Essa é para levantar as mãos para o céu em agradecimento: o Mudhoney, uma das bandas mais importantes da geração grunge de Seattle, virá a Salvador no dia 15 de outubro, uma quarta-feira, para tocar no festival Boom Bahia, na Praça Teresa Batista, Pelourinho.
A revelação foi feita pelo produtor do festival, Messias Guimarães Bandeira. Ele ainda não sabe dizer se, a exemplo do Boom Bahia do ano passado, a entrada será gratuita, pois “isso ainda depende de captação de recursos. Mas nossa intenção é fazer o festival todo de graça para o público“, garante.
Realizado em duas ocasiões na década de 90 e retomado somente no ano passado com o apoio do Pelourinho Cultural, o Boom Bahia 2008 por enquanto só tem confirmados o nome do Mudhoney, a data e o local (Pça. Teresa Batista). “Na verdade, o festival ia ser em novembro, mas a confirmação do Mudhoney precipitou tudo, então estamos redefinindo o line up a partir disso“, explicou Messias.
Ícone do grunge, o Mudhoney é um símbolo de resistência e independência no cenário alternativo, com seu musculoso rock de garagem, fortemente influenciado pelos Stooges de Iggy Pop, o heavy metal e o pré-punk dos anos 60. Era também uma das bandas preferidas de Kurt Cobain, que sempre a citava como influência.
Mais importante ainda: não é uma banda decadente em fim de carreira, apesar de já contar com mais de 20 anos de estrada. Seu CD mais recente, The Lucky Ones (2008), é uma tremenda pedrada.
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
sábado, agosto 30, 2008
QUASE PALAVRAS PARA BONS ENTENDEDORES
Tom Zé volta à Bahia para lançar na Concha seu último CD, Danç-Êh-Sá, e falar para estudantes, com abertura da banda local Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta
Da última vez que ele esteve aqui – para cantar no palco flutuante , armado no Porto da Barra – esteve tão longe do público, que “levava uns 15 minutos até conseguir ouvir os aplausos“. Desta vez, Tom Zé vai ficar bem mais perto dos fãs ao tocar amanhã na Concha Acústica, com abertura da banda Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta.
O ícone do Tropicalismo vem, finalmente, lançar seu último CD, Danç-Êh-Sá; A Dança dos Herdeiros do Sacrifício. “Tô contente por que tô voltando pra Bahia. Da última vez, mal conseguia ver o público. Só via umas sombras na balaustrada do Porto da Barra“, lembra Tom Zé, citando o show em homenagem aos 40 anos da bossa nova, ocorrido em fevereiro último.
Desta vez, nada de homenagens. “Vai ser o show de lançamento do CD, que ainda não tinha rolado a oportunidade de fazer aí“, avisa.
Em Danç-Êh-Sá, Tom Zé surpreendeu mais uma vez, ao produzir um álbum inteiro sem letras, só grunhidos (ou tartamudeios, como ele mesmo define), exclamações e onomatopéias.
“A intenção era fazer um disco sem texto nem letras. Os tartamudeios são apenas sinais com os quais a gente se comunica no dia a dia. Não chegam a ser palavras, mas são universais. Um espirro é um espirro em qualquer lugar do mundo, seja aqui ou numa tribo de aborígenes australianos ou na reserva indígena de Roraima“, explica.
Entre as faixas que devem aparecer no show, estão Taka-Tá, Uai Uai, Atchim, Triú-Triii, Cara-Cuá e Abrindo as Urnas.
Um pouco antes do som, porém, o cantor fará uma pequena aula-show, dentro do fórum Universidade, Juventude e Diversidade, promovido pela Coordenadoria de Ações Afirmativas, Educação e Diversidade da Universidade Federal da Bahia . “Que aula, nada. Isso é muito formal. Prefiro chamar de desaula“, brinca o artista.
Estudando a bossa – E já em outubro, Tom Zé lança seu novo CD, Estudando a Bossa Nova, uma espécie de continuação dos seus álbuns de investigação musical, a exemplo dos anteriores Estudando o Samba (1976) e Estudando o Pagode (2005).
“Vai ter 14 faixas. Doze em dueto com cantoras, uma com o David Byrne e uma só comigo mesmo“. Entre as cantoras, nomes atuais e conceituados, como Zélia Duncan, Andréa Diaz, Tita Lima, Mônica Salmaso, Badi Assad “e aquela menina maravilhosa de Minas Gerais, a (Fernanda) Takai. Ah, e tem também aquela cubana, (Marina) De La Riva. Essa cantou um puta bolero bossa nova, ficou sensacional“, conta.
Sobre a banda que abre seu show amanhã, Ronei Jorge & OLDB, o cantor é só elogios. “Ouvi o trabalho deles e achei muito bom. Se der tempo, vamos ensaiar alguma coisa juntos na passagem de som“, acena o cantor.
“Nossa, se rolar da gente se bater lá e se encontrar no palco, a honra vai ser toda minha, imagine“, devolve Ronei Jorge.
Além da oportunidade de tocar no mesmo palco que o ídolo tropicalista, sem dúvida uma influência para sua banda, Ronei considera o show de amanhã especial também por outra razão.
“Seremos cinco no palco. O Juninho, guitarrista da banda Subaquáticos e que também toca com Carlinhos Brown e Ivete Sangalo, vai fazer esse show inteiro com a gente“, avisa. “É uma vontade antiga nossa, de adicionar mais um músico à banda“, esclarece.
Ainda em fase de pré-produção do segundo CD, Ronei diz que o repertório do show vai privilegiar as músicas novas. “Mas vamos tocar pelo menos duas antigas, também“, garante.
Tom Zé e Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta
Hoje, 18 horas
Concha Acústica do Teatro Castro Alves (3535-0600)
Praça Dois de Julho,s/n , Campo Grande
Ingresso: 1 quilo de alimento não-perecível
Da última vez que ele esteve aqui – para cantar no palco flutuante , armado no Porto da Barra – esteve tão longe do público, que “levava uns 15 minutos até conseguir ouvir os aplausos“. Desta vez, Tom Zé vai ficar bem mais perto dos fãs ao tocar amanhã na Concha Acústica, com abertura da banda Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta.
O ícone do Tropicalismo vem, finalmente, lançar seu último CD, Danç-Êh-Sá; A Dança dos Herdeiros do Sacrifício. “Tô contente por que tô voltando pra Bahia. Da última vez, mal conseguia ver o público. Só via umas sombras na balaustrada do Porto da Barra“, lembra Tom Zé, citando o show em homenagem aos 40 anos da bossa nova, ocorrido em fevereiro último.
Desta vez, nada de homenagens. “Vai ser o show de lançamento do CD, que ainda não tinha rolado a oportunidade de fazer aí“, avisa.
Em Danç-Êh-Sá, Tom Zé surpreendeu mais uma vez, ao produzir um álbum inteiro sem letras, só grunhidos (ou tartamudeios, como ele mesmo define), exclamações e onomatopéias.
“A intenção era fazer um disco sem texto nem letras. Os tartamudeios são apenas sinais com os quais a gente se comunica no dia a dia. Não chegam a ser palavras, mas são universais. Um espirro é um espirro em qualquer lugar do mundo, seja aqui ou numa tribo de aborígenes australianos ou na reserva indígena de Roraima“, explica.
Entre as faixas que devem aparecer no show, estão Taka-Tá, Uai Uai, Atchim, Triú-Triii, Cara-Cuá e Abrindo as Urnas.
Um pouco antes do som, porém, o cantor fará uma pequena aula-show, dentro do fórum Universidade, Juventude e Diversidade, promovido pela Coordenadoria de Ações Afirmativas, Educação e Diversidade da Universidade Federal da Bahia . “Que aula, nada. Isso é muito formal. Prefiro chamar de desaula“, brinca o artista.
Estudando a bossa – E já em outubro, Tom Zé lança seu novo CD, Estudando a Bossa Nova, uma espécie de continuação dos seus álbuns de investigação musical, a exemplo dos anteriores Estudando o Samba (1976) e Estudando o Pagode (2005).
“Vai ter 14 faixas. Doze em dueto com cantoras, uma com o David Byrne e uma só comigo mesmo“. Entre as cantoras, nomes atuais e conceituados, como Zélia Duncan, Andréa Diaz, Tita Lima, Mônica Salmaso, Badi Assad “e aquela menina maravilhosa de Minas Gerais, a (Fernanda) Takai. Ah, e tem também aquela cubana, (Marina) De La Riva. Essa cantou um puta bolero bossa nova, ficou sensacional“, conta.
Sobre a banda que abre seu show amanhã, Ronei Jorge & OLDB, o cantor é só elogios. “Ouvi o trabalho deles e achei muito bom. Se der tempo, vamos ensaiar alguma coisa juntos na passagem de som“, acena o cantor.
“Nossa, se rolar da gente se bater lá e se encontrar no palco, a honra vai ser toda minha, imagine“, devolve Ronei Jorge.
Além da oportunidade de tocar no mesmo palco que o ídolo tropicalista, sem dúvida uma influência para sua banda, Ronei considera o show de amanhã especial também por outra razão.
“Seremos cinco no palco. O Juninho, guitarrista da banda Subaquáticos e que também toca com Carlinhos Brown e Ivete Sangalo, vai fazer esse show inteiro com a gente“, avisa. “É uma vontade antiga nossa, de adicionar mais um músico à banda“, esclarece.
Ainda em fase de pré-produção do segundo CD, Ronei diz que o repertório do show vai privilegiar as músicas novas. “Mas vamos tocar pelo menos duas antigas, também“, garante.
Tom Zé e Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta
Hoje, 18 horas
Concha Acústica do Teatro Castro Alves (3535-0600)
Praça Dois de Julho,s/n , Campo Grande
Ingresso: 1 quilo de alimento não-perecível
quinta-feira, agosto 28, 2008
U2 3D, SÓ VIA AEROPORTO
Os irlandeses voltam a fazer barulho mundial com filme em 3D, CD novo e relançamentos em edições de luxo
Há quem ache que é a maior banda do mundo. Há quem ache o vocalista um chato de galochas. Mas impune, ninguém fica ao U2. Até porque o barulho que eles fazem na mídia em escala planetária, é, por assim dizer, ensurdecedor.
Só neste exato momento, o grupo se encontra estampando manchetes ao redor do mundo em pelo menos três frentes: o lançamento do filme U2 3D, a finalização de um novo CD com músicas inéditas e o relançamento dos três primeiros álbuns em reedições de luxo.
Há ainda o tardio lançamento do fantástico vídeo Under a Blood Red Sky - Live at Red Rocks (1983), que documenta o inesquecível show no anfiteatro de Red Rocks, localizado nas montanhas do Colorado (EUA).
Entre tochas, bandeiras e discursos inflamados, o vídeo documenta com muita emoção o auge da fase messiânica de Bono & Cia. A gravação será lançada em pelo menos quatro formatos: DVD, pacote com DVD e CD, CD e vinil.
3D – Já o filme U2 3D, que acaba de sair do forno, é dirigido por Catherine Owens e Mark Pellington e documenta o show de Buenos Aires da turnê Vertigo, que também passou por São Paulo em 2006, e promoveu o último álbum do grupo, How To Dismantle an Atomic Bomb (2004).
O filme apresenta 14 músicas executadas direto, uma atrás da outra, em cerca de uma hora e vinte de ação no palco, sem entrevistas, imagens de bastidores ou outras frescuras que costumam aparecer em filmes do tipo. Estão lá, desde hits clássicos como Pride (In The Name Of Love), New Year‘s Day e One, até sucessos mais recentes, como Sometimes You Can´t Make on Your Own, Vertigo e Beautiful Day.
Detalhe: tudo isso, incluindo a faraônica produção que caracteriza os shows do U2, foi capturado por câmeras digitais com tecnologia 3D (três dimensões), o que aproxima sobremaneira o público do que acontece na tela.
Relatos na internet de quem já viu o filme dão conta de que a sensação é de que o espectador vai esbarrar com algum membro da banda a qualquer momento. Concebido para ser assistido somente nas salas digitais com tecnologai 3D, o filme não será sequer lançado em DVD.
A nota dissonante, pelo menos para os apreciadores baianos do grupo, é que Salvador não dispõe de salas de cinema digitais, quanto mais de salas digitais com tecnologia 3D.
Ou seja: quem quiser assistir U2 3D da forma como foi idealizado pelos seus criadores, deve tomar o caminho do Aeroporto Luís Eduardo Magalhães e rumar para o Rio de Janeiro, São Paulo ou Florianópolis, as únicas cidades brasileiras que dispõem de salas do tipo. A estréia é amanhã.
Linha do horizonte – Sobre o novo álbum em si, as notícias ainda são um tanto vagas. De certo mesmo, só a data de lançamento, que é na segunda quinzena de novembro, e o título: No Line on the Horizon. Os produtores são os velhos parceiros Brian Eno e Daniel Lanois.
Contudo, quatro faixas, em gravação sofrível, já vazaram na rede mundial de computadores. A história desse “vazamento“, aliás, é tão divertida, que dá até para desconfiar se não se trata de uma jogada marketeira do grupo para ir “aquecendo“ o público até o lançamento.
Consta que Bono ouvia as tais quatro faixas com o volume bem alto, na tranquilidade do lar, em sua casa de praia no sul da França, quando um jovem holandês de férias passou pela casa, reconheceu a voz e imediatamente sacou do celular e gravou tudo, inclusive ruídos de fundo, o barulho do mar e o grasnar das gaivotas.
As faixas já têm até título: Sexy Boots, Moment Of Surrender, For Your Love e No Line On The Horizon, que dá nome ao CD.
Claro que, apenas momentos após o holandês malandro postar as faixas no You Tube, elas foram retiradas do ar por questões de direitos autorais. Como na internet nada se perde, tudo se copia e se cola em outro lugar, as quatro músicas novas do U2 ainda circulam livremente por aí.
Primórdio revisitado – Mas quem achou os últimos CDs do U2 meia-boca vai gostar mesmo é dessa notícia: os três primeiros álbuns dos irlandeses, Boy (1980), October (1981) e War (1983) estão sendo relançados em edições duplas de luxo.
No disco um, o álbum original, remasterizado. Já no disco dois, o fã encontrará lados B de singles, gravações ao vivo e raridades. A edição simples sai também em vinil – no Reino Unido, claro. Acompanha ainda um encarte com 36 páginas recheadas de informações sobre a gravação de cada álbum, naquele momento específico da banda.
Ainda não há informações sobre o lançamento desse material no Brasil, mas, dado o bom histórico de vendas da banda por aqui, Boy, October e War nas edições duplas não devem demorar de chegar às lojas. Por enquanto, já dá para adquirir em lojas on line como a Amazon, por US$ $23.99, em média.
Produzidos por Steve Lillywhite – que se reuniu ao grupo em 2004 para produzir How To Dismantle an Atomic Bomb – os primeiros álbuns do U2 são três jóias do pós-punk britânico: angulosos, ásperos, diretos e imaturos (com exceção do War), no melhor sentido da palavra.
No meio de todo esse ruído de mídia, ainda há quem encontre tempo e disposição para protestar contra a mania do Bono Vox de querer salvar o mundo.
O site The Point.Com lançou um abaixo-assinado on line pedindo que o vocalista cesse suas campanhas solidárias pela África. Segundo a petição, a organização RED, criada por Bono, gasta mais dinheiro em publicidade do que ajudando aos necessitados.
U2: OS 3 PRIMEIROS ÁLBUNS RELANÇADOS
Boy (1980)
Os garotos dublinenses que viriam a conquistar o mundo surgiram com este álbum, em que se destacam os hits I Will Follow (um verdadeiro hino) e The Electric Co. Logo de cara, a voz marcante de Bono e a guitarra personalíssima de The Edge se destacam.
October (1981)
Mais confiantes, Bono & Cia chegam ao 2º álbum cravando pequenas pérolas como Gloria, I Fall Down, I Threw a Brick Through a Window, Fire e Rejoice, entre outras. Há quem ache este o disco mais fraco da 1ª fase, mas a força de suas canções é inegável.
War (1983)
O LP que é o auge da 1ª fase é também o apogeu da viagem messiânica de Bono. Como esquecer o impacto de Sunday Bloody Sunday e New Year‘s Day? Destacam-se ainda Two Hearts Beat As One e 40. Daí em diante, o U2 entraria na sua fase americana, de (re)descoberta das raízes do rock...
Há quem ache que é a maior banda do mundo. Há quem ache o vocalista um chato de galochas. Mas impune, ninguém fica ao U2. Até porque o barulho que eles fazem na mídia em escala planetária, é, por assim dizer, ensurdecedor.
Só neste exato momento, o grupo se encontra estampando manchetes ao redor do mundo em pelo menos três frentes: o lançamento do filme U2 3D, a finalização de um novo CD com músicas inéditas e o relançamento dos três primeiros álbuns em reedições de luxo.
Há ainda o tardio lançamento do fantástico vídeo Under a Blood Red Sky - Live at Red Rocks (1983), que documenta o inesquecível show no anfiteatro de Red Rocks, localizado nas montanhas do Colorado (EUA).
Entre tochas, bandeiras e discursos inflamados, o vídeo documenta com muita emoção o auge da fase messiânica de Bono & Cia. A gravação será lançada em pelo menos quatro formatos: DVD, pacote com DVD e CD, CD e vinil.
3D – Já o filme U2 3D, que acaba de sair do forno, é dirigido por Catherine Owens e Mark Pellington e documenta o show de Buenos Aires da turnê Vertigo, que também passou por São Paulo em 2006, e promoveu o último álbum do grupo, How To Dismantle an Atomic Bomb (2004).
O filme apresenta 14 músicas executadas direto, uma atrás da outra, em cerca de uma hora e vinte de ação no palco, sem entrevistas, imagens de bastidores ou outras frescuras que costumam aparecer em filmes do tipo. Estão lá, desde hits clássicos como Pride (In The Name Of Love), New Year‘s Day e One, até sucessos mais recentes, como Sometimes You Can´t Make on Your Own, Vertigo e Beautiful Day.
Detalhe: tudo isso, incluindo a faraônica produção que caracteriza os shows do U2, foi capturado por câmeras digitais com tecnologia 3D (três dimensões), o que aproxima sobremaneira o público do que acontece na tela.
Relatos na internet de quem já viu o filme dão conta de que a sensação é de que o espectador vai esbarrar com algum membro da banda a qualquer momento. Concebido para ser assistido somente nas salas digitais com tecnologai 3D, o filme não será sequer lançado em DVD.
A nota dissonante, pelo menos para os apreciadores baianos do grupo, é que Salvador não dispõe de salas de cinema digitais, quanto mais de salas digitais com tecnologia 3D.
Ou seja: quem quiser assistir U2 3D da forma como foi idealizado pelos seus criadores, deve tomar o caminho do Aeroporto Luís Eduardo Magalhães e rumar para o Rio de Janeiro, São Paulo ou Florianópolis, as únicas cidades brasileiras que dispõem de salas do tipo. A estréia é amanhã.
Linha do horizonte – Sobre o novo álbum em si, as notícias ainda são um tanto vagas. De certo mesmo, só a data de lançamento, que é na segunda quinzena de novembro, e o título: No Line on the Horizon. Os produtores são os velhos parceiros Brian Eno e Daniel Lanois.
Contudo, quatro faixas, em gravação sofrível, já vazaram na rede mundial de computadores. A história desse “vazamento“, aliás, é tão divertida, que dá até para desconfiar se não se trata de uma jogada marketeira do grupo para ir “aquecendo“ o público até o lançamento.
Consta que Bono ouvia as tais quatro faixas com o volume bem alto, na tranquilidade do lar, em sua casa de praia no sul da França, quando um jovem holandês de férias passou pela casa, reconheceu a voz e imediatamente sacou do celular e gravou tudo, inclusive ruídos de fundo, o barulho do mar e o grasnar das gaivotas.
As faixas já têm até título: Sexy Boots, Moment Of Surrender, For Your Love e No Line On The Horizon, que dá nome ao CD.
Claro que, apenas momentos após o holandês malandro postar as faixas no You Tube, elas foram retiradas do ar por questões de direitos autorais. Como na internet nada se perde, tudo se copia e se cola em outro lugar, as quatro músicas novas do U2 ainda circulam livremente por aí.
Primórdio revisitado – Mas quem achou os últimos CDs do U2 meia-boca vai gostar mesmo é dessa notícia: os três primeiros álbuns dos irlandeses, Boy (1980), October (1981) e War (1983) estão sendo relançados em edições duplas de luxo.
No disco um, o álbum original, remasterizado. Já no disco dois, o fã encontrará lados B de singles, gravações ao vivo e raridades. A edição simples sai também em vinil – no Reino Unido, claro. Acompanha ainda um encarte com 36 páginas recheadas de informações sobre a gravação de cada álbum, naquele momento específico da banda.
Ainda não há informações sobre o lançamento desse material no Brasil, mas, dado o bom histórico de vendas da banda por aqui, Boy, October e War nas edições duplas não devem demorar de chegar às lojas. Por enquanto, já dá para adquirir em lojas on line como a Amazon, por US$ $23.99, em média.
Produzidos por Steve Lillywhite – que se reuniu ao grupo em 2004 para produzir How To Dismantle an Atomic Bomb – os primeiros álbuns do U2 são três jóias do pós-punk britânico: angulosos, ásperos, diretos e imaturos (com exceção do War), no melhor sentido da palavra.
No meio de todo esse ruído de mídia, ainda há quem encontre tempo e disposição para protestar contra a mania do Bono Vox de querer salvar o mundo.
O site The Point.Com lançou um abaixo-assinado on line pedindo que o vocalista cesse suas campanhas solidárias pela África. Segundo a petição, a organização RED, criada por Bono, gasta mais dinheiro em publicidade do que ajudando aos necessitados.
U2: OS 3 PRIMEIROS ÁLBUNS RELANÇADOS
Boy (1980)
Os garotos dublinenses que viriam a conquistar o mundo surgiram com este álbum, em que se destacam os hits I Will Follow (um verdadeiro hino) e The Electric Co. Logo de cara, a voz marcante de Bono e a guitarra personalíssima de The Edge se destacam.
October (1981)
Mais confiantes, Bono & Cia chegam ao 2º álbum cravando pequenas pérolas como Gloria, I Fall Down, I Threw a Brick Through a Window, Fire e Rejoice, entre outras. Há quem ache este o disco mais fraco da 1ª fase, mas a força de suas canções é inegável.
War (1983)
O LP que é o auge da 1ª fase é também o apogeu da viagem messiânica de Bono. Como esquecer o impacto de Sunday Bloody Sunday e New Year‘s Day? Destacam-se ainda Two Hearts Beat As One e 40. Daí em diante, o U2 entraria na sua fase americana, de (re)descoberta das raízes do rock...
terça-feira, agosto 26, 2008
TEENAGERS, DEPOIS DE 40 ANOS DE INFÂNCIA
Maurício de Sousa lança versão mangá e adolescente da Turma da Mônica
O que parecia impossível aconteceu: Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali cresceram e agora são agitados adolescentes. Essa é a proposta da nova empreitada de Maurício de Sousa, o maior e mais bem sucedido quadrinista do Brasil, desenvolvida na revista Turma da Mônica Jovem, recém-chegada às bancas.
A revista faz parte da estratégia de diversificação de produtos que empresário vem desenvolvendo desde que transferiu sua Maurício de Sousa Produções para a multinacional italiana Panini Comics, após vinte anos na Editora Globo, da família de Roberto Marinho.
Além dos tradicionais gibis da Mônica, Cebolinha e Chico Bento, entre outros, Maurício vem apostando numa série de outras revistas dirigidas aos público adolescente, como minisséries de aventura – em formato americano, maior – com a personagem Tina encarnando uma Lara Croft suavizada ou mesmo especiais como A Turma da Mônica em Lostinho: Perdidinhos nos Quadrinhos, uma brincadeira com o popular seriado americano Lost.
Em Turma da Mônica Jovem, leitores de todas as idades poderão, no mínimo, saciar sua curiosidade para saber como ficariam os personagens depois de crescidos, numa linguagem próxima ao mangá, estilo de HQ, que é, de longe, o preferido pelos adolescentes de hoje.
Mônica continua dentucinha, mas cresceu e se tornou uma charmosa adolescente. Aposentou Sansão, o coelhinho de pelúcia azul, e se controla para não perder as estribeiras, como fazia quando criança. Cebolinha agora é só Cebola. Seus cabelos cresceram, mas sua voz, ou melhor, sua dislalia – disfunção que o faz trocar os erres pelos eles – é quase a mesma. Na verdade, agora ele só fala elado quando fica nervoso, o que costuma acontecer quando alguma menina bonita fala com ele, inclusive a Mônica.
Cascão agora toma banho – longos e demorados banhos, como todo adolescente – e agora é um o skatista mais descolado do bairro do Limoeiro, onde mora a turma. E Magali, a menina que simplesmente não parava de comer, hoje segue uma dieta balanceada, com muita comida natural no cardápio.
Outros personagens também dão o ar de sua renovada graça, como o Anjinho, que agora só que ser chamado de Céuboy. Ou mesmo o Louco, que se tornou o professor da turma.
Só pela ousadia de mexer em personagens tão bem estabelecidos há décadas, Maurício já merece aplausos. Amigo pessoal do japonês Osamu Tesuka (1928-1989), o papa do mangá, ele não teve dúvidas em adotar esta linguagem de HQ para dar vida às novas versões dos seus personagens.
Por enquanto, porém, excetuando-se os olhos enormes, as expressões cômicas exageradas, pontilhismos e hachuras características, ainda há pouco de mangá na encarnação adolescente de Mônica e cia.
Mas como o próprio Maurício diz, no texto de apresentação da revista, “em alguns pontos da criação, ainda estaremos tateando na busca das histórias, temas e posicionamento dos personagens“.
Maurício está certo, pois apesar de promissora, alguns ajustes temáticos e de tom precisam ser feitos. Em suas cento e poucas páginas, a revista começa muito bem no início, quando aposta no tom de comédia romântica adolescente. Porém, quando investe na aventura fantástica, se infantiliza de forma demasiada para uma revista que, pressupõe-se, seja voltada para o público adolescente.
Assim, ela corre o risco de não conquistar nem o público infantil, nem o adolescente. De qualquer forma, vale conhecer a Turma da Mônica Jovem, pela ousadia de Maurício em mexer de forma tão radical nos seus “filhos“. “Estou adorando a experimentação“, conclui Maurício, ainda jovem como seus personagens.
Turma da Mônica Jovem
Estúdios Maurício de Sousa
Panini Comics / MSP
R$ 5,90
www.turmadamonicajovem.com.br
O que parecia impossível aconteceu: Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali cresceram e agora são agitados adolescentes. Essa é a proposta da nova empreitada de Maurício de Sousa, o maior e mais bem sucedido quadrinista do Brasil, desenvolvida na revista Turma da Mônica Jovem, recém-chegada às bancas.
A revista faz parte da estratégia de diversificação de produtos que empresário vem desenvolvendo desde que transferiu sua Maurício de Sousa Produções para a multinacional italiana Panini Comics, após vinte anos na Editora Globo, da família de Roberto Marinho.
Além dos tradicionais gibis da Mônica, Cebolinha e Chico Bento, entre outros, Maurício vem apostando numa série de outras revistas dirigidas aos público adolescente, como minisséries de aventura – em formato americano, maior – com a personagem Tina encarnando uma Lara Croft suavizada ou mesmo especiais como A Turma da Mônica em Lostinho: Perdidinhos nos Quadrinhos, uma brincadeira com o popular seriado americano Lost.
Em Turma da Mônica Jovem, leitores de todas as idades poderão, no mínimo, saciar sua curiosidade para saber como ficariam os personagens depois de crescidos, numa linguagem próxima ao mangá, estilo de HQ, que é, de longe, o preferido pelos adolescentes de hoje.
Mônica continua dentucinha, mas cresceu e se tornou uma charmosa adolescente. Aposentou Sansão, o coelhinho de pelúcia azul, e se controla para não perder as estribeiras, como fazia quando criança. Cebolinha agora é só Cebola. Seus cabelos cresceram, mas sua voz, ou melhor, sua dislalia – disfunção que o faz trocar os erres pelos eles – é quase a mesma. Na verdade, agora ele só fala elado quando fica nervoso, o que costuma acontecer quando alguma menina bonita fala com ele, inclusive a Mônica.
Cascão agora toma banho – longos e demorados banhos, como todo adolescente – e agora é um o skatista mais descolado do bairro do Limoeiro, onde mora a turma. E Magali, a menina que simplesmente não parava de comer, hoje segue uma dieta balanceada, com muita comida natural no cardápio.
Outros personagens também dão o ar de sua renovada graça, como o Anjinho, que agora só que ser chamado de Céuboy. Ou mesmo o Louco, que se tornou o professor da turma.
Só pela ousadia de mexer em personagens tão bem estabelecidos há décadas, Maurício já merece aplausos. Amigo pessoal do japonês Osamu Tesuka (1928-1989), o papa do mangá, ele não teve dúvidas em adotar esta linguagem de HQ para dar vida às novas versões dos seus personagens.
Por enquanto, porém, excetuando-se os olhos enormes, as expressões cômicas exageradas, pontilhismos e hachuras características, ainda há pouco de mangá na encarnação adolescente de Mônica e cia.
Mas como o próprio Maurício diz, no texto de apresentação da revista, “em alguns pontos da criação, ainda estaremos tateando na busca das histórias, temas e posicionamento dos personagens“.
Maurício está certo, pois apesar de promissora, alguns ajustes temáticos e de tom precisam ser feitos. Em suas cento e poucas páginas, a revista começa muito bem no início, quando aposta no tom de comédia romântica adolescente. Porém, quando investe na aventura fantástica, se infantiliza de forma demasiada para uma revista que, pressupõe-se, seja voltada para o público adolescente.
Assim, ela corre o risco de não conquistar nem o público infantil, nem o adolescente. De qualquer forma, vale conhecer a Turma da Mônica Jovem, pela ousadia de Maurício em mexer de forma tão radical nos seus “filhos“. “Estou adorando a experimentação“, conclui Maurício, ainda jovem como seus personagens.
Turma da Mônica Jovem
Estúdios Maurício de Sousa
Panini Comics / MSP
R$ 5,90
www.turmadamonicajovem.com.br
sábado, agosto 23, 2008
"QUERÍAMOS TRAZER A MÚSICA PARA O NOSSO TEMPO"
PHILLIP GLASS - O maior nome da música de concerto atual é o próximo convidado do projeto Fronteiras do Pensamento, que acontece no dia 3, na Sala Principal do TCA.
Ele é o supra-sumo do minimalismo, movimento tachado de “repetitivo“ pelos detratores e de “hipnótico“ pelos adeptos. Porém, é melhor não chamá-lo assim, pois certa vez, chegou a dizer que “essa palavra – minimalismo – deveria ser extinta“.
De fato, rótulo é para maionese. O que importa é que, há mais de 20 anos, Glass é, além de um dos compositores mais influentes do mundo, um dos mais requisitados para criar trilhas sonoras – seja para filmes, dança ou óperas. Sua Trilogia Qatsi, criada em parceria com o diretor Godffrey Reggio, composta pelos “filmes-paisagem“ Koyaanisqatsi (1983), Powaqqatsi (1988) e Naqoyqatsi (2002), são lembrados como um momento de absoluta simbiose entre música e imagem, um espetáculo para os sentidos.
Glass assinou óperas aclamadas por público e crítica, como Einstein on The Beach e Satyagraha (sobre a vida de Gandhi). Duas vezes indicado ao Oscar pelas trilhas de As Horas (2002) e O ilusionista (2006), levou um Globo de Ouro por O Show de Truman (1998), onde reaproveitou trechos da magnífica partitura criada para Mishima, Uma Vida Em 4 Capítulos (1985).
Familiarizado com o Brasil, também criou peças inspiradas em Itaipu, na Favela da Rocinha e no Grupo Corpo, além de colaborar com Marisa Monte. Nesta entrevista ao repórter Chico Castro Jr., ele fala sobre tudo isso e também sobre a conferência que dará no dia 3 de setembro no Teatro Castro Alves, dentro do ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento.
Pergunta | A obra do senhor varia dos espetáculos de dança à ópera, passando por trilhas sonoras, música de concerto e popular, demonstrando sempre muita intimidade com todos estes gêneros. Como o senhor consegue passear por tantos estilos diferentes, mantendo o seu próprio?
Phillip Glass | Tive muita sorte de trabalhar em um lugar com tanta gente talentosa. Foi fácil para mim conhecer muitas pessoas do mundo da música popular, fosse David Bowie, Paul Simon ou David Byrne. Todos eles estavam disponíveis para trabalharmos juntos. Tenho de dizer que pude faze-los por que estava trabalhando com pessoas talentosas que estavam interessadas em trabalhar comigo e também por que sempre aceitei suas propostas. Isso significa que tive que aprender muita coisa no caminho. Tive que estender minha linguagem musical para incluir esses gêneros de músicas os quais não tive um treinamento original.
Pergunta | Qual dessas pessoas famosas rendeu o melhor trabalho em parceria, na sua opinião?
PG | Não sei, cada uma dessas coisas tem seus momentos. Por exemplo, em cinema, quando trabalhei com Godffrey Reggio na Trilogia Qatsi, aquele foi um ponto alto. Também tem uma ópera sobre (Mahatma) Gandhi (1879-1955) e uma outra sobre a Guerra da Secessão (1861-1865). Esses foram pontos altos para mim. Uma coisa diferente que fiz foram alguns arranjos para Marisa Monte. Acho que fiz dois arranjos de cordas para ela este ano. Encontrei Marisa no Brasil, mas depois ela veio para Nova Iorque. Foi um bom momento. O filme As Horas (The Hours, 2002) também foi muito bom para trabalhar. Em cada uma dessas áreas em que trabalhei, certas peças se sobressaem. Não posso dizer que uma foi melhor que a outra, ainda que eu goste muito de trabalhar em óperas. Por que nelas, sou eu que seleciono com quem vou trabalhar. Escolho o libretista, o diretor de arte e o diretor. Então, tenho um pouco mais de controle, mas nem sempre.
Pergunta | Como o senhor vê o negócio da música hoje em dia, com o suposto fim do CD e a ascensão dos artistas na internet? O senhor baixa música na rede?
PG | Bom, eu também gosto de buscar música na internet. (Ri).
Pergunta | O senhor baixa música?
PG | Não exatamente canções, eu geralmente busco por colegas compositores, para ouvir o que eles andam fazendo. A internet é interessante. Acho que para os compositores ela tem sido bastante benéfica, mas também há algumas dificuldades. Como sempre, há boas e más notícias. (Risos) A boa é que os compositores podem disponibilizar seu trabalho para praticamente qualquer pessoa. A má é que, agora, há tanta música disponível que você mal sabe por onde começar. Para um jovem compositor, eu acho que é ótimo poder produzir CDs com mais facilidade e distribuir sua música. Mas ao mesmo tempo, é tanta música nova que eu sequer consigo ouvir tudo o que me enviam. É bom por um lado, porque não estamos mais sujeitos ao controle de grandes corporações como Sony e Universal. Até financeiramente, um compositor pode se dar melhor por si mesmo. Só não imaginamos que isso tornaria um mercado que já era enorme, numa coisa monstruosa. E há tanta gente talentosa, aqui mesmo temos muitas pessoas de talento. Mas muitas delas simplesmente se perderão, pois não teremos como encontrá-las. Talvez, com o tempo, haverá mecanismos para tornar os talentos genuínos mais fáceis de se encontrar, mas eu não sei o que poderia ser feito.
Pergunta | O senhor já escreveu duas peças inspiradas no Brasil, Itaipu (1989) e Days and Nights in Rocinha (1997)...
PG | Oh, mas tem uma outra.
Pergunta | É mesmo?
PG | Sim, fiz um trabalho pro (Grupo) Corpo, uma companhia de dança moderna de São Paulo. (Na verdade, o Grupo Corpo é de BH)
Pergunta | Ah, sim, Grupo Corpo.
PG | Corpo, yeah. Fiz uma peça para eles com o grupo (mineiro) Uakti. Escrevi a música, e eles, os arranjos. Também fiz a música para um filme de Monique Gardenberg (Jenipapo, 1995). Tenho algumas conexões com o Brasil.
Pergunta | Itaipu e Rocinha foram feitas por encomenda?
PG | Não! (Apressa-se).
Pergunta | Então o senhor visitou esses lugares?
PG | Visitei. Estive na Rocinha com amigos. Fui no ensaio de uma escola de samba. Teve um negócio lá que eu não lembro agora, mas que, na época me veio como uma idéia musical. Já sobre Itaipu, eu estive em Foz do Iguaçu e fiquei muito impressionado com a força do lugar, aí a música veio disso. Muito freqüentemente sou inspirado por – (interrompe). Eu viajo muito, vejo as coisas, conheço as pessoas e esses encontros com pessoas e lugares podem ser a base para a música.
Pergunta | O senhor escreveu óperas sobre as vidas de Albert Einstein e Mahatma Gandhi (1869 – 1948). Quem virá a seguir? Por que?
PG | A próxima é sobre o famoso astrônomo (Johannes) Kepler (1571-1630). Depois eu estou vendo um projeto sobre Walt Disney (1901-1966).
Pergunta | Por que Disney?
PG | (Lembra de outra coisa e muda de assunto). Sabia que eu também fiz uma ópera em português? Chama-se O Corvo Branco e foi montada em Portugal. Escrevi parte dela no Brasil.
Pergunta | Mas por que Disney?
PG | Bom, ele é uma espécie de ícone americano. Uma pessoa misteriosa. Uma pessoa que todo mundo sabe quem é, mas ninguém conhece de fato. Isso o torna muito interessante. Como essa pessoa pôde criar um tipo de universo alternativo que todo mundo conhece? Todo mundo! Personagens que não existem de verdade! Pato Donald, Mickey Mouse... Mas o que é assombroso é quão universais e aceitas essas imagens se tornaram. E essa pessoa sequer desenhava, ele não fazia o próprio trabalho. Mas se tornou essa... mente por trás de tudo isso. É parte da cultura, e não apenas da minha cultura, mas da sua também. É isso que me espanta, como a imaginação de uma pessoa se tornou a imaginação de quase todo mundo.
Pergunta | Um artigo recente na revista britânica Gramophone Magazine apontou o senhor, Steve Reich e John Adams, entre outros, como os responsáveis por trazer a música de concerto de volta ao grande público, tornando-a agradável para qualquer um ouvir – e não apenas outros compositores.
PG | Bem, eu acho que (isso) é verdade, mas tem outras pessoas também. O fato é que isso não aconteceu por acidente, mas por que nós buscamos isso. Quando éramos jovens, a música contemporânea não era muito ouvida. Só algumas pessoas em universidades e ambientes acadêmicos... Nós queríamos trazer a música para nosso tempo. Para nos tornarmos populares, trabalhamos unidos, nos tornamos performers e começamos a viajar pelo mundo. Eu fiz... mais de 2,5 mil concertos – é concerto pra caramba nos últimos 30 anos. E isso teve um grande efeito em termos de trazer essa música para o grande público. Mas só o fizemos por que realmente queríamos que a música encontrasse uma voz que pudesse ser entendida e ouvida por uma grande parcela do público.
Pergunta | O senhor está trabalhando em alguma trilha sonora original para algum filme no momento? Poderia nos contar qual?
PG | Olha, eu poderia, mas – (interrompe de novo). Eu estou olhando para um roteiro muito interessante neste exato momento, mas, como se costuma dizer, ainda não tenho um contrato. (Risos). Estou interessado e eles me pediram para dar uma olhada. Conversei com o produtor sobre prazos e outros aspectos práticos, mas não posso te contar mais. (O projeto) Ainda vai ser anunciado.
Pergunta | Sobre o que exatamente será a conferência do senhor em Salvador no próximo dia 3?
PG | Falarei sobre colaboração. O tipo de trabalho sobre o qual falamos há pouco, um pouco mais detalhado, sobre a interação entre música e imagem, música e texto, música e movimento e como o trabalho pode ser desenvolvido. Também executarei uma peça, sobre uma fita do (poeta beatnik americano) Allen Ginsberg (1926-1997), a título de exemplo das colaborações que fiz. Sabe, sozinho não dá pra fazer muita coisa.
Pergunta | Qual foi a última coisa que o senhor ouviu e chamou sua atenção? E por que?
PG | Bom, eu ouvi a trilha de um filme chamado Sangue Negro (There Will Be Blood, 2008) do Jonny Greenwood...
Pergunta | ...da banda Radiohead.
PG | Que trabalho fantástico, ótimo, eu adorei. Tenho de dizer isso, por que ele é do Radiohead, mas também tem treinamento em conservatório, sabia? Ele foi treinado na tradição da arte da música, e quando (vai) para a música popular, ele pode sempre voltar (ao erudito). (Ele é) Muito, muito talentoso.
PHILLIP GLASS
Nascido em Baltimore, em 31 de janeiro de 1937, Phillip Glass desde cedo demonstrou pendor para a música. Aos 15 anos, entrou na prestigiada escola de música Juilliard, em Nova Iorque, onde reside ainda hoje. Prolífico, é autor de inúmeras peças, entre óperas (mais de vinte), sinfonias (oito até o momento), concertos para instrumentos variados, trilhas para espetáculos de dança, cinema e teatro experimental. Entre seus colaboradores, podem ser citados David Bowie, Twyla Tharp, Woody Allen, Ravi Shankar e muitos outros. É defensor da causa pró-Tibete.
Ele é o supra-sumo do minimalismo, movimento tachado de “repetitivo“ pelos detratores e de “hipnótico“ pelos adeptos. Porém, é melhor não chamá-lo assim, pois certa vez, chegou a dizer que “essa palavra – minimalismo – deveria ser extinta“.
De fato, rótulo é para maionese. O que importa é que, há mais de 20 anos, Glass é, além de um dos compositores mais influentes do mundo, um dos mais requisitados para criar trilhas sonoras – seja para filmes, dança ou óperas. Sua Trilogia Qatsi, criada em parceria com o diretor Godffrey Reggio, composta pelos “filmes-paisagem“ Koyaanisqatsi (1983), Powaqqatsi (1988) e Naqoyqatsi (2002), são lembrados como um momento de absoluta simbiose entre música e imagem, um espetáculo para os sentidos.
Glass assinou óperas aclamadas por público e crítica, como Einstein on The Beach e Satyagraha (sobre a vida de Gandhi). Duas vezes indicado ao Oscar pelas trilhas de As Horas (2002) e O ilusionista (2006), levou um Globo de Ouro por O Show de Truman (1998), onde reaproveitou trechos da magnífica partitura criada para Mishima, Uma Vida Em 4 Capítulos (1985).
Familiarizado com o Brasil, também criou peças inspiradas em Itaipu, na Favela da Rocinha e no Grupo Corpo, além de colaborar com Marisa Monte. Nesta entrevista ao repórter Chico Castro Jr., ele fala sobre tudo isso e também sobre a conferência que dará no dia 3 de setembro no Teatro Castro Alves, dentro do ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento.
Pergunta | A obra do senhor varia dos espetáculos de dança à ópera, passando por trilhas sonoras, música de concerto e popular, demonstrando sempre muita intimidade com todos estes gêneros. Como o senhor consegue passear por tantos estilos diferentes, mantendo o seu próprio?
Phillip Glass | Tive muita sorte de trabalhar em um lugar com tanta gente talentosa. Foi fácil para mim conhecer muitas pessoas do mundo da música popular, fosse David Bowie, Paul Simon ou David Byrne. Todos eles estavam disponíveis para trabalharmos juntos. Tenho de dizer que pude faze-los por que estava trabalhando com pessoas talentosas que estavam interessadas em trabalhar comigo e também por que sempre aceitei suas propostas. Isso significa que tive que aprender muita coisa no caminho. Tive que estender minha linguagem musical para incluir esses gêneros de músicas os quais não tive um treinamento original.
Pergunta | Qual dessas pessoas famosas rendeu o melhor trabalho em parceria, na sua opinião?
PG | Não sei, cada uma dessas coisas tem seus momentos. Por exemplo, em cinema, quando trabalhei com Godffrey Reggio na Trilogia Qatsi, aquele foi um ponto alto. Também tem uma ópera sobre (Mahatma) Gandhi (1879-1955) e uma outra sobre a Guerra da Secessão (1861-1865). Esses foram pontos altos para mim. Uma coisa diferente que fiz foram alguns arranjos para Marisa Monte. Acho que fiz dois arranjos de cordas para ela este ano. Encontrei Marisa no Brasil, mas depois ela veio para Nova Iorque. Foi um bom momento. O filme As Horas (The Hours, 2002) também foi muito bom para trabalhar. Em cada uma dessas áreas em que trabalhei, certas peças se sobressaem. Não posso dizer que uma foi melhor que a outra, ainda que eu goste muito de trabalhar em óperas. Por que nelas, sou eu que seleciono com quem vou trabalhar. Escolho o libretista, o diretor de arte e o diretor. Então, tenho um pouco mais de controle, mas nem sempre.
Pergunta | Como o senhor vê o negócio da música hoje em dia, com o suposto fim do CD e a ascensão dos artistas na internet? O senhor baixa música na rede?
PG | Bom, eu também gosto de buscar música na internet. (Ri).
Pergunta | O senhor baixa música?
PG | Não exatamente canções, eu geralmente busco por colegas compositores, para ouvir o que eles andam fazendo. A internet é interessante. Acho que para os compositores ela tem sido bastante benéfica, mas também há algumas dificuldades. Como sempre, há boas e más notícias. (Risos) A boa é que os compositores podem disponibilizar seu trabalho para praticamente qualquer pessoa. A má é que, agora, há tanta música disponível que você mal sabe por onde começar. Para um jovem compositor, eu acho que é ótimo poder produzir CDs com mais facilidade e distribuir sua música. Mas ao mesmo tempo, é tanta música nova que eu sequer consigo ouvir tudo o que me enviam. É bom por um lado, porque não estamos mais sujeitos ao controle de grandes corporações como Sony e Universal. Até financeiramente, um compositor pode se dar melhor por si mesmo. Só não imaginamos que isso tornaria um mercado que já era enorme, numa coisa monstruosa. E há tanta gente talentosa, aqui mesmo temos muitas pessoas de talento. Mas muitas delas simplesmente se perderão, pois não teremos como encontrá-las. Talvez, com o tempo, haverá mecanismos para tornar os talentos genuínos mais fáceis de se encontrar, mas eu não sei o que poderia ser feito.
Pergunta | O senhor já escreveu duas peças inspiradas no Brasil, Itaipu (1989) e Days and Nights in Rocinha (1997)...
PG | Oh, mas tem uma outra.
Pergunta | É mesmo?
PG | Sim, fiz um trabalho pro (Grupo) Corpo, uma companhia de dança moderna de São Paulo. (Na verdade, o Grupo Corpo é de BH)
Pergunta | Ah, sim, Grupo Corpo.
PG | Corpo, yeah. Fiz uma peça para eles com o grupo (mineiro) Uakti. Escrevi a música, e eles, os arranjos. Também fiz a música para um filme de Monique Gardenberg (Jenipapo, 1995). Tenho algumas conexões com o Brasil.
Pergunta | Itaipu e Rocinha foram feitas por encomenda?
PG | Não! (Apressa-se).
Pergunta | Então o senhor visitou esses lugares?
PG | Visitei. Estive na Rocinha com amigos. Fui no ensaio de uma escola de samba. Teve um negócio lá que eu não lembro agora, mas que, na época me veio como uma idéia musical. Já sobre Itaipu, eu estive em Foz do Iguaçu e fiquei muito impressionado com a força do lugar, aí a música veio disso. Muito freqüentemente sou inspirado por – (interrompe). Eu viajo muito, vejo as coisas, conheço as pessoas e esses encontros com pessoas e lugares podem ser a base para a música.
Pergunta | O senhor escreveu óperas sobre as vidas de Albert Einstein e Mahatma Gandhi (1869 – 1948). Quem virá a seguir? Por que?
PG | A próxima é sobre o famoso astrônomo (Johannes) Kepler (1571-1630). Depois eu estou vendo um projeto sobre Walt Disney (1901-1966).
Pergunta | Por que Disney?
PG | (Lembra de outra coisa e muda de assunto). Sabia que eu também fiz uma ópera em português? Chama-se O Corvo Branco e foi montada em Portugal. Escrevi parte dela no Brasil.
Pergunta | Mas por que Disney?
PG | Bom, ele é uma espécie de ícone americano. Uma pessoa misteriosa. Uma pessoa que todo mundo sabe quem é, mas ninguém conhece de fato. Isso o torna muito interessante. Como essa pessoa pôde criar um tipo de universo alternativo que todo mundo conhece? Todo mundo! Personagens que não existem de verdade! Pato Donald, Mickey Mouse... Mas o que é assombroso é quão universais e aceitas essas imagens se tornaram. E essa pessoa sequer desenhava, ele não fazia o próprio trabalho. Mas se tornou essa... mente por trás de tudo isso. É parte da cultura, e não apenas da minha cultura, mas da sua também. É isso que me espanta, como a imaginação de uma pessoa se tornou a imaginação de quase todo mundo.
Pergunta | Um artigo recente na revista britânica Gramophone Magazine apontou o senhor, Steve Reich e John Adams, entre outros, como os responsáveis por trazer a música de concerto de volta ao grande público, tornando-a agradável para qualquer um ouvir – e não apenas outros compositores.
PG | Bem, eu acho que (isso) é verdade, mas tem outras pessoas também. O fato é que isso não aconteceu por acidente, mas por que nós buscamos isso. Quando éramos jovens, a música contemporânea não era muito ouvida. Só algumas pessoas em universidades e ambientes acadêmicos... Nós queríamos trazer a música para nosso tempo. Para nos tornarmos populares, trabalhamos unidos, nos tornamos performers e começamos a viajar pelo mundo. Eu fiz... mais de 2,5 mil concertos – é concerto pra caramba nos últimos 30 anos. E isso teve um grande efeito em termos de trazer essa música para o grande público. Mas só o fizemos por que realmente queríamos que a música encontrasse uma voz que pudesse ser entendida e ouvida por uma grande parcela do público.
Pergunta | O senhor está trabalhando em alguma trilha sonora original para algum filme no momento? Poderia nos contar qual?
PG | Olha, eu poderia, mas – (interrompe de novo). Eu estou olhando para um roteiro muito interessante neste exato momento, mas, como se costuma dizer, ainda não tenho um contrato. (Risos). Estou interessado e eles me pediram para dar uma olhada. Conversei com o produtor sobre prazos e outros aspectos práticos, mas não posso te contar mais. (O projeto) Ainda vai ser anunciado.
Pergunta | Sobre o que exatamente será a conferência do senhor em Salvador no próximo dia 3?
PG | Falarei sobre colaboração. O tipo de trabalho sobre o qual falamos há pouco, um pouco mais detalhado, sobre a interação entre música e imagem, música e texto, música e movimento e como o trabalho pode ser desenvolvido. Também executarei uma peça, sobre uma fita do (poeta beatnik americano) Allen Ginsberg (1926-1997), a título de exemplo das colaborações que fiz. Sabe, sozinho não dá pra fazer muita coisa.
Pergunta | Qual foi a última coisa que o senhor ouviu e chamou sua atenção? E por que?
PG | Bom, eu ouvi a trilha de um filme chamado Sangue Negro (There Will Be Blood, 2008) do Jonny Greenwood...
Pergunta | ...da banda Radiohead.
PG | Que trabalho fantástico, ótimo, eu adorei. Tenho de dizer isso, por que ele é do Radiohead, mas também tem treinamento em conservatório, sabia? Ele foi treinado na tradição da arte da música, e quando (vai) para a música popular, ele pode sempre voltar (ao erudito). (Ele é) Muito, muito talentoso.
PHILLIP GLASS
Nascido em Baltimore, em 31 de janeiro de 1937, Phillip Glass desde cedo demonstrou pendor para a música. Aos 15 anos, entrou na prestigiada escola de música Juilliard, em Nova Iorque, onde reside ainda hoje. Prolífico, é autor de inúmeras peças, entre óperas (mais de vinte), sinfonias (oito até o momento), concertos para instrumentos variados, trilhas para espetáculos de dança, cinema e teatro experimental. Entre seus colaboradores, podem ser citados David Bowie, Twyla Tharp, Woody Allen, Ravi Shankar e muitos outros. É defensor da causa pró-Tibete.
ESCRITORES ABREM O PORTAL PARA OUTRAS DIMENSÕES
Coletânea de contos de ficção científica em revista semestral tem sessão de autógrafos hoje em Salvador
Apreciadores de ficção científica têm um encontro marcado hoje em Salvador. Seja em naves espaciais ou via teletransporte, o caminho é a Livraria LDM (Rua Direita da Piedade), onde se dará o lançamento da revista Portal Solaris, uma bem-cuidada antologia nacional de contos de FC, que conta com dois autores baianos: Carlos Ribeiro e Mayrant Gallo.
Organizada pelo escritor Nélson de Oliveira, a revista Portal tem no seu projeto inicial a tarefa de se estabelecer e apresentar seu projeto em seis números semestrais.
A maior parte da tiragem de apenas 200 exemplares será distribuída para imprensa e comunidade editorial – escritores, editores etc. Na Bahia, apenas vinte exemplares estarão disponíveis para venda ao público. Espera-se que todos sejam vendidos durante o lançamento.
A cada número, a Portal homenageará – e dialogará com – um clássico do gênero em que milita, incorporando em seu nome o título da obra em questão. O primeiro número homenageia o épico Solaris, do russo Stanislaw Lem – levado às telas em duas ocasiões: em 2002, com direção de Steven Soderbergh e em 1972, por Andrei Tarkovski.
As próximas edições homenagearão Neuromancer (de William Gibson), Stalker (outro filme de Tarkovski, desta vez baseado no livro Roadside Picnic, dos irmãos Boris e Arkady Strugatsky), Fundação (de Isaac Asimov), 2001 (a icônica obra de Arthur C. Clarke) e Fahrenheit (de Ray Bradbury).
ALEPH – “Cada Portal é um organismo cibernético multidimensional, sem forma ou conteúdos definidos, acionado pela fantasia e pelos desejos de quem o utiliza. Juntos, os seis portais funcionam como o aleph do célebre conto de Jorge Luis Borges. Juntos, os seis portais formam o ponto de onde é possível enxergar todos os pontos o universo. Ou ser por eles enxergado“, provoca Oliveira, no divertido texto de apresentação do volume.
Despido do traje de viajante estelar e de volta à Terra, Oliveira explicitou por email que, na verdade, sua intenção com a revista é “ter uma publicação de altíssima qualidade literária, que vire referência entre os escritores e os estudiosos de FC e também entre escritores e estudiosos. Ou seja, planejamos uma revista para a inteligentzia, que vire um marco na FC nacional e na literatura em geral“.
Se as pretensões do escritor serão ou não alcançadas, só o tempo dirá. Como ainda não se dispõe de uma máquina do tempo, vale assinalar que a revista começou bem, com 11 escritores de certo renome orbitando com desenvoltura em contos abordando temas canônicos da FC, como novas tecnologias, viagens no tempo, ciberespaço, telepatia, contatos imediatos do terceiro grau, pós-apocalipse, pós-humano, utopias e distopias.
Os escritores selecionados, além de Oliveira e dos baianos citados, são: Ataíde Tartari, Carlos Emílio C. Lima, Geraldo Lima, Homero Gomes, Ivan Hegenberg, Luiz Bras, Roberto de Sousa Causo e Rogers Silva.
No ótimo conto de Mayrant, A Nova Ordem das Coisas, o leitor acompanha as férias de uma família numa ilha paradisíaca e seu estranho relacionamento com um caseiro um tanto suspeito.
Já no intrigante conto de Ribeiro, O Fugitivo dos Sonhos, um homem busca se vingar de outro que tem o poder de trafegar na matéria onírica, pulando de sonho em sonho alheio.
Lançamento de portal Solaris e dos livros A Origem do Ocidente – A Antiguidade Grega no Jovem Nietzsche e A Morte | Sessões de autógrafos simultâneas com os autores | Hoje, das 10 às 14 horas | LDM – Livraria Multicampi (2101-8007) | Rua Direita da Piedade, 20, Piedade | Entrada gratuita
Portal Solaris
Vários Autores
Independente
106 p. | R$ 15
oliveira.e.cia@uol.com.br
Apreciadores de ficção científica têm um encontro marcado hoje em Salvador. Seja em naves espaciais ou via teletransporte, o caminho é a Livraria LDM (Rua Direita da Piedade), onde se dará o lançamento da revista Portal Solaris, uma bem-cuidada antologia nacional de contos de FC, que conta com dois autores baianos: Carlos Ribeiro e Mayrant Gallo.
Organizada pelo escritor Nélson de Oliveira, a revista Portal tem no seu projeto inicial a tarefa de se estabelecer e apresentar seu projeto em seis números semestrais.
A maior parte da tiragem de apenas 200 exemplares será distribuída para imprensa e comunidade editorial – escritores, editores etc. Na Bahia, apenas vinte exemplares estarão disponíveis para venda ao público. Espera-se que todos sejam vendidos durante o lançamento.
A cada número, a Portal homenageará – e dialogará com – um clássico do gênero em que milita, incorporando em seu nome o título da obra em questão. O primeiro número homenageia o épico Solaris, do russo Stanislaw Lem – levado às telas em duas ocasiões: em 2002, com direção de Steven Soderbergh e em 1972, por Andrei Tarkovski.
As próximas edições homenagearão Neuromancer (de William Gibson), Stalker (outro filme de Tarkovski, desta vez baseado no livro Roadside Picnic, dos irmãos Boris e Arkady Strugatsky), Fundação (de Isaac Asimov), 2001 (a icônica obra de Arthur C. Clarke) e Fahrenheit (de Ray Bradbury).
ALEPH – “Cada Portal é um organismo cibernético multidimensional, sem forma ou conteúdos definidos, acionado pela fantasia e pelos desejos de quem o utiliza. Juntos, os seis portais funcionam como o aleph do célebre conto de Jorge Luis Borges. Juntos, os seis portais formam o ponto de onde é possível enxergar todos os pontos o universo. Ou ser por eles enxergado“, provoca Oliveira, no divertido texto de apresentação do volume.
Despido do traje de viajante estelar e de volta à Terra, Oliveira explicitou por email que, na verdade, sua intenção com a revista é “ter uma publicação de altíssima qualidade literária, que vire referência entre os escritores e os estudiosos de FC e também entre escritores e estudiosos. Ou seja, planejamos uma revista para a inteligentzia, que vire um marco na FC nacional e na literatura em geral“.
Se as pretensões do escritor serão ou não alcançadas, só o tempo dirá. Como ainda não se dispõe de uma máquina do tempo, vale assinalar que a revista começou bem, com 11 escritores de certo renome orbitando com desenvoltura em contos abordando temas canônicos da FC, como novas tecnologias, viagens no tempo, ciberespaço, telepatia, contatos imediatos do terceiro grau, pós-apocalipse, pós-humano, utopias e distopias.
Os escritores selecionados, além de Oliveira e dos baianos citados, são: Ataíde Tartari, Carlos Emílio C. Lima, Geraldo Lima, Homero Gomes, Ivan Hegenberg, Luiz Bras, Roberto de Sousa Causo e Rogers Silva.
No ótimo conto de Mayrant, A Nova Ordem das Coisas, o leitor acompanha as férias de uma família numa ilha paradisíaca e seu estranho relacionamento com um caseiro um tanto suspeito.
Já no intrigante conto de Ribeiro, O Fugitivo dos Sonhos, um homem busca se vingar de outro que tem o poder de trafegar na matéria onírica, pulando de sonho em sonho alheio.
Lançamento de portal Solaris e dos livros A Origem do Ocidente – A Antiguidade Grega no Jovem Nietzsche e A Morte | Sessões de autógrafos simultâneas com os autores | Hoje, das 10 às 14 horas | LDM – Livraria Multicampi (2101-8007) | Rua Direita da Piedade, 20, Piedade | Entrada gratuita
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terça-feira, agosto 19, 2008
MICRO-RESENHAS FELIZES E CONTENTES
Segredos seculares em HQ
Planetary, multi-premiada HQ criada pela mente descontrolada do escritor inglês Warren Ellis, chega ao seu terceiro encadernado no Brasil, reunindo as edições 13 a 18 da série original americana, que se estendeu até o número 27. Os dois primeiros volumes, Mundo Estranho e O Quarto Homem, saíram há algum tempo pela Devir. Em Deixando o século 20, acompanhamos Elijah Snow, Jakita Wagner e Baterista, os agentes da organização Planetary, descobrindo novos segredos sobre a história secreta do século passado – e também sobre eles mesmos. No caminho, encontros com Sherlock Holmes, Drácula, Frankenstein, Tarzan e Superman, entre outras figuras marcantes da mitologia / iconografia novecentista. A graça de Planetary, cortesia do autor e seu magnífico desenhista John Cassaday (Surpreendentes X-Men) é o ângulo invariavelmente aterrador e realista que eles conferem às figuras enraizadas no inconsciente coletivo.
Planetary - Deixando o século 20
Ellis / Cassaday
Pixel Media
144 p. | R$ 37,90
www.pixelquadrinhos.com.br
Delta do Mississipi com Velho Chico
O multi-instrumentista Júlio Caldas herdou de um tio famoso (Luiz Caldas) a extrema habilidade com que toca instrumentos de cordas – guitarra e viola caipira, principalmente – mas deixa de lado os ritmos calientes que fizeram a fama do parente em favor de uma musicalidade profundamente ligada ao blues, à psicodelia e – por que não? – a um certo regionalismo nordestino. Auxiliado por uma big band com muitos sopros, teclados vintage e a orientação dos ótimos produtores Tadeu Mascarenhas e Brian Knave no estúdio, Júlio demonstra muito fôlego criativo – tanto nas execuções vigorosas quanto nos arranjos complexos (e não “difíceis“). Ótimo CD.
Pitecantropus Erectus
Júlio Caldas
Independente
R$ 13
www.myspace.com/juliocaldas
A velha honra lavada com sangue
Levado às telas no magnífico filme de estréia do diretor Ridley Blade Runner Scott em 1977 (Os Duelistas), o livro de Joseph Conrad que o originou só agora chega ao Brasil, pela Editora Revan. Publicado no início do século 20 pelo autor do clássico O coração das trevas, O duelo conta a incrível história de dois oficiais dos exércitos napoleônicos que, ao longo de décadas, se batem em sucessivos duelos brutais e emocionantes. Entre pistolas, espadas e floretes, D‘Hubert e Feraud – um nobre e o outro plebeu – atravessam as diversas fases do período em que o bonapartismo dominou a França e boa parte da Europa. Um genial conto sobre força, honra e questões morais.
O duelo
Joseph Conrad
Editora Revan
146 p. | R$ 28
www.revan.com.br
3 portas sem nenhuma saída
Representante do rock pesado americano pós-grunge, a banda 3 Doors Down até que não é de todo ruim, mas sofre com um problema seríssimo que parece atingir o rock mainstream ianque como um todo: nenhum traço visível de personalidade ou criatividade que seja. Uma após a outra, as faixas se sucedem sem emoção, nem chamar a atenção – com exceção de um ou outro refrão mais animadinho. Mas não há arrebatamento, a música não puxa o roqueiro-ouvinte pelo colarinho em nenhum momento. Para uma banda de rock pesado, isso é pior que a morte. Até por que o CD não chega a ser ruim: é apenas sem graça, descambando para a baba em alguns momentos. Fraco.
3 Doors Down
3 Doors Down
Universal
R$ 29,90
www.3doorsdown.com
Em defesa dos aborígenes
Nada como o tempo para dar uma nova perspectiva às coisas. Lançado em 1987, o álbum Diesel and Dust estourou a banda australiana Midnight Oil nas paradas de sucesso do mundo inteiro, graças a sucessos como The Dead Heart e Beds Are Burning. Como se tratava de uma banda da terra dos cangurus, boa parte da crítica da época considerou-os um sub-Men At Work, ou seja, surf music pós-punk para surfistas e playboys se esbaldarem nas danceterias. Ledo engano. O Midnight Oil era a radicalização da proposta do U2 inicial, lascando canções de protesto virulentas contra megacorporações e políticos corruptos, em defesa dos povos aborígenes. 21 anos depois, Diesel and Dust, agora em edição de luxo, ganha sua real dimensão, como um dos álbuns mais combativos da década de 80. The Dead Heart, criada sob encomenda das comunidade aborígenes, é um verdadeiro hino anti-imperialismo, tão forte e direto, que chega a ser comovente: “Nós não servimos ao seu país/ não servimos ao seu rei/ Nós carregamos nos nossos corações o verdadeiro país/ e isso não poderá jamais ser roubado“. Acompanha DVD com o ótimo documentário Black Fella/White Fella, sobre a turnê conjunta do MO pelo deserto australiano com o grupo de rock aborígene Warumpi Band. Clássico.
Diesel and Dust
Midnight Oil
Sony
R$ 44,90
www.midnightoil.com
O terror das mulheres
Uma estranha praga infestou a Terra, varrendo da face do planeta todos os detentores do cromossomo Y, ou seja, todos os machos, sejam homens ou animais. Todos, menos dois: Yorick Brown, um pretenso artista de fugas a la Houdini e seu macaco, Ampersand. Com a Terra transformada num inferno feminista caótico, começa uma corrida entre facções para ver quem consegue ou matar ou transar primeiro com o rapaz, para tentar garantir (ou não) a sobrevivência da espécie humana. Em paralelo, tramas de conspiração em várias partes do mundo (quem, afinal, seria responsável por esta tragédia?) e muitas citações à cultura pop. Isto é Y - O Último Homem, premiada série de HQs criada por Brian K. Vaughan, produtor executivo e roteirista da série Lost, que estréia na ótima revista Pixel Magazine 16, nas bancas. Completando o mix, DMZ (de Brian Wood), Hellblazer (Brian Azzarelo) e Contos do Amanhã (de Alan Moore), fazem desta a melhor revista mensal de HQ nas bancas.
Pixel Magazine 16
Vários artistas
Pixel Media
96 p. | R$ 10,90
www.pixelquadrinhos.com.br
Planetary, multi-premiada HQ criada pela mente descontrolada do escritor inglês Warren Ellis, chega ao seu terceiro encadernado no Brasil, reunindo as edições 13 a 18 da série original americana, que se estendeu até o número 27. Os dois primeiros volumes, Mundo Estranho e O Quarto Homem, saíram há algum tempo pela Devir. Em Deixando o século 20, acompanhamos Elijah Snow, Jakita Wagner e Baterista, os agentes da organização Planetary, descobrindo novos segredos sobre a história secreta do século passado – e também sobre eles mesmos. No caminho, encontros com Sherlock Holmes, Drácula, Frankenstein, Tarzan e Superman, entre outras figuras marcantes da mitologia / iconografia novecentista. A graça de Planetary, cortesia do autor e seu magnífico desenhista John Cassaday (Surpreendentes X-Men) é o ângulo invariavelmente aterrador e realista que eles conferem às figuras enraizadas no inconsciente coletivo.
Planetary - Deixando o século 20
Ellis / Cassaday
Pixel Media
144 p. | R$ 37,90
www.pixelquadrinhos.com.br
Delta do Mississipi com Velho Chico
O multi-instrumentista Júlio Caldas herdou de um tio famoso (Luiz Caldas) a extrema habilidade com que toca instrumentos de cordas – guitarra e viola caipira, principalmente – mas deixa de lado os ritmos calientes que fizeram a fama do parente em favor de uma musicalidade profundamente ligada ao blues, à psicodelia e – por que não? – a um certo regionalismo nordestino. Auxiliado por uma big band com muitos sopros, teclados vintage e a orientação dos ótimos produtores Tadeu Mascarenhas e Brian Knave no estúdio, Júlio demonstra muito fôlego criativo – tanto nas execuções vigorosas quanto nos arranjos complexos (e não “difíceis“). Ótimo CD.
Pitecantropus Erectus
Júlio Caldas
Independente
R$ 13
www.myspace.com/juliocaldas
A velha honra lavada com sangue
Levado às telas no magnífico filme de estréia do diretor Ridley Blade Runner Scott em 1977 (Os Duelistas), o livro de Joseph Conrad que o originou só agora chega ao Brasil, pela Editora Revan. Publicado no início do século 20 pelo autor do clássico O coração das trevas, O duelo conta a incrível história de dois oficiais dos exércitos napoleônicos que, ao longo de décadas, se batem em sucessivos duelos brutais e emocionantes. Entre pistolas, espadas e floretes, D‘Hubert e Feraud – um nobre e o outro plebeu – atravessam as diversas fases do período em que o bonapartismo dominou a França e boa parte da Europa. Um genial conto sobre força, honra e questões morais.
O duelo
Joseph Conrad
Editora Revan
146 p. | R$ 28
www.revan.com.br
3 portas sem nenhuma saída
Representante do rock pesado americano pós-grunge, a banda 3 Doors Down até que não é de todo ruim, mas sofre com um problema seríssimo que parece atingir o rock mainstream ianque como um todo: nenhum traço visível de personalidade ou criatividade que seja. Uma após a outra, as faixas se sucedem sem emoção, nem chamar a atenção – com exceção de um ou outro refrão mais animadinho. Mas não há arrebatamento, a música não puxa o roqueiro-ouvinte pelo colarinho em nenhum momento. Para uma banda de rock pesado, isso é pior que a morte. Até por que o CD não chega a ser ruim: é apenas sem graça, descambando para a baba em alguns momentos. Fraco.
3 Doors Down
3 Doors Down
Universal
R$ 29,90
www.3doorsdown.com
Em defesa dos aborígenes
Nada como o tempo para dar uma nova perspectiva às coisas. Lançado em 1987, o álbum Diesel and Dust estourou a banda australiana Midnight Oil nas paradas de sucesso do mundo inteiro, graças a sucessos como The Dead Heart e Beds Are Burning. Como se tratava de uma banda da terra dos cangurus, boa parte da crítica da época considerou-os um sub-Men At Work, ou seja, surf music pós-punk para surfistas e playboys se esbaldarem nas danceterias. Ledo engano. O Midnight Oil era a radicalização da proposta do U2 inicial, lascando canções de protesto virulentas contra megacorporações e políticos corruptos, em defesa dos povos aborígenes. 21 anos depois, Diesel and Dust, agora em edição de luxo, ganha sua real dimensão, como um dos álbuns mais combativos da década de 80. The Dead Heart, criada sob encomenda das comunidade aborígenes, é um verdadeiro hino anti-imperialismo, tão forte e direto, que chega a ser comovente: “Nós não servimos ao seu país/ não servimos ao seu rei/ Nós carregamos nos nossos corações o verdadeiro país/ e isso não poderá jamais ser roubado“. Acompanha DVD com o ótimo documentário Black Fella/White Fella, sobre a turnê conjunta do MO pelo deserto australiano com o grupo de rock aborígene Warumpi Band. Clássico.
Diesel and Dust
Midnight Oil
Sony
R$ 44,90
www.midnightoil.com
O terror das mulheres
Uma estranha praga infestou a Terra, varrendo da face do planeta todos os detentores do cromossomo Y, ou seja, todos os machos, sejam homens ou animais. Todos, menos dois: Yorick Brown, um pretenso artista de fugas a la Houdini e seu macaco, Ampersand. Com a Terra transformada num inferno feminista caótico, começa uma corrida entre facções para ver quem consegue ou matar ou transar primeiro com o rapaz, para tentar garantir (ou não) a sobrevivência da espécie humana. Em paralelo, tramas de conspiração em várias partes do mundo (quem, afinal, seria responsável por esta tragédia?) e muitas citações à cultura pop. Isto é Y - O Último Homem, premiada série de HQs criada por Brian K. Vaughan, produtor executivo e roteirista da série Lost, que estréia na ótima revista Pixel Magazine 16, nas bancas. Completando o mix, DMZ (de Brian Wood), Hellblazer (Brian Azzarelo) e Contos do Amanhã (de Alan Moore), fazem desta a melhor revista mensal de HQ nas bancas.
Pixel Magazine 16
Vários artistas
Pixel Media
96 p. | R$ 10,90
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domingo, agosto 17, 2008
AZARÕES HIP HOP DO NORDESTE DE AMARALINA FATURAM PRÊMIO PRINCIPAL DA MOSTRA BAIANA DE VIDEOCLIPES
Nem Cascadura, nem Pitty. Contra todos os prognósticos, quem levou mesmo o prêmio principal da 4ª Mostra Baiana de Videoclipes – através do voto popular – foi o grupo de hip hop Realidade Sangrenta, com o clipe Favela é Desse Jeito, dirigido por Danilo Umbelino, Márcio Snow e Marcelo Silva.
O anúncio foi feito na madrugada deste domingo, durante a festa de encerramento da Mostra, ocorrida em uma casa de shows do Rio Vermelho.
Em segundo lugar, a banda O Círculo, com A Janela (direção de Rafael Jardim) e em terceiro, a banda de hardcore Lúmpen, com O Processo, de Felipe Franka. Houve ainda menções honrosas do júri para as bandas Margot (clipe Vem, de Sarti Werthen), Umkonto (com Carapuça, de Jonga Oliveira) e Cascadura (com Mesmo Eu Estando do Outro Lado, de Luís Guilherme Campos e Zeca de Souza).
Alunos do curso de vídeo promovido pela ONG Oi Kabum na comunidade do Nordeste de Amaralina, os meninos da Realidade Sangrenta e o diretor Danilo Umbelino, que recebeu o prêmio, estavam em êxtase com a vitória inesperada. “Concorremos com clipes produzidos até em película por nomes reconhecidos nacionalmente, como Ricardo Spencer, e ganhamos mesmo assim“, observou Umbelino, eufórico.
“Só tenho a agradecer a todo o pessoal da Oi Kabum, que nos ensinou a produzir vídeo e nos forneceu o equipamento, especialmente ao professor Danilo Scaldaferri, que finalizou o clipe“, lembrou Umbelino, que após o curso preparatório da ONG, conseguiu se empregar como cinegrafista na Dimas, Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado.
A surpresa do vencedor azarão, que pode ter decepcionado alguns roqueiros presentes no local, reflete uma característica da Mostra – que alguns podem até apontar como falha: com o voto popular, quem leva mais amigos à votação, ganha o prêmio, que consistiu em um troféu e R$ 3,5 mil em dinheiro.
Apesar disso, a premiação para a rapaziada do Nordeste de Amaralina foi merecida: Favela é Assim é uma pequena crônica do dia a dia dos jovens que vivem nas comunidades carentes da cidade – verdade seja dita, uma realidade bem distante do imaginário burguês que costuma caracterizar o rock local.
A animação da festa, que varou a madrugada de ontem, ficou a cargo da Banda de Rock, uma das melhores bandas de covers da cidade.
Liderada pelo vocalista René Nobre e contando com membros da Cascadura e Os Ladrões de Bicicleta (de Ronei Jorge), o grupo preparou um repertório especial para a ocasião, com clássicos do rock local e muitos convidados. Houve homenagens à Big Ben, Camisa de Vênus, Raul Seixas, Úteros em Fúria, Lisergia, Treblinka e outros.
As fotos que ilustram essa reportagem são de Juliana Souza / Labfoto / Divulgação.
RESULTADOS:
1º Lugar - Realidade Sangrenta - Favela é Desse Jeito – (dir. Márcio Snow, Marcelo Silva e Danilo Umbelino)
http://br.youtube.com/watch?v=4pHlyHDXHag
2º Lugar - O Círculo - A Janela – (dir. Rafael Jardim)
http://br.youtube.com/watch?v=ZsHaQt2zan0
3º Lugar - Lumpen - O Processo – (dir. Felipe FranKa)
http://br.youtube.com/watch?v=OvNYtPjbiZc
Menções honrosas do júri:
1º Lugar - Margot - Vem – (dir. Sarti Werthen)
http://br.youtube.com/watch?v=TRaNVwdvC2U
2º Lugar - Umkonto - Umkonto - Carapuça – (dir. Jonga Oliveira)
http://br.youtube.com/watch?v=9JlEIGI07bY
3º Lugar - Cascadura - Mesmo Eu Estando do Outro Lado - (dir. Luís Guilherme Campos e Zeca de Souza)
http://br.youtube.com/watch?v=pcmX6J6S6Xs
O anúncio foi feito na madrugada deste domingo, durante a festa de encerramento da Mostra, ocorrida em uma casa de shows do Rio Vermelho.
Em segundo lugar, a banda O Círculo, com A Janela (direção de Rafael Jardim) e em terceiro, a banda de hardcore Lúmpen, com O Processo, de Felipe Franka. Houve ainda menções honrosas do júri para as bandas Margot (clipe Vem, de Sarti Werthen), Umkonto (com Carapuça, de Jonga Oliveira) e Cascadura (com Mesmo Eu Estando do Outro Lado, de Luís Guilherme Campos e Zeca de Souza).
Alunos do curso de vídeo promovido pela ONG Oi Kabum na comunidade do Nordeste de Amaralina, os meninos da Realidade Sangrenta e o diretor Danilo Umbelino, que recebeu o prêmio, estavam em êxtase com a vitória inesperada. “Concorremos com clipes produzidos até em película por nomes reconhecidos nacionalmente, como Ricardo Spencer, e ganhamos mesmo assim“, observou Umbelino, eufórico.
“Só tenho a agradecer a todo o pessoal da Oi Kabum, que nos ensinou a produzir vídeo e nos forneceu o equipamento, especialmente ao professor Danilo Scaldaferri, que finalizou o clipe“, lembrou Umbelino, que após o curso preparatório da ONG, conseguiu se empregar como cinegrafista na Dimas, Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado.
A surpresa do vencedor azarão, que pode ter decepcionado alguns roqueiros presentes no local, reflete uma característica da Mostra – que alguns podem até apontar como falha: com o voto popular, quem leva mais amigos à votação, ganha o prêmio, que consistiu em um troféu e R$ 3,5 mil em dinheiro.
Apesar disso, a premiação para a rapaziada do Nordeste de Amaralina foi merecida: Favela é Assim é uma pequena crônica do dia a dia dos jovens que vivem nas comunidades carentes da cidade – verdade seja dita, uma realidade bem distante do imaginário burguês que costuma caracterizar o rock local.
A animação da festa, que varou a madrugada de ontem, ficou a cargo da Banda de Rock, uma das melhores bandas de covers da cidade.
Liderada pelo vocalista René Nobre e contando com membros da Cascadura e Os Ladrões de Bicicleta (de Ronei Jorge), o grupo preparou um repertório especial para a ocasião, com clássicos do rock local e muitos convidados. Houve homenagens à Big Ben, Camisa de Vênus, Raul Seixas, Úteros em Fúria, Lisergia, Treblinka e outros.
As fotos que ilustram essa reportagem são de Juliana Souza / Labfoto / Divulgação.
RESULTADOS:
1º Lugar - Realidade Sangrenta - Favela é Desse Jeito – (dir. Márcio Snow, Marcelo Silva e Danilo Umbelino)
http://br.youtube.com/watch?v=4pHlyHDXHag
2º Lugar - O Círculo - A Janela – (dir. Rafael Jardim)
http://br.youtube.com/watch?v=ZsHaQt2zan0
3º Lugar - Lumpen - O Processo – (dir. Felipe FranKa)
http://br.youtube.com/watch?v=OvNYtPjbiZc
Menções honrosas do júri:
1º Lugar - Margot - Vem – (dir. Sarti Werthen)
http://br.youtube.com/watch?v=TRaNVwdvC2U
2º Lugar - Umkonto - Umkonto - Carapuça – (dir. Jonga Oliveira)
http://br.youtube.com/watch?v=9JlEIGI07bY
3º Lugar - Cascadura - Mesmo Eu Estando do Outro Lado - (dir. Luís Guilherme Campos e Zeca de Souza)
http://br.youtube.com/watch?v=pcmX6J6S6Xs
segunda-feira, agosto 11, 2008
ISAAC HAYES R.I.P.
Gigante da música, Isaac Hayes, morto no último sábado, deixa uma obra recheada de clássicos da soul music
Mais conhecido pelas novas gerações como o personagem Chef, da série de animação South Park, o músico e ator Isaac Hayes foi encontrado morto aos 65 anos, no chão de sua casa em Memphis, Tenessee, pela esposa, neste último sábado (9).
Dono de um tremendo vozeirão de barítono, Hayes era, sem favor nenhum, um gênio da black music, um daqueles personagens essenciais para o gênero, com a mesma estatura de um Otis Redding (1941-1967), Sam Cooke (1931-1964) ou Marvin Gaye (1939-1984).
Foi tocando piano para Redding, aliás, que ele entrou pela primeira vez em um estúdio de gravação, ainda em 1964.
Atuando nos bastidores da lendária gravadora Stax, lar de alguns dos maiores nomes do soul, Hayes, de início, integrava as bandas Booker T & the MGs e The Bar-Kays, responsáveis por acompanhar as estrelas da casa.
Em poucos anos, porém, se firmou como artista solo, com o histórico álbum Hot Buttered Soul (1969), um cartão de visitas que resume sua obra: quente, sexy, rica em camadas e extremamente suingada.
Foi com a trilha sonora do clássico filme blaxploitation Shaft (1971), que seu nome se tornou conhecido mundialmente, faturando o Oscar de Melhor Trilha Sonora daquele ano, além de três prêmios Grammy, um Globo de Ouro e nada menos que 16 meses nas paradas de sucesso.
Também não era para menos: sob uma base de guitarras encharcadas de wah-wah e o contratempo tenso, pulsante, Hayes construiu um palácio sonoro onde ia adicionando torres de cordas, sopros e backing vocals femininos, num esforço criativo que chegava a ser barroco, tamanha a sua majestade.
Sua obra ajudou a criar as bases do que viria a ser a disco music, abrindo caminho para Barry White (1944-2003).
Nos anos 90, sua carreira ganhou novo fôlego ao emprestar sua voz cavernosa para o personagem Chef, cozinheiro da escola onde estudam os personagens da anárquica série South Park.
A parceria de anos com os criadores da série, porém, chegou ao fim quando estes resolveram voltar sua bateria contra a seita a qual era filiado, a controversa Cientologia, que tem no ator Tom Cruise seu igualmente controverso garoto-propaganda mais famoso.
No episódio, o personagem Stan entrava na seita e era reconhecido como sucessor do fundador, L. Ron Hubbard. Foi demais para Hayes, que pediu demissão. Seu personagem foi depois cruelmente morto, baleado, esfaqueado e devorado por ursos e leões. Uma pequena vingança, típica dos irreverentes criadores da série.
Hayes foi casado quatro vezes e deixa doze filhos.
Mais conhecido pelas novas gerações como o personagem Chef, da série de animação South Park, o músico e ator Isaac Hayes foi encontrado morto aos 65 anos, no chão de sua casa em Memphis, Tenessee, pela esposa, neste último sábado (9).
Dono de um tremendo vozeirão de barítono, Hayes era, sem favor nenhum, um gênio da black music, um daqueles personagens essenciais para o gênero, com a mesma estatura de um Otis Redding (1941-1967), Sam Cooke (1931-1964) ou Marvin Gaye (1939-1984).
Foi tocando piano para Redding, aliás, que ele entrou pela primeira vez em um estúdio de gravação, ainda em 1964.
Atuando nos bastidores da lendária gravadora Stax, lar de alguns dos maiores nomes do soul, Hayes, de início, integrava as bandas Booker T & the MGs e The Bar-Kays, responsáveis por acompanhar as estrelas da casa.
Em poucos anos, porém, se firmou como artista solo, com o histórico álbum Hot Buttered Soul (1969), um cartão de visitas que resume sua obra: quente, sexy, rica em camadas e extremamente suingada.
Foi com a trilha sonora do clássico filme blaxploitation Shaft (1971), que seu nome se tornou conhecido mundialmente, faturando o Oscar de Melhor Trilha Sonora daquele ano, além de três prêmios Grammy, um Globo de Ouro e nada menos que 16 meses nas paradas de sucesso.
Também não era para menos: sob uma base de guitarras encharcadas de wah-wah e o contratempo tenso, pulsante, Hayes construiu um palácio sonoro onde ia adicionando torres de cordas, sopros e backing vocals femininos, num esforço criativo que chegava a ser barroco, tamanha a sua majestade.
Sua obra ajudou a criar as bases do que viria a ser a disco music, abrindo caminho para Barry White (1944-2003).
Nos anos 90, sua carreira ganhou novo fôlego ao emprestar sua voz cavernosa para o personagem Chef, cozinheiro da escola onde estudam os personagens da anárquica série South Park.
A parceria de anos com os criadores da série, porém, chegou ao fim quando estes resolveram voltar sua bateria contra a seita a qual era filiado, a controversa Cientologia, que tem no ator Tom Cruise seu igualmente controverso garoto-propaganda mais famoso.
No episódio, o personagem Stan entrava na seita e era reconhecido como sucessor do fundador, L. Ron Hubbard. Foi demais para Hayes, que pediu demissão. Seu personagem foi depois cruelmente morto, baleado, esfaqueado e devorado por ursos e leões. Uma pequena vingança, típica dos irreverentes criadores da série.
Hayes foi casado quatro vezes e deixa doze filhos.
ESFORÇO OLÍMPICO E ROCKLOQUISTA EM PROL DAS MICRO-RESENHAS
O hype da hora! Ops, já passou...
Melhor banda de todos os tempos da última semana, o MGMT (ou The Management) está deslumbrando crítica e hypeiros de plantão com seu rock mezzo psicodélico, mezzo electro. Um curioso – e por vezes divertido – cruzamento entre Flaming Lips e Ladytron, que tem lá suas qualidades, mas está longe de ser a coisa genial que andam dizendo. Para chegar lá, ainda precisam comer muito feijão (com cogumelos, provavelmente). Não por acaso, o CD de estréia foi produzido pelo mesmo produtor dos melhores álbuns dos Lips e do Mercury Rev, Dave Fridmann. Ouvindo com critério, dá para pescar 3 bons singles: Time to Pretend (a letra é uma pérola), Kids e Electric Feel. Nota 6,5.
Oracular Spectacular
MGMT
Sony BMG
R$ 28,90
www.whoismgmt.com
Acrescente água e deguste
O cantor Elvis Costello, revelado na primeira geração do punk britânico, foi, muito provavelmente, aquele com a produção mais prolífica e com a carreira mais constante entre seus pares. Ano sim, ano não, sai um novo álbum deste irlandês, nascido Declan McManus em 1954. O melhor de toda essa inquietação é que Costello simplesmente não perde a mão para criar ótimas composições. Momofuku, o CD mais recente – o título é homenagem ao japonês que criou o macarrão instantâneo – é mais um belo prato cozido pelo cantor. Os ingredientes são rocks básicos e baladas, tudo muito direto e sem frescuras eletrônicas. Este Elvis, vivo como poucos, é hoje um artista no mesmo nível de mestres como Neil Young, Lou Reed e Van Morrison: em termos de som, seus discos podem não trazer nenhuma novidade, mas são sempre uma aula de rock, composição e gravação. Stella Hurt, No Hiding Place e American Gangster são as saborosas provas. É só degustar.
Momofuku
Elvis Costello
Universal
R$ 29,90
www.elviscostello.com
Releitura de pulps derrapa
Subintitulado As Aventuras de Fahfrd & Gatuno, o álbum As Crônicas de Lankhmar traz as adaptações que os astros dos quadrinhos Howard Chaykin (American Flagg!) e Mike Mignola (Hellboy) produziram em 1991 para o extinto selo Epic, da Marvel, a partir dos personagens criados por Fritz Leiber em 1939. Segundo estudiosos da literatura pulp, Leiber definiu, ao lado de Robert E. Howard (Conan, o Bárbaro) as bases do que veio a se tornar o hoje popular gênero espada & feitiçaria: aventuras sangrentas em mundos exóticos entre dragões, mulheres seminuas e feiticeiros malignos. A adaptação de Chaykin e Mignola, apesar de simpática, derrapa nos roteiros pouco inspirados e confusos do primeiro, jogando por terra a homenagem. As histórias simplesmente não engrenam, fazendo o leitor perder o interesse rapidamente. Uma pena, pois os desenhos de Mignola (um mestre do claro-escuro) mereciam coisa melhor.
Crônicas de Lankhmar
Howard Chaykin & Mike Mignola
Devir
200 p. | R$ 45
www.devir.com.br
Altas psicodelias gaúchas
Não é segredo para ninguém que o rock gaúcho é uma cena à parte do resto do Brasil, com sustentação e mercado próprios, além de seus indefectíveis gênios Wander Wildner, Frank Jorge, Júpiter Maçã e aquele que talvez seja o menos conhecido no resto do Brasil, Marcelo Birck. Parceiro de Jorge e do também conceituado Thomas Dreher na lendária Graforréia Xilarmônica (umas das melhores bandas que o Brasil não ouviu), Birck chega ao segundo CD solo com Timbres Não Mentem Jamais, uma tresloucada viagem entre a jovem guarda (que guiava a Graforréia), o psicodelismo, o atonalismo e o experimentalismo aparentado do kraut rock alemão. Se parece complicado para o grande público, isso não parece importar ao músico, que solta todas as petecas em faixas esquisitíssimas e dissonantes, como Cybersurf, Tchap-Tchura, Filme Surf (essa é colagem de sons, mesmo) e Skylab. Birck só alivia em algumas faixas, como Ouça Esta Canção e Muito Mais Além.
Timbres Não Mentem Jamais
Marcelo Birck
Grenal Records
R$ 20
www.marcelobirck.com
Cristianismo em apologia acurada
Gilbert Keith Chesterton (1874 -1936) foi um dos mais importantes escritores, ensaístas e pensadores do seu tempo. Suas idéias influenciaram não apenas outros escritores, como Ernest Hemingway, Jorge Luis Borges, T.S. Eliott e até mesmo o pop Neil Gaiman, mas também apontaram caminhos para ícones da luta pela paz, como Gandhi, Martin Luther King e Michael Collins (um dos fundadores do IRA irlandês). Nascido anglicano, converteu-se ao catolicismo em 1922. Não por acaso, seu personagem mais famoso, o detetive Padre Brown, é um religioso. Em Ortodoxia, Chesterton faz a sua defesa do cristianismo com a pena afiada que lhe era peculiar.
Ortodoxia
G. K. Chesterton
Mundo Cristão
264 p. | R$ 17,90
mundocristao.com.br
Melhor banda de todos os tempos da última semana, o MGMT (ou The Management) está deslumbrando crítica e hypeiros de plantão com seu rock mezzo psicodélico, mezzo electro. Um curioso – e por vezes divertido – cruzamento entre Flaming Lips e Ladytron, que tem lá suas qualidades, mas está longe de ser a coisa genial que andam dizendo. Para chegar lá, ainda precisam comer muito feijão (com cogumelos, provavelmente). Não por acaso, o CD de estréia foi produzido pelo mesmo produtor dos melhores álbuns dos Lips e do Mercury Rev, Dave Fridmann. Ouvindo com critério, dá para pescar 3 bons singles: Time to Pretend (a letra é uma pérola), Kids e Electric Feel. Nota 6,5.
Oracular Spectacular
MGMT
Sony BMG
R$ 28,90
www.whoismgmt.com
Acrescente água e deguste
O cantor Elvis Costello, revelado na primeira geração do punk britânico, foi, muito provavelmente, aquele com a produção mais prolífica e com a carreira mais constante entre seus pares. Ano sim, ano não, sai um novo álbum deste irlandês, nascido Declan McManus em 1954. O melhor de toda essa inquietação é que Costello simplesmente não perde a mão para criar ótimas composições. Momofuku, o CD mais recente – o título é homenagem ao japonês que criou o macarrão instantâneo – é mais um belo prato cozido pelo cantor. Os ingredientes são rocks básicos e baladas, tudo muito direto e sem frescuras eletrônicas. Este Elvis, vivo como poucos, é hoje um artista no mesmo nível de mestres como Neil Young, Lou Reed e Van Morrison: em termos de som, seus discos podem não trazer nenhuma novidade, mas são sempre uma aula de rock, composição e gravação. Stella Hurt, No Hiding Place e American Gangster são as saborosas provas. É só degustar.
Momofuku
Elvis Costello
Universal
R$ 29,90
www.elviscostello.com
Releitura de pulps derrapa
Subintitulado As Aventuras de Fahfrd & Gatuno, o álbum As Crônicas de Lankhmar traz as adaptações que os astros dos quadrinhos Howard Chaykin (American Flagg!) e Mike Mignola (Hellboy) produziram em 1991 para o extinto selo Epic, da Marvel, a partir dos personagens criados por Fritz Leiber em 1939. Segundo estudiosos da literatura pulp, Leiber definiu, ao lado de Robert E. Howard (Conan, o Bárbaro) as bases do que veio a se tornar o hoje popular gênero espada & feitiçaria: aventuras sangrentas em mundos exóticos entre dragões, mulheres seminuas e feiticeiros malignos. A adaptação de Chaykin e Mignola, apesar de simpática, derrapa nos roteiros pouco inspirados e confusos do primeiro, jogando por terra a homenagem. As histórias simplesmente não engrenam, fazendo o leitor perder o interesse rapidamente. Uma pena, pois os desenhos de Mignola (um mestre do claro-escuro) mereciam coisa melhor.
Crônicas de Lankhmar
Howard Chaykin & Mike Mignola
Devir
200 p. | R$ 45
www.devir.com.br
Altas psicodelias gaúchas
Não é segredo para ninguém que o rock gaúcho é uma cena à parte do resto do Brasil, com sustentação e mercado próprios, além de seus indefectíveis gênios Wander Wildner, Frank Jorge, Júpiter Maçã e aquele que talvez seja o menos conhecido no resto do Brasil, Marcelo Birck. Parceiro de Jorge e do também conceituado Thomas Dreher na lendária Graforréia Xilarmônica (umas das melhores bandas que o Brasil não ouviu), Birck chega ao segundo CD solo com Timbres Não Mentem Jamais, uma tresloucada viagem entre a jovem guarda (que guiava a Graforréia), o psicodelismo, o atonalismo e o experimentalismo aparentado do kraut rock alemão. Se parece complicado para o grande público, isso não parece importar ao músico, que solta todas as petecas em faixas esquisitíssimas e dissonantes, como Cybersurf, Tchap-Tchura, Filme Surf (essa é colagem de sons, mesmo) e Skylab. Birck só alivia em algumas faixas, como Ouça Esta Canção e Muito Mais Além.
Timbres Não Mentem Jamais
Marcelo Birck
Grenal Records
R$ 20
www.marcelobirck.com
Cristianismo em apologia acurada
Gilbert Keith Chesterton (1874 -1936) foi um dos mais importantes escritores, ensaístas e pensadores do seu tempo. Suas idéias influenciaram não apenas outros escritores, como Ernest Hemingway, Jorge Luis Borges, T.S. Eliott e até mesmo o pop Neil Gaiman, mas também apontaram caminhos para ícones da luta pela paz, como Gandhi, Martin Luther King e Michael Collins (um dos fundadores do IRA irlandês). Nascido anglicano, converteu-se ao catolicismo em 1922. Não por acaso, seu personagem mais famoso, o detetive Padre Brown, é um religioso. Em Ortodoxia, Chesterton faz a sua defesa do cristianismo com a pena afiada que lhe era peculiar.
Ortodoxia
G. K. Chesterton
Mundo Cristão
264 p. | R$ 17,90
mundocristao.com.br
segunda-feira, agosto 04, 2008
70 ANOS-LUZ
Superman, o imigrante definitivo criado por Jerry Siegel e Joe Shuster, chega aos 70 anos com muita história para contar
Com essa, nem Lex Luthor contava. Sem grande alarde e voando muito acima das cabeças dos terráqueos, Kal-El, o kryptoniano que caiu ainda criança no Kansas, completa 70 anos de intensa atividade, salvando o mundo incontáveis vezes.
Sim, seja lá como ele se chame hoje no Brasil – Superman (grafia utilizada nas revistas atuais) ou Super-Homem – o primeiro herói com super-poderes dos quadrinhos está há nada menos que sete décadas entre os humanos.
Apesar de Lee Falk ter criado o Fantasma (em 1934) e Mandrake (em 1936), foi só com o alienígena concebido por Jerome “Jerry“ Siegel (1914-1996) e Joseph “Joe“ Shuster (1914-1992) em 1938 que a população terrestre se deparou com o primeiro representante de uma nova estirpe de aventureiro científico: o super-herói, aquele que é mais do que humano, é um übbermensch (super-homem em alemão) – conceito criado pelo filósofo Friedrich Nietzsche e que mais tarde, distorcido por Adolf Hitler, foi também uma das bases do nazismo.
A grande ironia disso tudo é que tanto Siegel quanto Shuster eram judeus. O primeiro era filho de imigrantes lituanos, enquanto o segundo nasceu no Canadá e se mudou com seus pais para Cleveland, Ohio, aos dez anos de idade.
Se conheceram ainda crianças, e, talvez devido à sensação de não-pertencimento que assalta os imigrantes – e aos seus filhos, como Jerry Siegel – se tornaram grandes amigos, compartilhando os mesmos interesses por narrativas de aventura e ficção científica.
Já em 1933, criaram uma primeira versão para o personagem no fanzine The Reign of The Superman (O Reino do Superman), onde ele era um vilão telepata que dominava o mundo. Rejeitado pelas editoras que procuraram para publicar o material, o vilão foi engavetado e retrabalhado durante os próximos cinco anos.
Diz a lenda que a versão original do Superman herói surgiu à Siegel após um pesadelo que o fez acordar banhado em suor, certa noite de 1937. Ele teria pulado da cama e corrido doze quarteirões até a casa de Shuster, para lhe passar a idéia do bebê que chega à Terra numa “nave-câmara-matricial“, enviado de um planeta à beira da destruição. Uma espécie de imigrante definitivo, portanto.
Após uma série de contatos, a dupla conseguiu emplacar o personagem com a National Allied Publishing (atual DC Comics), prestes a lançar a revista Action Comics (publicada ininterruptamente, até hoje, com histórias do personagem).
Pela primeira HQ de 13 páginas do Superman, Siegel & Shuster receberam US$ 130, ou seja, US$ 10 por página. Com o grande sucesso do personagem, iniciou-se uma batalha legal pelos direitos do personagem que duraria décadas.
QUASE DEUS
O toque de gênio de Siegel & Shuster foi – como costuma acontecer com grandes criações – projetarem a si mesmos no personagem. No caso, no fato do Superman ser um estranho numa Terra estranha, alguém que esconde um grande segredo disfarçado de um tímido repórter, Clark Kent, caipira do Kansas numa grande cidade: a fictícia Metrópolis.
No início, ele não voava, dando grandes saltos sobre os edifícios. Com o tempo, contudo, tanto seus poderes, quanto sua galeria de amigos e inimigos cresceram exponencialmente.
Logo, ele não apenas voaria, como seria capaz de até mesmo mover planetas inteiros com sua super-força. Seus super-poderes seriam resultado da radiação do sol amarelo, que causaria este efeito nos kryptonianos – banhados em seu planeta natal por um sol vermelho.
Os personagens que o cercam são igualmente inesquecíveis. Lois Lane, a repórter dinâmica e ousada para sua época, que implica com o jeitão caipira e desajeitado de Clark desde o início, sem saber que ele é o Superman, por quem se apaixona – e mais tarde, vem a se casar.
Jimmy Olsen, o jovial fotógrafo sardento que é o seu melhor amigo e usa um relógio sinalizador para chamar o herói onde quer que ele esteja.
Ambos ficaram tão populares que ganharam cada um suas próprias revistas: Lois Lane, Superman‘s Girlfriend e Jimmy Olsen, Superman‘s Pal. Ambas duraram mais de 20 anos.
E claro, Lex Luthor, o genial arqui-inimigo, que só encontrou sua forma definitiva na década de 80, recriado por John Byrne como um bilionário empresário corrupto capaz de fazer Daniel Dantas se molhar nas calças.
O “Último Filho de Krypton“, contudo, logo descobriria que não era exatamente o derradeiro representante de sua espécie. Logo cairiam na Terra sua prima Kara Zor-El (Supermoça), o General Zod e os criminosos da Zona Fantasma (magistralmente retratados no filme Superman II, com Terence Stamp como Zod), além de uma cidade inteira que se desprendeu na explosão de Krypton: Kandor, reduzida e engarrafada pelo vilão Brainiac.
Sua única fraqueza era a kryptonita, destroços de Krypton que caíram na Terra, arremessados pela sua explosão. Nos anos 70, porém, o Superman consegue destruir toda a kryptonita da Terra, tornando-se todo-poderoso, quase um deus. Na década de 80, isso se reverteria com a reformulação do personagem.
Por conta de uma confusão editorial muito maior do que este espaço poderia dar conta, a DC Comics decidiu, em 1985, rever todo o seu universo durante um evento denominado Crise nas Infinitas Terras, reiniciando as revistas de seus principais personagens desde o número um, contratando grandes artistas para dar conta do recado.
A tarefa de reimaginar o Superman coube ao experiente John Byrne, o nome mais quente do mercado americano de então (ao lado de Frank Miller, que pegou o Batman), graças ao espetacular trabalho desenvolvido com Chris Claremont nos X-Men para a Marvel.
Byrne reaproximou o herói das suas origens, dando limites para a sua força, reintroduzindo a kryptonita, reinventando Luthor como bilionário corrupto e investindo no relacionamento com Lois, que ganhou um upgrade, inspirado na dinâmica entre Bruce Willis e Cybill Shepherd no seriado A Gata e o Rato, de enorme sucesso na época. Essa dinâmica seria depois reaproveitada no seriado Lois & Clark - As Novas Aventuras do Superman.
De lá para cá, a DC e a Warner criaram uma infinidade de produtos midiáticos com o personagem, sendo os mais significativos o filme que o trouxe de volta ao cinema (e dividiu a crítica), Superman - O Retorno, o seriado Smallville (enfocando sua juventude e na oitava temporada) e os seriados Superman Animated Series e Liga da Justiça Sem Limites.
Nos quadrinhos, vale conhecer a premiada e sensível série Grandes Astros: Superman, de Grant Morrisson (Os Invisíveis) e Frank Quitely (Novos X-Men), entre outras – enquanto o centenário não vem.
Com essa, nem Lex Luthor contava. Sem grande alarde e voando muito acima das cabeças dos terráqueos, Kal-El, o kryptoniano que caiu ainda criança no Kansas, completa 70 anos de intensa atividade, salvando o mundo incontáveis vezes.
Sim, seja lá como ele se chame hoje no Brasil – Superman (grafia utilizada nas revistas atuais) ou Super-Homem – o primeiro herói com super-poderes dos quadrinhos está há nada menos que sete décadas entre os humanos.
Apesar de Lee Falk ter criado o Fantasma (em 1934) e Mandrake (em 1936), foi só com o alienígena concebido por Jerome “Jerry“ Siegel (1914-1996) e Joseph “Joe“ Shuster (1914-1992) em 1938 que a população terrestre se deparou com o primeiro representante de uma nova estirpe de aventureiro científico: o super-herói, aquele que é mais do que humano, é um übbermensch (super-homem em alemão) – conceito criado pelo filósofo Friedrich Nietzsche e que mais tarde, distorcido por Adolf Hitler, foi também uma das bases do nazismo.
A grande ironia disso tudo é que tanto Siegel quanto Shuster eram judeus. O primeiro era filho de imigrantes lituanos, enquanto o segundo nasceu no Canadá e se mudou com seus pais para Cleveland, Ohio, aos dez anos de idade.
Se conheceram ainda crianças, e, talvez devido à sensação de não-pertencimento que assalta os imigrantes – e aos seus filhos, como Jerry Siegel – se tornaram grandes amigos, compartilhando os mesmos interesses por narrativas de aventura e ficção científica.
Já em 1933, criaram uma primeira versão para o personagem no fanzine The Reign of The Superman (O Reino do Superman), onde ele era um vilão telepata que dominava o mundo. Rejeitado pelas editoras que procuraram para publicar o material, o vilão foi engavetado e retrabalhado durante os próximos cinco anos.
Diz a lenda que a versão original do Superman herói surgiu à Siegel após um pesadelo que o fez acordar banhado em suor, certa noite de 1937. Ele teria pulado da cama e corrido doze quarteirões até a casa de Shuster, para lhe passar a idéia do bebê que chega à Terra numa “nave-câmara-matricial“, enviado de um planeta à beira da destruição. Uma espécie de imigrante definitivo, portanto.
Após uma série de contatos, a dupla conseguiu emplacar o personagem com a National Allied Publishing (atual DC Comics), prestes a lançar a revista Action Comics (publicada ininterruptamente, até hoje, com histórias do personagem).
Pela primeira HQ de 13 páginas do Superman, Siegel & Shuster receberam US$ 130, ou seja, US$ 10 por página. Com o grande sucesso do personagem, iniciou-se uma batalha legal pelos direitos do personagem que duraria décadas.
QUASE DEUS
O toque de gênio de Siegel & Shuster foi – como costuma acontecer com grandes criações – projetarem a si mesmos no personagem. No caso, no fato do Superman ser um estranho numa Terra estranha, alguém que esconde um grande segredo disfarçado de um tímido repórter, Clark Kent, caipira do Kansas numa grande cidade: a fictícia Metrópolis.
No início, ele não voava, dando grandes saltos sobre os edifícios. Com o tempo, contudo, tanto seus poderes, quanto sua galeria de amigos e inimigos cresceram exponencialmente.
Logo, ele não apenas voaria, como seria capaz de até mesmo mover planetas inteiros com sua super-força. Seus super-poderes seriam resultado da radiação do sol amarelo, que causaria este efeito nos kryptonianos – banhados em seu planeta natal por um sol vermelho.
Os personagens que o cercam são igualmente inesquecíveis. Lois Lane, a repórter dinâmica e ousada para sua época, que implica com o jeitão caipira e desajeitado de Clark desde o início, sem saber que ele é o Superman, por quem se apaixona – e mais tarde, vem a se casar.
Jimmy Olsen, o jovial fotógrafo sardento que é o seu melhor amigo e usa um relógio sinalizador para chamar o herói onde quer que ele esteja.
Ambos ficaram tão populares que ganharam cada um suas próprias revistas: Lois Lane, Superman‘s Girlfriend e Jimmy Olsen, Superman‘s Pal. Ambas duraram mais de 20 anos.
E claro, Lex Luthor, o genial arqui-inimigo, que só encontrou sua forma definitiva na década de 80, recriado por John Byrne como um bilionário empresário corrupto capaz de fazer Daniel Dantas se molhar nas calças.
O “Último Filho de Krypton“, contudo, logo descobriria que não era exatamente o derradeiro representante de sua espécie. Logo cairiam na Terra sua prima Kara Zor-El (Supermoça), o General Zod e os criminosos da Zona Fantasma (magistralmente retratados no filme Superman II, com Terence Stamp como Zod), além de uma cidade inteira que se desprendeu na explosão de Krypton: Kandor, reduzida e engarrafada pelo vilão Brainiac.
Sua única fraqueza era a kryptonita, destroços de Krypton que caíram na Terra, arremessados pela sua explosão. Nos anos 70, porém, o Superman consegue destruir toda a kryptonita da Terra, tornando-se todo-poderoso, quase um deus. Na década de 80, isso se reverteria com a reformulação do personagem.
Por conta de uma confusão editorial muito maior do que este espaço poderia dar conta, a DC Comics decidiu, em 1985, rever todo o seu universo durante um evento denominado Crise nas Infinitas Terras, reiniciando as revistas de seus principais personagens desde o número um, contratando grandes artistas para dar conta do recado.
A tarefa de reimaginar o Superman coube ao experiente John Byrne, o nome mais quente do mercado americano de então (ao lado de Frank Miller, que pegou o Batman), graças ao espetacular trabalho desenvolvido com Chris Claremont nos X-Men para a Marvel.
Byrne reaproximou o herói das suas origens, dando limites para a sua força, reintroduzindo a kryptonita, reinventando Luthor como bilionário corrupto e investindo no relacionamento com Lois, que ganhou um upgrade, inspirado na dinâmica entre Bruce Willis e Cybill Shepherd no seriado A Gata e o Rato, de enorme sucesso na época. Essa dinâmica seria depois reaproveitada no seriado Lois & Clark - As Novas Aventuras do Superman.
De lá para cá, a DC e a Warner criaram uma infinidade de produtos midiáticos com o personagem, sendo os mais significativos o filme que o trouxe de volta ao cinema (e dividiu a crítica), Superman - O Retorno, o seriado Smallville (enfocando sua juventude e na oitava temporada) e os seriados Superman Animated Series e Liga da Justiça Sem Limites.
Nos quadrinhos, vale conhecer a premiada e sensível série Grandes Astros: Superman, de Grant Morrisson (Os Invisíveis) e Frank Quitely (Novos X-Men), entre outras – enquanto o centenário não vem.
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