quinta-feira, junho 19, 2014

A REVOLUÇÃO TELEVISIONADA E A CRISE DO HOMO AMERICANUS

No livro Homens Difíceis, Brett Martin analisa a predominância de personagens masculinos nas melhores séries da TV norte-americana

Familia Soprano: chefão da máfia com crise de pânico vai à psicóloga
Não é segredo: a melhor dramaturgia audiovisual norte-americana não está mais nos cinemas – está na TV. Pelo menos, desde que a HBO colocou o já clássico seriado Família Soprano (1999-2002) no ar.

No livro Homens Difíceis: Os bastidores do processo criativo de Breaking Bad, Família Soprano, Mad Men e outras séries revolucionárias, o jornalista Brett Martin refaz o antes, o durante e o depois desse processo, que transformou a TV norte-americana em uma fonte de teledramaturgia arrojada, personagens inesquecíveis e muita reflexão sobre a crise que se abateu sobre o homo americanus.

E que surpresa descobrir que o “antes” dessa revolução (na ótica de Martin) começou na TV aberta quase 20 anos antes, quando a rede NBC botou no ar o seriado Chumbo Grosso (Hill Street Blues, 1981-87), idealizado por Steven Bochco.

Com linguagem documental, atuações naturalistas, roteiros realistas e temas de relevância social, não havia nada como Chumbo Grosso sendo feito na TV.

Mad Men: publicitário bem sucedido de identidade incerta e passado insondável
Ironicamente, Bochco havia se inspirado no que o cinema havia feito e  que estava deixando de fazer: os dramas urbanos e adultos de Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Mike Nichols, Peter Bogdanovich etc.

O que ocorreu foi que, com a infantilização do cinema pós-Star Wars, ET e Indiana Jones, coube à dramaturgia televisiva abordar dramas humanos adultos

Foi aí que  roteiristas, produtores e showrunners como David Chase (Sopranos), David Simon (The Wire: A Escuta), Alan Ball (A Sete Palmos), David Milch (Deadwood) e Matthew Weiner (Matthew Wriner) viram sua brecha para renovar a TV.

Leitura magnética e indispensável para quem se interessa pelos bastidores da TV, dramaturgia e os seriados abordados em si, Homens Difíceis sustenta que as séries dramáticas mais bem sucedidas e elogiadas da última década e meia são com homens, sobre homens e criadas por homens – mas não exclusivamente para homens.

“Embora um grupo de mulheres desempenhe papéis altamente influentes nessa narrativa – como roteiristas, atrizes, produtoras e executivas –, elas não estão em número suficiente”, escreve Brett Martin.

Breaking Bad: pacato professor vira produtor de meta e torna-se um monstro
“Não apenas os programas mais importantes do período foram comandados por homens, como também eles falavam basicamente sobre (grifo do autor) masculinidade, em especial os contornos do poder masculino e as infinitas variedades de combates entre homens”, afirma.

Levando-se em conta que os  principais protagonistas dos três programas mais importantes do período – Família Soprano, Mad Men (AMC, 2007) e Breaking Bad (AMC, 2008-13) – são de (e sobre homens) vivendo crises  profundas, fica realmente difícil contestar o autor.

Ainda assim, seria pouco para Martin sustentar sua tese.

Problema resolvido ao detalhar a criação, produção e desenrolar (à frente e por trás das câmeras) de outras  séries de alto nível que partilhavam das mesmas características, como A Sete Palmos (HBO, 2001-05), The Shield (FX, 2002-08), Deadwood (HBO, 2004-06), Dexter (Showtime, 2006-13) e The Wire: A Escuta (HBO, 2002-08), entre outros.

Mas o que mais surpreende no livro são suas revelações de bastidores sobre os criadores dessas séries – eles mesmos homens tão difíceis e mergulhados em crises quanto os personagens que eternizaram.

Homens Difíceis: Os bastidores do processo criativo de... / Brett Martin / Aleph/ 368 p. / R$ 54 / www.editoraaleph.com.br

4 comentários:

Franchico disse...

Outro dia, pensando naquele textinho dos dez anos sem Emerson Borel, me ocorreu que talvez tenha sido eu mesmo quem o interceptou pelo pé em pleno salto. Na historinha, atribuí a perversidade à Rozendo.

Mas fiquei na dúvida. Fui eu ou foi Rozendo?

Vou precisar recorrer ao hipnotismo, a algum tipo de regressão de memória para reconstruir aquele momento....

São Philip K. Dick, me ajuda?!?!

Franchico disse...

O Django do Tarantino vai se encontrar com o Zorro (não confundir com o Cavaleiro Solitário) nos quadrinhos. Cool!

http://www.bleedingcool.com/2014/06/18/quentin-tarantinos-crosses-over-with-zorro-in-django-unchained-sequel-with-dynamite-dc-and-matt-wagner/

Ernesto Ribeiro disse...

Joy Division e Control — 2 filmes espelhos :



O ator Sam Riley como o cantor Ian Curtis: além da perfeita semelhança física, a habilidade para recriar os transes do cantor no palco


Crítica de Cinema da Revista Veja :


Control e Joy Division


http://www.youtube.com/watch?v=k0ET2L_Sibw


Isabela Boscov recomenda os dois filmes sobre a banda inglesa Joy Division e a morte de seu líder Ian Curtis, o longa de atuação Control e o documentário
Joy Division


http://veja.abril.com.br/280508/p_110.shtml


Ernesto Ribeiro disse...

Reportagem impecável como sempre, senhor Castro.


Agora, quanto á visão do autor do livro:


O que eu tenho a acrescentar, quanto a um exemplo que DESMENTE a teoria dele sobre essa generalização de que "tudo o que há de 'mais importante' gira em torno da masculinidade e relações entre homens" :


Baby, você precisa assistir a MELHOR SÉRIE DE TV de Todos os Tempos: 24 HORAS.


O Grande Épico – Drama – Tragédia - Aventura - Debate - A Definitiva Obra-Prima de nosso tempo.


Eis a Grande Produção Artística do Século 21. 24 HORAS é a nossa Odisséia, nossa Ilíada, nosso Édipo Rei.


Viver nos dias de hoje sem jamais ter assistido 24 HORAS é como ter vivido na Grécia Antiga sem jamais ter assistido uma peça de teatro num texto de Eurípedes, Ésquilo ou Sófocles.


A Melhor Dramaturgia. Os Melhores Atores. Os Mais GENIAIS argumentos / histórias / enredos / roteiros já escritos.


O herói definitivo: Jack Bauer.


A heroína mais inteligente: Chloe O’Brian.


A AUTO-CRÍTICA mais sóbria e corajosa dos EUA, da política e das decisões / ações condenáveis e no entanto necessárias na luta contra o terrorismo.


A URGÊNCIA que define o nosso tempo em seu nível extremo de TENSÃO, elevando a adrenalina ao máximo e deixando o telespectador em estado de choque, com os pêlos arrepiados, os nervos á flor da pele e o coração saindo pela boca, á beira de um enfarte — e simultaneamente entusiasmado, desejando saber logo "o que vai acontecer agora?" e pedindo cada vez mais.


A AÇÃO trepidante, quando explodem todas as tensões, em episódios que reúnem a melhor equipe de cinema na TV em perfeição técnica e artística de produção e direção.


O REALISMO mais chocante e equilibrado com uma cinematografia de bom gosto, em que o sofrimento máximo dos inocentes nunca é mais gratuito do que a REALIDADE do Terrorismo que ameaça cada vida humana na Terra — inclusive a dos próprios terroristas, mostrando como o Mal absoluto é sempre auto-destrutivo.


O TEMPO REAL em que os eventos acontecem na narrativa, onde até os minutos de cada intervalo comercial na TV são integrados ao tempo em que corre no relógio digital da estória. O andamento da narrativa adaptado ao formato do veículo em que é transmitido, numa revolução de inteligência na dramaturgia em todos os sentidos, tanto na forma como no conteúdo.


A COMPLEXIDADE e as contradições da VIDA REAL em todos os seus conflitos internos e externos, suas reviravoltas e lances surpreendentes, onde sempre acontece o INESPERADO. As idiossincrasias no combate á grande ameaça do mundo atual, gerado pela intolerância e o fanatismo.


Os TEMAS DA REALIDADE encarados e discutidos de maneira sóbria, lúcida e inteligente, sem jamais se desviar da terrível VERDADE.


Uma criação absolutamente única, original, insuperável. Simultaneamente intimista, filosófica e ESPETACULAR.


Um programa que somente ADULTOS maduros e corajosos podem assistir. É para aqueles de coração forte, mente desenvolvida e alma sensível.


24 HORAS : o pináculo da criação humana.