A festa de lançamento já tem data e local: 31 de março, na casa de shows Boomerang. "Estamos vendo se trazemos o Autoramas para tocar com a gente, mas isso ainda não está confirmado. Queremos fazer um festão mesmo, tipo baile de debutantes", avisa Dudu de Carvalho (guitarra e vocal).
Formada por Dudu, Loinho Sweet (baixo), Mary (backing vocal), Michael (guitarra) e Glauco (bateria), a LC surgiu em 2002, mas só começou a fazer shows no ano seguinte. "Eu tinha uma outra banda, mas que não tinha muito a ver, na verdade. Fiz umas letras, mas o pessoal só gostou de uma, chamada Mercadologia. Isso mudou o tom da banda e acabou por definir o estilo da Los Canos", conta Dudu, autor de quase todas as faixas do disquinho.
Não a toa, Mercadologia é exatamente a primeira faixa e cartão de visitas do CD, com sua letra transbordante de angústia adolescente: "Ontem eu fui ver / um show de Wander Wildner / e lá eu percebi / que eu não tenho a guitarra que eu queria ter / que eu não tenho o carro que eu queria ter / que eu não tenho a mulher que eu queria ter / e amanhã vou acordar cedo pra fazer trabalho / de mercadologia", berra o vocalista sobre uma base inequívoca de punk rock old school, coisa de quem ouviu muito Ramones.
Esbanjando sabedoria de pátio de colégio no seu som cru - ou "tosco", como classificam os críticos mais ranhetas - a Los Canos logo começou a chamar a atenção nos cenários alternativos local e nacional. Já em 2004, lançaram seu primeiro registro em CD, o EP Meu hobby é te amar, sucesso instantâneo no meio rock n' roll, facilitado pela distribuição das faixas em MP3 pelo Brasil afora.
No mesmo ano, começaram a viajar para se apresentar nos festivais de rock de outros estados, tendo tocado no Rio, São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Rio Grande do Norte e Paraíba. Em terras cariocas, chegaram cheios de moral, como uma das apostas do festival Ruído. "A gente tava meio apavorado de tocar no Rio. No mesmo dia, saíram matérias sobre o festival n'O Globo e no JB dando um puta destaque pra Los Canos", recorda Loinho Sweet. "Quando a gente soube que o Tom Capone estava na platéia especialmente para nos ver então, eu comecei a tremer. Sério, minha mão tremia na guitarra", confessa Dudu, referindo-se ao famoso produtor brasiliense morto em 2004 num acidente de moto em Los Angeles, logo após a cerimônia do Grammy Latino que premiou o primeiro CD da cantora Maria Rita.
De lá para cá, a banda começou a gravar o CD que acaba de chegar, além de continuarem tocando com a banda, estudando na faculdade e trabalhando nos seus empregos normais. Tocaram no histórico festival Claro q é Rock, que balançou a Concha Acústica em 2005 com o show da banda inglesa Placebo, além do Goiânia Noise, MADA e Festival Do Sol (ambos no Rio Grande do Norte) e Mor-Março (Paraíba). Já abriram shows para bandas como Autoramas, Cansei de Ser Sexy, Lulu Santos, Pitty, Marcelo D2 e Forgotten Boys, entre muitos outros.
Em Goiânia, travaram contato com Fábio Mozine, agitador da cena punk capixaba, vocalista das bandas Mukeka di Rato e Os Pedrero e dono do selo local Läjä Records. Mozine, que já havia gostado do EP de 2004, prontamente se disponibilizou para lançar o primeiro CD da LC. "Foi um lançamento do tamanho que a gente queria. O Läjä é um selo que lança várias bandas que a gente gosta e o patrão (Mozine) é super empolgado com nosso som, o cara é cheio de idéias. E mais: o CD tá baratinho (R$ 13) e será distribuído nos locais onde ele realmente será procurado", garante Loinho.
O mais legal é que o selo capixaba ainda tem um acordo com o selo japonês Karasu Killer, ganhando distribuição na Terra do Sol Nascente. "Me senti o próprio Jaspion quando recebi o material promocional da Karasu, umas fotos nossas com aqueles caracteres japoneses" brinca o baixista.
"Tentamos fazer o disco mais fofútil do mundo. Nos inspiramos em nossas namoradas, mesmo, tanto que o encarte tem um design (de Mauro Ybarros / Open Mind) imitando aquelas agendas de menina", conta Dudu.
Satisfeitos com o que conseguiram até agora, mas dispostos a conseguir muito mais, os meninos e menina da Los Canos querem trabalhar direitinho o lançamento do seu primeiro filhote. "Estou muito satisfeito com a banda e com o disco, menos comigo. A pior coisa da Los Canos é a gente mesmo", ri Loinho, cheio da auto-depreciação adolescente que é a cara da banda.
Resenha: Eles vão invadir sua praia
Um disco que já começa dizendo que "ontem eu fui ver um show do Wander Wildner" só pode ser bom. Inspirados pelo rei gaúcho do punk-brega, um bem-vindo tom de galhofa permeia todo o primeiro CD da Los Canos - a começar pelo título, Cada dia mais limpo e romântico, uma tiração de sarro com o clássico punk Cada dia mais sujo e agressivo (1987), dos Ratos de Porão de João Gordo.
Esperta, a rapaziada da LC sabe que é muito fácil fazer gênero de rockeiro malvado e parte para o caminho inverso - ou fofútil, como definiu seu vocalista Dudu de Carvalho. O resultado é uma deliciosa coleção de 14 faixas solares, velozes, auto-irônicas e despretensiosas. Punk rock bubblegum estilo Ramones até o osso, as letras enfocam aqueles tipos tão comuns e universais na vida escolar de todos nós: a patricinha que nunca nos deu bola (em Patrícia), a Garota Nota Sete ("mas que é bem melhor que sua garota nota dez") ou a adolescente lésbica ("Ela não gosta de mim / por que não gosta de garotos").
Cada dia mais limpo e romântico chega a lembrar uma outra estréia fonográfica de 22 anos atrás: Nós vamos invadir sua praia, do Ultraje a Rigor. Assim como o genial primeiro disco da banda paulista, o debute da Los Canos é uma verdadeira sucessão de canções fáceis, candidatas a hit e quase sempre, muito engraçadas, aptas a animar qualquer festinha. Desde já, um dos melhores lançamentos do rock baiano em 2007.
Cada Dia Mais Limpo e Romântico - Los Canos
R$ 13. Onde comprar: Copylux - Gráfica e Presentes Especiais (G Barbosa Costa Azul, tel.: 3341-1102) ou pelo e-mail: frangoterecords@gmail.com
http://www.fotolog.com/loscanos
Matéria publicada no jornal A Tarde do dia 24 de fevereiro de 2005. Texto sem a edição do jornal.