sexta-feira, fevereiro 27, 2009

TRATADO GERAL DO NARCISISMO

Chega as livrarias edição bilíngue de O retrato de Dorian Gray, o mais famoso romance do dândi Oscar Wilde


Até onde pode chegar uma busca incessante pela auto-satisfação, mesmo que isso inclua destruir vidas alheias? O narcisismo desenfreado, um assunto atualíssimo, é a questão central do clássico livro O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde (1854- 1900), que chegou as livrarias em edição bilíngue, pela Editora Landmark.

O livro, assim como outra obra-prima sua contemporânea, O amante de Lady Chatterley, de D.H. Lawrence, causou grande comoção (e indignação) na Inglaterra da Era Vitoriana, por tocar em tabus como liberação sexual feminina em Chatterley e homossexualismo (velado) e hedonismo em Dorian Gray.

Além de ser bilíngue, esta edição tem outro diferencial, que, salvo engano, a torna inédita para os leitores brasileiros: trata-se do texto nos 13 capítulos originais publicados em 1890 pela revista norte-americana Lippincott‘s Monthly Magazine.

No Reino Unido, a obra só seria publicada em 1891, com diversas alterações exigidas pela editora Ward, Lock & Company, o que resultou numa certa suavizada em diversas passagens do romance – o que, ainda assim, não o livrou de se tornar escandaloso a época.

Romance mais famoso do polêmico dândi Oscar Wilde, O retrato... é o relato da decadência moral de um jovem ingênuo que a todos encantava pela rara beleza. Após se apaixonar pelo rapaz, o artista plástico Basil Hallward pinta o seu retrato e o presenteia com o quadro.

Gray, ao ver a obra pronta, apaixona-se por si mesmo, desejando manter aquela aparência de eterna juventude.

Ao mesmo tempo, um amigo de Hallward, Lorde Henry Wotton, aristocrata cínico e hedonista, começa a exercer uma forte influência sobre o jovem, levando-o a uma busca sem fim pela satisfação dos seus mais sórdidos e inomináveis prazeres.

Reflexo distorcido – Fora de controle após ter sua cabeça feita pelo mefistofélico Lorde Wotton, Dorian Gray mergulha fundo no narcisismo, na futilidade, no egoísmo, e pior: no crime. Sua aparência, no entanto, nunca muda, mantendo-se jovem e encantador enquanto os anos passam para todos.

Se o espelho nada denuncia e o rosto de Dorian continua angelical, para onde vão os traços de crueldade, demência e culpa que deveriam marcar suas feições? Enquanto tudo isso acontece, Dorian mantém seu retrato pintado por Basil escondido no sótão de sua casa.

Ao mesmo tempo em que comete as maiores barbaridades em sigilo, ele ainda é capaz de frequentar os salões mais exclusivos da aristocracia, pavoneando-se como um conservador linha-dura. Essa dualidade entre o hedonismo e o conservadorismo do personagem rendeu comparações com outro clássico da literatura, O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson.

Esteticismo – Na época, Wilde usou o livro como veículo para divulgar a corrente artística à qual se filiava, o esteticismo.

Este movimento, cujas bases se apoiavam no livro Studies in the History of Renaissance (1873), de Walter Pater, professor de Estética da Universidade de Oxford, defendia a busca da beleza acima de todas as coisas, transformando o lema a arte pela arte em filosofia de vida.

Daí vem o estilo extravagante de ser e se vestir do escritor, que tanto alvoroço causou na fleugmática sociedade vitoriana.

A propósito, esta edição da Landmark traz como bônus o manifesto esteticista de Wilde no prefácio, incluída na edição britânica de 1891. Numa série de aforismos curtos e geniais, Wilde conclui: "Toda arte é inútil".

Wilde é pop – Espalhafatoso, destemido e sempre com uma observação ácida e intrigante na ponta da língua, Oscar Wilde pagou o preço de ser legítimo em um tempo em que isso não era bem visto e muito menos aceito. Depois de amargar alguns anos na prisão acusado de sodomia (um crime na época), morreu pobre e decadente em Paris.

Seu estilo e sua escrita genial, contudo, sobreviveram ao tempo e foram inúmeras vezes revistos e homenageados ao longo do último século. Diversas vezes adaptado para o cinema, a TV e os quadrinhos, Dorian Gray tem sua versão mais famosa no filme de 1945, com o ator Hurd Hatfield no papel-título.

Ainda este ano, um novo filme para Dorian Gray estreará nos cinemas, com Ben Barnes (o Príncipe Caspian, de As Crônicas de Nárnia) na pele do personagem principal.

Não dá para não citar também seu maior discípulo declarado nas últimas décadas, o ídolo pop Morrissey, ex-Smiths.
O personagem ainda apareceu recentemente no filme A Liga Extraordinária, a malfadada adaptação cinematográfica de Sean Connery para a HQ de Alan Moore e Kevin O'Neill. Nos quadrinhos (se não me engano, fazem anos que li essa história), Dorian Gray não aparece hora nenhuma, mas enfim.

TRECHO:

"Vivemos em umaépoca em que os homens tratam a arte como se fosse uma forma de autobiografia. Perdemos o senso abstrato de beleza. Se eu viver, mostrarei ao mundo o que é isso; e, por essa razão, o mundo nunca deverá ver meu retrato de Dorian Gray". Fala do personagem Basil Hallward.

O retrato de Dorian Gray
Oscar Wilde
Editora Landmark
240 p. R$ 34
www.editoralandmark.com.br

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

NOVAS FORMAS PARA NOVOS LEITORES

HQ - Dom Quixote e Benjamin Button ganham boas adaptações


Transpor obras da literatura para a linguagem das HQs não é uma idéia nova. Desde os anos 50, a saudosa Editora Brasil-América (EBAL) já publicava quadrinizações de clássicos como O Guarani, Escrava Isaura e Jubiabá, entre outros.

Essa tendência, esquecida durante anos, tem sido retomada por diversas editoras. E entre os lançamentos mais recentes, destacam-se Dom Quixote e O Curioso Caso de Benjamin Button.

O primeiro é a imortal obra-prima do espanhol Miguel de Cervantes (1547 -1616), relida, resumida e detalhadamente desenhada pelo quadrinista paulistano Bira Dantas.

Já a produção estrangeira Benjamin Button é uma bem cuidada adaptação da dupla de roteiristas Nunzio DeFilippis & Christina Weir, em parceria com o desenhista Kevin Cornell, sobre o conto de Francis Scott Fitzgerald (1896-1940).

Em comum, o fato de ambas as obras contarem histórias incomuns de dois homens incompreendidos em seu próprio tempo e lugar.

Enquanto Quixote representa, com seu romantismo anacrônico, a passagem entre último suspiro da idade média e o nascimento da era moderna, Button seria uma espécie de marginal definitivo (condenado a este papel pela sua própria condição incomum) em plena era de ouro dos Estados Unidos, entre o fim do século XIX e o início do século XX.

Lelé da cuca – Publicado pela primeira vez em duas partes, a primeira em 1605 e a segunda em 1615, Dom Quixote se tornou um dos pilares sobre os quais se sustenta a literatura ocidental ao relatar, de forma ao mesmo tempo cômica e melancólica, as jornadas aventurescas do decadente fidalgo Dom Alonso Quixano.

Apaixonado pelos romances de cavalaria que mostravam bravos aventureiros medievais a salvar mocinhas de dragões, Quixano, um senhor um tanto lelé da cuca, resolve ele mesmo vestir a antiga armadura do seu avô, e, montado sobre um pangaré em fim de carreira, partir em busca de uma vida mais emocionante e aventureira.

Delirante, via gigantes onde só haviam moinhos de vento e lindas donzelas no lugar de matronas acima do peso.

Aquarela – Para transpor o caudaloso romance de Cervantes para a linguagem das HQs, Bira Dantas se inspirou primeiramente na iconografia clássicas de Gustave Doré (1832- 1883) e Francisco Goya (1746- 1828). Dom Quixote é a segunda adaptação de um livro clássico por Dantas, quadrinista experiente que já tinha adaptado Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, para a mesma editora.

O processo de adaptação consumiu oito meses de trabalho do desenhista, que ainda teve auxílio em casa. "Levei até janeiro de 2008 para finalizar os desenhos com nanquim e escrever os diálogos. Cláudia e Thais, minha mulher e filha, me ajudaram a apagar o grafite das páginas para eu poder fotocopiar e pintar com aquarelas", conta Bira.

O resultado foi uma HQ leve, de leitura ágil e de cores orgânicas, mais bonitas do que o colorido por Photoshop, regra nos quadrinhos contemporâneos.

Vida em reverso – Em voga por conta do oscarizado filme homônimo estrelado por Brad Pitt, O curioso caso de Benjamin Button foi um conto de F. Scott Fitzgerald publicado pela primeira vez na revista The Smart Set (A Turma Esperta), fundada pelo irascível jornalista Henry Louis Mencken (1880-1956).

O conto, a bem da verdade, foi o estilo literário pelo qual Scott ficou menos famoso, já que sempre foi mais lembrado pelos seus romances clássicos da era do jazz, como O grande Gatsby e Suave é a noite.

Nesta adaptação para a HQ, os roteiristas Nunzio DeFilippis e Christina Weir (que já assinaram Novos X-Men, da Marvel) optaram por serem mais fiéis ao texto original do que o filme foi, mantendo a ação na época em que ela realmente se passa, entre os anos 1860 e 1920.

O texto sobre o estranho caso do homem que nasce velho e rejuvenesce com o passar do anos também conserva bastante da prosa econômica e elegante de Scott, ganhando aqui a moldura da arte igualmente enxuta do bom desenhista Kevin Cornell.

Em tempo: ainda em 2009,diversas outras adaptações da literatura chegarão às livrarias em HQ, como Os Sertões (Euclides da Cunha), O Cortiço (Aluísio de Azevedo), O Guarani (José de Alencar) e Policarpo Quaresma (Lima Barreto), entre outras.

Dom Quixote
Miguel de Cervantes / Bira Dantas
Escala Educacional
85 p. R$ 23,90
http://www.escalaeducacional.com.br/










O curioso caso de Benjamin Button
Francis Scott Fitzgerald / Nunzio DeFilippis & Christina Weir / Kevin Cornell
Ediouro
128 p. R$ 29,90
http://www.ediouro.com.br/ocuriosocaso/

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

BANDA SUÍÇA PODE SER BOA SURPRESA NO PdR 2009


Polêmico por natureza, o Palco do Rock de Piatã, organizado há 15 anos pela Associação Cultural Clube do Rock (ACCBR), sempre foi visto como uma espécie de "patinho feio" – tanto no âmbito do Carnaval em si, quanto pela própria cena rock local, francamente dividida entre apoiar ou ignorar solenemente o evento.

O fato é que, em 2009, o PdR parece ter dado o primeiro passo numa caminhada rumo a dias melhores. Pelo menos, é o que se espera, agora que os organizadores contam com apoio da Secult, via edital.

A escalação deste ano também está bem mais interessante do que a dos últimos dez anos – no mínimo. Os destaques são as bandas Plebe Rude e Inocentes, duas representações fundamentais do punk rock (ou pós-punk) brasileiro, e o quinteto suíço Underschool Element.

Se as duas primeiras praticamente dispensam apresentações, esses rapazes de Zurique deverão surpreender o público.
De estilo indecifrável, o grupo é capaz de flanar do indie-folk em francês (como em Les Tournesols) ao hard rock em espanhol (El Dragon Negro) ao funk metal em inglês (Real Stinky).

Destaque para o vocalista Greg, que além de ter uma voz de alcance inequívoco (indo do falsete ao gutural sem esforço aparente), canta de forma desenvolta nas três línguas.
Estas três faixas citadas acima (e outras) estão disponíveis para audição no MySpace da banda (ww.myspace.com/underschool), parada recomendável para se familiarizar com o som da USE antes do show de manhã.

Boas bandas das cenas local e nacional também pintam por lá, como Zefirina Bomba (PB), Maldita (RJ), Pastel de Miolos, The Honkers, Movidos a Álcool, Almas Mortas, Minus Blindness e Irmãos da Bailarina, entre outras.

Programação completa e mais informações: www.palcodorock.accrba.com.br

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

AINDA ENTRE AS MELHORES BANDAS DA DÉCADA

Franz Ferdinand mexe pouco na sua receita no terceiro CD, Tonight

Uma das bandas-sensação desta década que já se encaminha para seu ocaso, a Franz Ferdinand percorreu o caminho clássico que caracteriza quase todos os músicos de sucesso surgidos há pouco menos de dez anos: depois de soltar seu som na internet e um punhado de shows bem-sucedidos, o grupo vira hype de uma hora para outra.

No caso do FF, cujo terceiro álbum, Tonight: Franz Ferdinand, acaba de chegar as lojas brasileiras, pelo menos, o hype se justifica: a banda é realmente boa.

A boa notícia sobre Tonight... é que o CD, pelo menos às primeiras audições, soa mais bem resolvido do que o anterior, You Could Have It So Much Better With Franz Ferdinand (2005). A má é que eles ainda não superaram o CD de estreia, auto-intitulado, lançado em 2004.

Ainda assim, o álbum dispõe da mesma consistência e frescor que caracterizam o som da banda como um todo desde que ela surgiu, fazendo um barulhão nos sites e blogs mais descolados da internet.

A novidade – se é que se pode chamar assim – que o FF traz neste disco é uma certa tendência ao uso de teclados e sintetizadores, o que faz o som pender menos para as influências de pós-punk dos seus primórdios, e mais para um tecnopop tardio.

Não que a concepção do disco novo tenha sido algo fácil. Depois de estourar mundialmente, com dois álbuns lançados na sequencia e turnês intermináveis, os quatro membros da banda estavam exaustos.

Produtores em profusão – Após meses de férias para recarregar as baterias, Alex Kapranos (vocal), Nick McCarthy (guitarra), Bob Hardy (baixo) e Paul Thomson (bateria) se reencontraram em Glasgow no final de 2007, prontos para entrar em estúdio novamente.

Previamente decididos a soar mais pop do que rock, convocaram inicialmente o DJ e produtor Erol Alkan, um dos mais famosos do mundo. Não funcionou. Ainda tentaram Brian Higgins ( Girls Aloud) antes de se resolverem com Dan Carey (Hot Chip, CSS).

O resultado é satisfatório, com bons hits tipicamente franzferdinandianos, como Live Alone, Ulysses e Turn It On. Mas será que a receita dance + pós-punk ainda funcionará em um quarto álbum? Quem viver, ouvirá.

Dica: nesta sexta-feira (20), a MTV Brasil exibirá o especial Zane Meets Franz Ferdinand, com o famoso DJ da BBC Zane Lowe entrevistando Alex e Nick sobre o disco novo.

ESPECIAL - ZANE MEETS FRANZ FERDINAND Entrevista do VJ Zane Lowe com a banda Franz Ferdinand Amanhã, 20h30 Reprise: sábado, 17 horas MTV, Canal 13 UHF


Tonight: Franz Ferdinand
Franz Ferdinand
Sony BMG
R$ 29,90
www.franzferdinand.co.uk

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

MICRO-RESENHAS PRÉ-CHATEAÇÃO CARNAVALESCA

Tricky retorna à velha quebrada

Tricky, um dos maiores nomes do trip hop (o hip hop lento, viajante e meio deprê surgido na década de 90 em Bristol, na Inglaterra) chega ao seu sétimo álbum com o que vem sendo apontado por muitos resenhistas como seu melhor trabalho desde sua estreia, Maxinquaye (1995). Se ainda não se superou, 13 anos depois de lançar seu primeiro trabalho, certamente Tricky soa renovado em Knowle West Boy. A pegadinha é que, para se renovar, o rapaz praticou a estratégia de olhar para trás. Knowle West é o nome da vizinhança em Bristol onde ele cresceu e se iniciou na carreira musical. Da mesma forma, diversas passagens do CD remetem ao trabalho de estreia. Complexo e de sonoridade instigante.
Knowle West Boy
Tricky
EMI
R$ 29,90
www.trickysite.com


Caricatura tosca de banda

Surgida na mesma leva de bandas como My Chemical Romance e Panic! At The Disco, o Fall Out Boy não nega suas origens white trash e entrega mais um disco igualmente vagabundo para as hordas de adolescentes descabeladas prontas para consumir qualquer bobagem que toque na MTV. Devidamente embalada para presente como uma banda que supostamente teria chegado à maturidade (tem até participação de Elvis Costello no CD! Até tu, Elvis?!?) em seu terceiro álbum, o tiro n‘água fica evidente no primeiro minuto de audição. Basicamente, todas as músicas parecem iguais depois de 30 segundos, até por conta das vocalizações sofríveis de Patrick Stump, o vocalista transformado em coadjuvante pelo baixista (!), Pete Wentz. Este último, alçado a condição de símbolo sexual por uma geração sexualmente confusa que considera atraente homens que usam lápis de olho e chapinha, é uma caricatura de rock star numa caricatura de banda. Tenha dó.
Folie à Deux
Fall Out Boy
Universal
R$ 29,90
www.falloutboyrock.com


Crônicas de um tempo ridículo

Nos dias que correm, quem dispõe de meio neurônio vive a um passo da náusea. Esse mal-estar acomete os que não compactuam com a ignorância generalizada vigente, sendo o sintoma mais frequente do que o cronista Gillus Boccatus batizou, apropriadamente, de era patética. O autor explica: “A era patética é caracterizada pela auto-adoração do umbigo e a cegueira em relação ao entorno. Cordialidade, generosidade e solidariedade não fazem parte desta nossa era“. Agora o leitor já sabe de onde vêm os energúmenos que conversam no cinema, avançam com seus tanques de guerra no sinal vermelho e ouvem música alta na rua, com a mala do carro aberta.
A era patética
Gillus Bocatus
Marco Zero
144 p. R$ 33
www.editoranobel.com.br


Gênio do crime de 12 anos

Artemis Fowl, criação do escritor irlandês Eoin Colfer (pronuncia-se Óuen), é uma espécie de Harry Potter do mal: um gênio do crime de doze anos de idade, sempre às voltas com planos mirabolantes e tecnologias extravagantes. Único herdeiro de um célebre clã de trapaceiros (os Fowl), Artemis luta para se afirmar depois que seu pai desapareceu sem deixar pistas, levando parte da fortuna da família consigo. Nesta graphic novel desenhada por Giovanni Rigano (do estúdio Disney italiano), Artemis sequestra uma capitã do Povo das Fadas para que esta lhe revele o esconderijo do ouro que eles escondem há séculos. O problema é que estes seres encantados não são nem um pouco parecidos com os dos contos de fadas. Militarizados e contando com tecnologias avançadíssimas, eles partem para cima de Artemis e seu ajudante, o mordomo brutamontes Butler. Frio como gelo e estiloso como James Bond, o anti-herói Artemis Fowl é o grande atrativo desta HQ.
Artemis Fowl - Graphic Novel
Colfer / Donkin / Rigano
Record
120 p. R$ 23
www.galerarecord.com.br


Despedida de mentirinha

Lançado em 2005, o CD / DVD Shoot The Moon - The Essential Collection era para ser o canto do cisne da banda californiana de hardcore e punk pop Face To Face. Era, por que, em 2008 os rapazes (não se sabe a pedido de quem) resolveram voltar com uma turnê que, inclusive, passou pelo Brasil em dezembro último. De qualquer forma, os fãs tem aqui um excelente registro da carreira do grupo. No DVD, show de “despedida“ com 75 minutos de duração na casa The House of Blues, mais todos os clipes. E no CD, 21 faixas com os maiores sucessos.
Shoot The Moon
Face To Face
Coqueiro Verde
R$ 16,90 (CD) R$ 29,90 (DVD)
www.facetofacemusic.com


Punk pop que não impressiona

Não tão conhecida pelo grande público no Brasil, a banda Plain White T‘s experimentou uma ascenção meteórica em 2007, graças ao hit acústico Hey There Delilah. No final de 2008, os rapazes de Chicago lançaram seu novo disco, Big Bad World, onde, surpreendentemente, não tentam perseguir a fórmula do sucesso anterior, investindo no punk pop com guitarras que caracteriza a sua proposta original. Ainda assim, trata-se de um disco ordinário onde nada salta aos ouvidos, podendo ser confundido com qualquer coisa que toca na MTV.
Big Bad World
Plain White T‘s Universal
R$ 29,90
www.plainwhitets.com


O black metal da calota polar

Com mais de 15 anos de estrada, a banda finlandesa Children of Bodom é uma das mais conceituadas dentro do black metal, a facção mais sombria e cabulosa do heavy metal. Entre um incêndio e outro às igrejas de Helsinque (fora de brincadeira, um sério problema social lá pelas bandas da calota polar ártica), o rapazes da CoB praticam um dos sons mais agressivos, acelerados e brutais ouvidos na atualidade. Contribui para isso a formação musical clássica que as crianças de lá recebem desde cedo, adquirindo grande domínio e técnica sobre os instrumentos. Neste novo CD, o oitavo de estúdio, a banda demonstra não ter perdido a mão pesada que a caracteriza.
Blooddrunk
Children of Bodom
Universal Music
R$ 27,90
www.cobhc.com


Misturança não desanda

Atuante na cena alternativa da cidade há mais de seis anos, a banda Neto Lobo & A Cacimba lançou seu primeiro CD no ano passado, quase despercebido. Injustiça com o rapaz e sua trupe de cabras da peste, que mandam muito bem na seara das misturanças pop regionais, com claras influências de nomes como Nação Zumbi, Cordel do Fogo Encantado e as “bases“ de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e literatura de cordel. Méritos também devem ir para o craque dos estúdios andré t., que com sua habitual sensibilidade aguçada, captou bem a proposta híbrida da banda, aliando a suingueira de triângulos e zabumbas com guitarras pesadas na medida, sem prejuízos nem de um lado (do rock), nem do outro (da música regional). Destaque para as faixas Ladeira (música de abertura dos shows, com um intenso crescendo rítmico), e A Peleja do Diabo Com a Flor, bela em sua simplicidade.
Neto Lobo & A Cacimba
Independente
Preço não divulgado
www.netoloboeacacimba.com.br


Filosofia atual estilo Chacrinha

O filósofo e sociólogo esloveno Slavoj Zizek (pronuncia slavói jijec) é, muito provavelmente, um dos mais avançados pensadores da chamada contemporaneidade. No seu livro mais recente, A visão em paralaxe, Zizek reflete sobre questões da atualidade, desconstruindo o olhar marxista e buscando revitalizar a dialética de Hegel, que ele considera oferecer respostas muito mais profundas sobre as crises atuais do que o velho Karl. Como notou o articulista Marcelo Coelho, apesar de escrever de forma clara, não se sabe exatamente para onde Zizek quer levar o leitor. Ou como diria Woody Allen, “eu não entendi nada, mas o autor é genial“.
A visão em paralaxe
Slavoj Zizek
Boitempo
512 p. R$ 74
boitempoeditorial.com.br


A psicodelia do sertão revisitada

Fãs da psicodelia nordestina praticada nos anos 70 por nomes como Fagner, Alceu Valença e Zé Ramalho podem procurar a árvore mais próxima e dar-lhe um caloroso abraço. O quarteto recifense Nuda, de um neo-hippismo a toda prova, conseguiu um feito notável: resgatar o estilo, que unia uma certa tradição popular com psicodelismo – sem soar caricatural. Com letras herméticas (ou cabeça mesmo), influenciadas por um certo concretismo, mas aliando uma pegada quase radioheadiana na intensidade com que as faixas se desenvolvem, o Nuda se demonstra como uma das mais promissoras bandas da sempre rica cena recifense. É bom ficar de olho.
Menos Cor, Mais Quem
Nuda
Independente
R$ 5
www.myspace.com/sitionuda


O Vietnã e suas várias revoluções

Quem só conhece a conturbada história do Vietnã pelos filmes americanos – via de regra, uma fonte para lá de duvidosa – pode recorrer à este livro, que refaz a trajetória histórica do país desde suas origens milenares, até tempos mais recentes, quando o governo adotou o chamado “socialismo de mercado“, à moda chinesa. O autor, o professor-doutor Paulo Fagundes Visentini, destaca o papel do Vietnã como sendo muito mais importante do que o de um mero coadjuvante da Guerra Fria, contextualizando os fatos históricos de forma cronológica e numa linguagem acessível a qualquer leitor que seja minimamente familiarizado com o tema.
A revolução vietnamita
Paulo F. Visentini
Ed. Unesp
128 p. R$ 20
editoraunesp.com.br


Taylor volta à cena com covers

Adorado pelos apreciadores de um folk mais ameno que o de Bob Dylan e ouvintes insones de FM, James Taylor, que andava meio sumido, volta à cena recorrendo ao último refúgio dos artistas sem inspiração: um álbum de covers. Com um repertório pinçado basicamente do cancioneiro oriundo dos primórdios do rock e do folk dos anos 60, Taylor torna suas canções como Suzanne (de Leonard Cohen, com o violoncelo luxuoso de Yo-Yo Ma), Hound Dog (um dos primeiros sucessos de Elvis Presley), Summertime Blues (Eddie Cochran) e On Broadway (hit nas vozes divinas dos The Drifters). Os arranjos sutis combinam com o fiapo de voz do cantor. Quem já é fã vai curtir.
Covers
James Taylor
Universal
R$ 34,90
www.jamestaylor.com


Terceiro CD quase bom

Este terceiro álbum do Kaiser Chiefs, banda de brit pop surgida na mesma onda que revelou Keane e The Rakes, entre outros, é melhor que o anterior, Yours Truly, Angry Mob (2007). Mas ainda não tem nenhum hit tão empolgante quanto I Predict a Riot ou Everyday I Love You Less and Less, do primeiro disco, Employment (2005). Mas o CD tem lá suas qualidades, a começar pela bem resolvida produção do multiplatinado de Mark Ronson (Amy Winehouse), que conseguiu criar no som um equilíbrio entre pegadas de pop e de rock em doses iguais, de modo a não assustar ouvintes nem de um, nem do outro (o que por si só, já é bem difícil). Dito isso, pode-se destacar Can‘t Say What I Mean, Never Miss a Beat e Addicted To Drugs. Nada que vá mudar a história do rock – longe disso. Mas, como eles mesmos disseram em uma faixa do CD de 2005, “everything is average nowadays“. Ou seja: “hoje em dia, tudo é mediano“.
Off With Their Heads
Kaiser Chiefs
Universal
R$ 29,90
www.kaiserchiefs.co.uk

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

ABRAM ALAS PARA OS ALTERNATIVOS

Atrações convidadas e /ou aprovadas via edital pela Secult garantem real diversidade



O que parecia inacreditável até pouco tempo atrás aconteceu: o Carnaval de Salvador 2009 promete ser bem mais democrático do que o que se tem visto nos últimos 20 e tantos anos. Ontem foi divulgado no Diário Oficial o resultado da seleção pública de projetos do Carnaval Pipoca da Secretaria de Cultura (Secult) – e eles são bem animadores.

A começar pela clara intenção de diversificar – de uma vez por todas – a oferta de gêneros musicais da festa para o folião pipoca, esse sofredor espremido entre os cordões dos blocos pra turista ver e os paredões de madeirite dos camarotes para empresários e celebridades da hora.

Haverá rock, reggae, samba, frevo, marchinhas, hip hop, dub e raggamuffin, entre outros ritmos divididos em oito desfiles, compondo um belo painel do que se faz de melhor em termos de música – a de verdade, que não se parece com jingle de refrigerante – na Bahia, hoje.

Além dos contemplados no edital do Carnaval Pipoca, haverá ainda mais doze desfiles escolhidos por curadoria, assinada pelo diretor de Música da Fundação Cultural do Estado da Bahia, Gilberto Monte, e o coordenador de Ações para o Carnaval, Edivaldo Bolagi.

A programação completa dos desfiles contemplados por edital e por curadoria ainda está por ser divulgada, dependendo até de sorteio (no caso das atrações por edital), mas já dá para adiantar alguns pontos altos da festa.

Folia para todos – Por enquanto, o que há de certo mesmo é que, na segunda-feira de Carnaval, dia 23, o Foguetão, o trio dos Retrofoguetes será uma das grandes atrações do circuito Dodô (Barra - Ondina). O trio sai às 21 horas, e ainda contará com convidados superespeciais, como a banda carioca Autoramas e a cantora baiana Érika Martins (ex-Penélope).

O convite para capitanear esse trio não foi a toa. Entusiastas da guitarra baiana e do frevo trieletrizado que outrora foi a marca do carnaval baiano, o grupo promove há anos a festa Retrofolia (veja serviço abaixo), um baile onde resgata este ritmo e o das antigas marchinhas – com a pegada rock / surf music que caracteriza o som da banda.

Mas os roqueiros que se recusam a se isolar da festa ainda terão, no mínimo, outra bela opção com o trio de rock que reunirá o cantor Lobão e as bandas locais Cascadura e Radiola, mais participação especial da cantora Ivana Vivas, da banda Demoiselle.

“Nosso projeto foi aprovado no edital“, comemora Fábio Cascadura, líder da banda que leva seu apelido (ou vice-versa). “Vamos sair com o Casca, Lobão, Radiola e mais alguns convidados. Saiu no Diário Oficial“, disse, ainda no calor do momento.

Outra atração de destaque revelada pelo resultado do edital divulgado ontem é o Trio Terreiro Circular, que se apropria da estética dos sound systems jamaicanos e levará para a avenida o cantor Lucas Santtana mais os coletivos Ministereo Público e Terreiro Circular (trip hop, frevo, afro-beat), com participação do grupo de rap Milicianos, de Plataforma (Subúrbio Ferroviário).

O Trio de Guitarra Baiana reunirá três virtuoses do instrumento: Júlio Caldas, Morotó Slim (Retrofoguetes) e Jackson Dantas para uma apresentação puramente instrumental com muito choro, frevo e marchinhas.

Outro projeto curioso é o Trio na Folia, com as cantoras Claudia Cunha, Sandra Simões e Manuela Rodrigues, que apresentarão repertório baseado nas vozes femininas da MPB, além de um tributo a Carmem Miranda.

Nem a criançada ficou de fora, sendo contemplada com o Trio Galerinha, com as bandas Picolino e Gatos Multicores, mais artistas do Circo Picolino.

Retrofolia | Com a banda Retrofoguetes e convidados, mais os DJs Big Brother e Zezão | Sexta-feira, 22 horas | Boomerangue (3334-5577) | Rua da Paciência, 307, Rio Vermelho | R$ 15 até 0h | R$ 20 depois

Foguetão | Desfile do trio elétrico com Retrofoguetes, Autoramas e convidados | 23 de fevereiro, 21 horas | Circuito Dodô (Barra Ondina)

terça-feira, fevereiro 10, 2009

SUJOS, FEIOS E MALVADOS

Nos anos 90, o rock baiano dividiu-se – de maneira informal, claro – em pequenas facções. Havia o rock triste (brincando de deus, Jupiterscope), o rock cafona (Dr. Cascadura, Dead Billies) e o rock sujo (Lisergia, Dois Sapos & Meio). É dentro do espírito algo anárquico destes últimos que acontece amanhã, na Boomerangue, o evento Rock Sujo.

No line up, as bandas Estrada Perdida, Irmãos da Bailarina, Opus Incertum e Magallanes Muertos oferecem um pequeno panorama do que de melhor se faz hoje em Salvador em termos de rock pesado (sem ser necessariamente metal).

A primeira, com influências de Stooges e Motörhead, tem no carismático vocalista Cebola Elétrica sua maior atração. Com repertório predominantemente autoral, a banda privilegia os temas ligados a literatura marginal e seus personagens fora da lei.

Já a Irmãos da Bailarina oferece stoner rock personalíssimo, aliando a influência óbvia de Queens of The Stone Age ao lirismo poético de um Chico Buarque.

A Opus Incertum se caracteriza por repertório de covers de diversas eras do rock, indo desde Roy Orbison até o Camisa de Vênus, passando Sex Pistols e Queen.

Os covers também formam boa parte do set list da Magallanes Muertos, atendo-se inicialmente ao grupo que a inspirou, no caso, os punks de São Francisco Dead Kennedys. Depois de alguns shows, porém, abriram o leque, adicionando covers de outras bandas punks e músicas próprias.

O DJ Bruno Aziz completa a night, discotecando seu habitual set de rock ainda mais sujo, com Mudhoney, Dinosaur Jr. etc.

Rock Sujo
Com Estrada Perdida, Irmãos da Bailarina, Opus Incertum, Magallanes Muertos e DJ Bruno Aziz
Quinta-feira (12.02), 21 horas
Boomerangue (3334-5577)
Rua da Paciência, 307, Rio Vermelho
R$ 10 até 0h | R$ 15 depois

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

UM ASTRO DAS HQS EM QUALQUER ÉPOCA

A caminho dos cinema em super produção de Spielberg, Tintim tem sua coleção de álbuns finalmente completa no Brasil, no ano em que sua criação completa oito décadas

As aventuras de um jovem repórter de topete e seu cãozinho, quem vem fascinando gerações de leitores há quase um século, finalmente fecha um ciclo no Brasil.

A coleção de álbuns do Tintim, criação do belga Hergé, pela primeira vez está completa para os leitores brasileiros, com os lançamentos dos álbuns As aventuras de Tintim, repórter do “Petit Vingtième“ no país dos sovietes e Tintim e a alfa-arte, respectivamente, primeira e última aventuras do personagem nos quadrinhos.

Os livros vêm em boa hora. Criado há exatos 80 anos, Tintim parece prestes a gozar de um novo ciclo de popularidade neste início de século, com o anúncio de uma trilogia de filmes produzidos por Steven Spielberg e Peter Jackson (O Senhor dos
Anéis) para a Sony Pictures e Paramount.

No último dia 26 se iniciaram as filmagens do primeiro filme, The Adventures of Tintim: Secret of the Unicorn, baseado no álbum O segredo do Licorne. O primeiro filme será dirigido por Spielberg e produzido por Jackson, enquanto no segundo, ainda não anunciado, os papéis se inverterão. Os planos para o terceiro filme ainda não foram anunciados.

Filmado com o que há de mais moderno na tecnologia de captura de movimentos e computação gráfica para manter o visual lúdico das HQs de Hergé, os filmes contarão também com um elenco de primeira linha, com Jamie Bell (Billy Elliot) no papel de Tintim, Daniel Craig (o atual James Bond) como o vilão Rackham, Andy Serkis (o Gollum, de Senhor dos Anéis), na pele do Capitão Haddock e a hilária dupla britânica Simon Pegg e Nick Frost (de Todo Mundo Quase Morto) como os detetives atrapalhados Dupont e Dupond.

“Paraíso vermelho“ – Enquanto os filmes não chegam às telas do cinema, vale se divertir e se encantar com os álbuns lançados pela Companhia das Letras.

Especialmente com As aventuras de Tintim, repórter do “Petit Vingtième“ no país dos sovietes, primeira aventura do topetudo, lançada em 10 de janeiro de 1929, como uma história em capítulos no suplemento belga Petit Vingtième.

Ora, em 1929, faziam apenas 12 anos que a revolução comunista russa havia instaurado o regime socialista no antigo país dos Czares. Hergé, um cidadão de posições políticas claras, ainda que ingênuas, enviou seu personagem à então União Soviética com a missão definida de desmascarar para os jovens leitores do Petit Vingtième “a farsa da revolução bolchevique“.

O resultado, visto hoje, é não menos que hilário, mas não pelas razões que Hergé imaginou. A contra-propaganda do álbum ao comunismo é tão escancarada que, numa passagem do álbum, Tintim chega a descobrir fábricas de mentirinha, criadas como cenários de teatro. “É assim que os sovietes tapeiam os coitados que ainda acreditam no ‘paraíso vermelho‘“, admira-se o rapaz.

Inveja no 007 – Descontadas as incongruências e ingenuidades históricas, o que sobra é uma alucinante e bem-humorada aventura de Tintim em “território inimigo“. O ritmo imprimido por Hergé é tão rápido, cheio de perigos e reviravoltas, que deixaria o Sean Connery de Moscou Contra 007 corado de vergonha.

Entre outras façanhas, Tintim pilota aviões, barcos e automóveis em alta velocidade, foge de prisões, pratica mergulho sob o gelo e derrota um urso na unha. Tudo bem que o animal, que aliás, é o símbolo da Rússia, estava bêbado de vodca, mas ainda assim, é uma luta e tanto.

Como foi a primeira aventura do personagem, No País dos Sovietes mostra um Tintim ainda em preto & branco e sem a companhia de coadjuvantes famosos, como o encrenqueiro Capitão Haddock e os detetives Dupond & Dupont, os principais alívios cômicos ao longo da série.

O cachorrinho Milu, contudo, já aparece, travesso e falante como nunca.

Inacabado – Lançado após a morte de Hergé em 1983, Tintim e a alfa-arte é um álbum recomendado especialmente para, pelo menos, dois tipos de público: colecionadores e estudantes ou pesquisadores (de artes ou mesmo de HQs).

Incompleta, a obra se compõe dos esboços e croquis do artista para as páginas, estudos de personagens e o texto descritivo da história, incluindo os diálogos e ações.

O que se vê é um ensaio do artista sofisticado que era Hergé, considerado (erroneamente, aliás) o pai do estilo franco-belga por excelência, a ligne claire (linha clara), uma das mais influentes e importantes escolas de quadrinhos do mundo.

Obviamente, ler Tintim e a alfa-arte não é, nem de longe, tão divertido quanto os outros álbuns do personagem, mas a iniciativa da editora em publicar a obra derradeira de Hergé no Brasil é digna de aplausos, pois trata-se de um capítulo muito importante na história das HQs.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

BEM-VINDA MELANCOLIA

Dois Em Um, uma das mais gratas novidades musicais da Bahia, faz shows de lançamento

A Bahia tem muito mais mistérios do que supõem seus célebres artistas e pais-de-santo. Um dos mais intrigantes surgidos ultimamente é o duo Dois Em Um, que lança seu primeiro disco autointitulado com dois shows no cabaré do Teatro Vila Velha, sábado e domingo.

O mistério fica por conta do próprio som do Dois Em Um, fomado por Luisão Pereira e Fernanda Monteiro: intimista, sussurrado, sutil, melodioso e quase sempre etéreo.

Numa terra em que a sutileza tem pouco lugar em meio ao frenesi festeiro que assola corações e mentes dos soteropolitanos, as melodias doces e os arranjos aparentados da bossa nova do Dois Em Um soam, senão quase alienígenas na Salvador contemporânea, como um bem-vindo refresco melancólico para a alegria compulsória pra turista ver que é a marca do verão baiano.

“Não sei como o Dois Em Um pode ser absorvido. Não sei onde a gente se encaixa ou como podemos encontrar um lugar ao sol da Bahia“, reflete Luisão. “Mas o retorno tem sido muito bom, de qualquer forma“, garante o músico.

Tem mesmo. Surgida de forma despretensiosa há pouco mais de um ano, foi só postar algumas músicas no site de relacionamentos MySpace, que as coisas começaram a acontecer para a dupla.

Em questão de quatro meses, já tinham contrato com um selo independente de Nova Jersey (EUA). Na sequência, o selo indie carioca Midsummer Madness também se interessou pela dupla. O resultado é o CD que já está a venda on line ou em algumas lojas da cidade, como Mídia Louca (Rio vermelho e Pelourinho), Pérola Negra (Canela) e Tom do Saber (Rio Vermelho).

Velocidade Caymmi – Mal o CD saiu, resenhas apaixonadas começaram a pipocar pelos jornais e internet, bem como convites para apresentações pelo Brasil.
Mas o casal, pés firmemente fincados no chão, prefere ir com calma, sem deslumbre.

“Ja rolou convite pro festival Humaitá Pra Peixe e pra abrir pro Marcelo Camelo no Circo Voador, no Rio. Também recebemos convite para ir tocar em São Paulo, mas infelizmente, as datas bateram com apresentações de Fernanda com a Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba), com a qual ela toca violoncelo. E a prioridade dela é a Osba“, conta Luisão, sozinho em casa, enquanto a musa e parceira visita a família no Rio.

“E depois, como nosso som é muito sutil, muito intimista, não vamos entrar em qualquer roubada, tocar em qualquer lugar. Não tamos nessa de ir com muita sede ao pote. Nossa maior vontade é fazer a nossa música“, delimita, com razão.

Quem esteve nas suas apresentações anteriores em Salvador pôde perceber a diferença que faz tocar em locais adequados ao som da dupla.

No Teatro Casa do Comércio, em novembro, quando ganharam o prêmio Bahia de Todos os Rocks de Música do Ano (com E Se Chover?), todos puderam ouvir a sutileza dos arranjos e a voz sussurrada de Fernanda sem esforço.

Já poucos dias depois, abrindo para Bonnie “Prince“ Billy na Boomerangue, o burburinho do público suplantou o som da Dois Em Um, frustrando muita gente.

“No nosso caso, em que precisamos de 100% do PA e o baixo e a bateria são pré-gravados, necessitamos muito das caixas“, observa.

De imediato, os planos da Dois Em Um são divulgar o disco a medida que der e concluir os dois clipes que estão em andamento, co-dirigidos por Alexandre Xanxa Guena e Rodrigo Luna.

“Estão rolando as coisas, mas nós vamos devagarinho. As pessoas tão cobrando e tal, mas temos que ir na tranquilidade“, pontua.

Dois em Um
Show de lançamento do CD
Sábado (7) e domingo (8), as 20 horas
Cabaré do Teatro Vila Velha (3083-4600)
Av. Sete de Setembro, s/n, Passeio Público, Campo Grande
R$ 16 e R$ 8
CD no stand: R$ 10
Informações e vendas on line:
www.doisemum.com e www.mmrecords.com.br