Edy Star, foto Gal Oppido |
Pode pensar, a gente espera.
Esse cara é Edy Star, uma lenda viva do rock e da MPB que, aos 80 anos, lança seu segundo álbum solo 43 anos depois do primeiro, Sweet Edy (Som Livre, 1974) – e 46 anos depois do disco pelo qual é mais lembrado, o clássico A Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10 (CBS, 1971), gravado em grupo com Raul Seixas, Sérgio Sampaio e Míriam Batucada.
Cabaré Star, o tardio e mais que bem-vindo retorno, é uma pérola do ano que finda e traz participações dos artistas citados, mais Raul Seixas e Emílio Santiago, in memoriam.
Os responsáveis pela façanha, além do próprio Edy são Sergio Fouad e Zeca Baleiro, que produziram o disco e o lançaram pelo selo deste último, o Saravá Discos.
“Quando começamos a trabalhar, o Zeca falou: ‘seu disco não pode ser 8 nem 80, tem que ser mil’. Então estou muito satisfeito”, conta Edy.
Sem pisar em estúdios profissionais há décadas, Edy confessa que ficou um pouco perdido logo de início: “Eu chorei no estúdio, eu não estava preparado. Mas a generosidade do Zeca foi imensa. Eu não tinha ideia de como funciona para gravar. Mas é maravilhosa a tecnologia que se usa agora”, conta, por telefone.
Há uns dois anos, Edy postou um vídeo em suas redes sociais pedindo ajuda para gravar um álbum novo – no qual também deu aquela choradinha.
“Aí o Zeca me ligou e disse que queria fazer um disco comigo, um disco com o espírito de um show. Chegamos a ter 80 e tantas músicas para selecionar. Muita gente fez música para mim, mas não deu pra botar tudo”, conta.
“Mas conseguimos fazer um disco como um show de cabaré: com variações de ritmos, de sentimentos, paixões rasgadas, muita gozação. Um disco com a cara de Star”, diz.
"No encarte do disco eu agradeço muito a generosidade do Zeca, que botou os músicos dele à minha disposição. Fizemos um show com os mesmo músicos e o Zeca foi e me elogiou no palco, é um cara que eu amo. Nos conhecemos quando fui num projeto só de músicas do Gonzagão em 2011. Ele sabe muito da MPB, conhece tudo. E gente com cultura me fascina, eu aprendo muito, e ele é impressionante. Agradeço de joelhos", rasga Edy.
Sessão das Dez: Edy, Míriam Batucada, Sérgio Sampaio e Raulzito |
Em Cabaré Star, Edy homenageia os três parceiros da Sessão das Dez gravando canções suas – e faz um verdadeiro inventário de malditos brasileiros.
De cara, o álbum abre com Eu Fiz Pior, do pernambucano Lula Côrtes (1949 - 2011), que ele classifica como “O maior roqueiro do Brasil”.
"Lula Côrtes foi o maior roqueiro do Brasil. Gosto muito de Erasmo, de fulano e beltrano, mas me perdoem, o maior roqueiro do Brasil foi Lula. Ele teve uma vida sofrida. O admiro há muito tempo. Quando o conheci, ele tava tocando um instrumento de três cordas nos primeiros shows de Alceu Valença, isso em 1972, era um cara que já tinha paixão, ele tinha um jeito de falar muito engraçado. Aí ano passado eu fui fazer um festival no Recife, o Desbunde Elétrico, com uma homenagem ao Lula. Eu cantei O Clone e disse que o primeiro disco que eu gravar, ponho uma música do Lula", relata.
Outro acerto foi incluir Procissão, parceria com Gilberto Gil (gravada no álbum Louvação, 1967) e que só em 2008 passou a levar também sua assinatura.
“Talvez por relaxamento meu, nunca procurei acertar isso. Até que em 2008, estava com câncer e pensei que iria morrer e nunca ser lembrado, nem por uma música. Aí entrei em contato com a GG Produções fizemos um ‘acordo de cavalheiros’”, conta.
“Vale dizer que em todo esse tempo Gil nunca negou minha participação, até brincávamos a respeito e meu nome estava nos créditos do filme Roda e Outras Estórias (de Sérgio Muniz, 1965)”, reitera.
Breve resumo
Baiano de Juazeiro, Edy é um pioneiro de muitas coisas. Foi o primeiro artista brasileiro a assumir sua homossexualidade, foi pioneiro do glam rock, atuou na primeira montagem brasileira do musical Rocky Horror Show – e por aí vai.
Aos 13 anos, veio de Juazeiro com os pais, que, já cientes do pendor artístico do menino, o inscreveram no Hora da Criança, instituição educativa criada pelo jornalista Adroaldo Ribeiro Costa.
Aos 20 e poucos anos, largou um emprego na Petrobras para fugir com um circo. Nunca mais saiu do meio artístico.
Depois do Sessão das Dez, passou a se apresentar como ator e performer em teatros e casas noturnas.
Foi preso pelos militares na ditadura.
Em 1992, foi embora para a Espanha, onde trabalhou como diretor de teatro. Voltou ao Brasil em 2010.
Cabaré Star / Edy Star / Produzido por Sérgio Fouad e Zeca Baleiro / Saravá Discos / CD: R$ 26,90
MAIS QUATRO PERGUNTAS PARA EDY STAR
(A ligação caiu e não consegui mais falar com Edy. Aí enviei as últimas peguntas que tinha e ele me respondeu da maneira que está aí embaixo, com sua grafia característica, trocando os "e" por "y" e outras excentricidades. Como aqui no RL adoramos excentricidades, publico as respostas dele exatamente como ele me enviou).
Quantas participações de primeira! Quantos artistas de renome não um braço para ter Caetano, Ney, Ângela Maria, Zeca Baleiro e Filipe Catto em seu disco (para ficarmos nos vivos). Tem noção do peso que deu ao disco todas essas participações?
Edy Star, foto Gal Oppido |
Porque levou tanto tempo pra ser creditado como coautor de Procissão? O que você lembra da ocasião da composição com Gil?
=...talvez por relaxamento da minha parte que nunca procurei acertar essa coisa. Até que em 2008, eu estava com câncer y pensei que iria morrer y nunca ser lembrado, nem por uma música... Y entrei em contato com a GG Produções fizemos um ‘acordo de cavalheiros’ y foi tudo resolvido... Mas, vale dizer que durante todo esse tempo o Gil nunca negou minha participação, inclusive brincávamos a respeito y meu nome estava nos créditos do filme Roda e Outras Canções, y no programa do show Pois É (Vinicius de Moraes, Gilberto Gil y Maria Bethânia – Teatro Opinião RJ)... =...lembro bem do Gil fazendo o seu show de despedida no Teatro Vila Velha (iria se casar y morar em São Paulo) y mostrou uma música que só tinha a primeira estrofe... Eu nesse tempo fazia shows na Galeria Bazarte y vi a oportunidade de talvez entra no grupo fechadíssimo do Nós Por Exemplo (que era o pessoal da bossa-nova por lá). Fui pra casa, matutando y fiz todo o resto da canção. No sábado seguinte, durante a festa de casamento do Gil (no Clube dos Oficiais – na Policia Militar, no Dendezeiros) eu lhe entreguei a letra completa, que ele leu, cantarolou, y achou ótima... Y a guardou no palitó... y a vida seguiu, até a saída do seu compacto na RCA Victor y não constava meu nome, causando comentários na imprensa y entre os amigos que sabiam do caso...
Como está vendo a situação atual do Brasil pós-golpe? Está preocupado?
=...só vejo os golpes que levamos diariamente, o nosso país no momento resolveu assumir que é uma grande feira de poderosos lobos, como uma grande máfia de clãs, onde se vende posições y vantagens em troca de continuar no poder... Y o povo está fora... Com a censura se instalando escandalosamente, com o tal ‘politicamente correto’ ... Me preocupo em ficar vivo, fazer minha música y conseguir shows pra pagar minhas responsabilidades, quanto ao resto... O braZil NÃO TEM JEITO... depois de viver 22 anos fora do país posso analisar friamente, não posso ter voltado pra viver da esperança de que vai mudar, que vai melhorar... pergunta lá fora quem quer voltar? ...y num posso me manifestar porque ainda tem o patrulhamento, ah menino, para com isso...
Está rodando com o show do disco? Alguma chance de vermos um show seu em Salvador?
=...é ideia fazer uma série de shows CABARÉ STAR com convidados, sim... quem sabe, poderia ser uma serie pra TV... No mês passado, por minha conta y risco peguei uma casa famosa em São Paulo y fiz o lançamento do CD... precisava, né? ... y foi uma festa linda possuir num palco o Zeca Baleiro, a Maria Alcina, Odair José, o Ciro Barcelos y Dzi Croquettes, y aquela Banda... um show fantástico y inesquecível... =...Claro que há chances de espetáculo em Salvador, como em qualquer outra cidade, basta me chamarem... Seria alegria total eStar junto com Gerônimo, com Morgana, com Claudia Cunha, rever Waldir Serrão, Carlinhos Gazineo, tudo de bom, né? Mas, durante todo esse tempo tenho feito shows em Juazeiro, Poções, Jequié, Vitória da Conquista, y outras, mas nunca me chamaram a Salvador... fazer o que? ... é a vida... tá tudo bem, no próximo mês completo 80 anos, ainda inteiro y vivo sob as graças dos Orixás y do Senhor do Bomfim... sorry periferia...
BÔNUS: SWEET EDY (1974)
Um comentário:
Um dos grandes responsáveis por ter levantado a moral das HQs da Marvel após os tenebrosos anos 1990, Brian Michael Bendis deixou a Casa das Ideias para ir trabalhar na Distinta Concorrência, onde assumirá, logo de cara, o Homem de Aço.
https://omelete.uol.com.br/quadrinhos/noticia/superman-pode-ter-nova-fase-com-brian-bendis-e-ivan-reis/
Conhecendo o trabalho e o estilo da figura, acredito que isto é só início de um longo périplo pelos principais personagens da casa (fora os que ele com certeza vai criar).
Nos próximos anos o veremos escrevendo Batman, Mulher Maravilha, Flash, Lanterna Verde etc.
Favas contadas.
Postar um comentário