Eldo Boss em seu cantinho. Foto Daniele Cézar |
Qual não foi a surpresa do colunista ao receber um novo contato de Eldo, desta vez rebatizado Eldo Boss e com um novo trabalho, como rapper.
Rebaianizar é o título do seu EP de seis faixas, que já chega todo conceituado, como “um disco para resgatar e ressignificar a música rap baiana”, promete o artista.
Se cumpre o que promete, o colunista prefere deixar para os reais entendidos em hip hop (confesso minha ignorância), mas o fato é que Rebaianizar tem mesmo bons momentos, como Avião, Cidade Groove Caos e É Proibido Aqui.
"Desde o antigo grupo eu mesclava elementos do rap com rock, cresci ouvindo bandas que faziam isso, como Planet Hemp, Pavilhão 9, Rodox e Rage Against the Machine. O rap brasileiro mudou bastante, a 'nova safra' consegue caminhar por outros caminhos, como samba, MPB, rock e jazz, o que potencializou a vertente nacionalmente e atraiu músicos de outros estilos. Em relação ao nascimento da figura Eldo Boss, eu fiz um trabalho a convite de uma produtora local que foi meu passo inicial em maio de 2018, lancei duas musicas com eles, depois a Aquahertz Beats me abraçou e produzimos esse EP além de singles", relata Eldo.
“A ideia e a concepção de disco como objeto de cultura esta se perdendo por que, para fazer um, é necessário conteúdo, experimentalismo e, acima de tudo, coragem. Possivelmente muito disso falta a cena local. Se nos reportarmos aos anos 90, uma parte (do rap) era feito com bandas, em bases orgânicas. Os grandes artistas de rap hoje como Rincon, Rael, Emicida e até o Racionais MCs nessa ultima tour, todos se apresentam com banda. Quero reaver essa importância dos elementos orgânicos e não simplesmente reproduzir / “copiar” o que vem do Sul, somos riquíssimos, podemos reconstruir”, exorta o rapper.
"Isso é rebaianizar, resgatar o que temos de melhor musicalmente sem regras ou grilhões. Temos artistas que já entenderam esse caminho, como Opanijé, Xarope MC, Baco Exu do Blues (inclusive ele é o primeiro produto rentável vindo da Bahia na roupagem do rap), entre outros, trazendo elementos tipicamente da nossa raiz oriunda das matrizes africanas. A cena ainda é primária, necessita de um grande investimento como acontece no eixo RJ/SP, entretanto talentos não faltam, pois desde os anos 90 existe um movimento acontecendo, principalmente nas periferias. Hoje com a abertura das plataformas de streaming, a possibilidade de levar seu som para diversos lugares com um clique deixou tudo mais dinâmico, porém criou uma montanha de repetidores, deixando o ouvinte mais passivo do que seletivo. A cena baiana carece de produções artísticas focadas na formação de público e trabalhos mais profissionais. Existem sites especializados no gênero como o RAP071 e canais como o BASE071, mas ainda é pouco, faltam festivais relevantes no estilo, cursos de formação, oficinas periódicas, enfim um apoio mais forte", detalha.
Rock conservador não dá
Eldo, o pensador. Foto Daniele Cézar |
“Sou instrumentista e, junto com o produtor do disco, Marcelo Santana, construímos todas as linhas de forma orgânica. Toquei todos os instrumentos menos guitarra baiana, que ficou a cargo de Marcelo”, conta.
“Buscamos resgatar essa essência e trabalhar com o que acreditávamos ser real. No EP tem muita guitarra e refrãos pesados, que lembram ate punk além de versos mais melancólicos. Sampleamaos diretamente do vinil vários trechos de nomes baianos, desde Dorival Caymmi a Camisa de Vênus, passando por Caetano Veloso. Extraí o máximo dentro de uma roupagem que engloba o pós-hip hop, desde os elementos estéticos da nossa música como sonoros. Priorizei na produção geral apenas a participação de mulheres, desde as canções que contam com Elana Laela (Coletivo Vira Lata) e Mari Buente (A Cama de Manuela) e produção de todo material gráfico de Isadora Furlan, artista plástica que assinou a capa. A cultura brasileira deve demais ao Nordeste, não existe nada comparável na música brasileira a João Gilberto ou à Nação Zumbi. Nacionalmente, na guitarra, Missinho do Chiclete e Pepeu dos Novos Baianos são monstros sem o merecido reconhecimento”, descreve.
A transição do metalcore para o rap, afirma Eldo Boss, foi natural. De fato, desde a Dynamus ele já namorava com o gênero.
E agora, o providencial e necessário dedo na ferida. “O rap é um elemento de rua, do ao vivo, das vivências urbanas, algo muito próximo do hardcore e do thrash metal, que foram minhas escolas. O rock está ficando cada vez mais conservador e enfadonho no Brasil. Esse disco foi um grito nesse quadro caótico, uma forma de reinvenção”, afirma, certíssimo.
Sábado tem som no Mercadão CC. "Sim, dia 25 no Mercadão CC, com Underismo e Faustino Beats. Tem uma produção da Bonke Music, junto com o DJ Nei MHC, que traz muitos convidados, uma festa muito legal. Além disso, tenho algumas datas fechando no interior e certas no segundo semestre para Belo horizonte e São Paulo, vou passar uma temporada lá. Com isso, ainda farei algumas apresentações em Salvador e região metropolitana ainda esse semestre", conclui.
Cola lá.
Festa Sem Ideia – Com Underismo, Eldo Boss, Faustino Beats, Yan Cloud, A cama de Manuela, Rajada de Conciencia e convidados / Sábado, 16 horas / Mercadão.cc / R$ 10
https://www.bossdiscos.com/
NUETAS
Death metal fest
Behavior, God Funeral e a paulista Podridão fazem o Bahnhof Death Fest nesta sexta-feira, as 20 horas. Extermine seus canais auditivos no Club Bahnhof SSA, R$ 25.
Invena, GOR, E4P
Invena, Game Over Riverside e Entre 4 Paredes trazem as Soterorock Sessions de volta. O esquema é neste sábado, no Buk Porão, às 19 horas e com entrada a R$ 10. Prossigam, Soterorock Sessions!
Sanitário Sexy sábado
A grande banda juazeirense Sanitário Sexy volta à Salvador sábado, na já tradicional session dos sábados no Bardos Bardos. Desfrute o espaço público na Travessa Basílio da Gama (Rio Vermelho) às 19 horas, prestigie a cerveja da casa e pague quanto quiser.
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