Fábio Cascadura Magalhães. Foto Max Haack / Agecom |
Capítulo final de uma história que ainda está por ser devidamente contada, o show encerra a carreira da banda fundada em 1992 por Fábio Cascadura Magalhães e que contou com um who’s who de grandes músicos locais em suas fileiras.
A banda vai, mas a obra, com cinco álbuns extraordinários, fica – e entra na história da música baiana como um exemplo de consistência e talento genuíno.
Em breve, Fábio deixará o Brasil. Thiago Trad, Du Txai e Cadinho seguirão suas carreiras.
Aqui, Fábio fala da estrada percorrida, do fim e do começo.
Como vai ser o show final? Haverá convidados? Ex-membros?
Fábio Cascadura: Essa será nossa última apresentação como uma banda ativa. É um momento especial e foi pensado. Enquanto nós, da banda, conversávamos sobre a dissolução do Cascadura, o pessoal da Ruffo (produtora que cuida da nossa agenda) estava alinhavando novas datas, novos shows. Assim, ao decidirmos pelo fim, havia uma agenda acordada. Decidimos então juntar as duas coisas: encerrar a carreira com uma série de apresentações temáticas, que foram os shows homenageando os álbuns. Com isso, tivemos os momentos de carinho e reconhecimento com ex-membros e eles serão sempre lembrados: a obra é deles também. Algumas pessoas acham que esse será o “show do Aleluia”, seria a lógica. Mas, na verdade, pretendemos fazer uma apresentação tocando o máximo de coisas significativas da nossa obra e aproveitaremos para homenagear o rock na Bahia. Por isso convidamos dois caras que representam a ponta de lança disso: Teago, da Maglore e Jajá, da Vivendo do Ócio. Eles representam o nosso tempo atual e é isso que queremos celebrar.
A banda deixa um vácuo na cena? Certamente, muita gente se sentirá órfã quando soar o último acorde (esse repórter incluído)....
1994: Cândido, Toni, Alex Pochat, Jean Louis e Fábio |
Você dedicou os últimos 23, 25 anos de sua vida a essa banda, contando Os Feios como seu embrião. Como é a sensação de fechar esse longo ciclo de sua vida? Passa um filme na sua cabeça?
FC – Posso dizer que estou muito tranquilo e feliz de chegar até aqui desse modo. Como disse, foi uma decisão bem pensada. Vários fatores pesaram. O principal é que tínhamos chegado a um ponto muito confortável: reconhecimento, obra, prêmios, história... Tem que saber a hora de parar também. Que mais poderíamos fazer? Outros discos? Ok! Semanas atrás, recuperei o HD do computador em que fiz a pré-produção do “Aleluia” – na verdade quem recuperou foi o Du Txai (guitarrista do Cascadura), durante o ano de 2010. Contei 47 esboços inacabados que não foram usados no disco! São esboços bem precários: sem letras, com trechos indefinidos. Poderia trabalhar esse material. Mas, o ciclo do Cascadura se fechou. E se fechou bem! Estamos terminando a banda num momento ótimo: ninguém brigou, não temos frustração alguma, sabemos quem somos! Daqui a dez anos vamos olhar pra cá e ver que o último álbum foi um disco duplo com 22 canções – que eu considero muito boas – falando da nossa terra. E de modo próprio, autoral e autentico. Mas, sobre esse anos de rock: eu estou realizado. Meu sonho de garoto tornou-se verdade!
Como você avaliaria os álbuns da banda hoje, descontadas possíveis deficiências de produção da época dos primeiros? Você tem um preferido, um que considere perfeito, um que gostaria de refazer se pudesse?
Fase Vivendo: Lefê Neto, Fábio, Thiago Trad e Martin Mendonça |
E quanto às várias formações da banda? Qual você destacaria como a mais significativa, aquela que resume a Cascadura? Qual o valor das contribuições de cada uma delas?
FC – Essa coisa de “banda mutante” foi louco e foi bacana! Pela banda passo gente muito boa. Posso dizer que só passou músico de primeira. Foram fases e transformações. Tive vários parceiros notáveis. Paulinho, Flash, Pochat, Toni Oliveira, Martin... Mas, sem Thiago Trad a trajetória do Cascadura teria sido bem mais breve. Por isso, acho que essa dupla – eu e Trad – marca a mais produtiva formação da história da banda. Seja em parceria com Martin e LF, com Jô e André, com Dimitri (produtor) ou junto com Cadinho e Du Txai, com quem temos tido bons momentos. Acho que é o esquema mais marcante.
Você sempre foi um grande compositor de canções, de singles. Mas, até por serem de um mesmo autor, elas acabavam fechando álbuns muito coesos (exceção ao Aleluia, pensado desde o início como álbum conceitual). Olhando para trás agora, qual você diria que foi o grande tema da Cascadura? Amor, amizade, o rock 'n' roll em si, Salvador? Ou tudo isso junto?
Fase Bogary: Cândido, Fábio, Tiaguinho Aziz e Thiago. Foto Ricardo Prado |
Ao contrário de Raul Seixas, Camisa de Vênus e Pitty, que se estabeleceram no eixo Rio-SP, lá ficaram e tiveram sucesso assim, a Cascadura foi e voltou. A banda precisava de Salvador para manter (e desenvolver) sua identidade? É bom lembrar que foi na volta que vocês fizeram o baianíssimo (e portanto universal) Bogary.
Cascadura final: Cadinho, Thiago, Fábio e Du Txai. Foto Giva's Santiago |
É verdade que você vai embora do Brasil? Pretende continuar fazendo música? Pode falar um pouquinho de seus planos?
FC – É verdade, sim. Isso faz parte de um processo na minha vida. Era um projeto antigo de Tici (com quem Fábio é casado), de antes de nos conhecermos e que foi ganhando força por uma série de circunstancias. Eu entrei no relacionamento sabendo desse desejo dela, acabei aderindo e estou contente por tê-lo feito. Sempre estarei aberto às possibilidades no meio das artes. Tenho me mantido em contato com algumas pessoas lá fora. Mas tenho que chegar e ver o que vai acontecer. A vida de imigrante é difícil. Existe um processo de adaptação. Quero poder seguir nos estudos da História, que tem sido o rock’n roll dessa fase da minha vida. Um grande amigo meu, de Nova Yorke, e que morou aqui na Bahia por algum tempo, Bob Gaulke, diz que “ser músico brasileiro no exterior é melhor que ter um ‘green card’”. Hahahaha!!! Tomara!
O que você gostaria de dizer neste momento aos fãs que acompanharam a banda - sejam velhos fãs do início, sejam os fãs mais recentes? O que você gostaria que eles soubessem, mas nunca falou?
9 comentários:
RIP Cosac Naify.
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carajo...a cosac era foda mesmo...mas carinha...vou ver se aproveito na "festa do defunto" e ver se vão soltar as coisas baratas...
ps.: Tantas outras bandas boas além dessas excelentes que Fábio citou...precisa se atualizar na cena...
Bela entrevista, Chico! Só pensei que Candido tinha tido alguma importância e merecesse ser citado por Fábio...Enfim, vai ver é só porque sou irmão mesmo.
Cebola, a entrevista foi por email e está aqui ipsis literis. De fato, ele não citou. Tb acho uma pena, até por que nosso menino de ouro Nariga participou não apenas de uma, mas de DUAS fases importantíssimas da banda. Mas enfim....
ENFIM: Cacadura tem um probleminha contra nosso amigo, ou numa hipótese otimista, estava com a mente focada somente nos integrantes da formação final. Ou talvez porque... ah, foda-se. Vocês que são músicos que se desentendam. Eu sou só filósofo.
Boa entrevista, bom entrevistador, bom entrevistado.
Boa sorte na Gringolândia, professor Fábio, e mande um abraço ao nosso amigo Bob Gaulke.
Mestre Cebola, só estou esperando você me informar por e-mail o seu CEP aí em P.A. para eu lhe mandar por SEDEX aquele material que acertamos, OK?
Formação final? Pochat, Paulinto, Toni...Se chama falta de consideração, man. E na hipótese mais otimista.
Tem razão, mestre. Totalmente.
Este ano, na saída do último show do Camisa de Vênus no Dubliner's, encontramos nosso heróico Candido e conversamos sobre as experiências dele em diversas bandas.
Sobre o Cascadura, ele apenas manifestou alívio por ter virado esta página da história dele. E não quis entrar em detalhes.
Mesma coisa foi Jerry Marlon:
"A melhor coisa que eu fiz na minha carreira foi sair do Camisa!"
Eu simplesmente NÃO acompanho as notícias sobre as diferentes formações do Cascadura desde a saída de Candido --- e nem de nenhuma banda de rock baiano.
Eu só lia sobre o Camisa de Vênus e os Dead Billies, Shes, Lilith e Cox de Pandora.
Enfim: sou leigo no assunto. Estas idiossincrasias são um tema impenetrável e incompreensível para mim.
Está certíssimo. Errado sou eu em me entristecer com falta de consideração alheia. Algo a ver com apreço.
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