terça-feira, março 26, 2019

E EU TAVA LÁ? NÃO LEMBRO

Beatles e Oasis-maníaco, o ex-Starla Ted Simões faz revisão da vida em  segundo solo, Você Não Estava Lá

Ted e seu (nosso) Beatle preferido, em foto Daniela Dias Mendes
No início dos 2000, uma das (muitas) bandas que volta e meia agitavam o saudoso Calypso no Rio Vermelho era a Starla, um das últimas do indie rock local que ainda rezavam pelo cânone original do estilo: guitarras apitando, melodias sessentistas, uma certa melancolia.

Com o fim da banda, o vocalista e guitarrista Ted Simões lançou seu primeiro CD solo: Old Memories, Recent Damages, Future Nightmares (2016). Agora veio o segundo: Você Não Estava Lá.

Melhor que o antecessor, Você Não Estava Lá é meio que um álbum de memórias para o músico, que nele reuniu composições de várias épocas de sua vida, de 1998 até 2018.

“Na verdade, são 10 canções ‘perdidas’ e uma inédita. O conceito é justamente esse, de celebrar esses 20 anos de carreira. São canções de bandas que fiz parte nessas duas décadas, desde meu primeiro show, em 1998. Canções que sempre gostei e que nunca foram lançadas”, conta Ted.

À exceção da bateria (a cargo do ex-Starla Bruno Grilo Guimarães), todos os outros instrumentos foram gravados por Ted.

“A faixa que fecha o disco, Tudo Passa, estava no repertório do meu primeiro show, com a banda Heresia (1997/ 99). Mais duas canções da Mr. Kite (banda que tive entre 1999 e 2002) e algumas que ficaram de fora do único disco da Starla (2003/10)”, conta.

“ A única inédita é Devagar, que é uma melodia que eu tinha desde 1999, mas não conseguia me satisfazer com a letra. No meio do processo de gravação, ela surgiu”, relata.

Show em breve

Ted Simões, foto Daniela Dias Mendes
Além da Starla e do projeto solo, Ted talvez seja mais conhecido do público pelas bandas cover que toca: Cavern Beatles, Oasis e Foo Fighters Cover.

Ouvindo seus dois álbuns, a influência de Beatles e Oasis fica bem evidente – o que não é necessariamente ruim.

“(Desde 2015) Fiz alguns shows do (primeiro) disco, lancei uns videoclipes e continuei compondo bastante. Aprendi a gravar as demos em casa e gosto de ficar experimentando um pouco. Mas meu tempo quase todo é com a Cavern Beatles, que era um projeto de diversão e se tornou uma coisa enorme em minha vida. Tenho muito carinho e muito orgulho de tudo que conquistamos. Meu tempo quase todo é com a Cavern Beatles, que era um projeto de diversão e se tornou uma coisa enorme em minha vida. Tenho muito carinho e muito orgulho de tudo que conquistamos”, afirma.

“O Oasis foi um grande, enorme, assombroso impacto em minha vida. É normal que as músicas tenham uma sonoridade similar à deles. Compus a grande maioria na época em que eles eram a maior banda do planeta. E se no meu primeiro disco eu consegui um pouco desvencilhar dessa sonoridade, nesse segundo eu escancarei. É a coisa mais justa a se fazer, apesar de muitos pensarem que não há originalidade no disco. E eu concordo com isso. Afinal, mostra a sinceridade em que as canções surgiram. E o projeto cover tinha dado um tempo, mas volta agora em maio. Já estou com saudades”, admite.

Cria de todo o contexto roqueiro dos anos 90 (grunge, Britpop, MTV etc), Ted lamenta que, hoje, o rock daquela década não seja tão apreciado pela molecada mais nova - o que também é compreensível, mas enfim.

"Os anos 90 estão carimbados em minha testa. Como disse antes, seria muito oportunismo de minha parte tentar soar moderno ou diferente. É assim que me expresso através da música, com sinceridade. Os anos 90 foram os últimos anos importantes pro rock, que realmente virou coisa de tiozinho. E a culpa é meio que nossa. Não sei porque, mas de repente quem tinha hit, quem era grande, era um 'vendido'. Sabe aquela coisa Dolabella de 'você traiu o movimento punk?' Estar na rádio, na TV, ter uma canção muito tocada se tornou algo pejorativo. De repente, todo mundo queria ser underground - e conseguiram. Os últimos grandes hits do rock nacional foram Mulher de Fases e Anna Júlia. Isso já tem o que, 20 anos? Depois tiveram alguns sucessos, mas muito longe de serem clássicos absolutos do rock nacional. O texto também ficou sofisticado demais. Você soma isso também à uma geração menos politizada que prefere cantar coisas como 'estou num bar, quero pegar a mulherada e beber a noite toda'. É diferente da geração de Cazuza, Renato Russo, Humberto Gessinger, que viveu a ditadura, a repressão. O rock sempre foi embate, e não se comunica mais com essa nova geração. Não sei se é justo dizer que emburrecemos (é sempre o caminho mais fácil), mas com certeza temos outras prioridades. Eu não tenho muita moral pra dizer que o rock precisa se reinventar, pois é o que menos fiz nesse meu último disco. Mas ao menos é preciso descer um pouco do pedestal que nós mesmos criamos", afirma.

Você Não Estava Lá está disponível nas plataformas digitais e à venda no Bandcamp.

“Farei o show de lançamento dia 6 de julho, ainda sem local definido. Espero fazer mais alguns e começar a trabalhar no meu próximo disco no início do ano que vem”, conclui.



NUETAS

Cantadores quinta

Ana Barroso, Maviael Melo, Joana Terra e Roberto Mendes são as atrações da edição de março da Varanda dos Cantadores. Quinta-feira, 21h30, na Varanda do Teatro SESI – Rio Vermelho. R$ 30.

CTR-X, Duda, Sideral

Evento da banda CTRL-X, o Festival Rock Games bota  Duda Spínola, Arte Sideral e Noturnos no Paraíso no palco do Portela Café. Sábado, a partir das 16 horas. Ingressos R$ 15 (Sympla), R$ 20 na porta.

O imortal Jorginho

Jorginho King Cobra comemora seu aniversário de 623 anos (mentira, são 50 mesmo) reunindo suas bandas Space Rovers e... King Cobra. Sábado, no Groove Bar, 22 horas. R$ 25 (Sympla) e R$ 35. Apague as velhinhas (ops) com ele.

sábado, março 23, 2019

INVESTIGAÇÕES JAZZÍSTICAS ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA

Acompanhado de Mou Brasil, saxofonista  francês Samy Thiébault se apresenta hoje no teatro da Aliança Francesa 

Samy Thiébault, foto Laurence Laborie
Hoje não tem Jam no Mam (mas sábado que vem, sim). Porém, os amantes do jazz não estarão desatendidos esta noite.

O Teatro Molière da Aliança Francesa é o reduto jazzístico de hoje, com a atração internacional Samy Thiébault, saxofonista e flautista francês.

Samy vem à Bahia dentro da programação do Mês da Francofonia, evento anual promovido pelas Alianças Francesas no mundo todo.

No palco do Molière, Samy se apresenta acompanhado da referência local Mou Brasil (guitarra), que dispensa apresentações, mais dois grandes músicos: Ldson Galter (baixo) e Beto Martins (bateria).

Nascido na ex-colônia francesa da Costa do Marfim, Samy tem seu trabalho caracterizado pela busca das origens étnicas do jazz.

Seu último trabalho, Caribbean Stories, é um exemplo disso, tratando-se de uma investigação de ritmos afro-caribenhos sob a ótica do jazz. Uma audição bastante agradável, diga-se de passagem.

“O repertório de  Caribbean Stories é um novo mergulho do jazz em suas raízes caribenhas. Eu estou muito ansioso para adicionar à esse repertório a visão brasileira dessas composições. O Brasil é uma fonte de inspiração muito forte para as músicas vivas, como o jazz, e para a minha língua”, afirma Samy, por email.

“(Me apresento em Salvador) Graças à rede das Alianças Francesas, formidável vetor de desenvolvimento da cultura francesa no mundo e, sobretudo, fonte de encontros e trocas – que são justamente as razões das turnês”, diz.



Coltrane e a Bahia

Mou Brasil em foto de Hirosuke Kitamura
Para Samy, as raízes da música feita nas Américas (jazz, primordialmente) estão nas primeiras colônias caribenhas, daí sua paixão pelo tema.

“A música original americana vem de toda essa herança caribenha. As fontes do jazz, antes de estarem em Nova Orleans (EUA), estão nas Antilhas, em Cuba, na Venezuela, Jamaica”, diz.

“Essas são as primeiras terras de miscigenação, feitas em meio à violência e por vezes do amor, mas criadoras de uma cultura que mudou o mundo. Chegou a hora de reconhecer isso e se inspirar”, afirma.

Em Salvador, Samy espera aprofundar suas investigações musicais sobre as raízes negras do jazz: “Com certeza! Minhas turnês são frequentemente o início de um novo ciclo e eu viajo para fora essencialmente por esse motivo: descobrir, encontrar e me questionar”.

“E, sim, o que eu digo sobre a miscigenação no Caribe é ainda mais impressionante nessa cidade. John Coltrane dedicou uma música a ela, isso não é um acaso”, acrescenta o músico, certamente se referindo à versão de Coltrane para Na Baixa dos Sapateiros (de Ary Barroso), do álbum justamente intitulado Bahia, de  1965 – versão que, aliás, deverá estar no repertório do show de hoje.

Apesar de ansioso para conhecer, Samy confessa que ainda não sabe muito sobre a música baiana: “Eu devo confessar que ainda vou descobri-los: venho com os ouvidos bem abertos”, conta.

Estilo baseado na capacidade de improviso, o jazz se vale muito da intuição de seus músicos. Hoje, vale a pena seguir o exemplo deles e comparecer na Aliança Francesa.

Jam na Aliança Francesa / Com Samy Thiébault (FR), Mou Brasil e Banda / Hoje, 20h30 / Onde: Teatro Molière da Aliança Francesa Salvador / R$ 20 e R$ 10 / Venda antecipada: Sympla / Classificação indicativa: Livre

terça-feira, março 19, 2019

HOMENS DE AÇO

Joe Shuster: O Artista Por Trás do Superman presta bela homenagem aos criadores do personagem ao narrar suas duras vidas

Quem vê o Superman hoje em dia, todo pimpão voando em produções milionárias nas telas do cinema, TV, streaming etc nem imagina que, por trás da criação deste personagem / arquétipo maior-do-que-a-vida, há uma triste história de exploração e descaso.

É o que descobrimos lendo a HQ Joe Shuster: O artista por trás do Superman, de Julian Voloj e Thomas Campi.

Criado pelo desenhista Joe Shuster e pelo roteirista Jerry Siegel na década de 1930, o Superman foi lançado às revistas em quadrinhos em 1938 – e foi um sucesso imediato.

Logo estava nas ondas do rádio, nas telas do cinema e da TV. Um negócio milionário para a National Publications, futura DC Comics.

E bote milionário nisso. Jovens e inexperientes, Siegel e Shuster venderam o personagem por míseros 130 dólares.

Na HQ de Voloj e Campi, a narrativa é centrada em Shuster, que narra sua história em primeira pessoa, desde a infância, até 1975, ano em que se iniciou a produção de Superman - O Filme (1978), o  insuperável clássico  dirigido por Richard  Donner e estrelado por Christopher Reeve.

Os intestinos da indústria

Fruto de muita pesquisa (há uma bibliografia e uma vasta seção de notas no livro), a HQ detalha bastante a trajetória de Shuster.

Seu encontro com Siegel ainda no ensino médio (high school nos EUA) mudou sua vida para sempre.

Menino tímido e fã de quadrinhos de jornal e ficção científica, ele encontrou em Siegel um entusiasmado parceiro, adepto das mesmas coisas.

Logo estavam fazendo planos e suas primeiras tentativas para criar seus próprios personagens de quadrinhos.

A primeira ideia do que viria a ser o Superman é bem detalhada e estava mais próximo do conceito do Übermensch nietzschiano do que do simpático Clark Kent.

Era a história de um andarilho que passa por um experimento de cientista maluco, ganhando super poderes, tornando-se um pretenso ditador do mundo.

Poucos anos depois, a dupla chegou ao personagem como o conhecemos hoje – e caiu na conversa mole dos executivos da editora, tornando-se, em vez de donos do próprio personagem, empregados da National por décadas a fio, ganhando pouco e trabalhando como remadores de Ben-Hur.

Aprofundada, a narrativa desfia muitos detalhes não só da vida de Siegel e Shuster, mas da própria indústria gráfica americana, o que incluía até ligações com a máfia, além das implicações do maccarthismo e sua caça às bruxas nos anos 1950 na indústria e na vida dos protagonistas.

À duras penas, Shuster foi tão marginalizado que  chegou a trabalhar de carteiro para poder se sustentar, enquanto a DC só se agigantava graças à sua criação.

O ápice aconteceu justamente em 1975, quando o artista foi resgatado de um banco de praça no Central Park em Nova York, passando frio e fome.

Um policial o abordou e, vendo sua triste situação, pagou-lhe um prato de sopa.

Quando a produção de Superman - O Filme foi anunciada, foi a gota d’água para Siegel.

Irado, ele escreveu uma carta aberta (hoje antológica), detalhando a via-crúcis da dupla  e a enviou aos meios de comunicação.

A notícia correu o mundo e mobilizou a comunidade de quadrinhos norte-americana.

Temendo a má publicidade, a Warner (dona  da DC), fez um acordo com os dois.

Espetacular, a HQ de Voloj e Campi é um tributo não só aos dois criadores, mas ao próprio espírito de justiça e verdade encarnado pelo Superman.

Joe Shuster: O artista por trás do Superman / Julian Voloj e Thomas Campi / Aleph/ 192 p./ R$ 59,90

FIAT LUX

Em busca de iluminação, Duda Spínola lança novo trabalho sábado no Bardos Bardos

Duda Spínola, foto Uanderson Brites
Ex-guitarrista da banda Adão Negro (de 2006 a 2013), Duda Spínola retorna à cena trazendo seu melhor trabalho solo: o EP de quatro faixas Lúmen. Neste sábado, ele apresenta as músicas no Bardos Bardos, a partir das 19 horas.

Cada vez mais afiado como compositor, guitarrista e cantor, Duda faz um som pop rock muito acessível e fácil de gostar, com pegada segura e letras legais em bom português.

Em Lúmen, o destaque entre as quatro faixas vai para Tudo Tem Preço, que traz uma furiosa participação do ilustríssimo Márcio Mello cantando em dueto com Duda.

“Sempre quis convidá-lo para colaborar em algo comigo, e percebi que esse era o momento. Ele topou na hora, e fiquei muito feliz com o resultado”, conta Duda.

“Márcio tem grande importância, é um cara que já teve canções gravadas por muitos artistas relevantes, que tem uma obra extensa. Quem o conhece de perto sabe que ele é respeitado e querido por muita gente bacana do cenário musical em âmbito nacional. Então, tê-lo no meu EP é, antes de um grande prazer, uma honra”, acrescenta.

Econômico, o último trabalho de Duda antes de Lúmen foi outro EP: Direto ao Ponto, de 2016. Mas engana-se quem acha que o rapaz ficou parado esse tempo todo.

Fiz lançamentos menores neste período. Lancei duas versões do meu projeto de vídeo Studio Sessions, o primeiro foi Ele e Ela, com participação de Eric Assmar. E o segundo, uma inédita: Vazio e Sem Alma, e que virou single”, conta.

“Além de um EP com versões acústicas de minhas canções, chamado Acústico e Móvel (2018). Agora senti que era o momento de um lançamento um pouco maior, um EP, músicas inéditas”, afirma.

O rock que ilumina

Na labuta solo desde 2013, Duda confessa que passou por um momento de cansaço em 2018, quando deu uma parada após anos gravando e fazendo shows pela Bahia.

“Acabei precisando dar uma parada, porque bateu um cansaço mesmo, tanto físico quanto mental. Acho que o momento complicado do nosso país, uma certa retração no cenário rock do último ano pra cá, acabaram contribuindo para essa parada, que, felizmente, durou pouco”, conta.

“O título do EP Lumen é sobre a luz à qual recorremos quando as coisas não andam tão boas, e essa força de Rogério BigBross, Wilson Santana e Tony Lopes (Trinca de Selos e Bardos Bardos) em resistir dando espaço ao rock, foi uma das luzes que iluminaram as trevas do meu cansaço e desânimo. Vida longa a eles e ao rock baiano”, conclui Duda.

Duda Spínola: Lumen / Lançamento: Sábado, 19 horas / Bardos Bardos / Pague quanto puder



NUETAS

Bayo e Pali sexta

A incrível Pali Trombon: sexta na Commons
Bayo e Pali Soundsystem se apresentam sexta-feira no Commons Studio Bar. Bayo é o novo e elogiado projeto de Graco (Bailinho de Quinta). E Pali é a argentina trombonista  regueira mais baiana que você já viu. 22 horas, R$ 15.

Afrocidade e Neo

Uma das sensações do verão, a banda Afrocidade recebe o sul-africano Neo Muyanga no encerramento de verão do projeto Toca! no Goethe-Institut.  Sexta-feira, 20 horas,  R$ 30 e R$ 15 (1º lote).

Feijão, Retros, Gigito

Assaltado e depredado logo antes do Carnaval, o reduto rocker Bardos Bardos promove bazar com feijoada para ajudar a casa, com Retrofoguetes e Gigito. Feijoada: R$ 20. Os shows você diz quanto valem. Domingo, 13 horas.

quinta-feira, março 14, 2019

AS CANÇÕES QUE HERBERT FEZ PRA MIM

Colegas de geração, Biquíni Cavadão presta um terno tributo ao líder do Paralamas no álbum Ilustre Guerreiro

Miguel Flores, Álvaro Birita, Bruno e Coelho, foto Vinícius Mochizuki
Um das bandas mais longevas de sua geração, o Biquíni Cavadão vem comendo pelas beiradas e formando público desde 1983

Ora nas paradas de sucesso, ora fora delas, construiu sua carreira em paralelo aos Paralamas do Sucesso, cujo líder eles agora homenageiam no álbum-tributo Ilustre Guerreiro, já disponível.

Com oito faixas, o CD tem o título inspirado no próprio nome do homenageado: Herbert, informa o material de divulgação, é palavra de origem germânica cuja tradução é justamente “ilustre guerreiro”.

É uma bela homenagem, que soa ainda mais sincera quando se sabe da antiga ligação entre o Paralama-mór e o Biquíni: o primeiro era namorado da irmã do vocalista Bruno Gouveia e, mais tarde, foi o próprio Herbert quem sugeriu o nome Biquíni Cavadão para a banda do amigo – entre vários outros detalhes que conectam ambos os grupos.

“Os Paralamas sempre nos inspiraram muito em suas atitudes profissionais. Com eles aprendemos muito sobre o respeito mútuo. Seus shows sempre foram uma grande referência para nós”, conta Bruno Gouveia, por email.

“Emoção e alegria tem que fazer parte de toda apresentação. Todo show tem que ser um momento de gratidão com nosso público. E finalmente, sempre acreditar na música, letra e melodia”, acrescenta.

No repertório, duas facetas do Herbert compositor foram contempladas: a do jovem descolado em sua fase inicial (Vital e Sua Moto, Ska) e o hitmaker romântico, poético, que toma o resto da obra com grandes sucessos: Mensagem de Amor, Cuide Bem do Seu Amor, O Amor Não Sabe Esperar, Se Eu Não Amasse Tanto Assim, Só Pra Te Mostrar e Aonde Quer Que Eu Vá.

Apesar da predominância das canções de amor, o álbum soa bem variado, com a abordagem de cada canção fugindo bastante das versões originais.

O caso mais óbvio é Se Eu Não Te Amasse..., que do mela-cueca original foi convertido em um rock quase pesado em tempo acelerado.

“A busca (na seleção do repertório) foi desde a memória afetiva, com as primeiras faixas, passando por uma tentativa de cobrir diversas fases, além de apresentar também o compositor Herbert que fez músicas para além de sua própria banda”, conta Bruno.

“Daí, escolhermos músicas gravadas por Daniela Mercury (Só Pra Te Mostrar) e Ivete Sangalo (Se Eu Não Te Amasse...). Mas tudo isso, dando a cara do Biquíni Cavadão para cada uma das faixas”, afirma.

Juntos desde 1983, foto Vinícius Mochizuki
Faltou o Herbert político

Se o lado romântico de Herbert ficou super bem-representado, uma outra importante faceta sua, a do cronista social contestador, foi deixada de lado.

Uma pena, ainda mais dados tanto a qualidade das suas canções “de protesto”, quanto o momento atual, que as pede desesperadamente.

Mas há que se entender as razões do Biquíni: “Não foi proposital, apenas não aconteceu. Algumas, como Alagados, consideramos impossível de recriar, perfeita em sua concepção. Outras foram menos votadas na nossa seleção. Nos casos de Selvagem e Perplexo havia o contexto da época que já se perdeu no tempo, como  a censura do filme Je Vous Salue Marie, de Jean-Luc Godard (citada) em Selvagem  ou o Plano Cruzado de  José Sarney em Perplexo”, considera Bruno.

“Num ambiente em que (já faz tempo)  os extremistas dão o tom em ambos os lados, ficou ainda mais difícil dar um viés político às músicas, já que a mentalidade hoje é totalmente binária. Ou é zero ou é um. A crítica deveria servir como reflexão, não como um posicionamento a favor desta ou daquela ideologia”, acrescenta, acertando na mosca.

Feitas as considerações, vale apreciar o esforço do quarteto, que produziu um álbum bem pop e dançante e que conseguiu estabelecer sua própria identidade em canções bem conhecidas pelo grande público.

Além dos experientes músicos, parte do mérito certamente cabe ao produtor do disco, ninguém menos que Liminha: “Gravar com Liminha foi suprir uma lacuna em nossa trajetória. Pelo fato de sermos uma banda sem baixista desde o ano 2000 (com a saída do membro fundador André Sheik), a participação dele como produtor se fez dentro da banda, assumindo as quatro cordas”, conta Bruno.

“Isso fez com que trocássemos constantemente de ideias no desenvolvimento dos arranjos. As ideias vieram de todos os lados, mas claro que ele nos deu ótimos rumos”, diz.

Amigos de longa data, os Paralamas já receberam seus CDs para apreciar a homenagem: “Sabemos que ele está com o álbum e soubemos que todos curtiram. Como ainda não nos encontramos, deixamos para conversar sobre isto mais tarde, quando for a ocasião, e não por Whatsapp  ou telefone”, diz Bruno.

Agora é aguardar a próxima visita do Biquíni à cidade para apreciar o novo show ao vivo: “Estamos sedentos de saudade de Salvador. Sempre tocamos no Nordeste mas nossa última apresentação por aí foi no réveillon de 2018. Queremos mais! Estamos ansiosos para voltar”, conclui.

Ilustre Guerreiro / Biquini Cavadão / Independente /  Produzido por Liminha / R$ 29,90 / www.lojabiquini.com.br

SENTIMENTO NACIONAL

Crítica ao atual sentimento nacional, Todo Meu Ódio é a banda nova de Shinna (Pancreas)

Shinna (óculos escuros) e a TMÓ, foto Ilane Brisa
Sujeito boa-praça, inquieto e roqueiro raiz, Shinna Voxzelicks já animou muitas nights em inferninhos do Rio Vermelho à frente da banda Pancreas.

Como esse negócio de banda de rock em Salvador é muito complicado e não dá camisa a ninguém, o grupo entrou em hiato por tempo indeterminado em 2017, após muitos shows e três álbuns gravados.

Buliçoso, Shinna não se deu por vencido e eis que a figura ressurge à frente de um novo grupo, de nome bastante sugestivo: Todo Meu Ódio.

Mas calma. O que poderia ser tomado como um incentivo ao sentimento que ora afoga a nação é na verdade uma crítica, uma observação ao estado das coisas neste belo e triste país.

“Um belo dia eu estava surfando nas redes sociais e só li coisas negativas. Daí, fiz uma postagem positiva e só levei pedrada. Dias depois, fiz uma postagem negativa e escrota e só recebi risadas e curtidas”, relata Shinna.

“Isso me deu muito ódio porque é uma inversão de valores e uma valorização da estupidez. Pensando nisso, comecei a escrever letras somente com o tema ódio. Aproveitei e pedi a colegas que me mandassem letras com o mesmo tema. Tony Lopes (Reverendo T), meu ídolo e guru, me mandou várias. Minha querida amiga Nalini também mandou”, continua.

Não demorou e Shinna convocou o amigo e guitarrista Yori Maldonado (guitarrista).

“Ele topou na hora. Depois de um período experimental, a gente se arrumou mesmo foi com a chegada de Ricardo Vögler (baixo) e Francis Nascimento (bateria)”, conta.

“O ódio é um sentimento muito forte e, talvez, seja o sentimento mais verdadeiro que a gente tem, principalmente os brasileiros, por todas as dificuldades que a gente passa”, acrescenta.

Curto e grosso

Em dezembro, o quarteto lançou seu primeiro álbum, o curto e grosso Ódiomocracia, pela trinca de selos Brechó - São Rock - BigBross.

No som, punk rock mais para Titãs (fase Cabeça Dinossauro) e Plebe Rude do que para o hardcore.

“O disco foi produzido pelo genial Rafael Menduyn. Desde o início, ainda nos ensaios, a gente já se planejava pra gravar logo e queríamos um disco forte e rápido”, conta.

“A gente procura fazer nosso som o mais simples possível e com total liberdade. Sempre buscamos valorizar ao máximo a mensagem das nossas letras. O punk rock nos deixa bem confortáveis pra isso. A nossa sonoridade tem fortes influências dos Ramones, Sex Pistols, Titãs e Plebe Rude. A nossa filosofia é contestar tudo, sempre”, conclui Shinna.



NUETAS

Artur e TMÓ no BB

E quem curtiu a Todo Meu Ódio aí do lado pode conferir seu pocket show quinta-feira, no Bardos Bardos, a partir das 19 horas. Pague o quanto quiser. Na sexta-feira, no mesmo bat-local, o grande Artur Ribeiro (ex-Theatro de Seraphin) apresenta suas novas composições cheias de poesia e sensibilidade. Mesmo esquema: 19 horas, pague...

Black metal alemão

Rapeize do black metal que se programe: em turnê pelo Brasil, a banda alemã Goath se apresenta em Salvador dia 21 (quinta-feira), no Club Banhöf Ssa (antigo Idearium, à Rua Guedes Cabral, 20, Rio Vermelho). Marcado para as 20h30, com ingressos a R$ 30 e – atenção – vendidos somente na porta. Formada em 2015, a Goath vem da cidade de Nürnberg (Bavária) e traz no seu som a tradição das grandes bandas alemãs do estilo. Perdei e apodrecei nas profundas luciferianas!...

sexta-feira, março 01, 2019

SEREMOS RESISTÊNCIA

Reduto de camisas pretas, o Festival Palco do Rock chega aos 25 anos como uma opção para quem não usa abadá

Professor Doidão & Os Aloprados, foto Marcelo Moraes 
Se é verdade que todo rebanho tem sua ovelha negra, eis aqui a contraparte à sombra do colorido e alegre Carnaval baiano: o festival Palco do Rock, realizado há 25 anos e começando de amanhã até terça-feira no Coqueiral de Piatã.

Pastoreando as ovelhas desencaminhadas neste quarto de século está a produtora Sandra de Cássia, que este ano coordena a estrutura que vai receber 39 bandas (média de dez por dia) e público que pode variar de duas a cinco mil pessoas por dia.

De saída, vale deixar claro: este está longe de ser o festival ideal que os fãs do rock gostariam de ver.

Provavelmente, está longe de ser o festival que a própria Sandra gostaria de ver.

Todo Meu Ódio, foto Ilane Brisa
Mas é o festival possível de ser feito, dadas as condições.

Por isso, palmas à boa vontade da produtora, às bandas e ao público que o prestigia – todos em busca de uma opção de carnaval  com a qual se identificam, já que envergar um abadá está fora de cogitação pra galera de camisa preta.

“(O PdR) é um divisor de águas, incentivador da cena, revelador de talentos, enfim. É bom que se diga que em 25 anos o Palco do Rock foi criado para ser o que é, e se mantém”, demarca Sandra.

Ainda que seja amado por muitos e detestado por tantos outros, o fato é que há 25 anos o PdR é produzido na raça: “Sem dinheiro, no primeiro momento. Não temos apoio  financeiro ou logístico do Governo. Seria ótimo se os convênios fossem finalizados antes da festa. Há alguns anos o apoio do Governo do Estado - Bahiatursa, só acontece após a realização do Festival, a duras buscas”, afirma.

Jack Doido, foto Paulinha Topázio
Se não há apoio financeiro, a produtora conta com a fidelidade de pelo menos uma instância do governo estadual: “Contamos com o apoio da 15ª CIPM  (Companhia Independente da Polícia Militar de Itapuã),  responsável pelo planejamento do nosso efetivo com um contingente especial que nos dá suporte”, conta.

Da parte da Prefeitura, porém, há mais apoio logístico, como palco, banheiros químicos etc: “Contamos com excelente apoio da Prefeitura. Há muito tempo não faltam tais itens estruturais, e agora mais apurados”, afirma.

Como dito mais acima, esse apoio ainda é muito pouco diante da visão da produtora ao que seria minimamente ideal: “Comparado ao que é distribuído no Carnaval de Salvador, ainda estamos muito abaixo do que seria considerado ideal. Temos uma proposta de estrutura grandiosa, com espaços de interação de artistas emergentes, poetas, artesãos, grafiteiros, stands sociais,  espaços interativos infantis para as crianças que já frequentam o ambiente, além de passagens aéreas e afins para bandas de outros estados”, reivindica Sandra.

Arcantis, foto Carlos Fides e Ana Prado
Metal & Cia. 

Na edição deste ano, 39 bandas: boa parte delas é  de heavy metal e seus subgêneros.

Há consagradas locais, como a internacional Malefactor, Behaviour, Inner Call,  Indominous e Arcantis.

Bandas visitantes, como as sergipanas Maua e Words Guerrilla, as pernambucanas Crematorium e Alkimenia  e a paranaense Kattah.

Bandas de rock em geral, como Professor Doidão & Os Aloprados (raulseixista), Batrakia (hard rock), Jack Doido (alternativo), Os Informais (pop rock) e Mensageiros do Vento (pop rock).

E também boas novidades, como  Space Rovers (stoner), Ander Leds (alternativo) e Todo Meu Ódio (punk rock ‘77).

“Todas as bandas são recomendáveis. A grade é montada contemplando os diversos estilos”, afirma Sandra.

Programação Festival PDR 2019

Inner Call, foto Rafael Souza
Sábado
VLZ
Cães
Jack Doido
Jacau (Itabuna-BA)
Space Rovers
Sacrificed (MG)
Malefactor
Evollution
Os Informais
4 Stones

Domingo
Invertebrados
Professor Doidão e Os Aloprados
Luppula
Awaking
Maua (SE)
Inner Call
Words Guerrilla (SE)
God Funeral
Mensageiros do Vento
Lucilia in the Music Box

Space Rovers, foto Diego Orge
Segunda-feira
Ander Leds
Alibal Conspiracy
Death Tales
Carburados
Electric Poison
Kattah (PR)
Act of Revenge
Crematorium (PE)
Motherfucker
Bruma

Terça-feira
Todo Meu Ódio
Batrakia
Indominus
Guga Canibal
Arcantis
Ynys Wydryn
Behavior
Alkimenia (PE)
Jackeds