo, com show já nessa sexta-feira
O Dia dos Namorados promete ser mais divertido em Villas do Atlântico. O responsável por isso é a figuraça Eduardo Cachaça, vocalista da banda Movidos à Álcool.
O rapaz faz show especial de Dia dos Namorados, em clima intimista, às 18 horas de amanhã, no Boteco de Villas, desfiando seu repertório de clássicos dos cancioneiros brega, rock e jovem guarda, incluindo canções de sua ex-banda.
Sim, infelizmente, a Movidos à Álcool, uma das bandas mais divertidas do cenário alternativo baiano, resolveu “dar um tempo”, como quase toda relação que se preze hoje em dia.
“Paramos, mas não teve briga não, foi uma coisa numa boa mesmo. A banda tem um público cativo legal, mas, ainda assim, a coisa não andava. O chamado ‘grande público’ ainda não tem uma reação positiva em relação ao rock na Bahia”, lamenta.
Como já vinha desenvolvendo um trabalho solo de caráter mais “suave”, Eduardo resolveu continuar nessa linha. Daí lançou o show O Ébrio Romântico, que pode ser feito com sua nova banda, Os Longnecks (que conta com dois músicos da Movidos) ou na versão intimista, só na voz e no violão.
“São canções românticas, mas de temática cafona, brega. A gente fala de chifre, bebedeira e mulheres malvadas, mas sempre embalando os casais apaixonados”, esclarece.
No repertório, além de canções de Raul Seixas (com a genial Tu És o MDC da Minha Vida), Waldick Soriano, Amado Batista, Zé Ramalho e Reginaldo Rossi, Eduardo apresenta alguns hits da Movidos a Álcool e canções novas.
“Da Movidos eu toco Sônia Louca, Litrão de Pinga e O Meu Querer Por Dinalva. E de novas eu lanço duas: Dormi no Cabaré e Lúcia, que é uma versão brega, descarada mesmo, de Learn To Fly, da banda Foo Fighters”, enumera.
“O som é uma coisa meio iê iê iê com Amado Batista, jovem guarda com brega”, conclui.
Eduardo Cachaça
Show O Ébrio Romântico
Sexta-feira, 18 horas
Boteco de Villas
Av. Praia de Itapuã, s/n (Defronte ao Shopping Boulevard)
Couvert: R$ 3 por pessoa.
O Dia dos Namorados promete ser mais divertido em Villas do Atlântico. O responsável por isso é a figuraça Eduardo Cachaça, vocalista da banda Movidos à Álcool.
O rapaz faz show especial de Dia dos Namorados, em clima intimista, às 18 horas de amanhã, no Boteco de Villas, desfiando seu repertório de clássicos dos cancioneiros brega, rock e jovem guarda, incluindo canções de sua ex-banda.
Sim, infelizmente, a Movidos à Álcool, uma das bandas mais divertidas do cenário alternativo baiano, resolveu “dar um tempo”, como quase toda relação que se preze hoje em dia.
“Paramos, mas não teve briga não, foi uma coisa numa boa mesmo. A banda tem um público cativo legal, mas, ainda assim, a coisa não andava. O chamado ‘grande público’ ainda não tem uma reação positiva em relação ao rock na Bahia”, lamenta.
Como já vinha desenvolvendo um trabalho solo de caráter mais “suave”, Eduardo resolveu continuar nessa linha. Daí lançou o show O Ébrio Romântico, que pode ser feito com sua nova banda, Os Longnecks (que conta com dois músicos da Movidos) ou na versão intimista, só na voz e no violão.
“São canções românticas, mas de temática cafona, brega. A gente fala de chifre, bebedeira e mulheres malvadas, mas sempre embalando os casais apaixonados”, esclarece.
No repertório, além de canções de Raul Seixas (com a genial Tu És o MDC da Minha Vida), Waldick Soriano, Amado Batista, Zé Ramalho e Reginaldo Rossi, Eduardo apresenta alguns hits da Movidos a Álcool e canções novas.
“Da Movidos eu toco Sônia Louca, Litrão de Pinga e O Meu Querer Por Dinalva. E de novas eu lanço duas: Dormi no Cabaré e Lúcia, que é uma versão brega, descarada mesmo, de Learn To Fly, da banda Foo Fighters”, enumera.
“O som é uma coisa meio iê iê iê com Amado Batista, jovem guarda com brega”, conclui.
Eduardo Cachaça
Show O Ébrio Romântico
Sexta-feira, 18 horas
Boteco de Villas
Av. Praia de Itapuã, s/n (Defronte ao Shopping Boulevard)
Couvert: R$ 3 por pessoa.
terça-feira, junho 09, 2009
ESFORÇO TITÂNICO PARA SOAR RENOVADO
De volta com o CD Sacos Plásticos, os Titãs recorrem ao toque de Midas de Rick Bonadio
A descartabilidade das relações, a felicidade embrulhada para presente em produtos cada vez mais inúteis, as necessidades inventadas pelas grandes corporações. Sacos Plásticos, o novo CD dos Titãs, de volta quatro anos depois do último álbum, repisa não apenas territórios já explorados pela banda, mas também busca referências dentro de sua própria discografia.
“É bem por aí. Sacos Plásticos é o título de uma das canções e acho que várias delas tratam deste tema ou de outros próximos a eles: a ecologia, nosso estilo de vida, o consumismo desenfreado, as necessidades que nem sempre são tão necessárias, essa busca da felicidade como um produto sempre embrulhado diferente“, observa o vocalista Paulo Miklos, durante entrevista por telefone.
Outrora um octeto, mas hoje reduzido a um quinteto, os Titãs já somam 27 anos de atividades e 16 álbuns na carreira, fora as coletâneas, CDs solos etc.
Midas – Para este 16º lançamento, resolveram recorrer a Rick Bonadio, produtor famoso pelo sucesso comercial que consegue angariar para as bandas do seu selo Arsenal, como NX Zero e Fresno, entre outras.
“O Rick chegou com uma proposta e um entusiasmo que a gente não vê mais na indústria do disco, de fazer um projeto com a gente, de acreditar mesmo. Isso foi um diferencial. E ele já tinha dito na imprensa que era nosso fã, que tinha o sonho de gravar um disco conosco“, acrescenta Paulo.
“Isso nos proporcionou tranquilidade e a possibilidade de fazer um mergulho profundo“ conta. “Passamos um ano inteiro só entrando e saindo do estúdio, gravando, discutindo, peneirando as 40 músicas que tínhamos até chegarmos no disco que a gente queria“, conta.
Outros dois fatos deram aos membros dos Titãs um novo sopro de ânimo para retomar a carreira: o documentário Titãs - A Vida Até Parece Uma Festa e a turnê do ano passado com os Paralamas do Sucesso.
“O documentário do Branco foi muito importante, ele tocou a todos nós e nos fez sentir novamente um old feeling de tudo o que gente fez, nossas batalhas, nossa amizade e proximidade. O projeto com os Paralamas também foi muito emocionante pela nossas trajetórias em paralelo e por estarmos tocando todas as músicas juntos como uma banda só, sentindo aquela força de vida fantástica do Herbert Vianna“, elogia.
Esforço valeu, CD nem tanto
Ao ouvir Sacos Plásticos, até o fã mais devotado dos Titãs poderá perceber que houve um esforço da banda em soar renovada – e mais do que nunca, como ela mesma. Ao longo do álbum, diversas faixas buscam referência em discos anteriores do grupo.
Há desde as baladas algo melosas como a primeira música de trabalho, Antes de Você – na linha de Epitáfio e Cegos do Castelo –, até reggaes, funks e rocks que parecem querer retomar o pique dos melhores momentos dos Titãs, ouvidos nos álbuns Cabeça Dinossauro, Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas e Õ Blesq Blom.
Com isso, voltam também as programações eletrônicas, a cargo do produtor Rick Bonadio.
O ímpeto criativo, porém, resvala não apenas numa certa fadiga artística – que, aliás, acomete a banda há anos –, mas também na produção “certinha“ do Bonadio, um conhecido hitmaker.
Não é um álbum ruim. É, antes de tudo, um disco do seu tempo, esta época em que (quase) tudo parece mediano, apesar de todo o alarde midiático.
Sacos Plásticos
Titãs
Arsenal / Universal
R$ 26,90 (média)
www.titas.net
A descartabilidade das relações, a felicidade embrulhada para presente em produtos cada vez mais inúteis, as necessidades inventadas pelas grandes corporações. Sacos Plásticos, o novo CD dos Titãs, de volta quatro anos depois do último álbum, repisa não apenas territórios já explorados pela banda, mas também busca referências dentro de sua própria discografia.
“É bem por aí. Sacos Plásticos é o título de uma das canções e acho que várias delas tratam deste tema ou de outros próximos a eles: a ecologia, nosso estilo de vida, o consumismo desenfreado, as necessidades que nem sempre são tão necessárias, essa busca da felicidade como um produto sempre embrulhado diferente“, observa o vocalista Paulo Miklos, durante entrevista por telefone.
Outrora um octeto, mas hoje reduzido a um quinteto, os Titãs já somam 27 anos de atividades e 16 álbuns na carreira, fora as coletâneas, CDs solos etc.
Midas – Para este 16º lançamento, resolveram recorrer a Rick Bonadio, produtor famoso pelo sucesso comercial que consegue angariar para as bandas do seu selo Arsenal, como NX Zero e Fresno, entre outras.
“O Rick chegou com uma proposta e um entusiasmo que a gente não vê mais na indústria do disco, de fazer um projeto com a gente, de acreditar mesmo. Isso foi um diferencial. E ele já tinha dito na imprensa que era nosso fã, que tinha o sonho de gravar um disco conosco“, acrescenta Paulo.
“Isso nos proporcionou tranquilidade e a possibilidade de fazer um mergulho profundo“ conta. “Passamos um ano inteiro só entrando e saindo do estúdio, gravando, discutindo, peneirando as 40 músicas que tínhamos até chegarmos no disco que a gente queria“, conta.
Outros dois fatos deram aos membros dos Titãs um novo sopro de ânimo para retomar a carreira: o documentário Titãs - A Vida Até Parece Uma Festa e a turnê do ano passado com os Paralamas do Sucesso.
“O documentário do Branco foi muito importante, ele tocou a todos nós e nos fez sentir novamente um old feeling de tudo o que gente fez, nossas batalhas, nossa amizade e proximidade. O projeto com os Paralamas também foi muito emocionante pela nossas trajetórias em paralelo e por estarmos tocando todas as músicas juntos como uma banda só, sentindo aquela força de vida fantástica do Herbert Vianna“, elogia.
Esforço valeu, CD nem tanto
Ao ouvir Sacos Plásticos, até o fã mais devotado dos Titãs poderá perceber que houve um esforço da banda em soar renovada – e mais do que nunca, como ela mesma. Ao longo do álbum, diversas faixas buscam referência em discos anteriores do grupo.
Há desde as baladas algo melosas como a primeira música de trabalho, Antes de Você – na linha de Epitáfio e Cegos do Castelo –, até reggaes, funks e rocks que parecem querer retomar o pique dos melhores momentos dos Titãs, ouvidos nos álbuns Cabeça Dinossauro, Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas e Õ Blesq Blom.
Com isso, voltam também as programações eletrônicas, a cargo do produtor Rick Bonadio.
O ímpeto criativo, porém, resvala não apenas numa certa fadiga artística – que, aliás, acomete a banda há anos –, mas também na produção “certinha“ do Bonadio, um conhecido hitmaker.
Não é um álbum ruim. É, antes de tudo, um disco do seu tempo, esta época em que (quase) tudo parece mediano, apesar de todo o alarde midiático.
Sacos Plásticos
Titãs
Arsenal / Universal
R$ 26,90 (média)
www.titas.net
sexta-feira, junho 05, 2009
quarta-feira, junho 03, 2009
TODAS AS MICRO-RESENHAS DO MUNDO
Crônicas da vida no rock louco
Leonardo Panço, jornalista e guitarrista da banda de hardcore Jason lança seu segundo livro, depois do relato de viagem Jason 2001: Uma odisseia na Europa. Em Caras dessa idade já não leem manuais, Panço reúne vários textos curtos, variando o tom entre a crônica do dia-a-dia e a observação pura e simples dos fatos absurdos vivenciados por quem militou a vida inteira no circuito do rock underground. De prosa enxuta, direta e desprovida do cinismo imaturo que costuma marcar escritores jovens, ele mostra que não precisa de malabarismo para escrever bem. E quem pedir o livro ainda leva de brinde dois CDs do selo do rapaz, o Tamborete Records.
Caras dessa idade já não leem manuais
Leonardo Panço
Tamborete Entertainment
136 p. | R$ 20 (mais envio)
www.myspace.com/leonardopanco
De volta às trincheiras
The Eternal, o álbum que marca o retorno da veterana banda Sonic Youth à independência, após quase duas décadas em gravadora major, ainda não chegou as lojas, mas, claro, já está nos HDs de meio mundo após vazar na internet. Além de voltar ao circuito do selo indie Matador Records, o grupo parece ter voltado também ao velho estilo de composições mais curtas e diretas, privilegiando o formato de canção pop. A faixa de abertura Sacred Trickster, mais Antenna, No Way e Thunderclap (For Bobby Pyn) são bons exemplos desse retorno ao espírito de álbuns como Goo (1990) e Dirty (1991). Mas o disco não fica só nisso. Há também faixas mais longas e experimentais, na linha dos primeiro trabalhos da banda na década de 80, como a provocativa Anti-Orgasm (uma ode ao amor livre, que homenageia os revolucionários alemães do grupo Kommune 1) e a suíte épica Massage The History, que, com seus quase 10 minutos, fecha o disco, atravessando diversos andamentos e climas diferentes. O lançamento oficial de The Eternal é no dia 9.
The Eternal
Sonic Youth
Matador Records
R$ 25 (importado, mais taxas)
www.matadorrecords.com
Tom Waits da R. Augusta
O leitor mais bem-informado já viu esse tipo antes: o cantor de voz rouca, terno escuro, gravata frouxa, cabelos desalinhados e cigarro no canto da boca. Não, não é Tom Waits, nem Serge Gainsbourg. É sua tardia contraparte brasileira, ou melhor, paulista, Renato Godá. Cantando as agruras e desventuras daqueles que se escondem nos becos escuros das madrugadas, Godá estreia com um bem produzido EP com sete faixas (e preço irreal, de CD cheio). A faixa de abertura, Bom Partido, já diz quase tudo o que se precisa saber sobre ele: “Não faço cerimônia / Não Sou um bom Partido / Tendo para os vícios/ Posso causar desgosto / Sou um pervertido / Livre leve e solto / Um vagabundo astuto/ Um vira-lata escroto”. Descontada a egotrip, o rapaz causa boa impressão, pois as canções, todas de sua autoria, funcionam muito bem dentro do seu estilo esfumaçado, algo entre a chanson, o jazz e o folk cigano do leste europeu (!). Outro ponto positivo foi a produção de Apollo Nove, com os músicos tocando ao vivo no estúdio, ressaltando a crueza das canções. Desce redondo.
Renato Godá
Renato Godá
Rob Digital
R$ 22,15 (no site, mais envio)
www.robdigital.com.br
Mestre + mestre = obra-prima
No início do século XX, um jovem miserável vaga sem rumo pelas ruas de Christiania (atual Oslo, capital da Noruega), caindo de fome. Na mão, um toco de lápis, com o qual escreve crônicas que oferece aos jornais da cidade, sem grande sucesso. Delirante, rói osso (literalmente), passa mal, fica lúcido, retorna ao delírio. Em poucas palavras, isto é Fome, considerado o maior romance de Knut Hamsun, polêmico e genial escritor norueguês premiado com o Nobel e tão amalucado quanto seu personagem. Nesta edição, o leitor brasileiro tem ainda o privilégio de contar com a tradução de um gênio brasileiro: Carlos Drummond de Andrade. Comovente.
Fome
Knut Hamsun
Geração Editorial
176 p. | R$ 29,90
www.geracaoeditorial.com.br
Angústia adolescente
Com o grande sucesso entre as hordas de camisas pretas de bandas como Nightwish, Paradise Lost e outras que praticam uma mistura de heavy metal europeu de pinçadas eruditas com climas góticos e sombrios, a Sony apostou em um similar nacional, que canta em português: Libra. Com boa voz – apesar de nada original – o rapaz até que deve convencer a garotada de cara branca com suas letras desesperançadas, tristes mesmo, como Ninguém Ama Ninguém, Desaparecer e Na Minha Pele, entre outras. Ouvintes menos propensos (ou talvez de mais idade), porém, logo se entediarão com a ladainha de angústia adolescente desfiada pelo cantor. Produzido por Carlos Trilha (produtor dos CDs solo de Renato Russo), todo o álbum exala um ar frio e tristonho, sensação reforçada pelo uso ostensivo de cordas e camas de teclados que correm paralelos às guitarras nas gravações. Na já citada Ninguém Ama Ninguém, um dos ídolos de Libra, o cantor Aaron Stainthorpe (My Dying Bride) declama um poema.
Até que a Morte não Separe
Libra
Sony BMG
R$ R$ 13,90
www.librafans.com.br
Som pesado para falar da condição feminina
Uma das bandas mais ativas do cenário rock local surgidas nesta década, a Lou costuma ser subestimada por que – e isto é um fato – ainda não produziu “aquela“ canção com cara de hit, com um refrão ganchudo. De personalidade um tanto difusa – quase arredia, mesmo – a banda se caracteriza pelo som pesado, com claras influências de nomes de diversas vertentes, como System of a Down, Metallica, Deftones, Hole e Smashing Pumkins nos seus momentos mais heavy. Com cinco anos de atividade, o grupo formado por Danny N. (vocal), Tati Trad (baixo), Jera Cravo (bateria), Mel Lopo e Carol Ribeiro (guitarras) chega ao primeiro álbum cheio, Devir. Apesar de ainda não apresentar nenhuma música com pinta de hit, a Lou marca pontos ao tramar, ao longo de suas 12 faixas, algo muito próximo a um tratado sobre a condição da mulher urbana independente, dona de si mesma e do seu pensar. Contribui para isto a instrumentação correta, sem excessos ou exibicionismos, além da produção certeira de Jorge Solovera. Boa estreia.
Devir
Lou
Atalho Discos
R$ 5
www.myspace.com/loudevir
Novelização bilíngue
Prática comum nos Estados Unidos, a novelização de sucessos de bilheteria é um mercado a parte na indústria cultural e ainda pouco explorado no Brasil. Com o enorme apelo da adaptação hollywoodiana do mangá / animê Dragon Ball, o livro baseado no roteiro cinematográfico de Ben Ramsey (que, por sua vez, se baseou na obra original de Akira Toriyama) chegou há pouco tempo às livrarias brasileiras. Dragonball Evolution, o romance, traz como atração extra o fato de ser bilíngue (português / inglês), além de contar com várias fotos coloridas da película. A despeito do filme não ter agradado aos fãs mais radicais de DB, o livro é uma leitura ágil e divertida – como todo bom mangá.
Dragonball Evolution
Stacia Deutsch / Rhody Cohon / Akira Toriyama
JBC
200 p. | R$ 24,90
www.editorajbc.com.br
Bacharach & Valle
Fãs de bossa jazz instrumental têm um prato cheio neste novo CD da pianista e arranjadora brasileira Paula Faour. A ideia aqui foi “casar“ as composições de dois craques: Marcos Valle e o americano Burt Bacharach. Acompanhada de feras como o próprio Valle, Roberto Menescal, Gílson Peranzzetta, Ricardo Santoro e Sérgio Barroso, a moça criou arranjos cheios de swing, que, ao lado da instrumentação vigorosa dos seus parceiros, chutam pra bem longe o clima de churrascaria que costuma contaminar álbuns do gênero. Destaque para Raindrops Keep Falling On My Head (com Paula pilotando um elegante piano elétrico Fender Rhodes) e Wives and Lovers / Seu Encanto, com uma levada inicial a la Take Five, de Dave Bubeck, e o acordeom de Peranzzetta adornando uma valsa e transportando o ouvinte para uma Paris romântica e bucólica – que não deve existir mais. Outro clássico (de Bacharach), I Say a Little Prayer, ganha um belo arranjo de trompete de Jessé Sadoc. Belo disco.
A Música de Marcos Valle e Burt Bacharach
Paula Faour
Biscoito Fino
R$ 28,90
www.paulafaour.com.br
Recém-contratado, Vanguart lança ao vivo
Aclamado como uma das melhores coisas surgidas no rock brasileiro nesta década (o que, convenhamos, não é tarefa lá muito difícil), o grupo matogrossensse Vanguart assinou com a major Universal no ano passado, após lançar seu primeiro CD independente em 2007, encartado na (desativada) revista Outracoisa, aquela do Lobão. Como era de se esperar, a gravadora logo botou os meninos para fazer o dever de casa, ou seja: CD e DVD ao vivo, claro. Das 14 faixas do álbum de estreia, doze estão aqui, mais oito inéditas. Uma delas, estranhamente, é O Mar, de Dorival Caymmi, transformada em um country rock não muito convincente. Ponta de lança de um movimento de garotos brasileiros que resgata o folk rock americano dos anos 60 e 70 (junto com Mallu Magalhães, The New Folks e outros), o Vanguart demonstra bastante entrosamento no palco e consegue agradar a muita gente. Porém, ainda falta um toque de originalidade e, talvez, menos pretensão. Quem já é fã vai gostar. Quem não é, continuará não sendo.
Registro Multishow
Vanguart
Universal
R$ 29,90 (CD)
www.vanguart.com.br
Dose dupla de autor argentino
Um homem compra um macaco de circo em um leilão. Convencido de que todo chimpanzé é um ser humano involuído, ele tenta, a todo custo, faze-lo falar. Esta sinopse dá uma idéia do estilo do escritor argentino Leopoldo Lugones (1874-1938), considerado o grande precursor do chamado realismo mágico sul-americano e fonte de inspiração para Jorge Luis Borges, entre outros. Aqui, o leitor terá acesso a dois livros de Lugones reunidos em um único volume, preenchendo uma lacuna no mercado literário ao trazer para o público um autor que, no Brasil, era muito mais falado do que lido. Um grande nome do modernismo literário.
As forças estranhas / Contos fatais
Leopoldo Lugones
Editora Globo
308 p. | R$ 35
www.globolivros.com.br
Leonardo Panço, jornalista e guitarrista da banda de hardcore Jason lança seu segundo livro, depois do relato de viagem Jason 2001: Uma odisseia na Europa. Em Caras dessa idade já não leem manuais, Panço reúne vários textos curtos, variando o tom entre a crônica do dia-a-dia e a observação pura e simples dos fatos absurdos vivenciados por quem militou a vida inteira no circuito do rock underground. De prosa enxuta, direta e desprovida do cinismo imaturo que costuma marcar escritores jovens, ele mostra que não precisa de malabarismo para escrever bem. E quem pedir o livro ainda leva de brinde dois CDs do selo do rapaz, o Tamborete Records.
Caras dessa idade já não leem manuais
Leonardo Panço
Tamborete Entertainment
136 p. | R$ 20 (mais envio)
www.myspace.com/leonardopanco
De volta às trincheiras
The Eternal, o álbum que marca o retorno da veterana banda Sonic Youth à independência, após quase duas décadas em gravadora major, ainda não chegou as lojas, mas, claro, já está nos HDs de meio mundo após vazar na internet. Além de voltar ao circuito do selo indie Matador Records, o grupo parece ter voltado também ao velho estilo de composições mais curtas e diretas, privilegiando o formato de canção pop. A faixa de abertura Sacred Trickster, mais Antenna, No Way e Thunderclap (For Bobby Pyn) são bons exemplos desse retorno ao espírito de álbuns como Goo (1990) e Dirty (1991). Mas o disco não fica só nisso. Há também faixas mais longas e experimentais, na linha dos primeiro trabalhos da banda na década de 80, como a provocativa Anti-Orgasm (uma ode ao amor livre, que homenageia os revolucionários alemães do grupo Kommune 1) e a suíte épica Massage The History, que, com seus quase 10 minutos, fecha o disco, atravessando diversos andamentos e climas diferentes. O lançamento oficial de The Eternal é no dia 9.
The Eternal
Sonic Youth
Matador Records
R$ 25 (importado, mais taxas)
www.matadorrecords.com
Tom Waits da R. Augusta
O leitor mais bem-informado já viu esse tipo antes: o cantor de voz rouca, terno escuro, gravata frouxa, cabelos desalinhados e cigarro no canto da boca. Não, não é Tom Waits, nem Serge Gainsbourg. É sua tardia contraparte brasileira, ou melhor, paulista, Renato Godá. Cantando as agruras e desventuras daqueles que se escondem nos becos escuros das madrugadas, Godá estreia com um bem produzido EP com sete faixas (e preço irreal, de CD cheio). A faixa de abertura, Bom Partido, já diz quase tudo o que se precisa saber sobre ele: “Não faço cerimônia / Não Sou um bom Partido / Tendo para os vícios/ Posso causar desgosto / Sou um pervertido / Livre leve e solto / Um vagabundo astuto/ Um vira-lata escroto”. Descontada a egotrip, o rapaz causa boa impressão, pois as canções, todas de sua autoria, funcionam muito bem dentro do seu estilo esfumaçado, algo entre a chanson, o jazz e o folk cigano do leste europeu (!). Outro ponto positivo foi a produção de Apollo Nove, com os músicos tocando ao vivo no estúdio, ressaltando a crueza das canções. Desce redondo.
Renato Godá
Renato Godá
Rob Digital
R$ 22,15 (no site, mais envio)
www.robdigital.com.br
Mestre + mestre = obra-prima
No início do século XX, um jovem miserável vaga sem rumo pelas ruas de Christiania (atual Oslo, capital da Noruega), caindo de fome. Na mão, um toco de lápis, com o qual escreve crônicas que oferece aos jornais da cidade, sem grande sucesso. Delirante, rói osso (literalmente), passa mal, fica lúcido, retorna ao delírio. Em poucas palavras, isto é Fome, considerado o maior romance de Knut Hamsun, polêmico e genial escritor norueguês premiado com o Nobel e tão amalucado quanto seu personagem. Nesta edição, o leitor brasileiro tem ainda o privilégio de contar com a tradução de um gênio brasileiro: Carlos Drummond de Andrade. Comovente.
Fome
Knut Hamsun
Geração Editorial
176 p. | R$ 29,90
www.geracaoeditorial.com.br
Angústia adolescente
Com o grande sucesso entre as hordas de camisas pretas de bandas como Nightwish, Paradise Lost e outras que praticam uma mistura de heavy metal europeu de pinçadas eruditas com climas góticos e sombrios, a Sony apostou em um similar nacional, que canta em português: Libra. Com boa voz – apesar de nada original – o rapaz até que deve convencer a garotada de cara branca com suas letras desesperançadas, tristes mesmo, como Ninguém Ama Ninguém, Desaparecer e Na Minha Pele, entre outras. Ouvintes menos propensos (ou talvez de mais idade), porém, logo se entediarão com a ladainha de angústia adolescente desfiada pelo cantor. Produzido por Carlos Trilha (produtor dos CDs solo de Renato Russo), todo o álbum exala um ar frio e tristonho, sensação reforçada pelo uso ostensivo de cordas e camas de teclados que correm paralelos às guitarras nas gravações. Na já citada Ninguém Ama Ninguém, um dos ídolos de Libra, o cantor Aaron Stainthorpe (My Dying Bride) declama um poema.
Até que a Morte não Separe
Libra
Sony BMG
R$ R$ 13,90
www.librafans.com.br
Som pesado para falar da condição feminina
Uma das bandas mais ativas do cenário rock local surgidas nesta década, a Lou costuma ser subestimada por que – e isto é um fato – ainda não produziu “aquela“ canção com cara de hit, com um refrão ganchudo. De personalidade um tanto difusa – quase arredia, mesmo – a banda se caracteriza pelo som pesado, com claras influências de nomes de diversas vertentes, como System of a Down, Metallica, Deftones, Hole e Smashing Pumkins nos seus momentos mais heavy. Com cinco anos de atividade, o grupo formado por Danny N. (vocal), Tati Trad (baixo), Jera Cravo (bateria), Mel Lopo e Carol Ribeiro (guitarras) chega ao primeiro álbum cheio, Devir. Apesar de ainda não apresentar nenhuma música com pinta de hit, a Lou marca pontos ao tramar, ao longo de suas 12 faixas, algo muito próximo a um tratado sobre a condição da mulher urbana independente, dona de si mesma e do seu pensar. Contribui para isto a instrumentação correta, sem excessos ou exibicionismos, além da produção certeira de Jorge Solovera. Boa estreia.
Devir
Lou
Atalho Discos
R$ 5
www.myspace.com/loudevir
Novelização bilíngue
Prática comum nos Estados Unidos, a novelização de sucessos de bilheteria é um mercado a parte na indústria cultural e ainda pouco explorado no Brasil. Com o enorme apelo da adaptação hollywoodiana do mangá / animê Dragon Ball, o livro baseado no roteiro cinematográfico de Ben Ramsey (que, por sua vez, se baseou na obra original de Akira Toriyama) chegou há pouco tempo às livrarias brasileiras. Dragonball Evolution, o romance, traz como atração extra o fato de ser bilíngue (português / inglês), além de contar com várias fotos coloridas da película. A despeito do filme não ter agradado aos fãs mais radicais de DB, o livro é uma leitura ágil e divertida – como todo bom mangá.
Dragonball Evolution
Stacia Deutsch / Rhody Cohon / Akira Toriyama
JBC
200 p. | R$ 24,90
www.editorajbc.com.br
Bacharach & Valle
Fãs de bossa jazz instrumental têm um prato cheio neste novo CD da pianista e arranjadora brasileira Paula Faour. A ideia aqui foi “casar“ as composições de dois craques: Marcos Valle e o americano Burt Bacharach. Acompanhada de feras como o próprio Valle, Roberto Menescal, Gílson Peranzzetta, Ricardo Santoro e Sérgio Barroso, a moça criou arranjos cheios de swing, que, ao lado da instrumentação vigorosa dos seus parceiros, chutam pra bem longe o clima de churrascaria que costuma contaminar álbuns do gênero. Destaque para Raindrops Keep Falling On My Head (com Paula pilotando um elegante piano elétrico Fender Rhodes) e Wives and Lovers / Seu Encanto, com uma levada inicial a la Take Five, de Dave Bubeck, e o acordeom de Peranzzetta adornando uma valsa e transportando o ouvinte para uma Paris romântica e bucólica – que não deve existir mais. Outro clássico (de Bacharach), I Say a Little Prayer, ganha um belo arranjo de trompete de Jessé Sadoc. Belo disco.
A Música de Marcos Valle e Burt Bacharach
Paula Faour
Biscoito Fino
R$ 28,90
www.paulafaour.com.br
Recém-contratado, Vanguart lança ao vivo
Aclamado como uma das melhores coisas surgidas no rock brasileiro nesta década (o que, convenhamos, não é tarefa lá muito difícil), o grupo matogrossensse Vanguart assinou com a major Universal no ano passado, após lançar seu primeiro CD independente em 2007, encartado na (desativada) revista Outracoisa, aquela do Lobão. Como era de se esperar, a gravadora logo botou os meninos para fazer o dever de casa, ou seja: CD e DVD ao vivo, claro. Das 14 faixas do álbum de estreia, doze estão aqui, mais oito inéditas. Uma delas, estranhamente, é O Mar, de Dorival Caymmi, transformada em um country rock não muito convincente. Ponta de lança de um movimento de garotos brasileiros que resgata o folk rock americano dos anos 60 e 70 (junto com Mallu Magalhães, The New Folks e outros), o Vanguart demonstra bastante entrosamento no palco e consegue agradar a muita gente. Porém, ainda falta um toque de originalidade e, talvez, menos pretensão. Quem já é fã vai gostar. Quem não é, continuará não sendo.
Registro Multishow
Vanguart
Universal
R$ 29,90 (CD)
www.vanguart.com.br
Dose dupla de autor argentino
Um homem compra um macaco de circo em um leilão. Convencido de que todo chimpanzé é um ser humano involuído, ele tenta, a todo custo, faze-lo falar. Esta sinopse dá uma idéia do estilo do escritor argentino Leopoldo Lugones (1874-1938), considerado o grande precursor do chamado realismo mágico sul-americano e fonte de inspiração para Jorge Luis Borges, entre outros. Aqui, o leitor terá acesso a dois livros de Lugones reunidos em um único volume, preenchendo uma lacuna no mercado literário ao trazer para o público um autor que, no Brasil, era muito mais falado do que lido. Um grande nome do modernismo literário.
As forças estranhas / Contos fatais
Leopoldo Lugones
Editora Globo
308 p. | R$ 35
www.globolivros.com.br
segunda-feira, junho 01, 2009
THE STONES ROSES: 20 ANOS EMPEDRADOS
Álbum que deslanchou o movimento de Madchester ganha nova edição
Uma pedra atirada nas águas de um lago forma vários círculos concêntricos, que se movem em pequenas ondas, ao mesmo tempo e em todas as direções. The Stone Roses, o primeiro álbum da banda homônima, lançado há 20 anos atrás, é justamente isso: uma pedra que caiu nas águas turbulentas da música pop inglesa e espalhou suas influências mundo afora.
Com seus hits She Bangs The Drums, Elephant Stone e I Wanna Be Adored, o álbum, que ganha agora edição comemorativa (veja abaixo), soou aos ouvidos planetários mais arrojados de 1989 como uma revelação.
Enquanto do lado de cá do oceano – e em todas as rádios do planeta – o rock de Los Angeles dava as cartas, via bandas como Guns ‘n‘ Roses e Skid Row, na velha ilha do Atlântico Norte era a cidade industrial de Manchester que começava a lançar tendências.
Na verdade, o movimento de Manchester vinha sendo maturado desde uma certa noite chuvosa de 1976, quando os Sex Pistols fizeram um show numa casa noturna de lá para uma pequena – mas selecionadíssima plateia. Estavam lá os futuros membros de bandas fundamentais do punk e pós-punk, como The Buzzcocks, Joy Division, The Fall, The Smiths e até – imaginem – do xaroposo Simply Red.
Festa 24 horas – Essa história e seus desdobramentos, que muitos consideram como o momento mais importante da história do rock desde que Elvis Presley rebolou pela primeira vez na televisão, está muito bem contada no filme A Festa Nunca Termina (24 Hour Party People, 2005), de Michael Winterbotton.
Corta para 1984. Em Timperley, um subúrbio de Manchester, os adolescentes Ian Brown (vocal) e John Squire (guitarra) formam o núcleo do que viria a ser o Stone Roses. Já em 1985, lançam seu primeiro single, So Young, ignorado.
Em paralelo a isso, a cena eletrônica da cidade ia entrando em ebulição com o New Order (formado a partir das cinzas do Joy Division) e 808 State, entre outros. Em 1988, a cena acid house e a cultura do ecstasy atingiriam seu ápice.
Aquele ano ficaria conhecido pela imprensa inglesa como o Segundo Verão do Amor, em referência ao Verão do Amor orginal, de 1967.
Estava na água – Naquele ano foram lançados os singles (da já citada)Elephant Stone e Wrote for Luck (The Happy Mondays), entre outros.
Nenhum fez grande sucesso comercial, mas já chamaram a atenção da crítica e do público mais antenado pela levada diferente que apresentavam, mais festiva e desencanada do que as bandas da geração anterior, além de sintonizadas com o movimento das raves, que se espalhavam rapidamente pelo Reino Unido.
Na sua edição de 17 de dezembro de 1988, o repórter do semanário New Musical Express, Sean O‘Hagan, começou a notar que alguma coisa estranha acontecia na cidade: “Há um rumor no meio musical de que o suprimento de água de algumas cidades do norte da Inglaterra, particularmente Manchester, estão recebendo pequenas doses de substâncias químicas expansoras da mente. Todo mundo de lá, desde os Happy Mondays, até o severamente desorientado Morrissey, parece se aplicar nessa teoria“.
Em maio de 1989, o álbum The Stone Roses chegou as lojas. A imprensa musical caiu de joelhos, classificando o LP como “o melhor álbum de estreia de todos os tempos“.
As razões estavam na forma perfeitamente despojada com que Ian, John, Reni (bateria) e Mani (baixo) captaram o zeitgeist da época, aliando o pop dos anos 60 com influências do indie rock dos anos 80, disco music dos anos 70 e a house music da hora.
O fato é que a pedra dos Stone Roses formou ondas que vieram desaguar no irresistível brit pop dos anos 90, com bandas como Oasis (cujo líder, Noel Gallagher, era roadie dos Inspiral Carpets, outra banda clássica do movimento), Blur e Pulp.
Caixa da Edição de luxo em agosto
Um disco histórico merece uma edição comemorativa de luxo a altura. Ou mesmo três edições.
O selo Silvertone / Legacy, que lançou o álbum The Stone Roses em 1989 já anunciou que lançará no mercado, no dia 10 de agosto, três versões comemorativas diferentes, que, aliás, já estão em pré-venda no site da Amazon.
Inclusive, neste momento o produtor original John Leckie e o vocalista Ian Brown estão enfurnados no estúdio remasterizando a obra para a ocasião.
A primeira edição, a mais simples, chama-se Stone Roses: Special Edition e além do CD remasterizado, virá com um encarte especial.
A opção intermediária chama-se Stone Roses: Legacy Edition, e trará dois discos e um DVD: o álbum remasterizado e um segundo CD chamado The Lost Demos, com 15 faixas raras. No DVD, o show Live In Blackpool, gravado em 1989, mais um livreto de 28 páginas.
A terceira edição – que certamente, custará os olhos da cara – chama-se Stone Roses: Collectors Edition. Além do disco e do CD The Lost Demos, ela vem com um terceiro álbum só com lados B e versões de singles, além de três discos de vinil, tudo em uma caixa trabalhada.
Além de tudo isso, o pacote ainda trará um pen drive em formato de limão com clipes promocionais, toques de celular, wallpapers e outros mimos. Haja grana.
THE STONE ROSES - ELEPHANT STONE
Uma pedra atirada nas águas de um lago forma vários círculos concêntricos, que se movem em pequenas ondas, ao mesmo tempo e em todas as direções. The Stone Roses, o primeiro álbum da banda homônima, lançado há 20 anos atrás, é justamente isso: uma pedra que caiu nas águas turbulentas da música pop inglesa e espalhou suas influências mundo afora.
Com seus hits She Bangs The Drums, Elephant Stone e I Wanna Be Adored, o álbum, que ganha agora edição comemorativa (veja abaixo), soou aos ouvidos planetários mais arrojados de 1989 como uma revelação.
Enquanto do lado de cá do oceano – e em todas as rádios do planeta – o rock de Los Angeles dava as cartas, via bandas como Guns ‘n‘ Roses e Skid Row, na velha ilha do Atlântico Norte era a cidade industrial de Manchester que começava a lançar tendências.
Na verdade, o movimento de Manchester vinha sendo maturado desde uma certa noite chuvosa de 1976, quando os Sex Pistols fizeram um show numa casa noturna de lá para uma pequena – mas selecionadíssima plateia. Estavam lá os futuros membros de bandas fundamentais do punk e pós-punk, como The Buzzcocks, Joy Division, The Fall, The Smiths e até – imaginem – do xaroposo Simply Red.
Festa 24 horas – Essa história e seus desdobramentos, que muitos consideram como o momento mais importante da história do rock desde que Elvis Presley rebolou pela primeira vez na televisão, está muito bem contada no filme A Festa Nunca Termina (24 Hour Party People, 2005), de Michael Winterbotton.
Corta para 1984. Em Timperley, um subúrbio de Manchester, os adolescentes Ian Brown (vocal) e John Squire (guitarra) formam o núcleo do que viria a ser o Stone Roses. Já em 1985, lançam seu primeiro single, So Young, ignorado.
Em paralelo a isso, a cena eletrônica da cidade ia entrando em ebulição com o New Order (formado a partir das cinzas do Joy Division) e 808 State, entre outros. Em 1988, a cena acid house e a cultura do ecstasy atingiriam seu ápice.
Aquele ano ficaria conhecido pela imprensa inglesa como o Segundo Verão do Amor, em referência ao Verão do Amor orginal, de 1967.
Estava na água – Naquele ano foram lançados os singles (da já citada)Elephant Stone e Wrote for Luck (The Happy Mondays), entre outros.
Nenhum fez grande sucesso comercial, mas já chamaram a atenção da crítica e do público mais antenado pela levada diferente que apresentavam, mais festiva e desencanada do que as bandas da geração anterior, além de sintonizadas com o movimento das raves, que se espalhavam rapidamente pelo Reino Unido.
Na sua edição de 17 de dezembro de 1988, o repórter do semanário New Musical Express, Sean O‘Hagan, começou a notar que alguma coisa estranha acontecia na cidade: “Há um rumor no meio musical de que o suprimento de água de algumas cidades do norte da Inglaterra, particularmente Manchester, estão recebendo pequenas doses de substâncias químicas expansoras da mente. Todo mundo de lá, desde os Happy Mondays, até o severamente desorientado Morrissey, parece se aplicar nessa teoria“.
Em maio de 1989, o álbum The Stone Roses chegou as lojas. A imprensa musical caiu de joelhos, classificando o LP como “o melhor álbum de estreia de todos os tempos“.
As razões estavam na forma perfeitamente despojada com que Ian, John, Reni (bateria) e Mani (baixo) captaram o zeitgeist da época, aliando o pop dos anos 60 com influências do indie rock dos anos 80, disco music dos anos 70 e a house music da hora.
O fato é que a pedra dos Stone Roses formou ondas que vieram desaguar no irresistível brit pop dos anos 90, com bandas como Oasis (cujo líder, Noel Gallagher, era roadie dos Inspiral Carpets, outra banda clássica do movimento), Blur e Pulp.
Caixa da Edição de luxo em agosto
Um disco histórico merece uma edição comemorativa de luxo a altura. Ou mesmo três edições.
O selo Silvertone / Legacy, que lançou o álbum The Stone Roses em 1989 já anunciou que lançará no mercado, no dia 10 de agosto, três versões comemorativas diferentes, que, aliás, já estão em pré-venda no site da Amazon.
Inclusive, neste momento o produtor original John Leckie e o vocalista Ian Brown estão enfurnados no estúdio remasterizando a obra para a ocasião.
A primeira edição, a mais simples, chama-se Stone Roses: Special Edition e além do CD remasterizado, virá com um encarte especial.
A opção intermediária chama-se Stone Roses: Legacy Edition, e trará dois discos e um DVD: o álbum remasterizado e um segundo CD chamado The Lost Demos, com 15 faixas raras. No DVD, o show Live In Blackpool, gravado em 1989, mais um livreto de 28 páginas.
A terceira edição – que certamente, custará os olhos da cara – chama-se Stone Roses: Collectors Edition. Além do disco e do CD The Lost Demos, ela vem com um terceiro álbum só com lados B e versões de singles, além de três discos de vinil, tudo em uma caixa trabalhada.
Além de tudo isso, o pacote ainda trará um pen drive em formato de limão com clipes promocionais, toques de celular, wallpapers e outros mimos. Haja grana.
THE STONE ROSES - ELEPHANT STONE
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