Enigma estético
Ativíssimos no circuito local, Os Irmãos da Bailarina chega ao seu primeiro CD como um enigma estético: o som é pesadão, grave, stoner. Já as letras e a própria voz do cantor Théo Filho remetem à um existencialismo desiludido, mas fino. Essas peculiaridades geraram um dos CD mais originais do rock local desde sempre. Destaque para Dor, Luz, A Imagem (com Saulo Gama no acordeom) e Rasos Corações (com Nancy Viegas). Ame-os ou deixe-os. Os Irmãos da Bailarina / Ponta / Big Bross Records / Download: myspace.com /osirmaosda bailarina
Variedade rítmica
Parte da geração de revisionistas da MPB que adotam um viés rock (vide Los Hermanos, Ronei Jorge, Wado), a banda paulista Numismata chega ao segundo CD, Chorume, com uma boa coleção de canções em ritmos variados. Tem samba (Prejuízo, com Luiz Melodia), marchinha (A Vida Como Ela É, com Maria Alcina), valsa (A Passos Largos), jazz de cabaré (Viralatas) e até mambo (Fernando). Bom CD, merece ser ouvido. Numismata / Chorume / Pimba! / Download: www.trama virtual.com.br/numismata
Chorinho de praia
O feliz encontro de alguns músicos de férias na praia de Caraíva (sul do estado) levou ao surgimento do grupo de chorinho Caraivana. Neste CD, gravado ao vivo no estúdio, há boas versões para clássicos como Noites Cariocas, Ponteio, Conversa de Botequim, Tico-Tico no Fubá e Tô Voltando. Caraivana / Delira Music / R$ 25,90
Gaúchos estreiam
O primeiro CD dos gaúchos da banda Desvio Padrão deixa claro suas intenções: canções rock ‘n‘ roll com influências de Beatles e classic rock em geral. Apesar de terem algum potencial, ainda faltou personalidade. As letras também são bem chatinhas. Desvio Padrão/ Independente / Download: myspace.com /bandadesviopadrão
Electropop portenho
Miranda! é um quarteto pop argentino que parece ter saído da imaginação de Pedro Almodóvar (o do início): sexualmente ambíguos e meio freaks, fazem um electro pop que mistura bom humor com um sentido dramático aparentado do tango. Sucesso na América hispânica. Miranda! / Es Imposible! / Coqueiro Verde / R$ 19,90
O blues rock de Feira
Muito mais rica do que se imagina, a cena blueseira da Bahia tem um ótimo representante em Feira de Santana: a banda Clube de Patifes. No seu terceiro CD, o grupo segue fiel ao estilo, mas com letras em bom português no vozeirão quente do band leader e gaitista Pablues. Destaque para a melancolia de Big Town Blues (com um solo de guitarra arrepiante de Marcel Torres) e Buscando o Sol (boa versão para o clássico Sweet Home Chicago). Bons patifes. Clube de Patifes / Com Um Pouco Mais de Alma / Independente / R$ 5
Gajos do rock luso
Original da cidade do Porto, o sexteto Clã chega ao Brasil pela 1ª vez em CD com esta boa coletânea, Catalogue Raissoneé. Fãs do pop brasileiro, mantêm sólidas parcerias com Arnaldo Antunes e John Ulhoa (Pato Fu). Do primeiro, há três faixas: H2omem, Eu Ninguém e a tribalista Consumado. Já de John há a ótima Carrossel dos Esquisitos. Moderna, a banda namora com o indie rock e o eletrônico – e tem na cantora Manuela Azevedo seu maior trunfo. Clã / Catalogue Raissoneé / Allegro / Tratore / R$ 24,90
Bio do brasileiro voador
Em 1906, o brasileiro Alberto Santos Dumont foi carregado nos braços pela multidão parisisense, que, boquiaberta, testemunhara-o voar dois metros acima do chão em um aparelho mais pesado do que o ar – o famoso 14-Bis. Esses e outros detalhes estão nesta biografia do genial pioneiro da aviação, assinada pelo gaúcho Alcy Cheuiche, que remexeu até nos arquivos do exército francês para balizar seu livro. Santos Dumont / Alcy Cheuiche / L&PM Editores /128 p. /R$ 12 / lpm.com.br
O dente de Gardel
Perramus é um magnífico e raro lançamento de HQ argentina no Brasil – e assinada por dois dos seus maiores mestres: Juan Sasturain (editor da histórica revista Fierro) e Alberto Breccia (desenhista do clássico álbum Che). Estrelado por um personagem sem nome, o álbum narra a alucinada busca internacional por um dente de Carlos Gardel, com aparições de Jorge Luis Borges e Frank Sinatra e Fidel Castro, entre outros famosos. Perramus - Dente por dente / Alberto Breccia e Juan Sasturain / Editora Globo/ 176 p. /R$ 40 /globolivros.com.br
Drama de tcheco
Fascinada por Franz Kafka (1883 -1924), a escritora brasileira Jeanette Rozsas oferece neste livro uma biografia romanceada do célebre – e atormentado – escritor tcheco. Rigorosa com os fatos históricos e respeitosa com o biografado, gastou muita sola de sapato percorrendo Praga em duas ocasiões, investigando a vida do homem. Até os diálogos são extraídos das cartas dele. Kafka e a marca do corvo / Jeanette Rozsas / Geração Editorial /184 p. / R$ 26 /geracaoeditorial.com.br
Um passinho a frente
Como tudo na vida, o disco novo da banda baiana Elipê tem, pelo menos, dois lados a serem considerados. Um: em relação ao primeiro CD, A Tela (2007), a evolução nas composições e na dinâmica das canções é evidente e um alento para o ouvinte. Porém, e aí entra a 2ª consideração, tudo soa um tanto derivativo demais dos dois principais nomes do rock brasileiro desta década: Los Hermanos e Pitty. As letras também não ajudam muito, mas o potencial de crescimento também se mostra na garra da rapaziada. Que venha o 3º CD. Elipê / Indústria da Felicidade Humana / Independente / Download grátis: elipe.com.br
Covers obscuros
Liderada pelo figuraça Evan Dando, a banda Lemonheads teve lá seu momento no estouro do rock alternativo dos anos 90, pós-Nirvana. Extinta no fim daquela década, a banda volta agora com um álbum de covers. Isso soaria até suspeito, se o CD não fosse composto na sua totalidade de versões rigorosamente folk de canções tão obscuras quanto sensacionais, como Fragile (Wire), Layin‘ Up With Linda (G.G. Allin) e Waiting Around To Die (Townes Van Zandt). Discaço. Lemonheads / Varshons / Lab 344 / R$ 19,90
Raízes do existencialismo
Talvez o último movimento filosófico digno do nome, o existencialismo é o guarda-chuva sob o qual se abrigam autores fundamentais da área como Sartre, Kierkegaard, Husserl, Merleau-Ponty e Camus, entre outros. Neste livro, Jacques Colette traça as linhas básicas para se entender o ideário existencialista – um legado que concedeu à humanidade novos meios para se pensar a condição de ser homem (ou mulher). Existencialismo / Jacques Colette / L&PM Editores /128 p. /R$ 12/ lpm.com.br
Relato sem retoques
Se ser homossexual numa sociedade (até prova em contrário) livre já não é fácil, imagine-se na restrita Cuba dos anos 60 e 70. Se o homossexual em questão ainda for escritor, aí é meio caminho andado para o paredão. Para fugir à execução (ou coisa pior), Reinaldo Arenas conseguiu, depois de muitas surras, chegar aos Estados Unidos, apenas para morrer pouco depois de AIDs em 1990. Relato cru e sem retoques, mas muito sensível. Adaptado com sucesso para o cinema, com Javier Bardem no papel de Arenas. Antes que anoiteça / Reinaldo Arenas / Edições Best Bolso / 378 p. / R$ 17,90 / record.com.br/edicoesbestbolso
Estudos vampirescos
Os chupadores de sangue nunca estiveram tão em evidência quanto nos últimos anos. Em meio à enxurrada de novos filmes, livros e HQs de vampiros, o pesquisador do oculto Marcos Torrigo lança um belo livro teórico que explora as origens mais arcaicas da lenda, casos reais de pessoas que se alimentaram de sangue e suas relações com o sexo, o Cristianismo e as artes. Vampiros: Origens, Lendas e Mistérios / Marcos Torrigo / Ideia & Ação / 192 p. /R$ 29,90 /matrixeditora.com.br
Só para quem já é fã
Nova coqueluche, o seriado teen / musical / comédia Glee mostra a luta de um coral escolar que, desacreditado, supera todas as dificuldades e vence no final, reafirmando o American Way of Life etc. Na trilha, o elenco interpreta hits clássicos e sucessos atuais da duvidosa cena R&B. Destaque para o elaborado arranjo vocal em Don‘t Stop Believin‘ (Journey) e a boa versão de You Keep Me Hangin‘ On (Supremes). Já o arranjo para Dancing With Myself (Billy Idol) foi copiado da banda Nouvelle Vague. Glee Cast (Elenco da Série Glee) / Glee - The Music / Sony BMG / R$ 19,90
“Stones com laptop“
Quando ouviu a banda atual do ex-Clash Mick Jones, Alan McGee (o homem do lendário selo indie Creation) definiu seu som como “os Stones fazendo jam com um laptop“. Dividindo a linha de frente com o ex-Sigue Sigue Sputnik Tony James (baixo), Jones soltou mais um álbum para download liberado no site oficial. Lembra mais sua banda anterior, Big Audio Dynamite, do que Clash. Punk, funk e rock nada óbvio. Carbon Silicon / The Carbon Bubble / Independente / Download grátis / www. carbonsilicon inc.com
Sacanagens corporativas
Já bem conhecida do público baiano, que a lê dia sim, dia não no Caderno 2+, a série de tiras Dilbert, de Scott Adams, é ao lado do seriado The Office, uma das mais obras mais corrosivas e inteligentes já criadas sobre o mundo corporativo e suas bizarrices. Neste 5º volume, o cinismo já absurdo dos personagens galga mais alguns degraus. Odeio reuniões! / Scott Adams / L&PM/ 138 p. / R$ 11 / www.lpm. com.br
Musica do 3º Mundo
O catarinense-alagoano Wado ja tem um historico na historia recente da musica popular brasileira no sentido de aproximar a musica das periferias de uma linguagem pop experimental. Em Atlantico Negro, ele aprofunda essa relacao abordando estilos como samba, afoxe, funk carioca e reggaeton. Ha diversos acertos, como em Pavao Macaco, Feto / Sotaque e Boa Tarde, Povo. Um bom trabalho ousado. Disponivel em SMD e download gratuito. Wado / Atlantico Negro / Pimba / R$ 5
Gilmour em forma
Pouco antes de aplicar uma rasteira no ex-companheiro Roger Waters e reformar o Pink Floyd em 1987, David Gilmour lancou, em ‘84, o LP About Face. Juntou uma banda de feras e saiu em turne pela Europa e Estados Unidos. Neste DVD, este show reaparece, para alegria dos fas de Gilmour e do Floyd. E so deles, na verdade. Repertorio basicamente solo. David Gilmour / At Hammersmith Odeon / Coqueiro Verde / R$ 19
Faltou o bandoneón
O grupo brasileiro gatoNegro (grafado desta forma), propõe uma abordagem fiel ao tango argentino, numa tentativa de aproximar o público deste gênero tão rico e pouco valorizado por aqui. Alternando clássicos como Mano a Mano (Carlos Gardel) e Vuelvo al Sur (Piazzolla), com peças autorais, marcam um golaço digno de Maradona. Na formação, com violino, violoncelo, violão, baixo e vocal, só faltou o instrumento mais típico do tango, o bandoneón. gatoNegro / Tango / Independente / Preço não divulgado
O legítimo punk rock
Com 15 anos de atividades nas costas, o power trio baiano de punk rock Pastel de Miolos (ou simplesmente PDM) lança seu mais novo trabalho, Ciranda, para download gratuito. O tempo de luta se faz notar na pegada segura e legítima de punk rockers safra ‘77 que salta aos ouvidos em faixas como Ruas, Eles e Ser Humano. Apesar de pouco badalados por aqui, já tem público cativo nos shows, onde o pogo rola solto. Recomendado. Pastel de Miolos / Ciranda / Gratuito / myspace.com/ pasteldemiolos
Macacos no deserto
Passado aquele momento de descoberta e subsequente hype babão, os britânicos do Arctic Monkeys tem sua chance de demonstrar a que vieram no seu terceiro álbum, Humbug. Não por acaso, deixaram a úmida Inglaterra para trás e foram gravar nos estúdios de Josh Homme (Queens of The Stone Age) no deserto. Sob a batuta do americano, produziram um álbum irregular, de clima seco. O resultado dividiu a crítica, mas tem lá seus momentos, como Dangerous Animals e My Propeller. Arctic Monkeys / Humbug / EMI / R$ 34,90
Máfia sem divã
Mais conhecido como apresentador de programas culinários, Sílvio Lancellotti está se convertendo numa versão brasileira de Mario Puzo (autor de O Poderoso Chefão): um afiado romancista especializado em tramas sobre mafiosos. Neste novo livro, ele dá continuidade ao seu já clássico Honra ou Vendetta, acompanhando a saga do capo Tony Castellamare. Suspense, reviravoltas e paranóia. Tony Castellamare jamais Perdoa / Sílvio Lancellotti / L&PM/ 280 p. / R$ 45 / lpm.com.br
Clássico americano
Publicada diariamente em mais de 1,3 mil jornais mundo afora, as tiras da dupla de vadios Frank & Ernest oferecem, sempre com humor inteligente, a visão do homem comum sobre os absurdos do cotidiano: consumismo, escândalos políticos, pequenas frustrações. Versáteis, os simpáticos vagabundos criados por Bob Thaves (e assumidos pelo seu filho Tom, após sua morte em 2006), podem surgir em qualquer tempo ou lugar, sempre com uma tirada hilariante: na Idade Média, da Pedra, no espaço sideral ou no banco de praça. Uma boa amostra de humor simples e crítico. Frank & Ernest / Bob Thaves / Devir/ 128 p. /R$ 23 / frankandernest.com
Clássico americano 2
Imortalizada na telona em 1985, em um dos melhores filmes de Steven Spielberg, a obra epistolar de Alice Walker tem méritos por si própria – e um prêmio Pulitzer de ficção que não a deixa mentir. Negra, pobre, analfabeta, subjugada por um marido brutamontes, Celie conta sua história através de cartas para Deus e sua irmã. Mesmo brutalizada pelas circunstâncias, descobre o desejo e a beleza. Brilhante. A Cor Púrpura / Alice Walker / José Olympio Editora /336 p. / R$ 38 / record.com.br
Boa surpresa inglesa
Eis que, em um cenário de terra arrasada (o das gravadoras mainstream), surge como uma agradável surpresa a estreia da cantora britânica Paloma Faith. Praticando um pop acessível, orgânico (tocado por gente, não máquinas), ela soa como um cruzamento entre Amy Winehouse e Kylie Minogue. Boa voz, belas composições e arranjos trabalhados deveriam ser a regra, não a exceção. Destaque para o hit Stone Cold Sober. Paloma Faith / Do You Want The Truth or Something Beautiful? / Sony BMG / R$ 19,90
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
terça-feira, dezembro 29, 2009
terça-feira, dezembro 22, 2009
Abaixo os defensores da TFP no Roque Baiano
O show de lançamento do DVD Efeito Bogary, no último domingo, lotou a Praça Tereza Batista com uma horda de fãs ávidos pelo Cascadura. Nosso enviado especial Franciel Cruz, rockloquista honorário, quebra o silêncio desde o fim do seu blog Ingresia e diz o que muita gente queria dizer por aqui. Joga, maluco!
Por Franciel Cruz
A verdade que salva e liberta tem que ser dita. E, cristão ortodoxo, este rouco e religioso locutor a dirá logo neste primeiro e sucinto parágrafo. Maestro, caixa alta, por favor: “NO BRASIL, SUCESSO É OFENSA PESSOAL”.
Touché!
Pois muito bem. Daqui do genuflexório, onde rezo ajoelhado pela mudança na linha evolutiva da música de Pindorama, agradeço penhoradamente os aplausos, mas informo que as palmas devem ser dirigidas ao autor destas palavras da salvação: Tom Jobim, aquele que abriu o gás deste vale de lágrimas há exatos 15 anos.
Sei que pode parecer meio que extemporâneo citar o referido e soberano maestro num espaço dedicado a são roque, porém a reprodução faz-se necessária. Afinal, a frase continua mais atual do que nunca, principalmente na Bahia, que é o Brasil levado às últimas consequências. Aqui, a ojeriza ao êxito, muitas vezes, vem dos próprios amigos e admiradores.
Existe uma turma que acredita que a banda de sua predileção não pode ser admirada por mais do que os 12 escolhidos. É sua única e exclusiva propriedade. E ai de quem tenta fugir desta tradição e se atreve a expandir seus sons para além do quintal da república de descolados do Red River. É choro, lamento, ranger de dentes, um deus nos acuda e o carai aquático.
Bom, estes prolegômenos (recebam, fariseus, um prolegômenos na caixa torácica) são apenas para dizer que de nada vai adiantar neguinho e branquinho procurar chiada, pois a verdade é uma só: Com Bogary, Cascadura fez um pacto com o sucesso que está imune às ofensas porque calcado numa inquebrantável sintonia com a cidade.
Eles não têm vergonha de Salvador. E quando falo isso, é bom deixar claro que não foram feitas concessões aos batuques e outras baianidades. O diálogo da banda com a província foi estabelecido em outras bases, baixo, bateria, guitarra, sinceridade, peso, intensidade, agressividade, barulho e um tanto assim de breguice nas boas composições – até porque brega e caldo de galinha, de quando em vez, não fazem mal a ninguém.
E o melhor de tudo foi que, na noite de ontem, percebi que, quando eu pensava nessa teoria do diálogo da banda com a cidade, não estava viajando (na verdade, até estava sob o domínio de substâncias não recomendas pela Carta Magna, mas não vem ao caso) O fato é que o diálogo era real. Na superlotada Praça Tereza Batista cansada de guerra, havia gente de todos os cantos da cidade, gritando e cantando todas as canções do CD com vontade e emoção: de Pau da Lima ao próprio Rio Vermelho; de São Marcos à Ribeira.
Tanto se podia ver gente com cara de brabo e camisa de Raul e Pink Floyd, como rapazes, digamos, sensíveis com a vestimenta dos Smiths. Havia negona e menino amarelo. E todos curtiam cada uma das músicas de forma quase que desesperada e insanamente feliz. Talvez por conta disso, o próprio Fábio confirmou a disgrama da tese ao fazer um discurso emocionado, dizendo que Salvador é a casa da banda, “é nesta cidade, com suas qualidades e defeitos, que queremos interferir”.
Joga, maluco.
E sobre o show especificamente, Sêo Françuel? Como é que foram as execuções, o timbre da guitarra, o peso da bateria, o vocal e num sei lá mais o quê? Pergunta-me a ansiosa senhora. E eu respondo. Ou melhor, me calo. E digo somente o seguinte: quem foi, viveu. Quem quis ficar no Rio Vermelho ou em casa tomou no velho ás de loscopita e perdeu o melhor show do ano.
Por Franciel Cruz
A verdade que salva e liberta tem que ser dita. E, cristão ortodoxo, este rouco e religioso locutor a dirá logo neste primeiro e sucinto parágrafo. Maestro, caixa alta, por favor: “NO BRASIL, SUCESSO É OFENSA PESSOAL”.
Touché!
Pois muito bem. Daqui do genuflexório, onde rezo ajoelhado pela mudança na linha evolutiva da música de Pindorama, agradeço penhoradamente os aplausos, mas informo que as palmas devem ser dirigidas ao autor destas palavras da salvação: Tom Jobim, aquele que abriu o gás deste vale de lágrimas há exatos 15 anos.
Sei que pode parecer meio que extemporâneo citar o referido e soberano maestro num espaço dedicado a são roque, porém a reprodução faz-se necessária. Afinal, a frase continua mais atual do que nunca, principalmente na Bahia, que é o Brasil levado às últimas consequências. Aqui, a ojeriza ao êxito, muitas vezes, vem dos próprios amigos e admiradores.
Existe uma turma que acredita que a banda de sua predileção não pode ser admirada por mais do que os 12 escolhidos. É sua única e exclusiva propriedade. E ai de quem tenta fugir desta tradição e se atreve a expandir seus sons para além do quintal da república de descolados do Red River. É choro, lamento, ranger de dentes, um deus nos acuda e o carai aquático.
Bom, estes prolegômenos (recebam, fariseus, um prolegômenos na caixa torácica) são apenas para dizer que de nada vai adiantar neguinho e branquinho procurar chiada, pois a verdade é uma só: Com Bogary, Cascadura fez um pacto com o sucesso que está imune às ofensas porque calcado numa inquebrantável sintonia com a cidade.
Eles não têm vergonha de Salvador. E quando falo isso, é bom deixar claro que não foram feitas concessões aos batuques e outras baianidades. O diálogo da banda com a província foi estabelecido em outras bases, baixo, bateria, guitarra, sinceridade, peso, intensidade, agressividade, barulho e um tanto assim de breguice nas boas composições – até porque brega e caldo de galinha, de quando em vez, não fazem mal a ninguém.
E o melhor de tudo foi que, na noite de ontem, percebi que, quando eu pensava nessa teoria do diálogo da banda com a cidade, não estava viajando (na verdade, até estava sob o domínio de substâncias não recomendas pela Carta Magna, mas não vem ao caso) O fato é que o diálogo era real. Na superlotada Praça Tereza Batista cansada de guerra, havia gente de todos os cantos da cidade, gritando e cantando todas as canções do CD com vontade e emoção: de Pau da Lima ao próprio Rio Vermelho; de São Marcos à Ribeira.
Tanto se podia ver gente com cara de brabo e camisa de Raul e Pink Floyd, como rapazes, digamos, sensíveis com a vestimenta dos Smiths. Havia negona e menino amarelo. E todos curtiam cada uma das músicas de forma quase que desesperada e insanamente feliz. Talvez por conta disso, o próprio Fábio confirmou a disgrama da tese ao fazer um discurso emocionado, dizendo que Salvador é a casa da banda, “é nesta cidade, com suas qualidades e defeitos, que queremos interferir”.
Joga, maluco.
E sobre o show especificamente, Sêo Françuel? Como é que foram as execuções, o timbre da guitarra, o peso da bateria, o vocal e num sei lá mais o quê? Pergunta-me a ansiosa senhora. E eu respondo. Ou melhor, me calo. E digo somente o seguinte: quem foi, viveu. Quem quis ficar no Rio Vermelho ou em casa tomou no velho ás de loscopita e perdeu o melhor show do ano.
terça-feira, dezembro 15, 2009
THE 2nd COMING
Messias opera um milagres e brincando de deus faz show de retorno nesta sexta-feira, na Boomerangue
Se tem uma banda no rock local que simboliza um certo pioneirismo independente, essa banda só pode ser a brincando de deus (acima, em foto da nossa eterna roquloquista Super Sora Maia). Desativada em 2005, a rapaziada anunciou sua volta ao circuito com um show nesta sexta-feira, na Boomerangue.
Surgida em Salvador bem no início dos anos 90, no movimento de renovação do rock local que trouxe grupos como Úteros em Fúria, Cascadura e Dead Billies, a brincando de deus marcou época não apenas pela abordagem estritamente guitar band / indie rock do seu som, mas também pela postura de independência mercadológica.
Em 1995, numa era pré-mp3, lançou seu primeiro CD, Better When You Love (Me), por um selo próprio, o Self Records, já tinha site na internet e uma lista de discussão totalmente pioneira, a Indie Brasil, que existe ainda hoje.
Após três discos lançados (sendo um deles ao vivo) e muitos shows pelo Brasil (incluindo festivais importantes, como Abril Pro Rock e Juntatribo), o grupo debandou em 2005.
O som do grupo, totalmente sintonizado com o que de melhor se fazia lá fora na área do rock alternativo, chegou mesmo ao exterior, quando tiveram diversas faixas incluídas em coletâneas lançadas na Europa e Japão, além de um compacto de vinil, hoje item de colecionador, lançado por um selo indie norte-americano.
Agora, a brincando de deus volta para reunir os apreciadores, retomar a merecida posição de destaque e também a produção de canções inéditas. “Eu acho que essa vocação independente nossa sempre só prova que estávamos na direção correta desde o início“, avalia o vocalista Messias G.B.
“Hoje o que você vê acontecendo no cenário, com o advento das novas tecnologias, deixou muito claro que nossa opção foi acertada e adequada. Hoje, todos os artistas estão buscando isso, no sentido de obter autonomia sobre sua obra“, observa.
Sem falsa modéstia, Messias considera que a brincando de deus “foi o grupo que melhor delineou uma estrutura independe de banda: criou selo, festival (Boom Bahia), rodou o Brasil e se projetou internacionalmente, pois circulou fora do País. Isso foi interessante pra gente“, diz.
Ao lado do membro original Cézar Vieira, um verdadeiro guitar hero do indie rock brasileiro, Messias conta ainda com Ricardo Cury (bateria) e Tiago Aziz (baixo), que, nos últimos anos da banda antes da pausa, substituíram os membros originais Ruy e Dalmo, respectivamente.
“Eu acho que esse retorno vai nos ajudar a superar um pouco esse oscilação de continuidade e descontinuidade da banda, apesar de sempre termos sido bem reconhecidos no cenário underground e até pela imprensa“, considera. O plano agora é retomar uma agenda regular de shows e também produzir novas canções.
Em paralelo, Messias ainda vai trabalhar o lançamento do seu álbum solo, previsto para o mês que vem. Mas nada de misturar as bolas. “Na carreira solo eu não toco as coisas da banda e vice-versa“, avisa. No show de sexta, todos os clássicos da banda deverão ser executados com prazer renovado. Do lado de lá e de cá do palco.
UM CONTO NATALINO DA brincando de deus / Participação DJs BRAMZ e BIGBROSS / Sexta-feira (18), às 23 horas / boomerangue – rio vermelho / R$20 na hora / R$15 com o nome na lista na comunidade da banda no Orkut
UM GOSTINHO PRO ESQUENTE:
Se tem uma banda no rock local que simboliza um certo pioneirismo independente, essa banda só pode ser a brincando de deus (acima, em foto da nossa eterna roquloquista Super Sora Maia). Desativada em 2005, a rapaziada anunciou sua volta ao circuito com um show nesta sexta-feira, na Boomerangue.
Surgida em Salvador bem no início dos anos 90, no movimento de renovação do rock local que trouxe grupos como Úteros em Fúria, Cascadura e Dead Billies, a brincando de deus marcou época não apenas pela abordagem estritamente guitar band / indie rock do seu som, mas também pela postura de independência mercadológica.
Em 1995, numa era pré-mp3, lançou seu primeiro CD, Better When You Love (Me), por um selo próprio, o Self Records, já tinha site na internet e uma lista de discussão totalmente pioneira, a Indie Brasil, que existe ainda hoje.
Após três discos lançados (sendo um deles ao vivo) e muitos shows pelo Brasil (incluindo festivais importantes, como Abril Pro Rock e Juntatribo), o grupo debandou em 2005.
O som do grupo, totalmente sintonizado com o que de melhor se fazia lá fora na área do rock alternativo, chegou mesmo ao exterior, quando tiveram diversas faixas incluídas em coletâneas lançadas na Europa e Japão, além de um compacto de vinil, hoje item de colecionador, lançado por um selo indie norte-americano.
Agora, a brincando de deus volta para reunir os apreciadores, retomar a merecida posição de destaque e também a produção de canções inéditas. “Eu acho que essa vocação independente nossa sempre só prova que estávamos na direção correta desde o início“, avalia o vocalista Messias G.B.
“Hoje o que você vê acontecendo no cenário, com o advento das novas tecnologias, deixou muito claro que nossa opção foi acertada e adequada. Hoje, todos os artistas estão buscando isso, no sentido de obter autonomia sobre sua obra“, observa.
Sem falsa modéstia, Messias considera que a brincando de deus “foi o grupo que melhor delineou uma estrutura independe de banda: criou selo, festival (Boom Bahia), rodou o Brasil e se projetou internacionalmente, pois circulou fora do País. Isso foi interessante pra gente“, diz.
Ao lado do membro original Cézar Vieira, um verdadeiro guitar hero do indie rock brasileiro, Messias conta ainda com Ricardo Cury (bateria) e Tiago Aziz (baixo), que, nos últimos anos da banda antes da pausa, substituíram os membros originais Ruy e Dalmo, respectivamente.
“Eu acho que esse retorno vai nos ajudar a superar um pouco esse oscilação de continuidade e descontinuidade da banda, apesar de sempre termos sido bem reconhecidos no cenário underground e até pela imprensa“, considera. O plano agora é retomar uma agenda regular de shows e também produzir novas canções.
Em paralelo, Messias ainda vai trabalhar o lançamento do seu álbum solo, previsto para o mês que vem. Mas nada de misturar as bolas. “Na carreira solo eu não toco as coisas da banda e vice-versa“, avisa. No show de sexta, todos os clássicos da banda deverão ser executados com prazer renovado. Do lado de lá e de cá do palco.
UM CONTO NATALINO DA brincando de deus / Participação DJs BRAMZ e BIGBROSS / Sexta-feira (18), às 23 horas / boomerangue – rio vermelho / R$20 na hora / R$15 com o nome na lista na comunidade da banda no Orkut
UM GOSTINHO PRO ESQUENTE:
segunda-feira, dezembro 14, 2009
MICRO-RESENHAS PARA TENTAR RETOMAR UMA ROTINA DE POSTS....
Paródia ou tributo?
Baterista da Los Canos, Vendo 147 e Pessoas Invisíveis, Glauco Neves se lança solo, com Sua Orquestra Elegante. Na linha “sou brega, mas sou feliz“, faz o tipo cantor romântico estilo Fábio Júnior, distribuindo rosas nos shows. Neste primeiro CD, com dez faixas, porém, ele ainda parece meio indeciso de suas intenções. Se for paródia, manda bem em Eu Disse a Ela Que Meu Peito Dói e Carne de Segunda. Se for tributo, apenas faz mais do mesmo em Meu Mundo e Casamento. Decida-se, rapaz! Glauco Neves & Sua Orquestra Elegante / Frangote Records / R$ 5
Cantoria do século 21
4 cabeça é um projeto coletivo que apresenta um quarteto formado por alguns dos melhores compositores brasileiros surgidos nos últimos anos: Maurício Baia, Gabriel Moura (parceiro habitual de Seu Jorge), Luis Carlinhos (ex-Dread Lions) e Rogê. Gravado somente com as vozes e os violões dos rapazes, é uma boa amostra desses talentos. Destaque para Lembrei (Baia & Moura) e O Poeta (Carlinhos, Baia e Moura)
Baia, Rogê, Gabriel Moura e Luís Carlinhos / 4 Cabeça / Bolacha Discos / Preço não divulgado
O início da saga do valente guerreiro Kronomir
Aos poucos, Salvador vai revelando seus talentos dos quadrinhos. Um projeto que promete bastante é o Aurora Comics, um estúdio que promete lançar HQs que começam na revista em papel e continuam no site da editora. Depois de seis edições on line, uma versão encadernada será impressa. Com bons desenhos, entre os estilos americano e japonês, o número zero traz o início da saga Crepúsculo de Um Tempo Esquecido, uma história do gênero espada & feitiçaria, com bastante violência. À venda na comic shop RV Cultura e Arte (3347-4929). Aurora Comics nº 0 / Oliver Borges, Dan Borges, Lucas Barbosa, W. Filho / Aurora Studios / 28 p. / R$ 5 / www.auroracomics.com
Gravata justa
Formado pelo ex-Dead Billies Glauber Guimarães e pelo guitarrista Jorge Solovera, o duo Teclas Pretas não faz shows, mas está sempre gravando coisas novas e soltando no MySpace. O trabalho mais recente é este Nó dos Mais Gravatas, que transita entre a psicodelia sixties e o folk indie de Elliott Smith. A linda Show de Calouros evoca os melhores momentos de Smith com personalidade. Grande Espaço Interno é para fechar os olhos e viajar. Já Cidade Subtraída é psicodelia na medida: não cansa o ouvinte. Nó dos mais gravatas / Teclas Pretas / Independente / myspace.com /teclaspretas
Energia stoner rock
Novata no cenário rocker local, a banda Jonas lança seu primeiro trabalho, o EP Pacheco, com cinco faixas. Seguindo a linha stoner / hard rock, o quarteto demonstra uma boa garra de iniciante no peso e na energia que consegue passar nas suas composições, como More Speed More Life, As I Want e God Damn This Place. Quem já ouviu Queens of The Stone Age, Foo Fighters e afins não encontrará nada de novo aqui, além de uma banda ainda em busca de identidade – mas o caminho é esse mesmo. Avante. Pacheco / Jonas / Frangote Records / Preço não divulgado
Jovem Guarda atual
Macaco velho do rock gaúcho, Frank Jorge já passou por bandas fundamentais do Sul, como Cascavelettes e Graforreia Xilarmônica. Solo, chega agora ao terceiro CD, fazendo o que sabe melhor: rock com letras em português, como nos anos 60. Na verdade, Frank consegue fazer Jovem Guarda até para quem não curte o ingênuo estilo sessentista, ao utilizar uma linguagem contemporânea – mas sem recorrer a modernices. Letrista sensível, sabe contar histórias com humor e inteligência. Destaque para Elvis e Obsessão Anos 60. Volume 3 / Frank Jorge / Monstro Discos / R$ 18
Ligne claire
A história de uma refugiada do nazismo, que, décadas depois parte em busca de notícias de quem a ajudou a fugir do extermínio é também uma boa oportunidade de conhecer os quadrinhos holandeses, praticamente desconhecidos por aqui. De narrativa fluente, o álbum mostra como as ideias de um único homem arruinaram a vida de milhões. A busca / Schippers, van der Rol e Heuvel / Companhia das Letras / 72 p. / R$ 33 /www.companhiadasletras.com.br
Saudades da modernidade
Se hoje bebemos vinho por prazer (e não por rito religioso), gostamos de histórias épicas de heroísmo, somos iluminados pela filosofia e fazemos sexo sem culpa (pelo menos a maioria das pessoas), é muito por causa da antiquíssima civilização grega – bem mais adiantada do que a veio depois, judaico-cristã. Reedição revista e atualizada da versão publicada pela mesma editora em 2002. Deveria ser adotado em escolas. Grécia antiga / Paul Cartledge (Org.) / Ediouro / 545 p. / R$ 59,90 / www.greciaantigaolivro.com.br
Baterista da Los Canos, Vendo 147 e Pessoas Invisíveis, Glauco Neves se lança solo, com Sua Orquestra Elegante. Na linha “sou brega, mas sou feliz“, faz o tipo cantor romântico estilo Fábio Júnior, distribuindo rosas nos shows. Neste primeiro CD, com dez faixas, porém, ele ainda parece meio indeciso de suas intenções. Se for paródia, manda bem em Eu Disse a Ela Que Meu Peito Dói e Carne de Segunda. Se for tributo, apenas faz mais do mesmo em Meu Mundo e Casamento. Decida-se, rapaz! Glauco Neves & Sua Orquestra Elegante / Frangote Records / R$ 5
Cantoria do século 21
4 cabeça é um projeto coletivo que apresenta um quarteto formado por alguns dos melhores compositores brasileiros surgidos nos últimos anos: Maurício Baia, Gabriel Moura (parceiro habitual de Seu Jorge), Luis Carlinhos (ex-Dread Lions) e Rogê. Gravado somente com as vozes e os violões dos rapazes, é uma boa amostra desses talentos. Destaque para Lembrei (Baia & Moura) e O Poeta (Carlinhos, Baia e Moura)
Baia, Rogê, Gabriel Moura e Luís Carlinhos / 4 Cabeça / Bolacha Discos / Preço não divulgado
O início da saga do valente guerreiro Kronomir
Aos poucos, Salvador vai revelando seus talentos dos quadrinhos. Um projeto que promete bastante é o Aurora Comics, um estúdio que promete lançar HQs que começam na revista em papel e continuam no site da editora. Depois de seis edições on line, uma versão encadernada será impressa. Com bons desenhos, entre os estilos americano e japonês, o número zero traz o início da saga Crepúsculo de Um Tempo Esquecido, uma história do gênero espada & feitiçaria, com bastante violência. À venda na comic shop RV Cultura e Arte (3347-4929). Aurora Comics nº 0 / Oliver Borges, Dan Borges, Lucas Barbosa, W. Filho / Aurora Studios / 28 p. / R$ 5 / www.auroracomics.com
Gravata justa
Formado pelo ex-Dead Billies Glauber Guimarães e pelo guitarrista Jorge Solovera, o duo Teclas Pretas não faz shows, mas está sempre gravando coisas novas e soltando no MySpace. O trabalho mais recente é este Nó dos Mais Gravatas, que transita entre a psicodelia sixties e o folk indie de Elliott Smith. A linda Show de Calouros evoca os melhores momentos de Smith com personalidade. Grande Espaço Interno é para fechar os olhos e viajar. Já Cidade Subtraída é psicodelia na medida: não cansa o ouvinte. Nó dos mais gravatas / Teclas Pretas / Independente / myspace.com /teclaspretas
Energia stoner rock
Novata no cenário rocker local, a banda Jonas lança seu primeiro trabalho, o EP Pacheco, com cinco faixas. Seguindo a linha stoner / hard rock, o quarteto demonstra uma boa garra de iniciante no peso e na energia que consegue passar nas suas composições, como More Speed More Life, As I Want e God Damn This Place. Quem já ouviu Queens of The Stone Age, Foo Fighters e afins não encontrará nada de novo aqui, além de uma banda ainda em busca de identidade – mas o caminho é esse mesmo. Avante. Pacheco / Jonas / Frangote Records / Preço não divulgado
Jovem Guarda atual
Macaco velho do rock gaúcho, Frank Jorge já passou por bandas fundamentais do Sul, como Cascavelettes e Graforreia Xilarmônica. Solo, chega agora ao terceiro CD, fazendo o que sabe melhor: rock com letras em português, como nos anos 60. Na verdade, Frank consegue fazer Jovem Guarda até para quem não curte o ingênuo estilo sessentista, ao utilizar uma linguagem contemporânea – mas sem recorrer a modernices. Letrista sensível, sabe contar histórias com humor e inteligência. Destaque para Elvis e Obsessão Anos 60. Volume 3 / Frank Jorge / Monstro Discos / R$ 18
Ligne claire
A história de uma refugiada do nazismo, que, décadas depois parte em busca de notícias de quem a ajudou a fugir do extermínio é também uma boa oportunidade de conhecer os quadrinhos holandeses, praticamente desconhecidos por aqui. De narrativa fluente, o álbum mostra como as ideias de um único homem arruinaram a vida de milhões. A busca / Schippers, van der Rol e Heuvel / Companhia das Letras / 72 p. / R$ 33 /www.companhiadasletras.com.br
Saudades da modernidade
Se hoje bebemos vinho por prazer (e não por rito religioso), gostamos de histórias épicas de heroísmo, somos iluminados pela filosofia e fazemos sexo sem culpa (pelo menos a maioria das pessoas), é muito por causa da antiquíssima civilização grega – bem mais adiantada do que a veio depois, judaico-cristã. Reedição revista e atualizada da versão publicada pela mesma editora em 2002. Deveria ser adotado em escolas. Grécia antiga / Paul Cartledge (Org.) / Ediouro / 545 p. / R$ 59,90 / www.greciaantigaolivro.com.br
terça-feira, dezembro 01, 2009
O CLUBE DO BLUES POPULAR BRASILEIRO
Seja no rock, seja no blues, um dilema sempre se colocou à frente daqueles que resolveram trilhar o caminho do alternativo: cantar em inglês (e manter uma suposta aura de legitimidade) ou cantar em português – e traduzir estas linguagens, tornando-as mais acessíveis ao público em geral, ao invés de apenas um séquito de seguidores?
O pessoal da banda feirense Clube de Patifes, especializada em blues, não teve dúvidas em optar pela segunda alternativa.
Para o vocalista e gaitista Pablício Santos, o “Pablues“, “a gente tem que ver que estamos cantando para baianos, nordestinos. Nem todo mundo tem acesso a esse tipo de cultura. Temos que ressaltar nossa cultura regional também, até para as pessoas poderem se identificar com nosso som“, exorta.
O blues do policial militar
Dizendo-se influenciado tanto por John Lee Hooker quanto por Gonzagão, Pablues cita como exemplo o dia em que um simples Policial Militar os abordou, após um show em uma praça de Camaçari, dizendo-se encantado com o que ouviu.
“O cara foi nos procurar no camarim depois do show. Disse que tinha ficado arrepiado o show inteiro, que nunca tinha ouvido nada como o nosso som. Comprou CD e tudo. Por que ele nunca tinha ouvido nada de blues? Por que as rádios não tocam, por que não há acesso fácil a esse tipo de cultura na Bahia. Aí eu vou cantar em inglês para dificultar ainda mais para pessoas como ele? Negativo!“, reflete.
”A gente não quer tocar só pra burguês tomar uísque. Queremos atingir o público em geral! A maioria doas pessoas simples que ouve o blues pela primeira vez ficam encantadas. É isso que faz a gente caminhar mais e conquistar um público amplo mesmo, sair do metiê”, acredita.
Formado pelos sócios Jo Capone (baixo), Paulo de Tarso (bateria) e Stephen “Mutt Dog” Ulrich (guitarra), o Clube de Patifes está fazendo shows de lançamento do seu novo CD, Com um Pouco Mais de Alma, pela Bahia (confira serviços logo abaixo). Em Salvador, será em janeiro.
Bem-vindos ao Clube!
Clube de Patifes / Sexta-feira (4.12), às 20 horas / Praça de Convivência da Universidade Federal do Recôncavo (Cachoeira) / Gratuito
Show de lançamento do CD novo / Dia 19 .12, 20 horas / Shopping do Chapéu (Centro de Camaçari) / Gratuito
Libório ao cair da tarde, no Gamboa
O cantor Libório continua fazendo os shows do seu CD Sozinho, Arrudiado de Gente, agora em temporada no Teatro Gamboa Nova. Dias 06, 13 e 20 (domingos), às 17 horas, R$ 5. A vista do pôr do sol fica por conta da casa.
Rock é festa, é fantasia, é paixão
Realizada em dois dias, a festa Paixão de Rock chega à 2ª edição com as bandas Lou, Elipê e Enio & A Maloca nesta sexta (4) e Quarteto de Cinco, Aguarraz e Acord no sábado (5). Groove Bar, R$ 20 ou R$ 25 (dois dias).
Ex-Stratovarius faz workshow na quinta
O guitarrista finlandês Timo Tolkki, da cultuada banda Stratovarius, faz um workshow nesta quinta (3), no bar Bond Canto (Rio Vermelho), às 19 horas. Participação do baixista Joel Moncorvo. R$ 30 (1º lote).
quarta-feira, novembro 25, 2009
RODADA DE LANÇAMENTOS NA QUINTA: ELIPÊ E RICARDO PRIMATA
Apesar de todas as dificuldades, 2009 tem sido um bom ano para o rock baiano. Houve ótimos discos de veteranos (Ronei Jorge, Retrofoguetes), mas também de bandas mais novas, como a Elipê, que, aos cinco anos de atividades, lança amanhã seu segundo CD, Indústria da Felicidade Humana, com um show no Teatro Acbeu.
Produzido por andré t. (à essa altura, já uma griffe no rock local), o álbum deixa clara uma certa evolução nas composições e arranjos da banda desde seu primeiro álbum, A Tela (2007).
A começar pela sonoridade bem contemporânea, mais próxima ao rock brasileiro mainstream, com evidentes influências de Los Hermanos e Pitty.
“São artistas talentosíssimos, é ótimo ser comparado à eles“, diz Mateus Lopes (guitarra e violino). “Mas, conscientemente, eu só assumiria a influência dos Los Hermanos. Eles revolucionaram a forma de fazer música no Brasil ao abrir novos caminhos para as pessoas que fazem rock, mas também tem influências de MPB“, acrescenta.
“De Pitty, admito que tem semelhanças na sonoridade. Mas eu tenho uma influência forte de MPB e poetas brasileiros, gosto de Mário Quintana, Cazuza, Renato Russo e Arnaldo Antunes é meu ídolo. Mas, na hora que isso cai para o estúdio, a (nossa) linha é rock. Aí pode haver semelhanças na parte musical, até por que essa é a parte do trabalho dela que eu admiro muito“, reflete Mateus.
Certamente, contribuiu para isso a experiência recente do produtor como engenheiro de som no CD mais recente da cantora, Chiaroscuro.
Essencialmente romântico e singelo, o CD novo da Elipê tem um quê melancólico que se reflete muito nas letras, quase sempre focadas em relacionamentos.
“Pelo próprio conceito da Indústria da Felicidade Humana, tentamos colocar no repertório musicas que refletissem diversos estados de espírito. Aí termina com uma faixa alegre (Musiquinha Idiota), senão ficaria sem sentido“, explica o músico.
Essa última faixa, aliás, é quase um We Are The World do rock baiano. Reúne os cantores Enio (Enio & A Maloca), Theo Filho (Irmãos da Bailarina), Fábio Cascadura, Danny Nascimento (Lou), Laís Souza (Autoreverso), Roberta Simões (Aguarraz) e Pietro Leal (Pirigulino Babilake). No show, todos já confirmaram presença. Além de Mateus, a Elipê conta com Paula Noyb (vocal), Thiago Colares (guitarra), Didhio (baixo) e Dudu Lopes (vocal e bateria).
Lançamento do CD Indústria da Felicidade Humana / Elipê / Amanhã, 20h30 / Teatro Acbeu (Corredor da Vitória. Tel.: 3444-4423) R$ 20
UM ESPELHO PARA RICARDO
Oriundo do cenário heavy metal baiano, o guitarrista virtuoso Ricardo Primata lança Espelho da Alma, seu primeiro CD solo cheio (com doze faixas) com um workshow amanhã, na loja mídialouca, com entrada gratuita.
Professor requisitado – tem aluno em fila de espera! – Primata ainda deve ser o músico mais procurado pelas empresas ligadas ao universo da guitarra para figurar como endorser (algo entre garoto-propaganda e representante para os eventos da indústria da música). Atualmente, ele tem nada menos que oito contratos, entre fábricas de guitarra, pedais, cordas, cases etc.
Por conta disso, viaja pelo Brasil e interior da Bahia fazendo workshows e workshops. Em 2010, espera chegar ao exterior.
Bule Bule e Armandinho
Em Espelho da Alma, Primata refinou suas influências, temperando seu rock / metal progressivo com ritmos brasileiros, especialmente o baião.
Na faixa Repentes, contou com a participação de duas lendas baianas: o repentista Bule Bule e o guitarrista Armandinho. “Foi uma honra ter esses dois no meu disco. Bule Bule é um senhor de 62 anos, e o tanto de vida que ele exala... É um cara super alto astral, aprendi muito com ele. E Armandinho é um ídolo, não precisa nem falar“, diz.
Workshow de lançamento do CD Espelho da Alma / Amanhã, 20 horas / MídiaLouca (Rua Fonte do Boi, Rio Vermelho) / Entrada Franca
Workshop de guitarra / Sábado, 11 horas / Loja Toque Musical (3378-9723) / Entrada Franca
terça-feira, novembro 24, 2009
NOITE DE SKA NO PELÔ
O esforço inesperado e praticamente sobrehumano a que foi submetido o público interessado na Noite das Orquestras no Pelourinho, na última sexta-feira, foi recompensado com uma sequência magnífica de shows da Orkestra Rumpilezz, Ska Maria Pastora e Orquestra Brasileira de Música Jamaicana.
Explica-se: realizada no mesmo dia em que as justas comemorações pelo Dia da Consciência Negra agitaram – e muvucaram geral – toda a região central da cidade, a jornada para chegar ao Pelourinho foi algo digno de Jasão & Os Argonautas. Até o telefone celular do repórter foi habilmente surrupiado no meio da multidão que se comprimia alegremente pelas ruas do Pelô.
O lado bom é que o esforço valeu – e muito – a pena. A festa de encerramento do projeto Novembro - Música em Todos os Ouvidos, da Diretoria de Música da Fundação Cultural do Estado, começou por volta das 21 horas.
Coube a anfitriã Orkestra Rumpilezz abrir a noite, levando seu som originalíssimo – mistura do jazz das big bands com percussão de candomblé – ao público que ia chegando e se esquentando na beira do palco com o elaborado suíngue que saía das caixas de som.
Impressionante conferir o monumento sonoro que é o som da Orkestra ao vivo. Um trabalho que, é o mesmo tempo, a cara da Bahia e totalmente universal.
Ska relax de Olinda
Após a troca de palco, vieram os olindenses do Ska Maria Pastora. Menor formação da noite, contavam só com três instrumentistas de sopro. Como quantidade não é qualidade, demonstraram inequívoca habilidade instrumental em um som de caráter praieiro, relaxado.
Na verdade, o ritmo das músicas parecia devagar até demais para uma banda que tem a palavra “ska“ no nome – eles estão mais para o reggae, mesmo. Mas trata-se, sem dúvida, de mais uma ótima novidade oriunda das bandas do Pernambuco.
Ska buliçoso de São Paulo
Atração mais esperada da noite, a Orquestra Brasileira de Música Jamaicana foi tudo o que se esperava: agitada e brilhante.
Comandada no palco pelo guitarrista e vocalista Sérgio Sofiatti, desfiou um repertório de clássicos da música brasileira no ritmo acelerado do ska, transformando a praça em um bailão para o povo que dançava enlouquecido ao som de Águas de Março, Trem das Onze, Carinhoso, O Guarani, Nanã e outras.
Tudo isso sem desrespeitar o espírito original das músicas e, ao mesmo tempo, mantendo o clima do ska tradicional. Até o “shikaboom“ ouvido nos clássicos dos Skatalites Sofiatti fazia com a boca. Espetacular.
sábado, novembro 21, 2009
AUTOBIOGRAFIA PÓSTUMA - E INVOLUNTÁRIA - DE UM BÊBADO GENIAL
Ex-editor reúne textos autoiográficos do Velho Buk em ordem cronológica
Muito admirado – e também muito imitado, mas jamais igualado – o americano / alemão Charles Bukowski (1920-1994) levou a figura do escritor marginal e beberrão ao paroxismo em obras como Mulheres, Fabulário Geral do Delírio Cotidiano, Notas de um velho safado e Factótum, entre vários outros.
No recém-lançado Bukowski - Textos autobiográficos (L&PM), os leitores já familiarizados com a extensa parte de sua obra já editada no Brasil encontrarão pouca coisa inédita.
O volumão – tem quase 500 páginas – é uma compilação de, como o título já entrega, textos que contam passagens de sua – difícil, alcóolica e, no fim das contas, longa e vitoriosa – vida.
Organizado de forma cronológica, o livro reúne trechos de mais de vinte livros, entre romances e volumes de contos e poemas.
Tudo começa com os textos do espetacular romance Misto quente, no qual exorciza sua infância miserável num subúrbio de Los Angeles, apanhando do pai tirano um dia sim e no outro também, sob o olhar impassível de uma mãe omissa – ou talvez covarde, que não se manifestava para não cair na porrada junto com o filho.
Para veteranos e neófitos
Compilado por John Martin, amigo de longa data e editor de Bukowski na Black Sparrow Press, editora independente que lançou boa parte de sua obra, o livro traz ainda uma quantidade incrível de poemas e trechos de livros como Cartas na rua, Hollywood, Ao sul de lugar nenhum e Numa fria, além dos já citados Mulheres e Factótum, entre outros.
Apesar de trazer pouca coisa inédita, o livro poderá agradar tanto aos leitores veteranos quanto aos neófitos, dado o seu inusitado caráter “autobiográfico involuntário“.
Lendo-o, fica patente que, mais do que um beberrão e fanfarrão sexista, Bukowski era na verdade um ser humano com uma profunda ternura pelo seu semelhante – desde que este não tocasse no seu copo, claro.
Impossível não rir e se emocionar com suas desventuras longa noite americana adentro.
BUKOWSKI - TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS / Charles Bukowski, John Martin (Org.) / Tradução: Pedro Gonzaga e Marcos Santarrita / 480 páginas / L&PM Editores / R$ 66
Muito admirado – e também muito imitado, mas jamais igualado – o americano / alemão Charles Bukowski (1920-1994) levou a figura do escritor marginal e beberrão ao paroxismo em obras como Mulheres, Fabulário Geral do Delírio Cotidiano, Notas de um velho safado e Factótum, entre vários outros.
No recém-lançado Bukowski - Textos autobiográficos (L&PM), os leitores já familiarizados com a extensa parte de sua obra já editada no Brasil encontrarão pouca coisa inédita.
O volumão – tem quase 500 páginas – é uma compilação de, como o título já entrega, textos que contam passagens de sua – difícil, alcóolica e, no fim das contas, longa e vitoriosa – vida.
Organizado de forma cronológica, o livro reúne trechos de mais de vinte livros, entre romances e volumes de contos e poemas.
Tudo começa com os textos do espetacular romance Misto quente, no qual exorciza sua infância miserável num subúrbio de Los Angeles, apanhando do pai tirano um dia sim e no outro também, sob o olhar impassível de uma mãe omissa – ou talvez covarde, que não se manifestava para não cair na porrada junto com o filho.
Para veteranos e neófitos
Compilado por John Martin, amigo de longa data e editor de Bukowski na Black Sparrow Press, editora independente que lançou boa parte de sua obra, o livro traz ainda uma quantidade incrível de poemas e trechos de livros como Cartas na rua, Hollywood, Ao sul de lugar nenhum e Numa fria, além dos já citados Mulheres e Factótum, entre outros.
Apesar de trazer pouca coisa inédita, o livro poderá agradar tanto aos leitores veteranos quanto aos neófitos, dado o seu inusitado caráter “autobiográfico involuntário“.
Lendo-o, fica patente que, mais do que um beberrão e fanfarrão sexista, Bukowski era na verdade um ser humano com uma profunda ternura pelo seu semelhante – desde que este não tocasse no seu copo, claro.
Impossível não rir e se emocionar com suas desventuras longa noite americana adentro.
BUKOWSKI - TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS / Charles Bukowski, John Martin (Org.) / Tradução: Pedro Gonzaga e Marcos Santarrita / 480 páginas / L&PM Editores / R$ 66
terça-feira, novembro 17, 2009
UMA ATRAÇÃO A CADA ESQUINA
Música e artes cênicas invadem a Av. Manoel Dias da Silva no evento-manifesto Hoje é Dia de Esquina!
No início da noite de hoje, um evento inesperado e de contornos inéditos promete agitar, durante uma hora e meia, dez esquinas da Avenida Manoel Dias da Silva, na Pituba. É o manifesto Hoje É Dia de Esquina! Para Humanizar a Cidade, que levará dez manifestações artísticas para as ruas do agitado bairro.
Idealizado pelos produtores Cássia Cardoso e Roger Ribeiro, o evento é inspirado numa iniciativa que o irmão de Roger, o multiartista Freddy Ribeiro, tocava no Rio de Janeiro, no agito do Baixo Leblon.
“Tinha esse espetáculo no Rio, que chamava Bonitos & Paranóicos, de Freddy Ribeiro com a banda qinho e os caras (grafado dessa forma). Eles se apresentavam toda terça-feira numa esquina do Baixo Leblon“, conta a produtora.
“Um certo dia de fevereiro de 2008, depois de algum tempo fazendo isso, um monte de artista teve a iniciativa de se juntar e fazer um movimento chamado Hoje é Dia de Rua!, que ia do Leblon até Ipanema. A cada esquina tinha uma atração diferente, isso durante duas horas“, continua.
“Adoramos a ideia. Aí, conversando com o irmão de Freddy, Roger, resolvemos adaptar o evento para Salvador“, acrescenta Cássia.
Diversidade musical
Em Salvador, o evento vai funcionar da seguinte maneira: a partir das 19 horas, todas as esquinas da Avenida Manoel Dias da Silva entre as ruas Bahia e Piauí receberão uma atração cada, que se apresentarão no passeio, em um espaço delimitado por refletores no chão.
O evento em todas as esquinas durará precisamente uma hora e meia, encerrando-se às 20h30. Moradores, motoristas e passantes testemunharão, nesse decurso de tempo, atrações de qualidade comprovada de música, teatro e circo.
Na música, a diversidade dá as cartas. Haverá o pop rock consagrado das bandas Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta, Retrofoguetes, Anacê e Banda de Rock. O samba do Recôncavo marca presença com o grupo Barlavento, assim como o jazz instrumental de Luizinho Assis, o hip hop do DJ Bandido (com intervenções do grafiteiro Denissena) e a MPB da cantora Simone Mota.
Teatro, circo e manifesto
Quem preferir teatro poderá assistir à Saga de Soraia, peça que será apresentada pelos premiados atores Aícha Marques e André Tavares. Pocket-play inspirada em antigos desenhos animados, conta a história da personagem-título, uma jovem nascida no subúrbio ferroviário que sonha em morar na Pituba.
Já a trupe de circo Malabares & Cia, especializado em apresentações de rua, promete trazer para a sua esquina o fascínio circense, lançando mão de vários tipos de performances.
Com essa movimentação toda, Cássia e Roger pretendem chamar a atenção do público para a necessidade de se ocupar as ruas de forma consciente e respeitosa. “Somos educadores e lidamos com cidadania e adolescentes e percebemos que, hoje em dia, os espaços públicos são tomados de uma forma que não beneficia o público“, avalia.
No evento será distribuído o Manifesto Hoje É Dia de Esquina!, que toca em assuntos importantes como barracas de praia, pontos de ônibus, praças e poluição sonora – certamente, um dos problemas mais sérios da Salvador contemporânea.
SERVIÇO
O quê: Hoje É Dia de Esquina! Para Humanizar a Cidade
Quem: 10 performances artísticas em apresentação simultânea:
1) Aicha Marques e André Tavares – Teatro
2) Anacê – Música
3) Banda de Rock – Música
4) Barlavento – Música
5) DJ Bandido e Denissena – Hip Hop e Grafite
6) Luizinho Assis – Música
7) Malabares & Cia – Grupo de Circo
8) Retrofoguetes – Música
9) Ronei Jorge e Os Ladrões de Bicicleta – Música
10) Simone Mota – Música
Quando: 17/11/2009 (terça-feira)
Horário: 19h00 às 20h30
Onde: Esquinas da Avenida Manoel Dias da Silva, entre as ruas Bahia e Piauí
Gratuito, aberto ao público, livremente nas ruas da cidade
http://diadeesquina.blogspot.com
http://twitter.com/diadeesquina
No início da noite de hoje, um evento inesperado e de contornos inéditos promete agitar, durante uma hora e meia, dez esquinas da Avenida Manoel Dias da Silva, na Pituba. É o manifesto Hoje É Dia de Esquina! Para Humanizar a Cidade, que levará dez manifestações artísticas para as ruas do agitado bairro.
Idealizado pelos produtores Cássia Cardoso e Roger Ribeiro, o evento é inspirado numa iniciativa que o irmão de Roger, o multiartista Freddy Ribeiro, tocava no Rio de Janeiro, no agito do Baixo Leblon.
“Tinha esse espetáculo no Rio, que chamava Bonitos & Paranóicos, de Freddy Ribeiro com a banda qinho e os caras (grafado dessa forma). Eles se apresentavam toda terça-feira numa esquina do Baixo Leblon“, conta a produtora.
“Um certo dia de fevereiro de 2008, depois de algum tempo fazendo isso, um monte de artista teve a iniciativa de se juntar e fazer um movimento chamado Hoje é Dia de Rua!, que ia do Leblon até Ipanema. A cada esquina tinha uma atração diferente, isso durante duas horas“, continua.
“Adoramos a ideia. Aí, conversando com o irmão de Freddy, Roger, resolvemos adaptar o evento para Salvador“, acrescenta Cássia.
Diversidade musical
Em Salvador, o evento vai funcionar da seguinte maneira: a partir das 19 horas, todas as esquinas da Avenida Manoel Dias da Silva entre as ruas Bahia e Piauí receberão uma atração cada, que se apresentarão no passeio, em um espaço delimitado por refletores no chão.
O evento em todas as esquinas durará precisamente uma hora e meia, encerrando-se às 20h30. Moradores, motoristas e passantes testemunharão, nesse decurso de tempo, atrações de qualidade comprovada de música, teatro e circo.
Na música, a diversidade dá as cartas. Haverá o pop rock consagrado das bandas Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta, Retrofoguetes, Anacê e Banda de Rock. O samba do Recôncavo marca presença com o grupo Barlavento, assim como o jazz instrumental de Luizinho Assis, o hip hop do DJ Bandido (com intervenções do grafiteiro Denissena) e a MPB da cantora Simone Mota.
Teatro, circo e manifesto
Quem preferir teatro poderá assistir à Saga de Soraia, peça que será apresentada pelos premiados atores Aícha Marques e André Tavares. Pocket-play inspirada em antigos desenhos animados, conta a história da personagem-título, uma jovem nascida no subúrbio ferroviário que sonha em morar na Pituba.
Já a trupe de circo Malabares & Cia, especializado em apresentações de rua, promete trazer para a sua esquina o fascínio circense, lançando mão de vários tipos de performances.
Com essa movimentação toda, Cássia e Roger pretendem chamar a atenção do público para a necessidade de se ocupar as ruas de forma consciente e respeitosa. “Somos educadores e lidamos com cidadania e adolescentes e percebemos que, hoje em dia, os espaços públicos são tomados de uma forma que não beneficia o público“, avalia.
No evento será distribuído o Manifesto Hoje É Dia de Esquina!, que toca em assuntos importantes como barracas de praia, pontos de ônibus, praças e poluição sonora – certamente, um dos problemas mais sérios da Salvador contemporânea.
SERVIÇO
O quê: Hoje É Dia de Esquina! Para Humanizar a Cidade
Quem: 10 performances artísticas em apresentação simultânea:
1) Aicha Marques e André Tavares – Teatro
2) Anacê – Música
3) Banda de Rock – Música
4) Barlavento – Música
5) DJ Bandido e Denissena – Hip Hop e Grafite
6) Luizinho Assis – Música
7) Malabares & Cia – Grupo de Circo
8) Retrofoguetes – Música
9) Ronei Jorge e Os Ladrões de Bicicleta – Música
10) Simone Mota – Música
Quando: 17/11/2009 (terça-feira)
Horário: 19h00 às 20h30
Onde: Esquinas da Avenida Manoel Dias da Silva, entre as ruas Bahia e Piauí
Gratuito, aberto ao público, livremente nas ruas da cidade
http://diadeesquina.blogspot.com
http://twitter.com/diadeesquina
quinta-feira, novembro 12, 2009
Cariocas e africanos: novas cores nas HQs
Apesar de todo o avanço que as histórias em quadrinhos têm experimentado nas últimas décadas, aproximando-se cada vez da literatura e da linguagem adulta – deixando para trás a visão estreita de quem acha que são feitos apenas para crianças – ainda há poucas obras que dêem conta de questões “sérias“ como raça, miscigenação, racismo e mesmo da África enquanto continente, em oposição à visão colonialista da terra exótica, cheia de animais selvagens, tribos canibais, mistérios e perigos.
Essa lacuna vai aos poucos sendo preenchida com o lançamento de álbuns como os recém-chegados às livrarias Negrinha (Desiderata) e Aya de Yopougon (L&PM).
O primeiro, assinado por Jean-Christophe Camus (roteiro) e Olivier Tallec (arte), é em parte baseado na história da mãe e da avó de Camus, brasileiras que viviam no Rio de Janeiro do anos 50.
Já Aya de Yopougon, de Marguerite Abouet (roteiro) e Clément Oubrerie (arte), retrata a juventude da primeira, natural da Costa do Marfim, que vive em Paris já há algum tempo. No livro, Marguerite mostra um pouco da sua juventude no país situado na costa oeste do continente africano. O álbum da L&PM é o primeiro de uma série de quatro, a serem lançados posteriormente.
Ao seu modo, cada um deles oferece sua visão de negritude de acordo com o ambiente cultural e temporal em que as suas histórias se desenrolam: Negrinha, no Rio dos anos 50 e Aya, na Costa do Marfim, em 1979.
Jean-Christophe Camus, como ele mesmo diz na entrevista ao lado, fez Negrinha como parte de suas pesquisas sobre a sociedade brasileira, temas que lhe interessam pela ligação parental. Seu pai foi ninguém menos que o premiado cineasta francês Marcel Camus (1912-1982) , autor do clássico filme Orfeu do Carnaval (1960, Palma de Ouro em Cannes e Oscar de Melhor Filme Estrangeiro).
Fascinado pela cultura afro-brasileira, Marcel acabou gerando Jean-Christophe de sua união com a brasileira Lourdes de Oliveira. Em Negrinha, ele conta um pouco como era a vida de sua mãe, mulata, e sua avó, negra que trabalhava de doméstica naquele Rio de Janeiro idílico dos anos 50.
Com muito esforço, Olinda (personagem baseada na sua avó) conseguia criar Maria estudando na melhores escolas e frequentando aulas de balé entre o que restava da aristocracia carioca daquela época.
Ao desejar apenas o melhor para sua filha, Olinda a mantinha longe do Morro do Cantagalo (atual Pavão-Pavãozinho) onde nasceu. "Você não é uma negrinha; é morena, é quase branca", dizia Olinda para Maria.
Ainda assim, um dia, Maria conhece Toquinho, um menino do Cantagalo, vendendo amendoim na praia. Bom de samba, Toquinho encanta a menina, que tem pena de sua condição. Olinda, claro, faz de tudo para afastar os dois jovens.
Contudo, fica evidente o carinho do autor para com seus personagens. Mesmo Olinda, que poderia ser retratada como uma vilã, é na verdade, uma mulher pobre de boa alma, que todos os dias reza por todos os que conhece, incluindo o próprio Toquinho e Dona Ruth, a dondoca falida que ela acaba por acolher em seu próprio apartamento e ainda assim, a trata como empregada.
A arte de Olivier Tallec, baseada em fotos de família de Camus, do Rio dos anos 50 e de uma viagem que ele mesmo fez à cidade, é de encher os olhos: ensolarada, carregada de expressão.
Claro que não dá para exigir um tratado profundo sobre o preconceito racial no Brasil de uma dupla de quadrinistas franceses. Para se garantir, contudo, Camus consultou bastante Antonio Carlos Amâncio, um teórico do cinema, doutorado pela USP com uma tese sobre a representação do Brasil no cinema estrangeiro de ficção, como bem levantou Jotabê Medeiros, do jornal Estado de São Paulo.
Aya de Yopougon
Longe dos conflitos tribais, massacres e campos de refugiados que costumam ser a tônica do noticiário sobre a África, as gazelas da Costa do Marfim em 1979 só queriam saber de rebolar suas tassabas nos maquis, enquanto saboreavam alocôs com kutukus enquanto ficavam de olho nos genitôs.
Traduzindo: as meninas rebolavam suas bundas nos restaurantes ao ar livre onde se pode dançar, comendo banana frita em rodelas com vinho de palma, enquanto ficavam de olho nos rapazes com dinheiro para gastar. Assim é Aya de Yopougon: uma viagem divertida e leve à uma África colorida, sem fome ou guerras. Uma boa novidade para quem procura diversidade nas HQs.
No fim do livro, a autora incluiu uma série de “extras“ sobre a cultura, a culinária e a moda da Costa do Marfim. De início, há um pequeno léxico para entender melhor a história, com várias gírias locais como dye (bêbado), bodjô (bunda) e dêh (exclamação). Segue um guia ilustrado de como usar panos coloridos como sáris ou amarrados na cabeça. Outra dica útil (e ilustrado) ensina as meninas a rebolar a tassaba (bunda) ao caminhar. Seguem receitas de gnamankudji (suco de gengibre, afrodisíaco) e sopa de amendoim, que leva carne de boi, pasta de amendoim e especiarias.
Negrinha / Jean-Christophe Camus e Olivier Tallec / Trad.: Fernanda Abreu / Desiderata / 104 p. / R$ 44,90
Aya de Yopougon / Marguerite Abouet e Clément Oubrerie / Trad.: Júlia da Rosa Simões / L&PM / 112 p. / R$ 38
ENTREVISTA: JEAN-CHRISTOPHE CAMUS
Não fosse o fato de Negrinha ser publicada no Brasil, o franco-brasileiro Jean-Christophe Camus correria o risco de passar o resto de sua vida como um ilustre desconhecido na terra-natal de sua mãe – e onde seu pai, o cineasta Marcel Camus, realizou o clássico Orfeu Negro (1959),filme premiado com a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Ensinado pelo pai desde criança a admirar e respeitar o povo negro, Camus é fã da música brasileira e é leitor de Gilberto Freyre. Nascido em 1962, é diretor artístico da editora francesa Éditions Delcourt desde sua fundação, em 1986. Em 1990, fundou o escritório de design gráfico Trait Pour Trait, ao lado de Guy Delcourt.
P: Lendo Negrinha, percebe-se que os autores têm um olhar muito terno para seus personagens, incluindo aqueles que poderiam ser retratados como “vilões“, como Olinda. Isso foi uma escolha consciente ou simplesmente aconteceu assim?
JC CAMUS: Foi uma escolha consciente. Olinda sabe que deve se sacrificar para prover uma vida melhor para sua filha. Ela daria sua vida por Maria. Ela é sua razão para viver, trabalhar, rezar. Queríamos uma mulher com uma face boa e má (ao mesmo tempo), com dúvidas, como qualquer pessoa. Às vezes, os pais precisam fazer escolhas ruins pelo bem dos seus filhos. É parte da dificuldade de ser mãe ou pai. Tentamos fazer o melhor – e às vezes, estamos errados.
P: Por que (a história é ambientada no) Rio de Janeiro dos anos 50? Foi a aura mítica? Mais fácil de encontrar referências fotográficas? Sua mãe é brasileira. Ela era uma jovem no Rio dos anos 50 como Maria?
JC CAMUS: Sim, minha mãe e minha avó tinham mais ou menos essas idades (dos personagens) nos anos 50, quando moravam em Copacabana. Essa é a única razão do período escolhido. Eu dei à ele (Olivier Tallec) algumas fotos da minha família daquela época e ele buscou ainda outras fotos e foi ao Rio também. Também mostrei a ele o maravilhoso filme Rio, 40 Graus (1955). Negrinha é inspirado na história da minha mãe e avó, mas toda a parte do Toquinho e da favela é ficção. Minha mãe nunca foi à favela. Mas minha avó ficava muito orgulhosa quando pensavam que ela era babá da minha mãe, até que ela se tornasse adulta!
P: Negrinha aborda com rara sensibilidade temas cruciais do Brasil, como raça e miscigenação. Aqui, o racismo nunca foi aberto, como na África do Sul ou EUA, e o senhor se mostrou muito a par de como as coisas se dão por aqui. Foi sua mãe quem te contou sobre isso?
JC CAMUS: Minha mãe nunca falava disso, mas estou a par disso já há muito tempo. Nasci e vivo na França, mas me sinto brasileiro também. Estou tentando entender a miscigenação brasileira. Li há alguns anos o livro do Gilberto Freyre, Maîtres et esclaves. Acho que é Casa Grande & Senzala em português. Estou sempre pesquisando e tentando entender minhas raízes. O livro é parte disso. Já estive no Brasil de férias, mas nunca morei por aí. Quem sabe um dia? Mas já estive em Salvador por dez dias, no Carnaval. Adorei! Meu pai (Marcel Camus) era diretor (de cinema). Ele era branco, mas fez um filme, Orfeu Negro, só com atores negros. Ele adorava o povo e a cultura negras. Sempre dizia para mim e meu irmão: ‘negro é lindo, cabelo pixaim também‘. Ele dizia que devemos ter orgulho de nossa parte negra.
P: Você e Olivier estão agora trabalhando numa continuação para Negrinha?
JC CAMUS: Sim, estamos trabalhando em Negrinha 2. Se der tudo certo, vai para as livrarias francesas em setembro ou outubro de 2010. Se não mudarmos nada na história também, Maria voltará à favela e ainda fará uma viagem à Minas Gerais. Mais não conto, para não estragar a surpresa!
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