quinta-feira, fevereiro 26, 2015

OBRA-PRIMA POR ENCOMENDA

Pedido do Museu do Louvre foi ponto de partida do novo CD de Yamandu Costa

Yamandu, foto Isabela Kassow
Que o violonista gaúcho Yamandu Costa é um prodígio, meio mundo já sabe.
 
O incrível é que, a cada disco, o músico parece se superar. E seu novo álbum, Tocata à Amizade (Biscoito Fino), não é diferente.
 
Se em seu último CD, o gauchesco Continente (2013), ele explorava a musicalidade sulista fronteiriça que formou seu repertório inicial, em Tocata... Yamandu se abre para o Brasil de forma mais geral, com especial atenção para o choro.
 
“Eu gosto de equilibrar minha discografia”, conta Yamandu, por telefone.
 
“Depois de fazer algo mais regional, como Continente, gosto de partir para um som mais próximo do Sudeste, com mais influência do choro. Pra mim, dá supercerto”, acrescenta.
 
Curiosamente, a abordagem mais brasileira do álbum veio a propósito da solicitação de ilustre instituição estrangeira: o Museu do Louvre.
 
A cada ano, o Auditório do Museu parisiense comissiona a um músico estrangeiro renomado a composição de uma peça que, de alguma forma, represente a música do seu país. Em 2010, foi a vez de Yamandu receber esta importante missão.

Impressões Brasileiras O resultado, a Suíte Impressões Brasileiras, abre o CD. “Este é um projeto lindíssmo, que gravamos há dois anos”, conta.
 
“É muita responsabilidade fazer essa encomenda do Louvre. Quando a Suíte ficou pronta eu fui lá, tocar no Auditório do Museu. Inclusive esses concertos são transmitidos ao vivo pela Radio France. Foi muito legal”, lembra Yamandu.
 
Na peça feita por encomenda, Yamandu pôde mostrar algumas de suas principais influências como músico.
 
“Minha formação é muito eclética. Eu venho do mundo regional gaúcho, da música fronteiriça. A música do choro eu só conheci mais tarde, já na adolescência, mas as referências que eu tive foram essas que estão na Suíte”, conta.
 
Os títulos já entregam por onde andou a inspiração do violonista na composição da peça, dividida em quatro partes: Choro Tango, Valsa, Frevo-Canção e Baionga.
 
“A primeira parte é minha origem, que traz justamente essas duas grandes referências para mim. Depois, a Valsa, que é a música mais universal do mundo, está em todas as culturas”, aposta.
 
“A terceira parte é o Frevo- Canção, um namoro do Nordeste com o Sudeste. A última é Baionga, que é um baião com milonga, que eu acabei encontrando muito dentro das minhas influências”, diz.
 
“O que é curioso é que sempre que eu tocava uma milonga para nordestinos, eles logo identificavam com frevo ou baião”, conta Yamandu.
 
“Claro que eu não tinha a pretensão de mostrar toda a música brasileira em uma suite. São algumas impressões. De repente vem outras”, diz.
 
Com a Suíte composta, pronta para ser gravada, só faltava ao músico amealhar mais algumas composições para formar o álbum que veio a se tornar Tocata à Amizade.

Roda de eruditos

Bebê, Luis, Rogério e Yamandu. Foto Isabela Kassow
Convocados os músicos Alessandro Bebê Kramer (acordeom), Rogério Caetano (violão) e Luis Barcelos (bandolim), Yamandu pensou em um conceito que unisse “um respeito camerístico e também uma coisa mais solta, típica das rodas de choro”, define.
 
Conhecidas como tocatas, essas reuniões de músicos populares em torno dos instrumentos têm muito de concerto – só que numa moda bem mais informal, claro.
 
”Foi muito difícil chegar nesse resultado, mas fiquei muito feliz”, afirma.
 
“Fizemos questão de ensaiar muito pra tirar as músicas e achar um equilibrio entre essas duas escolas, a popular e a de concerto, unir a primazia técnica com a soltura da música popular”, conta Yamandu.
 
No álbum, o quarteto interpreta, além da suite encomendada pelo Louvre, mais duas peças de Yamandu (Negra Bailarina e Boa Viagem), além de Pedra do Leme (de Raphael Rabello e Toquinho), Graúna (João Pernambuco) e a monumental Suíte Retratos, do maestro Radamés Gnattali.
 
Esta última também é dividida em quatro partes, cada uma homenageando um mestre fundador da música brasileira: Pixinhguinha, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros e Chiquinha Gonzaga.

Show no Farol da Barra

Viajante inveterado, Yamandu roda mundo afora todos os anos e de vez quando também dá uma passadinha pela Bahia.

A última foi em janeiro, quando se apresentou de graça, na rua, durante o festival Salvador Jazz, na Barra.
 
“Foi maravilhoso”, lembra. “Tive a oportunidade de tocar com meu amigo Armandinho ali perto do Farol da Barra, para vinte mil pessoas. É uma experiência incrível tocar pra tanta gente.
 
E a programação toda foi muito bacana, com estrutura de som, palco e luz certa”, elogia o músico.
 
“Também toquei ano passado em um lugar menor. Tenho ido mais à Bahia, o que me deixa muito feliz, pois tenho grandes amigos aí, como Mário Ulloa e Armandinho, que é meu padrinho”, comemora.
 
Ele ainda não sabe quando volta. “Não devo viajar muito com esse CD, pois é um bando de gente e também já tenho outros trabalhos este ano”.
 
Quem segura Yamandu?
 
Tocata à Amizade / Yamandu Costa / Biscoito Fino / Preço não divulgado / www.biscoitofino.com.br


terça-feira, fevereiro 24, 2015

TROVADOR NA TRILHA DO BOB D., FÁBIO HAENDEL É BOA NOVIDADE LOCAL


Fábio Haendel. Foto de Andréa Magnoni
Fábio Haendel é um daqueles caras que parecem em extinção hoje em dia.

Ele não quer só te entreter e pronto. Inquieto, o rapaz se expressa através de várias linguagens: é artista plástico, poeta, compositor, quadrinista, cantor, gaitista.

Há alguns meses, lançou seu segundo álbum, Nuvens, no qual conta com letras dos poetas locais Mariana Paiva, Kátia Borges e Nílson Galvão, seus parceiros em um dos saraus que surgiram há algum tempo na cidade, o Prosa & Poesia.

“Meu pai, Willy Haendel, é músico. Como via muito ele tocando, ficava com vontade. Ainda garoto, já fazia minhas musiquinhas”, conta.

Quando conheceu Bob Dylan, a cabeça do jovem Fábio deu um giro de 180 graus. “Quando vi aquele cara de gaita no pescoço e violão na mão foi que eu vi por onde eu queria seguir”, diz Fábio.

"Até já fiz shows só de Bob Dylan no Portela e tal, mas com o passar do tempo, fui estendo para outras coisas. E não gosto de ser chamado de cover, fica muito limitado. Aí hoje faço com minhas músicas ao violão de cordas de aço e a gaita no suporte", conta.

Juntando suas influências de Bob, Cazuza (muito visível ao longo do álbum), bolero, trilhas sonoras, Johnny Cash, Márcio Greyck e Jovem Guarda, Fábio gravou Nuvens, um álbum que, a despeito de uma ou outra imperfeição técnica (às vezes sua voz parece meio enterrada entre os instrumentos), surpreende pelo apelo universal de suas canções e pelo apuro dos arranjos.

“Algumas dessas músicas são minhas e outras são em parceria com amigos. Começamos muitas delas no Sarau Prosa & Poesia, com Kátia, Mariana e Nílson”, conta.

Fábio na função, em foto de Lucymar Soares.
“Todo mês fazíamos uma homenagem a um poeta póstumo com algum literato convidado. Esse  disco é como se fosse a maturidade do sarau. Foi onde eu aprendi a ser poeta separado da música”, conta.

“É que antes eu só escrevia poemas como letras de música. Agora aprendi a escrever poemas como poemas”, diz.

HQ e lançamento de livro

Nuvens está disponível na internet para quem quiser ouvir – para quem curte Raul, Cazuza e Bob, a coluna o blog recomenda.

Professor de escola particular, Fábio ainda prepara uma HQ baseada em conto de Mayrant Gallo (A Gangue dos Barris) e, no dia 11, lança seu primeiro livro de poesias e ilustrações, Antes das Nuvens, que sai pela Editora Cogito, na Livraria Cultura.

Por enquanto,  não há previsão de show. Mas assim que rolar, a coluna o blog dá o toque.

https://www.facebook.com/fabio.haendel?_rdr



NUETAS

Falsos Modernos

Falsos Modernos e Radielic são as atrações do Quanto Vale o Show? de hoje. Dubliner’s, 18 horas, grátis.

Help  60 crianças

Os Jonsóns, Batrákia, Pop 3 e o DJ Gustavo Kelsch fazem show beneficente em prol de 60 crianças portadoras do vírus HIV na Instituição Beneficente Conceição Macedo - IBCM. Sexta, 22 horas, Portela. Leve uma lata de leite ou R$ 10. Veja cartaz ao lado...

Álvaro e Eric Assmar

Álvaro e Eric Assmar fazem Acoustic Blues sexta, 22 horas, no Rhoncus Pub.

Fim de temporada

Os finlandeses Ozzmond e Blueintheface, mais Barrunfo do Samba e Irmão Carlos & O Catado encerram o Verão de Cabeça Pra Baixo. Domingo, 15 horas, no Espaço Cultural Dona Neuza, grátis.

sexta-feira, fevereiro 20, 2015

CLÁSSICO DA FC EM NOVA EDIÇÃO, UM CÂNTICO PARA LEIBOWITZ É MAIS ATUAL AINDA AGORA


Atol de Bikini, 1946: detonação teste na Operação Encruzilhadas, do US Army
Clássico da ficção científica publicado em 1959, o romance Um Cântico para Leibowitz, do norte-americano Walter M. Miller Jr., tocava em um dos medos que mais faziam as pessoas perderem o sono naquela época: o holocausto nuclear.

Felizmente, a possibilidade de extinção da humanidade por bombardeio atômico entre países tornou-se algo mais remoto desde o fim da Guerra Fria, entre o fim dos anos 1980 e o início  da década seguinte.

Mas, nem por isso, o único romance escrito e publicado em vida por Miller Jr. perdeu sua atualidade.

Pelo contrário, pois o foco de sua narrativa não se concentra no fetiche do cogumelo atômico, e sim, no que poderia vir depois, entre os destroços do que foi a civilização.

Mas que tampouco se espere por uma aventura pós-apocalíptica convencional (leia-se “estilo Mad Max”).

Ainda assim, Um Cântico para Leibowitz entrou na lista de dez melhores livros pós-apocalípticos eleitos pela revista Time em 2010.

Mas não se trata de uma redescoberta recente. Já na época de sua publicação, o livro ganhou o prêmio Hugo como melhor romance em 1961.

Certamente, o que vem motivando tamanha aclamação ao longo das décadas é a originalidade de sua trama.

Dividido em três partes – Fiat Homo, Fiat Lux e Fiat Voluntas Tua – Um Cântico para Leibowitz tem início seiscentos anos depois do chamado Dilúvio de Fogo, que dizimou a maior parte da população mundial.

Quem restou vivo se revoltou contra a ciência e o conhecimento que levou à criação das armas de destruição em massa.

Entre fogueiras de livros e o massacre  de qualquer pessoa alfabetizada que não aceitasse abdicar do seu conhecimento, se convertendo à chamada Simplificação, o mundo mergulha, novamente, em uma era de trevas.

Queimem os sábios

Walter M. Miller. Uma de suas únicas fotos
Isso é apenas o pano de fundo para a ação do livro, desenvolvida em torno da Ordem Albertina de São Leibowitz, cuja abadia se situa no meio do deserto do Sudoeste norte-americano.

É lá que o jovem noviço Gerard de Utah, em meio a um retiro espiritual no deserto, tem um breve encontro com um estranho peregrino, o qual o leva a descobrir um abrigo anti-nuclear remanescente do século vinte.

A descoberta é repleta de relíquias do próprio Isaac Leibowitz, um engenheiro elétrico judeu, massacrado em praça pública por ter se dedicado a preservar a memória da civilização, guardando e copiando livros.

A perseguição ao conhecimento e à livre expressão é recorrente na história. Agora mesmo vemos acontecer no Oriente Médio e na Europa, onde fundamentalistas islâmicos massacram aqueles que não compartilham de seus dogmas.

Na verdade, o conhecimento parece ter cada vez menos valor na própria sociedade ocidental, obcecada pelo consumismo.

Voltando ao livro, as relíquias encontradas pelo Irmão Gerard são preservadas e copiadas manualmente pelos monges da Abadia nos séculos seguintes, enquanto se espera por um novo Renascimento, que tire o mundo das trevas.

A cada capítulo, o autor dá um salto de seiscentos anos, construindo um painel desencantado da humanidade e deixando o leitor no suspense: será que estamos condenados a nos destruir, sem jamais aprender com os erros passados?

Segundo alguns estudiosos, Um cântico para Leibowitz reflete muito do que se passava na alma do seu autor, veterano da 2ª Guerra Mundial que participou do bombardeio que destruiu a abadia de Monte Casino, na Itália. Este monastério era considerado o mais antigo da Europa.

Traumatizado com tudo que viveu no conflito, Walter M. Miller se converteu ao catolicismo após a Guerra.

Um Cântico... foi seu único romance. Ele chegou a escrever boa parte de uma continuação, mas, enfrentando uma forte crise de depressão, passou a conclusão da tarefa para seu amigo, o também escritor de FC, Terry Bisson.

No dia 9 de janeiro de 1996, Miller cometeu suicídio. Ele havia perdido a esposa poucos dias antes.

A continuação de Um Cântico.., intitulada Saint Leibowitz and the Wild Horse Woman, foi publicada um ano depois.

O romance, que estava fora de catálogo no Brasil desde o fim dos anos 1980, voltou em nova  tradução de Maria Silvia Mourão Netto e edição cuidadosa da Editora Aleph, que inclui um glossário dos muitos termos e textos em latim que surgem ao longo da obra.

Um cântico para Leibowitz / Walter M. Miller Jr. / Aleph/ 400 p. / R$ 49,90 / www.editoraaleph.com.br

quarta-feira, fevereiro 18, 2015

EX-DOIS SAPOS, CÁSSIO NOBRE LEVA PESQUISA MUSICAL AO PALCO DO GAMBOA EM "COURAÇA"


Cássio no palco do Gamboa Nova, no último dia 5. Foto: Isabel Sant'ana
Salvador tem muito músico bacana que as vezes pode passar batido. O maranhense Cássio Nobre, que vive em Salvador desde 1987, é um deles.

Etnomusicólogo, guitarrista de sensibilidade rara e grande versatilidade, sua história no cenário local remonta à vibrante safra roqueira dos anos 1990, quando integrava a banda Dois Sapos & Meio, que revelou o saudoso Peu Sousa e CH Straatman (hoje em Londres).

"Entrei no Dois Sapos em 1996, inicialmente no baixo, mas depois Peu quis uma segunda guitarra, aí quando CH entrou, eu passei para a guitarra base", lembra.

Pós-Dois Sapos, Cássio colocou seu talento a serviço de muitos artistas renomados, como Lazzo Matumbi, Rebeca Matta, Márcio Mello, Xangai, Elomar, Juliana Ribeiro e outros.

Em 2011, gravou o belíssimo álbum Viola de Arame, em duo com um dos músicos prediletos da coluna, Júlio Caldas.

Trabalho de investigação do instrumento que dá nome à dupla, Viola de Arame foi um dos melhores trabalhos da música baiana naquele ano.

Nos últimos anos, Cássio teve pouco tempo para se dedicar à sua arte, pois assumiu a direção de música da Fundação Cultural da Bahia (Funceb), órgão da Secult-BA.

Agora o rapaz volta à função acompanhado de uma super banda no show Couraça, com duas datas no Teatro Gamboa Nova. Uma já foi (dia 5), mas no dia 26 tem de novo.

“É um show de música instrumental com coisas novas que ainda não lancei, mas também com  faixas de minha autoria do Viola de Arame”, conta.

“Ainda estou retomando um ritmo de produção autoral, por que fiquei um tempo parado, com muita coisa  engavetada. Agora estou buscando construir um trabalho solo”, acrescenta.

"Mas continuo nesta em fase de transição, retomando os trabalhos depois desse tempo de quase 4 anos. Agora estou conciliando melhor meu lado artístico com o lado gestor. Esse (o trabalho na Funceb) foi o grande motivo por que eu parei com meu trabalho solo, pois não conseguia conciliar, era uma dedicação exclusiva", conta Cássio.



Proteção musical

Cássio, Emanuel V., Tati Trad e Ian Cardoso em Couraça. Foto: Isabel Sant'ana
Em Couraça, Cássio prossegue suas investigações sonoras partindo de escalas de viola caipira, música cigana e latina, mas com um twist roqueiro.

“Couraça remete ao couro, uma  coisa crua. E também a uma forma de proteção. Música pra mim é isso, ela me dá segurança frente a tudo que nos rodeia”, reflete Cássio.

“E a sonoridade do show remete a música das manifestações populares, que é parte do meu trabalho como etnomusicólogo, só que com essa forma de tocar mais roqueira, mais pesada. Busco uma sonoridade mais crua”, descreve.

No palco, Cássio conta uma banda experiente, com o batera-fenômeno Emanuel Venâncio, a baixista Tati Trad (ex-Lou) e o guitarrista Ian Cardoso.

"Durante o show tem uma projeção com imagens que acho que tem a ver com o trabalho. É uma coisa que tomei gosto, pois também trabalhei bastante com trilhas de vídeos e espetáculos", acrescenta.

Mais adiante, Couraça vira um álbum, que Cássio lançará primeiro em digital: “Depois do dia 26 já lanço uma das faixas. Vou lançando uma por um uma e até o final do semestre faço o lançamento do CD físico”, diz.

Cássio Nobre & Banda: Couraça / Dia 26 (quinta-feira), 20 horas / Teatro Gamboa Nova (Largo dos Aflitos) / R$ 20 e R$ 10




NUETAS

 
Power trio de feras

O power trio blues rock (Maurício) Pedrão (Maurício) Uzeda Cândido (Amarelo Neto)faz o som de sexta-feira no Rhoncus Pub (Rio Vermelho). Só fera. 22h30, couvert não informado.

Scambo não para

Sábado tem Scambo no Portela Café, com abertura da Hao. 22 horas , R$ 20 (antecipado).

terça-feira, fevereiro 17, 2015

ESTRADA PARA A RUÍNA

HQ: Autocracia, do inglês Woodrow Phoenix, é um forte  manifesto gráfico sobre o que há de errado em nossa relação com automóveis, propaganda, indústria e governo

Nos anos 1980, um velho rock da banda local 14ª Andar já dizia: “De papo sobre carro, eu nunca estive a fim”.

Demorou, mas finalmente surgiu um papo interessante sobre carros: o livro Autocracia, do quadrinista inglês Woodrow Phoenix.

Demolidora, a obra não é uma história em quadrinhos. Está mais para um manifesto gráfico em painéis sequenciais, nos quais o autor reflete sobre Velocidade, poder e morte no mundo motorizado, como anuncia o subtítulo na capa.

“O assunto está aí há muito tempo esperando para ser discutido e não havia razão para fazer uma ficção sobre isso quando há tanto material verídico para se abordar”, afirma Phoenix em entrevista exclusiva por email.

“Como todo mundo imagina as coisas ligeiramente diferentes eu não teria a garantia de que você veria exatamente o que eu queria que você visse. Além disso, as imagens são uma ligação visual entre as paisagens idealizadas da propaganda e o quanto é complicado o ato real de dirigir”, acrescenta.

Indústria, governo, anúncios

Em pouco menos de 200 páginas, Phoenix junta sua pesquisa e sua experiência pessoal e destrincha tudo o que está errado na nossa relação com os automóveis, esfregando na cara do leitor o quanto a indústria automobilística faz gato e sapato de nossas cidades e nossas vidas, com o apoio da propaganda, a cumplicidade criminosa do poder público e a bênção da justiça, que nunca pune adequadamente motoristas bêbados, irresponsáveis e / ou assassinos.

“As pessoas nunca são verdadeiramente responsabilizadas pelo seu comportamento em seus carros e, de alguma forma, a sociedade parece aceitar isso numa boa”, nota.

“O número de mortes é tão alto por que nunca é sua culpa quando você mata alguém. Motoristas tem o benefício da dúvida por que dirigir é algo tão desgastante e eles são apenas humanos. Por isso nós os denominamos ‘acidentes’ ao invés de ‘assassinatos’”, reflete.

Para Phoenix, uma regulação mais rigorosa da propaganda até poderia “ajustar alguns aspectos”, mas o mais importante seria “que todos entendessem como são manipulados”.

“Anúncios são criados com extrema precisão para parecerem inofensivos e divertidos enquanto tentam te deixar insatisfeito com o que tem”, vê.

“Uma vez que você consegue reconhecer o repertório de truques imbecis dos quais propaganda lança mão, menos poder eles tem sobre você. Esta é uma das mensagens-chave de Autocracia: precisamos sair  da passividade e nos tornarmos mais conscientes de todas as formas se não quisermos nos autodestruir – ou deixar que outros nos destruam”, avisa.

O pior de tudo é notar que Phoenix escreveu sobre a realidade da sua terra. Ou seja: se até no desenvolvido Reino Unido é assim, imagina no Brasil, aonde o trânsito mata mais do que os conflitos armados de alguns paises em guerra.

“Mas os motoristas são egoístas em todo o mundo e as leis são inclinadas em seu favor por que os políticos não andam de ônibus”, observa, certeiro.

“O simples ato de fechar ruas para o tráfego em festivais e feiras é tão transformador que faz as pessoas questionarem por que tanto espaço público é destinado aos carros. Investimento em transporte público de massa beneficia a todos, enquanto carros beneficiam apenas uns poucos e ainda penalizam o resto”, afirma.

No fim das contas, Autocracia mostra o quanto ainda precisamos mudar nossa relação com esses aparelhos de quatro rodas.

“Se não participarmos desse circo, podemos ajudar a concretizar isto. Cada vez menos pessoas querem possuir um carro ao redor do mundo nas grandes cidades. É um começo”, conclui Woodrow Phoenix.

Em tempo: para a edição brasileira, o autor desenhou mais vinte páginas extras exclusivas, com paisagens de capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

Autocracia / Woodrow Phoenix / Editora Veneta/ 192 páginas/ R$44,90/ www.veneta.com.br

Entrevista completa: Woodrow Phoenix

Por que o formato de um manifesto em quadrinhos, ao invés de uma ficção?

Woodrow Phoenix: O assunto está aí há muito tempo esperando para ser discutido e não havia razão para fazer uma ficção sobre isso quando há tanto material verídico para se abordar. Uma narrativa sequencial era absolutamente a única forma de fazer este livro porque nos movemos através de espaços e locais, assim posso mostrar sobre o que estou falando. Uma narrativa baseada em texto não teria o mesmo impacto por que você teria que imaginar as coisas ao invés de vivencia-las, Como todo mundo imagina as coisas ligeiramente diferentes eu não teria a garantia de que você veria exatamente o que eu queria que você visse. Além disso, as imagens são uma ligação visual entre as paisagens idealizadas da propaganda e a direção manual e o quanto é complicada o ato real de dirigir. Aprendemos a dirigir com a ajuda de diagramas e imagens idealizadas as quais então mapeamos na estrada a nossa frente. Então os desenhos de Autocracia tanto descreve quanto comenta o que vemos ao dirigir.

Ao longo do livro, você cita inúmeras formas de uso equivocado dos carros. Serão eles o veículo definitivo da estupidez humana?

WP: Há uma coisa muito próxima entre carros e armas. Ambos são completamente mortais. Mas sim, carros são piores por que a única função de uma arma é matar, não outra razão para sua existência. Enquanto carros tem muitas funções e a morte humana é (ou deveria ser) um subproduto de uma sua existência. Mas a forma como dirigimos torna as mortes inevitáveis por que testamos a habilidade mecânica de uma pessoa em operar uma máquina enquanto sua atitude mental é desimportante. Batidas de carros acontecem ao longo do eixo entre impaciência e distração. As pessoas nunca são verdadeiramente responsabilizadas pelo seu comportamento em seus carros e de alguma forma a sociedade parece aceitar isso numa boa. O número de mortes é tão alto por que nunca é sua culpa quando você mata alguém. Motoristas tem de ter o benefício da dúvida por que dirigir é algo tão desgastante e eles são apenas humanos. Por isso nós os denominamos "acidentes" ao invés de "assassinatos".

A propaganda tem um enorme papel nesse cenário ao transformar os carros em objetos de desejo, estilo de vida e símbolos de status. No livro você mesmo conta que foi o comercial de um SUV ('utilitário' no Brasil) que fez seu sangue ferver e finalmente escrever este livro. Você acha que a propaganda de carros deveria ser regulada de alguma forma?

WP: A regulação poderia ajustar alguns aspectos mas seria mais importante que todos entendessem como são manipulados. Anúncios são criados com extrema precisão para parecerem inofensivos e divertidos enquanto tentam te deixar insatisfeitos com o que tem, que faze-lo gastar mais dinheiro seria a melhor resposta para tudo. Uma vez que você consegue reconhecer o repertório de truques imbecis dos quais propaganda lança mão, menos poder eles tem sobre você. Esta é uma das mensagens chave de Autocracia: precisamos parar de sermos passivos e nos tornarmos mais conscientes de todas as formas se não quisermos nos autodestruir - ou deixar que outros nos destruam.

Não sei se você está a par, mas aqui no chamado Terceiro Mundo é pior do que na Europa. É uma série de situações que se alimentam mutuamente, formando um cenário quase insolúvel. Boa parte de nossa economia é baseada na indústria automobilística, o governo mantém os impostos baixos para o comprador final (assim quase todo mundo pode comprar um carro), o tráfego de nossas cidades é um caos completo, o sistema de transporte público é intencionalmente (e criminosamente) deficiente, nossos motoristas são extremamente agressivos e as penas para quem dirige bêbado e mata no trânsito são ridiculamente suaves. O resultado são os altíssimos números de mortes no trânsito a cada ano. Em resumo: o Brasil é refém da sua indústria automobilística. Você vê alguma luz ao fim deste longo e escuro túnel? Alguma iniciativa que as pessoas possam ter para começar a modificar tudo isto?

WP: É o óbvio de sempre, na verdade. Motoristas são egoístas em todo o mundo e as leis são inclinadas em seu favor por que os políticos não andam de ônibus. Precisamos de corpos públicos que pensem e ajam coletivamente. O simples ato de fechar ruas para o tráfego em festivais, feiras e outros eventos é tão transformador que faz as pessoas questionarem por que tanto espaço público é rotineiramente destinado aos carros. Investimento em transporte público de massa beneficia a todos, enquanto carros beneficiam apenas a uns poucos e ainda penalizam o resto. Nossos governos estão presos à indústria e a única maneira disso mudar é quando não for mais rentável. Se não participarmos desse circo podemos ajudar a concretizar isto. Cada vez menos pessoas querem possuir um carro ao redor do mundo nas grandes cidades. É um começo. Ninguém precisa de um carro novo a cada dois anos.

Uma coisa é clara: a humanidade precisa mudar sua relação com os veículos automotores. O que você acha desses carros experimentais da Apple sem motoristas? O lado irônico é que as estradas poderiam ser humanizadas quando as entregarmos às máquinas?

WP: Talvez esses carros sem motorista da Apple possam nos salvar das pessoas que não ligam para nada e vivem muito distraídas para dirigir de forma apropriada. Por que para as outras pessoas que dirigem de forma ameaçadora como um 'meio de expressão do eu', esse carro jamais terá apelo. É interessante pensar na imensa mudança mental que seria necessária para as pessoas passarem a encarar carros de algo que elas controlam para uma espécie de "quarto móvel" que elas temporariamente habitam. Me pergunto se estamos prontos isto. Resolveria alguns problemas, mas a questão principal da dominação do espaço público por uma pequena parcela da população permaneceria. Continuo esperando pelos jetpacks.

Você continuará trabalhando com este tema em outros livros?

WP: Pensei neste livro por uns dois anos antes de faze-lo. Este tipo de material requer um tempo de maturação antes de você imaginar como trabalha-lo, por que é como um trabalho de detetive, fazendo ligações entre assuntos e eventos. É mais difícil do que escrever ficção, onde você controla cada parte da narrativa. Tenho ideias para outros livros como este e sim, farei mais deste tipo de ensaio / documentário gráfico. Acho que é importante que examinemos como vivemos, que questionemos a sociedade ao invés de aceitar suas falhas. As pessoas fizeram este mundo em que vivemos e outras pessoas estão constantemente refazendo-o, geralmente em benefício próprio, então precisamos nos manter acordados, desafiar o que parece óbvio e perguntar por que é desta ou daquela forma.

Sou um grande fã de autores britânicos de quadrinhos como Alan Moore (e quem não é?), Grant Morrison, Warren Ellis, Garth Ennis e Gordon Rennie, entre outros. Vejo que você já trabalhou com alguns deles. Qual o mais difícil de se trabalhar em parceria? E o mais fácil?

WP: Isto é muito brega e eu peço desculpas antecipadamente, mas qualquer um que está aberto as sugestões do seu colaborador é bom para trabalhar. Eu não estou interessado em simplesmente ilustrar as palavras de outra pessoa. Você tem que se adaptar a diferentes estilos de trabalhar com diferentes escritores. Grant Morrison escreve muito poeticamente e deixa um monte de espaço para a sua interpretação. Alan Moore escreve as descrições do painel mais longas no mundo, então você realmente tem que ler muito antes que você possa começar a desenhar! Eu estou trabalhando com Gordon Rennie novamente depois de um tempo muito longo e é incrível como você pode entrar no ritmo muito rapidamente quando há confiança um no outro e respeito às habilidades de cada um.

terça-feira, fevereiro 10, 2015

SIMPLES RAP'ORTAGEM COMEMORA 20 ANOS COM NOVO ÁLBUM E SHOW QUINTA-FEIRA

Preto Du e Jorge Hilton na foto de Leo de Azevedo
Há 20 anos rimando e ritmando, o duo local de rap Simples Rap’ortagem comemora a data com o álbum Vinho de Vinte, mais um belo registro dos MCs Jorge Hilton e Preto Du.

A produção chega mesmo a ser luxuosa, assinada por  Pedro Arantes e Gabriel Martini e gravado no Estúdio Coaxo do Sapo, de Guilherme Arantes.

Chegando na moral, Vinho de Vinte traz a participação de peso do garoto de ouro do Carnaval, Saulo Fernandes (na faixa Agenor, uma homenagem a Cazuza), além de Carlos Barros e Vércia Gonçalves (no blues comédia Dente Podre e em Privilégio de Macho) e André Lima (em Batom).

Apesar da longa estrada de duas décadas, este é apenas o segundo álbum do duo.

"Volta e meia tivemos de dar uma paradas por conta do entra e sai de músicos", conta Jorge Hilton.

"Como (hip hop) é um gênero complicado de se levar aqui na terra e com as realidades de cada um, conciliar trabalho e ganha-pão, não conseguíamos manter uma unidade. Nego entrava, ficava dois, três anos, aí saía. Não conseguíamos achar substituto imediato, aí parava um ano, seis meses, dois anos. Mas mesmo parados, estávamos sempre produzindo música, a cabeça fervilhando de ideias e na militância ativa dentro do hip hop", relata.

"Vinho de Vinte é o nosso quarto disco sendo na verdade o segundo álbum. Cada disco que lançamos marcou um momento bem significativo da banda. O primeiro foi uma demo lançada em 2004, nos dez anos da banda, com cinco musicas. Como a galera perguntava muito 'cadê o CD'? e eu estava em um momento difícil, tava indo morar só, com esse ideal e ao mesmo tempo lutando para pagar aluguel e fazer faculdade, só conseguimos fazer a demo. E botamos o título: Cadê o CD?", lembra.

"O segundo foi uma parceria com o Programa de Ações Afirmativas da Ufba. Eu mostrei uma música sobre a questão racial e de cotas, que levei quatro anos escrevendo. Na verdade, nunca tinha feito uma letra sobre isso. Eu procurava uma perspectiva diferente, aí, com o tema das cotas, fiz essa, chamada Quadro Negro. Mostrei para o Pró-reitor Manuel José de Carvalho, já falecido. Ele pirou. Era um arquiteto de cabeça abertíssima, disse que tinha tudo a ver com aquele momento da Ufba, e sugeriu fazer um single, dentro do Programa de Cotas. Isso foi em 2005. Ele mesmo articulou com a Fundação Palmares um evento dentro da Reitoria, um evento hip hop pelas cotas, como uma reação afirmativa. Foi muito massa o evento, bem marcante pra gente. E esse single tem repercussão até hoje. Alguém pegou e botou no You Tube com legendas. Vários trabalhos acadêmicos citam a letra. Depois eu mesmo eu fiz um artigo sobre os desdobramentos pedagógicos que uma música pode ter", conta Jorge.

“Nosso primeiro álbum de fato foi o Em Primeira Mão (2011), e agora o Vinho de Vinte, que afirma com ainda mais contundência que a banda está ativa”, diz Jorge.


Sonoridade orgânica

De sonoridade orgânica, o álbum tem poucos samplers.

“Foi um sonho realizado, por que o álbum anterior nós fizemos com muito sampler. Que é massa, o DJs Rapadura e Bandido produziram ótimas bases pra gente”, conta o MC.

“Nesse, a gente conseguiu fazer isso que queríamos há muito tempo. Eu mesmo não sei tocar violão e piro com isso. Eu preciso saber um instrumento harmônico para botar em pratica as ideias. Aí tenho que passar de boca pros músicos”, relata.

Para atingir o resultado esperado, de um álbum com som de banda, foi essencial a parceria com Pedro e Gabriel.

“Nossa parceria com o Coaxo do Sapo  deu certo demais, até por que eles tem muito contato de músicos e compraram essa ideia. Na faixa Dente Podre mesmo, que é um blues criticando os programas sensacionalistas que passam na hora do almoço, ele chamou Mel, filho de Sarajane que é guitarrista, para botar uma guitarra pesadona, ficou massa. Muito músico que ia gravar para outras bandas e estava por lá, eles já articulavam para fazer uma faixa com a gente. Foi nesse esquema colaborativo mesmo. Levou um ano e meio o processo todo. Aí fizemos um lançamento em dezembro mais simbólico, por causa dos 20 anos da banda. Mas o processo mais pesado de divulgação começa agora. Queremos lançar um clipe, pagar as dívidas. Até o fim do ano queremos lançar uns três clipes, por que é um negócio que funciona muito”, observa.

“O disco seria muito mais caro se eles não tivessem dado essa força. Gabriel é um músico da zorra, toca de tudo”, conta.

Confira o show do Simples Rap’ortagem quinta-feira (12), dentro da  programação do Carnaval do Pelourinho, no Largo Teresa Batista, 19 horas.

A night promete, pois além do duo, a cantora Larissa Luz fecha o evento na sequência, às 21 horas.

Baixe Vinho de Vinte: www.simplesrap.com



NUETAS

Cólera na city dia 6

Como sabemos, Redson Pozzi, um dos caras mais importantes do punk brasileiro, morreu em 2011, deixando sua banda, a pioneira Cólera, em suspenso, até que os membros remanescentes resolveram continuar. Convocaram o ex-roadie Wendel Barros, o Val, para o vocal e seguem fazendo shows e lançando material novo. No dia 6 de março o novo cantor do Cólera faz sua estreia em Salvador em uma noite que ainda traz duas bandas finlandesas à cidade: Blue in The Face e Ozzmond. Completam o line up as locais Pastel de Miolos e Derrube o Muro. 6 de março, 21 horas, no Dubliner’s. R$ 20.

Maglore hoje 2 horas direto

Um das bandas mais queridas do público alternativo local e em plena ascenção no cenário nacional, a Maglore aproveita o Carnaval para um show de duas horas repassando todo o repertório, mais canções novas. Hoje, 21 horas, na Commons. R$ 10 (lista) e R$ 15 (na porta).

Fridha com Levante

As bandas Fridha e Levante fazem seu bailinho de Carnaval quinta-feira, prometendo “bagunçar seu Carnaval de rock” e também “sorteio de várias paradas”. Não me perguntem. Dubliner’s, 22 horas, R$ 15.

sexta-feira, fevereiro 06, 2015

DUO DE JAZZ TRAZ BILLY COBHAM PARA SHOW IMPERDÍVEL NO CAFÉ-TEATRO RUBI

Duo de jazz Marco Lobo & Bebê Kramer faz duas noites em Salvador, com convidados de primeira linha

Billy Cobham e suas baquetas (coitadas)
Quem gosta de música para ouvir – sem precisar sair  fisicamente do chão – tem ótima opção no show do duo Marco Lobo & Bebê Kramer, hoje e amanhã do Café-Teatro Rubi do Sheraton da Bahia Hotel.

Até por que nos dois dias, o percussionista (Lobo) e o acordeonista (Kramer) receberão convidados de primeira linha.

O mais aguardado é uma lenda viva do jazz mundial: o baterista panamenho (naturalizado norte-americano) Billy Cobham, no sábado.

Hoje, quem faz som com o duo de jazz é o violonista baiano Roberto Mendes e a cantora Liz Rosa, de Natal (RN).

Nos dois dias, Lobo & Kramer se farão acompanhar por outras três feras:  Alex Mesquita (guitarra), Isaías Rabelo (piano) e Gastão Villeroy (contrabaixo).

Para os fãs do jazz fusion, a participação de Cobham torna o sábado imperdível.

Para quem não está familiarizado, o baterista é, comumente, apontado pelos especialistas como um dos maiores bateristas de todos os tempos.

O currículo do homem fala por si: já tocou com Miles Davis (especialmente no revolucionário álbum Bitches Brew, de 1970), James Brown e Mahavishnu Orchestra.

Solo, lançou outro álbum histórico do jazz rock: Spectrum, de 1973.

Marco Lobo & Bebê Kramer
Oportunidade

“Eu já estava com esse show com o Bebê aí marcado há algum tempo”, conta Lobo, que é baiano e começou a carreira aqui, tocando com Gerônimo, Margareth Menezes e Armandinho, entre outros.

“Como agora estou fazendo alguns shows pelo Brasil com o Billy, vi que era uma oportunidade de leva-lo aí”, diz.

Lobo faz parte de um dos projetos de Cobham desde 2006, o Culture Mix. “Nesse projeto, ele convida músicos de vários países. Gravei os últimos três CDs desse grupo e ele também gravou no meu último álbum, o que foi uma honra um grande prazer”, afirma.

“Gravar e tocar pelo mundo com Billy é uma grande experiência. Costumo dizer que tenho três escolas muito importantes: a Bahia, minha origem; depois dez anos com Milton Nascimento, que me levou para outro estilo de música; e de 2006 para cá, o Billy”, diz.

No show por aqui, Lobo, Kramer, Cobham & Cia executarão “duas do Milton: Saídas e Bandeiras e Vera Cruz. Também vai ter um segmento solo eu e ele, de percussão e bateria. Depois vamos fazer uma ou duas composições dele, que ainda vamos escolher”, conta Marco.

“É um prazer trazer Billy para Salvador e presentear o público com músicos desse porte. Embora tenha ido embora de Salvador  desde 1988, tenho um carinho muito grande pela minha terra”, conclui.

Duo Marco Lobo & Bebê Kramer e convidados / Hoje e amanhã, às 20h30 / Café-Teatro Rubi – Sheraton da Bahia Hotel  / R$ 80


AS BARBARIDADES GRÁFICAS DO REI DA ESCATOLOGIA

Biografia do quadrinista Marcatti tem lançamento em Salvador neste sábado, na RV Cultura & Arte

Exclusiva de Marcatti para a bio: o dia em que sua mão quase derreteu
Quem acompanha o trabalho de autores brasileiros de quadrinhos certamente já é familiarizado com o trabalho de Francisco Marcatti – mesmo que não goste.

O controverso quadrinista ganhou agora uma biografia com direito a lançamento com a presença do autor, Pedro de Luna, neste sábado, na RV.

Marcatti: Tinta, suor e suco gástrico sai pela Série Recordatório (Marsupial Editora), que vem recuperando parte da história da HQ no Brasil.

Outros dois volumes já foram lançados: Ivan Saidenberg: o homem que rabiscava e Primaggio Mantovi: o mestre de estilo versátil.

A verdade é que o trabalho de Marcatti não é para aqueles de estômago fraco. Revelado nos anos 1980, Marcatti faz parte da brilhante geração underground de Angeli, Laerte, Glauco, Luiz Gê e Lourenço Mutarelli.

Seu trabalho costuma  apresentar uma profusão de personagens repugnantes envolvidos em situações nojentas além dos limites da escatologia.

Só que, se fosse só isso, ele certamente já teria sido esquecido.

Marcatti tem um estilo de desenho que, além de exuberante em seus traços detalhados, é totalmente único. O leitor bate o olho em um desenho dele e sabe que é dele, sem precisar ver a assinatura.

Além disso, suas HQs são de uma demência a toda prova, abordando todo tipo de tara e psicopatia – só que com a candura e naturalidade de uma HQ do Snoopy. Um autor original.

Não a toa, foi convidado por João Gordo para desenhar duas capas de LPs para sua banda Ratos de Porão: Brasil (1988) e Anarkophobia (1991).

Além das duas capas, a parceria com a banda do João Gordo rendeu ainda uma revista em quadrinhos de curta duração – e fim traumático para o artista.

"O João Gordo o convidou para fazer duas capas. Aí na terceira ele disse que isso era coisa de Iron Maiden. Aí resolveram fazer uma revistinha. A revista era muito legal, só que a primeira tiragem eles (a editora Nova Sampa) mandaram no lacre e em vez de estar escrito na capa Ratos de Porão, o título era RxDxPx. Porra, fora o público da banda, ninguém mais sabia o que era isso. Com as baixas vendagens, a revista foi cancelada no número 2", conta Pedro de Luna.

"Como não deu certo, ele entrou em depressão e ficou sete anos sem desenhar. O que hoje ele conta que foi um arrependimento na vida dele. Depois ele fez a revistinha do Frauzio, que também foi para as bancas e durou seis números. Não é que não deu certo, o problema é, como era uma revistinha em formatinho, o cara da banca botava do lado da Mônica e do Tio Patinhas. Aí reclamaram, e tal. Mas o Marcatti conta com muito orgulho de uma a carta de um guri, leitor de Tio Patinhas que adorou o Frauzio, Para ele, uma coisa não excluía a outra", relata Pedro.

No livro de Luna, é possível descobrir um pouco mais sobre este homem, capaz de tantas (e belas) barbaridades gráficas.

“Conhecia o trabalho do Marcatti desde os anos 1980, quando suas HQs eram publicadas nas revistas Chiclete com banana, Animal e Circo”, conta.

“Me chamou muito a atenção, com toda aquela estalogia sem limites, sexo ousado,  maluco até”, diz.

Pedro, um ativista do underground que documentou a atividade das bandas  em seu torrão natal no livro Niterói Rock Underground 1990-2010, admirou ainda mais seu biografado quando percebeu que, diferente de Angeli, Laerte ou Glauco, Marcatti nunca aceitou trabalho fixo nos grandes jornais.

Marcatti em 1982 e sua primeira impressora offset
“Ele seguiu 100%  independente. Até hoje ele cria, imprime, publica e vende o próprio material, tendo controle total sobre sua obra”, diz Pedro.

“Quando era mais jovem ele desenhava de manhã, imprimia  de tarde e ia vender no Bixiga, na Vila Madalena,  no circuito cultural  de São Paulo. Hoje ele já não faz mais isso,  mas vende pela  internet e nos eventos de quadrinhos”, conta.

“Se você for na Galeria do Rock (São Paulo) vai  ver os displays de madeira que ele mesmo cria. Até hoje ele é assim, atua nessa origem punk, que eu compactuo. Ele não espera: vai lá e faz”, observa Pedro.

Mesmo com toda essa independência, Marcatti já produziu e publicou ótimas HQs por grandes editoras, como seis números da revistinha Frauzio (editora Escala), Mariposa (graphic novel pela Conrad) e a adaptação de A Relíquia, de Eça de Queiroz (também Conrad).

No momento, Marcatti prepara sua segunda adaptação de um clássico da literatura: “É uma versão de Os Miseráveis (de Victor Hugo) para a Companhia das Letras, que ele está encarando como o trabalho da vida dele”, revela Pedro.

“Ele tem dificuldades com histórias longas, mas a editora está apoiando. Ele mesmo escolheu a obra. Não teve lei de incentivo nem empurraram nada”, diz.

Durante as entrevistas para o livro, Pedro pôde conhecer Marcatti mais de perto – e ele não se decepcionou: o homem é meio freak, mesmo. “Marcatti é muito esquisito. Mas o que esperar de um cara que desenha larvas?”, observa.

"Ele tem um humor instável, inclusive tive um probleminha, por que quando a pessoa dá entrevista, fala o que quer e o que não quer. Depois que o livro saiu... Marcatti é avesso a vida social, não viaja – só se for para vender livros. Nunca anda de bermuda, nem em casa. Já sobre essa preferência pelos temas escatológicos, ele conta que não é planejado, tipo, 'vou sentar fazer uma HQ sobre um cara que come cocô'. Acontece assim, a escatalogia vem e pronto. Agora ele só desenha em pé por que a coluna dói. Só que ele desenha sobre uma prateleira, não é nem uma uma prancheta. Marcatti é malucão, velho", conta Pedro.

"Agora, se no grande público ele não é um cara muito conhecido, mesmo assim se tornou um ícone da HQ independente, com muito reconhecimento aí. Muitos o veem como modelo e imprimem suas HQs na máquina dele só por ser feito na impressora da Marcatti. Ele mesmo fala, posso ter meus livros lançados por editora, mas muita gente gosta de comprar comigo por que é a edição do autor'. Ele também foi um dos primeiros caras a fazer merchandising, com camisas e outros produtos. Até luthier o cara é também. Ele faz de tudo: é artista, músico, gráfico, marceneiro", descreve.

Lançamento de Marcatti – Tinta, suor e suco gástrico / Sessão de autógrafos com Pedro de Luna / Sábado, 17 horas / RV Cultura e Arte / Gratuito 

Marcatti – Tinta, suor e suco gástrico / Pedro de Luna / Marsupial Editora/ 82 p./ R$ 19,90

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

ELE SAIU DO SERTÃO, MAS O SERTÃO NUNCA SAIU DELE

Anderson Cunha compôs o megahit Festa e é o líder do elogiado grupo Sertanília, que faz show hoje no Pelourinho 

Anderson Cunha e o Carybé do seu prédio. Ft Chico Castro Jr.
Anderson Cunha é, muito provavelmente, um dos talentos mais versáteis da música baiana hoje.

À frente da banda Sertanília, que se apresenta nesta quinta-feira no Sesc Pelourinho, segue os passos de Elomar, transformando cultura popular em grande arte.

Como compositor de estúdio, cravou um dos maiores sucessos da música baiana em todos tempos com Festa, megahit na voz de Ivete Sangalo.

Low profile, Anderson passa longe do perfil do compositor de sucesso. Não vive em badalação, veste-se de forma discreta, pouco sai de casa. Não tem sequer carro.

Seu jeito reservado destoa totalmente de alguém que “mandou avisar que vai rolar a festa”.

“Cabra do interior é meio assim, né?”, diz Anderson, o olhar firme no interlocutor. “Moro há 25 anos em Salvador, mas até hoje sou meio reservado”.

Criado no Centro-Sul baiano, entre as cidades de Caetité e Guanambi, Anderson pode ter saído do sertão, mas, como se diz, o sertão nunca saiu de Anderson.

“Elomar diz que o sertão é uma nação. Não importa se você está na Bahia, no norte de Minas, em Goiás ou Pernambuco, as pessoas do sertão tem os mesmos jeitos, o mesmo sotaque, a mesma comida”, observa.

“O engraçado é que o mesmo Elomar diz que a capital dessa nação é São Paulo”, ri.

Filho de uma professora estadual e um funcionário público, Anderson conta que passou a infância “sempre na roça, ouvindo Luiz Gonzaga – mesmo que você não percebesse .

Depois passei para os nordestinos: Alceu, Zé Ramalho, Fagner, Ednardo. Até cantei Pavão Misterioso com oito anos de idade em um programa de auditório”, conta.

Depois de muito brigar com os pais para ganhar um violão, se atracou com o instrumento para aprender a toca-lo sozinho, “tirando tudo de ouvido”, conta.

Com 12 anos, dois marcos em sua vida: a vinda para a cidade grande (Salvador) e o primeiro Rock in Rio. Roqueiro, já dono de uma guitarra, passa a dar aulas e a tocar em uma banda de baile para ajudar a família.

Do baile para a Festa

Sertaníilia: Diogo, Aiace e Anderson. Foto: Bob Nunes
Durante sete anos, Anderson tocou de tudo em tudo que é tipo de ocasião: formatura, São João, Carnaval, casamento.

“Foi minha saída, mas depois de alguns anos, cansei. Aí caí no estúdio de gravação. E tô nele até hoje”, diz.

Primo do baterista Robinson Cunha, foi através dele que teve, pela primeira vez, uma música sua gravada.

“Ele levou uma música minha para o Ara Ketu. Eles gravaram e a partir daí, não parei mais”, conta Anderson.

“Ali eu descobri que tem uma coisa sazonal nesse mercado. Logo depois do Carnaval, os artistas começam a caçar as músicas do próximo. E depois do São João eles gravam”, percebe.

Anderson conta que “foi muito feliz, pois fui muito gravado. Quer dizer, em comparação com um Jorge Zárath ou um Tenyson Del Rey, fui até pouco gravado. Mas isso é também muito por causa dos meus critérios. Sou muito chato”, confessa o músico.

Como compositor, ele teve canções gravadas por Netinho, Ricardo Chaves, Cheiro de Amor, Asa de Águia, Jeremias, Alexandre Peixe e Ara Ketu, entre outros.

Mas nada o preparou para entrar no imaginário popular através das cordas vocais privilegiadas de Ivete Sangalo.

“Um dia o produtor Alexandre Lins, que trabalhava com Ivete, apareceu no estúdio em que eu trabalhava. Deixei uma fita com ele. Alguns dias depois, ele me ligou, dizendo que minha música ia entrar no disco dela. Mas nem imaginei que ia ser a faixa de trabalho e o título do CD”, diz.

O sucesso estrondoso da música o pegou de surpresa: Festa (2001), não era o típico axé do carnaval baiano.

“É um funk, uma canção mais pop. Para mim foi uma injeção de ânimo, pois achei que seria uma guinada, sabe? Vamos para um mundo diferente agora”, apostou.

“No fim, foi mais um arremedo de mudança do que mudança de fato”, lamenta.

Hoje, Anderson prefere nem se aprofundar muito no assunto.

“Até hoje o pessoal da mídia do Sudeste me liga, querendo saber e tal, mas acho que já esgotou, sabe? E eu também sou meio reservado, mesmo”, afirma.

Sertanília: disco novo e oficinas

A banda e músicos de apoio. Entre elas, a cellista Fernanda Monteiro (2 em 1)
Anos se passaram. Com o tempo, Anderson começou a sentir necessidade de voltar ao início de tudo.

“Eu precisava retornar ao interior, à minha terra, e fazer o que sempre quis, que é trabalhar com  tradições populares”, diz.

Fascinado pelo Terno de Reis, Anderson voltou à sua terra de origem para pesquisar a manifestação.

“Aquilo ali é tradição oral com mais de 200 anos. Você conversa com um velhinho de 90 anos e ele te conta que o avô dele já cantava”, impressiona-se.

Em 2010, Anderson conheceu a cantora Aiace Félix e com ela voltou ao sertão para novas pesquisas. Depois, adicionando  o percussionista Diogo Florez, fundou o grupo Sertanília.

“O grupo foi fundado por conta de Elomar. No início era para ser um grupo de câmara, com viola, cello”, diz.

Depois de muita experimentação com percussões, o grupo adquiriu o formato que tem hoje, com uma percussão pesada no estilo do Cordel do Fogo Encantado – cujos percussionistas tocaram no primeiro – e premiado – CD, Ancestral (2012), um espetacular compêndio de cocos, maracatus, sambadas e ternos de reis.

A aceitação do grupo nos meios mais alternativos foi imediata. “É uma música que, apesar de ter 200 anos, soa nova, por que as pessoas não conhecem”, percebe Anderson.

Logo, o Sertanília estava se apresentando fora do Brasil, passando por Portugal, Espanha e Holanda.

“As pessoas fora da Bahia estranham quando dizemos que somos daqui”, diz.

“É por que não temos os elementos que eles reconhecem como sendo baianos, que na verdade se resumem ao litoral e ao Recôncavo. Só agora, com a política de editais, o sertão tem mais visibilidade, mas acho que ainda será preciso muitos anos para reverter isto”, acredita.

Em dezembro último, o Sertanília foi contemplado no edital da Natura Musical para gravar seu segundo álbum, previsto para setembro.

“Segundo disco é sempre complicado, né? Estamos na fase de ruminar as composições. Entramos no estúdio em março”, conta.

Nesse meio tempo, o grupo oferecerá sua contrapartida ao sertão, com o projeto Sertanês, uma série de palestras em workshops em Caetité e Guanambi com os músicos do Sertanília e outros expoentes como Maviael Melo e Xangai, em abril.

“Aprendo muito toda vez que vou lá. A principal lição é o desapego à sociedade de consumo”, conta.

“Toda essa ciranda de exposição, ostentação, essa vaidade toda – para eles é como uma ilusão, não é real. Lá eles criam seus filhos e tem uma vida digna com muito pouco. Eu trouxe isso pra minha vida. Não tenho televisão, nem carro. Ando de táxi e ônibus. Se puder, nem saio de casa”, conclui Anderson.

Sertanília / Teatro Sesc-Senac Pelourinho / Quinta-feira, 20 horas / R$ 20 e R$ 10

quarta-feira, fevereiro 04, 2015

"BRANCO" DE ALMA NEGRA

Liderada por Ubiratan Marques, a Orquestra Afrosinfônica lança com show no Pelô, hoje, o seu primeiro álbum, Branco

Orquestra Afrosinfônica. Foto Rosilda Cruz
Cânticos em iorubá embalados em belos arranjos orquestrais para sopros, percussão e vocais.

Em linhas gerais, é isso que oferece o primeiro álbum da Orquestra Afrosinfônica, cujo show de lançamento acontece hoje, no Sesc Pelourinho.

Intitulado Branco, o álbum traz dez faixas que unem a ancestralidade do batuque dos terreiros afro-brasileiros com a linguagem das orquestras europeias.

Uma tradução muito acertada para o que poderia ser a cultura de  uma certa civilização tropical sul-americana.

Mérito do maestro Ubiratan Marques, idealizador da Orquestra, autor e arranjador da maioria das faixas.

“Sempre tive uma ligação muito forte com essa música. Venho de uma família de raiz africana ligada aos orixás”, conta.

Claro que Ubiratan não fez tudo sozinho. Além das mais de duas dezenas de músicos efetivos na Orquestra, ele conta com a colaboração ativa de pelo menos dois grandes nomes da música baiana ligados tanto na cultura afro, quanto na academia: Gilberto Santiago (maestro assistente) e Mateus Aleluia (coautor de três faixas, participa do show de lançamento).

Da Reflexu’s para São Paulo

Com uma longa carreira no currículo, Ubiratan começou nos anos 1980, tocando na Banda Reflexu’s e com Gerônimo.

Formado em Composição e Regência pela Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, ele se mudou para São Paulo nos anos 1990, aonde morou por dez anos.

“Lá eu trabalhei muito fazendo arranjos para a Orquestra Jazz Sinfônica, que tem um olhar para a cultura brasileira. Ali eu  comecei a pensar que seria muito bom ter um projeto similar em Salvador, voltado para esse universo da música afro-brasileira”, relata Ubiratan.

Maestro Ubiratan, foto Adenor Gondim
“Então esse conceito da Afrosinfônica nasce da minha convivência com a música sinfônica erudita, mas com um olhar muito claro, que é fazer aquilo que Beethoven já fazia: a música do lugar dele”, acrescenta.

Do Núcleo para a Orquestra

Foi após um concerto dos 500 anos do descobrimento do Brasil que contou com a participação de Gerônimo, que Ubiratan teve o primeiro vislumbre daquilo que se propunha a fazer.

“Ali eu posso te dizer que foi o primeiro embrião da coisa. Pude ouvir e constatar que realmente era aquilo que eu estava buscando”, afirma.

De volta à Bahia em 2007, Ubiratan fundou com Gilberto Santiago o Núcleo Moderno de Música, uma escola em um casarão no Pelourinho.

“Até 2012 demos aula para todos os músicos  profissionais que tocam com os grandes artistas. Os cursos trabalhavam essa linguagem de arranjos e harmonias para música brasileira. Mas o conceito era também expandir a mente para a literatura, o cinema e outras artes”, diz.

“Tivemos quase 500 alunos. Aí naturalmente aconteceu o projeto da Afrosinfônica e os primeiros ensaios”, conta.

Dali em diante foi muito trabalho até o lindo resultado que se ouve em Branco. Modesto, Ubiratan diz que “a fundação da Orquestra foi coletiva. Por mais que a ideia estivesse na minha cabeça, eles precisaram apostar, dizer ‘vamos fazer’ com a ideia de simplesmente fazer música e tentar encontrar isso que, depois de cinco anos de trabalho, a gente não sabia como seria, mas veio”, reflete.

“Agora vemos tentar levar o concerto a outros lugares. Já há convites”, conclui.

Show de lançamento do CD “Branco”, da Orquestra Afrosinfônica / Participação especial: Mateus Aleluia / Hoje, 20 horas / Arena do Teatro Sesc Pelourinho / Entrada franca

Branco / Orquestra Afrosinfônica / Salamandra - Apoio Funceb - Fundo de Cultura / R$ 20 / À venda nos concertos, Midialouca e Pérola Negra


terça-feira, fevereiro 03, 2015

FRANK ZAPPA E ROCK BIOS NO ROCKS OFF

Nei Bahia e Osvaldo Braminha Silveira dissecam Frank Zappa.



No segundo episódio de hoje, a mesma dupla conta o que andou lendo de bão nas muitas biografias roqueiras que tem saído no Brasil. Enjoy...

MARCHISTAS JUNTA THATHI, TENISON E MARCELO QUINTANILHA EM MARCHAS INÉDITAS


Marcelo Quintanilha, Thathi e Tenison Del Rey. Foto: Vania Abreu
Depois de reinar absoluta no Carnaval baiano por mais de duas décadas, duas décadas e meia, a axé music chegou aos 30 esgotada pelo uso e abuso de sua pobre fórmula alegria a qualquer preço + refrão ad nauseam + “sai do chão”.

Não a toa, outros ritmos e estilos ganham cada vez mais espaço na folia.

Daí a ascenção do pagodão, do arrocha e até de “forasteiros”, como a música eletrônica e o sertanejo.


No meio mais alternativo, o grande barato é a volta das marchinhas e da guitarra baiana, já bem representada por aqui pelo Bailinho de Quinta e pelo Retrofolia, respectivamente.

Agora há mais uma boa atração que, na verdade, une essas duas tendências: Os Marchistas.

Trata-se de um trio formado por dois baianos e um paulista: Tenison Del Rey, Thathi e Marcelo Quintanilha.

“Foi em 2013 que tive essa ideia com Marcelo, de montar um coletivo para se divertir, a partir das marchinhas”, conta Tenison.

“Não só os clássicos, mas compor coisas novas também. Marcelo é um paulista super baiano: é casado com uma baiana e está todo ano no carnaval aqui”, acrescenta.

“Logo notamos que faltava algo, e aí convidamos Thathi, que  é uma parceirona. Fizemos várias canções juntos. Em 2014 fomos a São Paulo gravar. Aí botamos a produção na mão do Quintanilha”, relata Tenison

Marchistas ao vivo. Foto Patricia Ribeiro
Em dezembro, o trio lançou o resultado: um divertidíssimo EP com sete faixas plenas de balançê, alegria, bom humor e cheiro de lança-perfume.

A baiana na guitarra baiana

Com a entrada de Thathi, o projeto ganhou mais do que uma bela cantora: ganhou o diferencial de uma cantora que toca guitarra baiana, dando o toque local definitivo no som.

“Por incrível que pareça, a guitarra baiana ainda é algo exótico no resto do Brasil. E a Thathi  toca muito bem, faz o show todo com a guitarra na mão. Tem um bloco dela tocando só os clássicos de Armandinho, Dodô & Osmar, ela solando direto. É massa”, conta.

Infelizmente, até o fechamento desta edição, Os Marchistas não confirmaram sua participação no Carnaval baiano – mas fica a dica para os empresários, os DJs e a torcida da coluna.

www.facebook.com/OsMarchistas



NUETAS

Quanto Vale? de hoje

As bandas Opus Incertum e Os Tr3s fazem o evento Quanto Vale o Show? de hoje. Dubliner’s Irish Pub, 18 horas, grátis.

Sertanília no Pelô

Sertanília faz show no Teatro Sesc Senac Pelourinho. Quinta-feira, 20 horas, R$ 20.

Tripla night na Casa

Giovani Cidreira e as bandas Os Jonsóns e Escola Pública fazem o som da Casa da Mãe neste sábado. 22 horas, R$ 15.

Verão de Cabeça

Kalu e as bandas Irmão Carlos & O Catado  e Exoesqueleto são as atrações do Verão de Cabeça para Baixo. Espaço Cultural Dona Neuza (Marback – Setor 2), domingo, 15 horas, grátis.