Muntchako: Mundiais Tchatchatchas Nocauteadores. Foto Ferreira Maia |
Sem limites estéticos, o som do trio vai do tango argentino à guitarrada paraense, com escalas no forró nordestino, ska jamaicano, batidão carioca e rock planetário.
Poderia ser um horror. Poderia ser um samba do candango doido.
Mas é um dos melhores discos do ano – e um sério manifesto em favor da música instrumental, mostrando o quanto ela pode ser pop, divertida e perfeitamente acessível.
Muntchako, o álbum, foi lançado em LP (vinil) e nas plataformas digitais. Tem poucas faixas, apenas sete.
O lance é que quase todas as faixas são mais ou menos longas (para os padrões da música pop), entre os seis e os sete minutos.
Sem letras – exceto Cardume de Volume, com a participação da MC carioca Deize Tigrona – o álbum acabou por tomar feitio de sinfonia, como se fosse uma única e longa peça em sete movimentos.
“Desde o início, o Curumin (produtor do disco) falou que nosso som tinha muito de mixtape, de escutar tudo como se fosse uma mixtape de DJ, tudo emendado, som pra pista. Achamos muito massa, porque saiu assim, a pegada que desejávamos imprimir era essa de rebolar até o sol raiar! Faço parte de um coletivo de DJs / festa / rádio chamada Criolina e tem uma pegada super dançante. Então, quando escutamos isso, pensamos que era o caminho que estávamos seguindo inconscientemente, pero no mucho”, conta Rodrigo Barata (bateria e samples).
“Não sei por qual motivo, mas todas as nossas criações ficaram longas até aqui, exceto o single 'Young O’Brien', que foi uma encomenda para uma coletânea da companhia de teatro Os Melhores do Mundo. A música tem mais de 3 minutos (o que é muito pouco pra gente, quando tá ficando bom, acaba, hehehe), diferente das demais que chegam a ter 8 minutos, como 'Vitamina Central'. Nesta música a gente acaba se divertindo com o som e deixa rolar. Acho que não é errônea (essa sua impressão) não, várias pessoas comentam isso, e estamos na busca de produzir coisas mais enxutas, mas até agora a gente não conseguiu, e assim segue o baile”, acrescenta Macaxeira Acioli (percussão e samples), que fecha o power trio com Samuel Mota (guitarra, banjo, synths, programações e samples).
"A composição já começa com essa babilônia musical. Vamos com um riff, ou uma levada de percussão, ou uma melodia. E a partir disso vamos destrinchando, mudando e variando sem cerimônias. Linkando um som com o outro, vendo se as passagens ficam legais, se as convenções se encaixam e ajudam na mudança de uma parte para a outra. Vamos construindo no feeling, mas ao mesmo tempo com muito cuidado. Como a formação musical dos músicos é bem eclética, conseguimos transitar em várias paisagens e nos sentimos a vontade!", descreve Barata.
Sobre a edição em vinil e o trabalho com o badalado produtor, Macaxeira afirma que "Sim, somos apreciadores da bolacha preta, e olhar para a prateleira de casa e ver um vinil prensado com produção de Curumin e arte de Shiko é instigante. Estamos felizes com o material final e com toda experiência que essa produção nos deu, trabalhar com Curumas, em estúdio, foi uma grande faculdade. O cabra é um cozinheiro de som, timbreiro nato, sabe o que quer e é antenadíssimo com os sons que rolam aí afora e isso deixou a gente muito seguro. Embora tenha tirado a gente da zona de conforto em alguns momentos. Utilizando 'Emojubá' como exemplo: ele achava que a música estava muito óbvia, e nos levou para outro ambiente, picotando a música e inserindo elemento e contagens ímpares de execução, grooves ou riffs... Foi massa! E não só apenas o contato com o profissional e músico, mas a figura humana de Curumin, é um cabra de energia boa, easy going geral, e a gente se deu super bem".
"Temos fetiche e um tesão gigante pelo vinil, um sonho de muito tempo de lançar uma obra neste formato! O fato de ser grande parte instrumental e ter referências old school também ajuda. Mas o que possibilitou mesmo, foi um edital em Brasília da Secretaria de Cultura, o FAC. O valor é muito elevado, e se não fosse ele, a bolacha não sairia do papel", acrescenta Barata.
"Perseguimos um pouco essa sonoridade old school, sim. Samuca tem essa caída natural e ouvidos para timbres setentistas. Eu, particularmente, curto muito essa sujeira, e o vinil potencializa tudo isso, aquela sujeirinha gostosa de ouvir tomando um vinho e fazendo fumaça, é bom demais. A pilotagem com uma vitrola é outra coisa, abrir o encarte, sentir aquele cheirinho, colocar o disco no pino, descer a agulha e escutar aquele chiadinho... Existe poesia ali, na minha cabeça é artesanal e terapêutico, é como preparar um cigarrinho de tabaco orgânico, tem um ritual. Somos amantes do vinil", diz Macaxeira.
“Tamo no fight”
Muntchako Foto Ferreira Maia |
“Samuca e Barata iniciaram no mundo da música tocando rock, está na veia mesmo. Curtimos uma distorção, um peso! E o Maca, mesmo vindo de uma escola de musica mais regional, é um safado de um rockêro! Matutamos muito pra chegar nessa capa. Conversamos diversas vezes com Shiko, e a nossa vontade era que essa capa representasse a luta de todos nós, a latinidade, a diversidade, a dança, o urbano, a sudorese tropical e a vontade de fazer o que gosta sem preconceitos. A pilha de meter o pé na porta e falar que 'tamo no fight'. Que vamos pra cima de qualquer situação que venha contra o que acreditamos e o que defendemos através da nossa arte, do nosso som. Que mesmo com esse momento punk que estamos passando, existe algo mais forte e duradouro”, afirma Barata.
“Deixamos Shiko bem à vontade para criar, brifamos algumas palavras soltas e temas de forma aleatória, acho que ele foi feliz em trazer esse dialogo tão preciso nos dias de hoje, uma figura enigmática, lutadora, diversa, pronta e afiada pra cair na luta contra o preconceito. Não podemos tolerar todo esse retrocesso e pensamento medieval. E é nosso papel trazer esse diálogo, num pais onde a cada 18 horas um homo-afetivo é assassinado, vítima de preconceito e intolerância. Precisamos de mais beijos e abraços, mais amor”, diz Macaxeira.
Ponta de lança da nova cena musical brasiliense, o Muntchako quer fazer bonito em palcos baianos, oportunidade que ainda não pintou para o trio. "Nó! Brasília tá em ebulição criativa! Muitas bandas, projetos, sons ecoando das garagens, casas, estúdios e ruas. A produção não para, e é muito rica. Mas ainda faltam espaços, temos pouca circulação interna, porque temos pouco público para ver as novidades. Brasília tem pilha de escutar coisas novas, mas ainda é muito segmentado", conta Barata.
"A cidade está em ebulição, muita coisa massa rolando em Brasília, uma cidade cheia de sotaques e ritmos. E só aumenta essa mistura. Brasília tem uma cena de choro e samba muito forte, e o fomento da escola de choro tem um papel fundamental nesse processo. Além de uma cena de reggae e claro, o rock... E é legal ver bandas vendendo o almoço para comprar a janta e caindo na estrada, Almirante Shiva, Joe Silhueta, A Engrenagem, Esdras Nogueira, Consuelo, Trampa, Scalene, Forró Red Light, e a gente fica bem feliz de tá nesse meio, levando nossa misturas para outras vielas", acrescenta Macaxeira.
“Quem não ama a Bahia, não é? Com certeza ela está na formação musical do Muntchako. Desde Dorival, Gil, Caetano, Olodum, Ilê Ayê, samba de roda do recôncavo baiano, passando por Lettieres Leite e Rumpillez, Baiana System, Larissa Luz, O Quadro, Retrofoguetes, Attoxxaaa, Ministério Público Bahia... tem muito som rolando!!! E sobre ir a Bahia já estamos conversando com alguns parceiros músicos e produtores da cena, doidos pra viabilizar esse rolê! Mas ainda não temos nada certo. Vamos construir essa ida, e quem sabe em 2018 não rola?”, promete Barata.
"Tenho laços bem estreitos com a música baiana, cresci escutando Luiz Caldas, Dorival, Banda Mel, Chiclete com Banana nos primórdios, Ilê, Sarajane, muito samba reggae e samba de roda na veia, além de olhos voltados para um dos berços da percussão no Brasil, em cada esquina um percussionista corda vermelha... E é terra de Baiana System, que para mim é a grande novidade da música brasileira dos últimos tempos. Os caras deslocaram o epicentro da música baiana e modificaram o coreto, então pra gente fazer um som nesse caldeirão é muito massa. Ainda não tocamos em Salvador, e temos instiga gigante para que isso aconteça. Baêaaaa minha porraaaa! (risos) A gente bebe muito dessa água e se lambuza todo, viva a Bahia e sua gente, suas cores, sons, crenças e sabores", conclui Macaxeira, naquele entusiasmo.
Muntchako / Muntchako / Produção: Curumin / Zarabatana Records / Disponível em LP e nas plataformas digitais / Preço do LP não divulgado / Download MP3 gratuito: www.muntchako.com
Um comentário:
Vamos?
http://www.elcabong.com.br/cascadura-anuncia-show-unico-para-comemorar-25-anos/
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