A ARTE DA PURA MÚSICA

21ª edição do Festival de Música Instrumental da Bahia começa hoje e vai até domingo no TCA, com grandes show

IFÁ (foto Glauco Neves), na noite de domingo

Proeza sobre-humana em um ambiente sócio-cultural que pouco valoriza a arte de fato em favor do entretenimento ligeiro, o Festival de Música Instrumental da Bahia chega hoje à sua 21ª edição.

Mérito dos seus produtores, o maestro Zeca Freitas e o pianista e ator Fernando Marinho, que conseguiram incluir o Festival no programa de eventos calendarizados do Governo do Estado, via Fundo de Cultura das Secretarias da Fazenda e de Cultura da Bahia.

“É o quarto ano seguido. Tivemos os últimos três anos e agora mais este, fechando um ciclo. Depois começaremos do zero de novo”, conta Zeca.

J. Donato (ft C. Portellada): piano solo hoje 

“Esperamos contar com a continuação desse edital – e que sejamos incluídos de novo”, acrescenta o maestro.

Este ano, o FMIB mantém a tradição, equilibrando grandes atrações de nível nacional como Leo Gandelman Quinteto e João Donato com referências locais (Jana Vasconcellos Sexteto, Orquestra Brasileira São Salvador de Fred Dantas) e novidades como o guitarrista prodígio Diego Figueiredo, Banda Soteropolijazz e IFÁ Afrobeat.

Além dos shows na Sala Principal do TCA, haverá cinco apresentações semanais no Museu Náutico da Bahia (Farol da Barra), sempre às quintas-feiras (16 e 30 de junho e 7, 14 e 21 de julho), com atrações como Grupo Ventarolla e MODAP-Quarteto de Trombones da NEOJIBÁ, acompanhadas de palestras do astrônomo Fernando Munaretto.

“Eu e Marinho temos um plano com pontos a cobrir, como trazer atrações novas que surgem, atrações do interior – já que o Festival é da Bahia, atrações da casa, baianos que estão fora e claro, grandes figuras da música instrumental brasileira. Tudo a depender dos recursos, óbvio”, diz.

“Em cima disso, abrimos inscrições para tornar amplo o processo e saber o que está acontecendo”, acrescenta.

Leo sem fronteiras

Leo Gandelman é atração de sábado

Ao lado do pianista acreano João Donato, o saxofonista carioca  Leo Gandelman é certamente o nome mais popular do Festival.

Leo, que se apresenta sábado junto a Banda Soteropolijazz e do guitarrista baiano Raoní Maciel (finalista do Samsung E-Festival Instrumental), traz a Salvador o show do seu último álbum, Velhas Ideias Novas, em homenagem aos 100 anos do Samba, mais algumas autorais e standards.

“Tem autorais mais antigas como Solar, que tocou muito aí em Salvador, Furuvudé, Neshama, Vip Vop, sendo essas duas últimas composições mais recentes, com algumas do Velhas Ideias Novas e standards da MPB que marcaram nosso caminho”, conta Leo, via email.

Poucos sabem, mas a origem musical de Leo é erudita: ele é filho de pianista clássica e maestro.

“Fui educado na escola clássica e mais tarde fui me aprofundar na música popular e no improviso. Aos 15 anos, fui solista da Orquestra Sinfônica Brasileira por ocasião dos concertos para a juventude”, conta.

Para ele, não existe essa tal fronteira que separa erudito e popular. “Gosto muito de poder tocar livremente a música em que me identifico. Pra mim, não existem fronteiras de separação entre estilos musicais. O meu trabalho é um reflexo da minha formação como estudante e da minha experiência profissional”, observa.

“O Festival de Música Instrumental da Bahia está  de parabéns pela luta, idealismo e pela missão de trazer sempre uma música diferenciada para o público baiano, que é tão musical e receptivo”, elogia.

Em um tempo onde as vozes retrógradas se levantam contra as políticas de incentivo cultural, sem as quais festivais como este e outras iniciativas de menor apelo popular jamais poderiam ser realizados, Leo Gandelman se posiciona de maneira firme: " Acho muito importante o incentivo à boa música e à cultura alternativa em geral em uma sociedade vítima de abusos antidemocráticos de oligopólios de comunicação tendenciosos e com olhos em lucros imediatos. Acho que existe espaço para todos e isso tem que ser valorizado".

Sobre esse assunto, outro grande músico que se apresenta no Festival, Fred Dantas, também dá sua opinião: "Junto com os editais da Caixa Econômica, (editais como o que viabiliza o Festival) são uma oportunidade. Sim muita gente se beneficia, mas antes dos governos petistas, o dinheiro da cultura era empregado em grandes shows de personalidades que controlavam os holofotes em eventos como campeonatos de tênis ou Fórmula 1. A grande virtude dessa política é, mal ou bem, oferecer uma oportunidade de varias janelas se abrirem - e não a decisão velada e mal explicada que se tinha até uns 15 anos atrás em que quase ninguém tinha oportunidade", reflete Fred.

O guitar hero Diego Figueiredo é atração de sexta-feira 

Guitar hero

Atração-surpresa que deverá deixar muita gente de queixo caído, o violonista Diego Figueiredo é um tesouro ainda a ser descoberto no Brasil.

Já no exterior, ele já é figura carimbada nos grandes festivais, com premiações em Montreaux e uma vasta discografia. Tudo isso, aos 36 anos.

“Vou focar esse show no meu disco novo, Broken Bossa, que  é autoral. Mas também faço músicas da Bahia que gosto, como Baixa dos Sapateiros e Saudades da Bahia, coisas que cresci ouvindo”, conta.

Parceiro de músicos baianos, Diego já tocou com Margareth Menezes e Luis Caldas – com o último, lança em breve um CD instrumental em duo.

“Gravei um dueto de violões com Luís Caldas, um álbum inteiro, em fase de prensagem. Sai  este ano”, conclui Diego.

XXI Festival de Música Instrumental da Bahia / De hoje até domingo, 20 horas / Teatro Castro Alves / R$ 20 e R$ 10 / www.facebook.com/festivalinstrumentalbahia