quarta-feira, junho 17, 2015

RETRATO SUTIL DO ARTISTA

Pré-estreia Cauby: Começaria Tudo Outra Vez, de Nelson Hoineff, tem sessão única amanhã na Sala de Arte Cine Paseo

Cauby em cena do documentário. Fotos de Raphael Bocanera
Mesmo que não fosse dirigido por Nelson Hoineff, o maior documentarista brasileiro vivo (após a trágica morte de Eduardo Coutinho em 2014), o filme Cauby: Começaria Tudo Outra Vez já valeria uma conferida atenta por qualquer pessoa interessada em cultura brasileira.

Afinal, seu objeto de investigação é ninguém menos que um dos maiores fenômenos populares do país em todos os tempos, o cantor Cauby Peixoto.

Com pré-estreia marcada para hoje em Salvador (só entra em circuito na semana que vem), o documentário tem feito boa carreira nos festivais desde sua premiere no Festival do Rio em 2013, quando foi aplaudido de pé por minutos a fio.

No filme, acompanhamos a câmera de Hoineff quase sempre orbitando a estrela do show em vários momentos íntimos: Cauby no camarim, Cauby no quarto com a secretária escolhendo o terno de lantejoulas da noite, Cauby sendo maquiado, Cauby na coxia, Cauby no palco logo antes do show, aguardando a cortina subir – e até a sala de estar de Cauby, examinada pela lente atenta do diretor.

Sujeito reservado, poder-se-ia até pensar que o cantor se sentiu invadido em algum momento, mas não: “Nunca fui importunado. Nem no camarim, nem na coxia. Fui sempre respeitado. Nada foi feito que não  quisesse fazer”, conta Cauby, em breve entrevista por email.

Bom saber disso, por que aqueles que sempre especularam sobre a sexualidade do cantor terão um motivo a mais para assistir ao documentário: nele, Cauby conta que, na infância e adolescência, teve encontros sexuais com outros meninos, em uma declaração inédita.

Por telefone, Nelson Hoineff conta que o trecho, que parece espontâneo na tela, envolveu dias de negociação.

“Ele é complicado quando fala da sexualidade. Aquilo foi um processo que levou mais de uma semana”, revela.

“Ele estava mostrando os ternos que ia usar naquela noite, aí conseguimos um momento. Expulsei Nancy (a secretária) da cena, dei um pontapé na porta e evitei ter outras pessoas por perto. E aí ele falou”, relata Nelson.

Apesar da declaração difícil, Cauby diz ter apreciado o resultado final do filme: “Sim, gostei muito. Se faz jus, os que assistirem e me conhecem irão dizer”, afirma.

“Extrair coisas das pessoas as vezes é um processo penoso, mas bem sucedido se você ganha a confiança de maneira verdadeira, correta.  Aí a pessoa fica a vontade. É o que acontece nessa sequência”, conta Nelson.

“Depois ele diz que optou por mulher, mas aquela coisa toda que ele fala – e ele mesmo ri do que falou – isso é totalmente inédito”, diz.

Cauby no rock e nos EUA

Dupla de gigantes: Nelson Hoineff e Cauby Peixoto
Mas nem só de revelações picantes se faz este documentário. Além de depoimentos de  Rodrigo Faour, Ricardo Cravo Albim, Maria Bethania,  Agnaldo Timóteo, produtores, fãs e pessoas com quem Cauby trabalhou, Hoineff costura muitas cenas de arquivo (algumas delas bem raras) com Cauby fazendo o que sabe fazer melhor: cantar.

Pelo menos duas são bem curiosas e merecem menção: Cauby bem novinho, no filme Minha Sogra é da Polícia (1958), introduzindo o rock no Brasil, com That's Rock, música de Carlos Imperial.

Um ano antes, olha lá o cantor nos Estados Unidos, sob o pseudônimo Ron Coby, cantando I Go, versão para Maracangalha, de Dorival Caymmi, no filme Jamboree (1957), de Roy Lockwood.

Mas talvez o personagem mais interessante do filme – depois de Cauby, claro – seja um jovem de quinze anos, fã do cantor.

Hoineff o acompanha em sebos, no quais caça antigos LPs e finalmente em um show, no qual coloca fã e ídolo frente a frente.

Infelizmente, a cena pareceu não render tanto quanto o diretor esperava e a sensação que fica é de anti-clímax.



Fim da agressão

Documentarista de vasta experiência, Cauby é o quarto documentário de longa-metragem de Nelson Hoineff, depois de O Homem Pode Voar (2006, sobre Santos-Dumont), Alô, Alô, Terezinha! (2008, sobre Chacrinha) e Caro Francis (2009, sobre o jornalista  Paulo Francis).

Mas foi na TV que seu nome estourou, ainda  nos anos 1980, quando dirigiu a série (ousadíssima para a época) Documento Especial, na extinta TV Manchete.

Biógrafo não-convencional, Hoineff comemorou a liberação das biografias não-autorizadas pelo STF: “Isso é da maior importância e   muda a própria história do Brasil completamente, pois retira também dos documentários a necessidade ou de ser chapa branca ou de criar mil instrumentos para fugir a essa chapa branca. O que havia até agora era uma agressão tão grande que as vezes nem nos dávamos conta disso”.

Cauby - Começaria Tudo Outra Vez / Dir.: Nelson Hoineff / Pré-estreia: Amanhã, 21 horas / Sala de Arte Cine Paseo 02  / 12 anos



ENTREVISTA: NELSON HOINEFF

O senhor ficou satisfeito com o resultado final do filme?

Nelson Hoineff 
NH: Ficou exatamente como eu esperava, muito legal. Agora, na hora de fazer um filme sobre o Cauby, definir 'que recorte vamos fazer' é que é complicado. Ao mesmo tempo, a veia do Documento Especial está sempre presente em mim, então a gente acabou optando por fazer um recorte muito sutil e deixar o cauby ser a estrela do show. Eu acho que, se tenho algum mérito é o de nao querer ser mais do que o Cauby. Selecionei o que queria e deixei . Você pode observar que quase todos os números musicais estão ou na íntegra ou perto disso. Em alguns caso misturamos a mesma música em ocasiões diferentes, entao ficou excelente pra mim. Depois eu tenho a mania de entrar nos cinemas incógnito e sentar ali no meio do povo para assistir o filme. Aí a gente vê a reação da plateia - e a plateia gosta, se emociona. Uma vez me chamaram para falar em um cinema do Rio, aí um cara se levantou e disse que estava vendo o filme pela terceira vez.

No filme Cauby fala de sua sexualidade na infância ou adolescência. É impressão minha ou você conseguiu uma declaração inédita aí?

NH: Sim, é inédita. Em alguma cenas, parece que é facil mas ele é complicado quando fala da sexualidade dele. Aquilo foi um processo que levou mais de uma semana até chegar em um momento que parece uma coisa até pueril. Ele tava mostrando os ternos que ia usar na noite, aá conseguimos um momento de 'deitar na cama' Expulsei Nancy da cena, dei um pontapé na porta e evitei outras pessoas por perto. E aí ele falou. Essa coisa de extrair coisas das pessoas - você é jornalista, já viu isso inúmeras vezes - é um processo penoso, mas sempre bem sucedido se você ganha a confiança mas não de uma maneira falsa, ganha de maneira verdadeira, correta. Aí a pessoa se sente a vontade. É o que acontece nessa sequência. Depois ele diz que 'optou por mulher', mas aquela coisa toda que ele fala - e ele mesmo ri do que falou - isso é completamente inédito. Em geral as pessoas perguntam, mas não é assim, tem todo um processo que pode ser as vezes bem longo - que é como foi nesse caso. E não parece né? Parece que saiu facinho...


Por que o Cauby? O senhor o escolheu ou foi o contrário?

NH: Eu escolhi. Em geral eu faço filmes sobre personagens como o Francis, o Chacrinha, pessoas que eu gosto. Em segundo, são pessoas que tem uma veia transgressora. São formas transgressoras diferentes, mas da mesma natureza. Aí fica mais fácil, primeiro por que é prazeroso e de formas diferentes. O Francis foi meu melhor amigo por vinte anos. O Chacrinha eu nunca conheci. Já o Cauby tá vivo, então houve todo um processo de convencimento para fazer o filme. A primeira coisa é convencer a Nancy. Isso leva um tempo. Uns dois anos.

Como o senhor encontrou aquele personagem do garoto fã?

NH: Ele mandou uma mensagem para mim no Facebook, 'ah, eu sei que vocês estão fazendo o filme, eu tenho quinze anos, sou fã do Cauby' e tal . Aí eu pedi para a produção visitar o rapaz e ver se era verdade mesmo. Chamei o garoto, que mora no subúrbio do Rio, em Olaria e disse: vamos botar o garoto no filme. Aí tudo o que acontece é verdade. Ele diz, 'vai ter um show e eu vou ser o primeiro a comprar ingresso'. Aí criamos a situação para ele ir no show com o ingresso que ele comprou - mas lá dentro eu o apresento ao Cauby. Quando ele vai comprar disco em sebos na Praça Tiradentes ou na Praça XV, é tudo real. Só que, ao invés de fazer o garoto virar para a camera dizer 'meu nome é tal', eu botei o vendedor fazendo essa pergunta pra ele e ele começa a falar. Mas o garoto é real.

O senhor fez Paulo Francis, Chacrinha e Cauby. O senhor vê uma conexão entre esses filmes, eles formam uma trilogia?

NH: Tem o do Santos Dumont também. Mas vejo sim, uma conexão entre eles. São filmes sobre pesoas que gosto, admiro e que, como já disse, tem essa veia trangressora. E a estrutura é parecida, por que não são filmes biográficos, eles tem um recorte, cada um com o seu, mas você não vai saber por eles aonde nasceu, que escola estudou. Mas acho que há mesmo uma relação entre todos esse filmes: todos eles na verdade sao filhotes do Documento Especial

Como o senhor sabe, as biografias não-autorizadas estão liberadas. O que achou dessa história toda? O senhor tem algum projeto que estava emperrado por causa disso e agora vai retomar?

NH: Isso é da maior importância. Escrevi um texto para O Globo dizendo que isso muda a própria história do Brasil completamente, pois retira também dos documentários a necessidade ou de ser chapa branca ou de criar mil instrumentos para fugir a essa chapa branca. O que havia até agora era uma agressão tão grande que as vezes nem nos dávamos conta disso. Era uma agressão abrutal a liberdade de expressão, a democracia e ao direito da sociedade de ser informada. Você só podia falar sobre uma pessoa quando tinha a concordância dela em ser abordada e sobre tudo que se diz sobre ela lá dentro. Era impossível fazer um doc como Citizen Four ou um que ganhou o Oscar em 2010, esqueci o nome agora. O pior é que já existe uma legislação sobre isso, no Brasil é uma legislação por cima da outra. Se alguém faz um doc sobre você e há nisso calúnia, difamação ou injúria, você tem instrumentos legais para buscar seus direitos. Mas ali não: o que havia até ontem, você já era culpado. Você não poderia fazer no Brasil um doc sobre os mensaleirso ou um dos presos na Operação Lava Jato, coisas que sao do maior interesse da sociedade, pessoas que estão roubando bilhões de dólares. Mas para fazer um doc sobre isso precisava ter a autorização deles. Isso é inacreditável, é fora de qualquer parâmetro. Mas por que pode botar na TV (nos telejornais)? Por que a legislação é tão absurda que ela diz que noticiário na TV não tem interesse comercial! (risos) Mas documentário não pode. Você vê o Fantástico: 5 segundos do Fantástico é mais caro do que um documentário inteiro que eu faça, mas legislação dizia que eu, sim, estou em busca de resultados comerciais. Mas o Jornal Nacional, não. Essa decisão do Supremo muda a história do Brasil e permite, embora o centro das atenções seja as biografias, permite que o documentarista possa falar sobre sua sociedade. Agora vamos ver como vai se comportar.

Aquele material todo que o senhor fez para o Documento Especial está disponível em algum lugar? You Tube, DVD etc?

NH: Teve umas três temporadas de reprises no Canal Brasil. Agora estamos fazendo uma pesquisa para poder lançar uma quantidade grande de episódios em DVD. Estamos nos esforçando, por que para isso tem a parte jurídica e técnica, mas há uma chance muito grande que lancemos em DVD e video on demand.

21 comentários:

Franchico disse...

Um dos principais arquitetos da Era de Bronze das HQs Marvel e DC vem ao Brasil:

http://www.universohq.com/noticias/steve-englehart-estara-na-festcomix-em-sao-paulo/

Grande autor de uma época inesquecível.

Franchico disse...

Falando em Cauby, tchekiráu este post sensacional do RA:

http://entretenimento.r7.com/blogs/ricardo-alexandre/10-momentos-brasileirissimos-dos-tempos-do-rocknroll-20150616/

Franchico disse...

Nil Jovem rides again:

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/06/1643233-neil-young-desautoriza-donald-trump-a-usar-musica-em-campanha-presidencial.shtml

O cara vem com um álbum - e um documentário - inteirinho só com canções de protesto contra a Monsanto, maior produtora de soja transgênica (e do salgadinho Canceritos) do planeta.

Legal, só falta agora ser um álbum bom de fato, coisa que seu Nil não apresenta há alguns anos....

Franchico disse...

Que vergonha, meu deus....

http://www.bahianoticias.com.br/noticia/174111-em-conversa-com-vereadores-guerreiro-diz-que-pedido-por-debaixo-do-pano-nao-ocorreu.html

Com todo o respeito, faltou ombridade ao distinto diretor para sustentar o que disse. Com certeza, sairia com muito mais dignidade se tivesse mantido o que disse e colocado o cargo a disposição da prefeitura.

Mas aí ia perder a boquinha, né?

E assim segue a (cof cof) cultura baiana.

Franchico disse...

E como se vê, o despreparo na Bahia é generalizado, não atinge só a briosa.

Viram o que a PF baiana aprontou?

http://g1.globo.com/bahia/noticia/2015/06/erro-inexplicavel-afirma-esposa-de-homem-morto-em-operacao-pf-nega.html

Isso por que são pagos com o dinheiro dos nossos impostos, viu?

Quer dizer, não foram na casa do homem (homem errado, é bom lembrar!) para prender. Foram para matar.

E nem adianta vir com desculpa. Os fatos falam por si.

Ernesto Ribeiro disse...

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A MELHOR época da História da Marvel e DC foram os anos 60 e 70 de Steve Englehart.


Explico: Naquela época, havia uma homogeneidade positiva de qualidade das estórias e desenhos de bom gosto, como nunca mais foi recuperada. Mesmo sem nenhuma lógica interna, com lances estúpidos e contradições gritantes. Mesmo com a estupidez das Duas Terras de Universos Paralelos. Mesmo com a tia May parecendo ser a tataravó May. Ainda assim, o que predominava eram os melhores roteiros e melhores artistas. Até mesmo o primeiro Grande Encontro Marvel e DC foi uma obra-prima: Super-Homem Contra Homem-Aranha é uma delícia, mesmo com o cúmulo do absurdo na ridícula cena do Super-Homem reconstruindo um computador que explodiu (!)


Houve exceções, é claro: a repugnante saga "Diana Prince deixa de ser Mulher-Maravilha para vender cachorro-quente e vira lutadora de caratê com mestre ninja cego" teve a pior arte mal desenhada e tosca já feita até então. Mas passou rápido e durou pouco.


Desde 1985, houve um desequilíbrio brutal entre os diversos títulos de ambas as editoras, com alguns poucos autores geniais criando obras-primas revolucionárias, mas destoando da maioria cada vez mais medíocre. A qualidade dos desenhos desceu em queda livre, no nível de criança retardada. As cores tão horríveis que tornam os desenhos indistinguíveis. Não dá pra entender mais estória nenhuma por causa da maldita continuidade de novela, esticando e enrolando por anos a fio.


O "Grande Plano" para os personagens foi uma total degeneração, com a Marvel e principalmente a DC fazendo a "política da Tábula Rasa" de apagar o passado e revolucionar sua própria cronologia em eventos estúpidos desde a abominável Crise das Infinitas Terras, passando pela Zero Hora e a Crise Final. A porcaria virou norma, e é difícil encabeçar a lista das Piores Estórias Já Escritas.


O Estigma de John Byrne é podre por si só, e tem a cena de pior mau gosto já desenhada, com um bebê matando a mãe no nascimento e voando limpinho pra fora do útero. Camelot 3000 ofende a inteligência de uma ameba: a feiticeira Morgana passou 2500 anos em outro planeta ensinando todas as ciências aos aliens insetos e na falta do que fazer, comanda uma invasão alienígena pra destruir a Terra, Rei Arthur patético casando com uma mulher que ele sabe que já está trepando com outro, numa idéia de jerico de um Merlin caduco, Lancelot dizendo a sério: "Talvez a espada Excalibur saiba a resposta de quantos mais de nós irão morrer. Se perguntarmos a ela..."


Quanto mais mexe, mais fede. Mary Jane deixou de ser a arrogante piriguete para virar esposa e dona-de-casa. Elektra foi ressuscitada primeiro como uma piada: só batia nos bandidos, corria pra casa e chorava. Justiceiro virou chefe de quadrilha de mafiosos bonzinhos, depois morreu, voltou á Terra como anjo caído... E por fim, passou a espelhar o ego de Garth Ennis, um irlandês tão ignorante, demente e anti-americano que fez Frank Castle refletir a desonestidade e a ignorância do autor, falando as maiores merdas, como "todos os países da Europa combatem esse grupo terrorista, mas os EUA não" (quando todo mundo sabe que a realidade é o exato oposto) e chamando Wolverine de "roedor", quando qualquer estudante americano sabe que esse é o nome de um animal canino ("wolverine" significa "pequeno lobo").


Ernesto Ribeiro disse...

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Decidiram tornar o Super-Homem um retardado, Batman um nojento, Mulher-Maravilha uma lesada mental. Bat-Girl virou cadeirante, paraplégica depois de tomar um tiro na coluna quando o Coringa tranquilamente foi á casa do Comissário de Polícia da Maior Cidade do Mundo, buzinou e ela abriu a porta sem antes olhar quem chegou e sem se mover. "O Sombra nos anos 80" foi uma merda tão fedorenta que jogaram na privada e deram a descarga com um final ridículo, morrendo ao respirar o bafo venenoso de um psicopata que ele tentava estrangular, em vez de balear. A pior revista é a do Questão: além de chatíssima, é tão estúpida e sem sentido que numa cena, um policial aponta uma arma pra cabeça de uma freira e ameaça atirar nela se o herói não os deixar levarem uma criança de um orfanato.


Lex Luthor virou o novo Rei do Crime, magnata fodão da impunidade que ferra todo mundo, é babado por todo o povo, mata um repórter a facadas, manda Clark Kent pra cadeia, depois o solta, e o último quadrinho o mostra trepando com uma modelo, tudo numa só estorinha. Em seguida, Luthor reencarna no corpo de um clone jovem e se torna o namorado da Super-Girl. Dá um esporro nela e no Super-Homem por darem mau exemplo ás crianças ao brigarem, e os manda pra casa, depois de chantagear os dois mostrando que filmou a briguinha deles. O verme manda em todos os super-heróis, e é eleito presidente. Numa estória alternativa, depois de matar uma mulher e fugir, Luthor mata o Super-Homem, deixa os descendentes da família Luthor reformatarem a Humanidade, vive mais de 100 anos e se torna o ser humano mais idolatrado de todos os tempos. Os roteiristas da DC são os piores pervertidos: eles se masturbam pensando no vilão.


Mataram heróis clássicos, substituíram por adolescentes ou negros e latinos; depois, quando as vendas caíram, ressuscitaram os antigos, anos ou décadas mais tarde, com desculpas vagabundésimas. Oliver Queen teve uma morte ridícula, passava o tempo no paraíso repetindo um só movimento de largar a flecha pro fantasma do Flash pegar, voltou á vida no corpo do próprio clone; a revista do Arqueiro Verde há anos é estrelada por um moleque. Cada herói foi reinventado em uma nova versão cada vez mais podre. Um saco de vômito.


Então o que nós compramos mais nos últimos 30 anos são graphic novels, as exceções sem ligação com o resto. Porque os títulos mensais viraram lixo. A DC vive balançando que nem bêbado tentando acertar o caminho de casa. E a Marvel Comics já faliu 4 vezes (!!!)


Resultado: a maior parte da minha coleção de quadrinhos ainda é dos anos 70. Quando tudo era belo, divertido e elegante. A Era de Steve Englehart.

Ernesto Ribeiro disse...

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Sobre a Pior Polícia do Mundo:


A essa altura do campeonato de crimes dos Covardes Bandidos de Farda, depois de matarem tantos trabalhadores pobres, incluindo idosos e crianças que ele torturam até a morte na frente dos pais, todo mundo já sabe que qualquer um de nós pode ser assassinado dentro de casa, na própria cama, dormindo, por essa Quadrilha Fardada.


Franchico disse...

Ernesto, aceito tudo o que vc falou, menos chamar Garth Ennis de "irlandês ignorante". Tudo bem o "demente" e o "anti-americano". Essas coisas ele é mesmo (e eu adoro)! Mas ignorante acho difícil....

Fora isso, acredito que vc tem todo direito de desprezar HQs excelentes como Camelot 3000, O Sombra de Howard Chaykin e Andy Helfer, O Questão de Dennis O'Neill e A Piada Mortal de Moore / Bolland. Cada doido com sua mania, eu é que não vou discutir isso.

Mas várias outras que vc citou são realmente duvidosas, para dizer o mínimo.

Mas deixo uma reflexão: dizem que "sua banda só é tão boa quanto seu baterista".

Do mesmo jeito, acredito que "seu super-herói só é tão bom (ou mau, no caso) quanto seu vilão".

Daí.......

Ernesto Ribeiro disse...

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Franchico, você não entendeu. Eu não afirmei que é o caso de desprezar. Apenas apontei os erros, os defeitos inegáveis e o fracasso das editoras de se manter títulos sem nenhuma solidez, consistência ou mesmo respeito á inteligência do leitor.


Daí porque as vendas de HQs caíram. Daí porque editoras faliram. Daí porque o passado sempre brilha mais do que o presente.


E, mesmo com estórias inteligentes, a ignorância de Garth Ennis sobre certos aspectos da realidade da América salta aos olhos de qualquer leitor americano ou mesmo de qualquer leitor brasileiro que conheça bem aquele país.

Franchico disse...

Então tá.

Ernesto Ribeiro disse...

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Ah, sim! É que você citou o nome de um editor, então por alguns minutos, isso me passou batido. Concordo com você:


Andy Helfer.


Se você tivesse citado logo Keith Giffen e Marc DeMatteis, eu teria lembrado logo. Então, aqui vai minha retificação.


LIGA DA JUSTIÇA INTERNACIONAL é mesmo a exceção da exceções, a grande sacada da DC, a criação mais brilhante e genial dos últimos 30 anos, que honra a linha de revistas mensais. Tenho todos ás edições, inclusive as especiais, como Liga da Justiça Antártida, o apogeu da comédia mais rascante já feita nos quadrinhos de super-heróis, mostrando o que eles fazem quando não estão trabalhando, e ridicularizando cada clichê das HQs, desmistificando tudo.


LJI é o supra-sumo da inteligência e da coragem na auto-crítica de um gênero inteiro. Foi o equivalente ao Movimento Punk nos Quadrinhos de de super-heróis. Obra-Prima Histórica. Antológica.



Franchico disse...

Andy Helfer escreveu O Sombra pós-Chaykin, com desenhos de Bill Sienkiewicz e Kyle Baker (da famos história que ele morre apos respirar o bafo do vilão). Ele tb escreveu Desafiador (Deadman) em uma fase bem interessante.

Concordo em gênero numero e grau sobre a LJI. Eu era viciado.

Franchico disse...

Shane de Walking Dead vai ser Justiceiro na série do Demolidor.

http://omelete.uol.com.br/series-tv/noticia/demolidor-jon-bernthal-fala-pela-primeira-vez-sobre-viver-o-justiceiro-na-serie/

Legal, agora só falta eu assistir essa bendita primeira temporada de uma vez....

Ernesto Ribeiro disse...

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ai ai... quando eu leio meus comentários digitados sem revisão de texto,
morro de vergonha de tantos erros de digitação...



Certo. Exato. Helfer.


Mais retificações:


O Sombra de Howard Chaykin foi bem feito e bem bolado. Gostei do sobretudo Armani cinza de Kent Allard, um primor de elegância e estilo. O único ponto fraco nos desenhos de Chaykin são as mulheres de cabeça quadrada, mas é passável. O que não deu certo foi datar o personagem nos anos 30 e 40, para envelhecer todos os agentes como septuagenários e matar os idosos horrivelmente. Os novos agentes simplesmente não tinham um pingo de charme nem simpatia.


O enredo final do Sombra de Andy Helfer foi bem desenvolvido no primeiro episódio daquela trilogia, um rasgo de genialidade narrativa, como um filme sem cortes num só plano-sequência. O grande problema foram os desenhos de Kyle Baker. Em alguns momentos, parecem meros rabiscos de cartum infantil (especialmente na cena em que o agente ressuscita no necrotério e o chefe de polícia tira os óculos). Em geral, são bons, com aquele enfoque de expressões faciais realistas dignas de Kevin Maguire na LJI. Mas o caso aqui é que a arte dele tem nada a ver com o estilo clássico do Sombra.


O Questão de Dennis O'Neill é um caso á parte: nos anos 80, o velho Dennis não era mais aquele Denny O'Neil dos anos 70, o extraordinário Melhor Escritor do Mundo, que deu o maior salto de qualidade na História dos Quadrinhos fazendo as melhores estórias do Batman e a revolução de consciência social que foi a série Arqueiro Verde / Lanterna Verde. Ele, que junto com Neal Adams (o Melhor Desenhista do Mundo, que fixou definitivamente o "verdadeiro" Batman e tornou os heróis expressivos ao máximo) e o arte-finalista Dick Giordano fizeram a Santíssima Trindade das HQs, o trio ideal em revistas perfeitas. Sou fã do cara desde criança, mas UM erro na vida ele tinha que cometer. E com o Questão, ele cometeu um monte. O nível de inteligência não era mais o mesmo.


A Piada Mortal de Alan Moore / Brian Bolland é genial mesmo. Mas, damn it, não é perfeita. Aquele lance da cena que eu falei foi forçado demais e é ruim de engolir, assim como tantas incongruências e contradições de Alan Moore em Watchmen .


Eu até fiz uma lista de erros crassos de falta de lógica interna no enredo de Watchmen que saltam aos olhos logo na primeira vez em que eu li a graphic novel em 1989. Só o lance do Dr. Manhattan ser suspeito de provocar câncer em um ex-inimigo em quem ele nunca relou um dedo, e NÃO provocar câncer na mulher com quem ele fazia sexo há quase duas décadas... e ninguém chamar a atenção para essa incongruência... é um erro primário demais. Sorry, mister Moore, mas se você é Deus, sua obra-prima é uma Criação tão maravilhosa e imperfeita quanto o mundo real.


Mestre Francis, eu sei que tudo isso deixa um gosto amargo na boca, mas você e eu não somos mais garotos e nós já estamos na idade da razão. Não estou negando os méritos e os talentos extraordinários de nenhum desses gênios. Eles continuam sendo como Beethoven, Michelangelo e Caravaggio na Oitava Arte. São nossos heróis, meus ídolos. Mas... mesmo os deuses não são infalíveis. E ninguém é perfeito.

Franchico disse...

Concordo com quase tudo. Só discordo sobre Dennis O'Neill em O Questão e sobre os desenhos de Kyle Baker.

O primeiro, na minha opinião, não estava decadente quando escreveu O Questão, pelo contrário, estava no auge da criatividade. E certamente não sou o único a pensar assim, visto a aclamação crítica que aquela série tem até hj.

E Kyle Baker é um puta quadrinista, com um dos estilos de desenho mais peculiares e expressivos que eu já vi e uma narrativa muito divertida. OK, entendo que vc ache o traço cartunesco (e de fato é) e que talvez não combine com o clima d'O Sombra. Entendo seu ponto de vista. Mas eu confesso que achei maravilhoso aquele trabalho. Guardo aquela minisssérie dentro de um envelope plástico com lacre, para conservar, com o maior carinho.

Enfim....

Franchico disse...

Falando em quadrinhos clássicos dos anos 80, olha quem está voltando:

http://www.universohq.com/noticias/badger-voltara-ser-publicado-nos-estados-unidos/

Aquelas poucas HQs da First publicadas pela Cedibra nos anos 80 é outra coleção que eu guardo com o maior cuidado: American Flagg!, Badger, Jon Sable e Grimjack. Só HQ bala. Outra época.

Franchico disse...

Um hacker anônimo acaba de se tornar meu ídolo:

http://www.brasilpost.com.br/2015/06/17/twitter-universal-invadido_n_7606348.html

Franchico disse...

O hacker fala.

http://www.brasilpost.com.br/rodolfo-viana/twitter-universal-hacker_b_7608088.html?utm_hp_ref=brazil

Apesar de se dizer "de direita", tem ideias razoavelmente interessantes.

Ernesto Ribeiro disse...

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As declarações desse hacker são confusas e contraditórias no que se refere aos conceitos de ideologia. Ele demonstra ignorância ao não saber identificar corretamente o que é de "direita" "esquerda" "liberal" "individualista". Diz ser de "direita" mas que o político ele pensa "este me representa", é o esquerdista comunista Eduardo Suplicy. Diz ser favorável ao Estado laico, mas mencionou "sociedade católica". Enfim, como ele mesmo admitiu, nota-se que infelizmente trata-se de um típico cidadão brasileiro que, mesmo sendo de classe média-alta, teve pouca escolaridade -- quase nenhuma. Uma vítima do pior sistema de ensino do mundo: o brasileiro.

Ernesto Ribeiro disse...

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Entendo.


Bem, nesse caso, eu RETIRO todas as minhas palavras negativas, brutais e escatológicas sobre a série do Sombra nos anos 80.


Se uma mini-série de quadrinhos é valorizada por um de meus mestres, então ela deve ser valiosa.