segunda-feira, junho 03, 2013

70 ANOS: JUNKY, DE WILLIAM BURROUGHS, VOLTA EM EDIÇÃO DEFINITIVA - E AINDA É O MAIOR BARATO


Para falar de Junky - Drogado, o clássico beat de primeira hora de William S. Burroughs (1914-1997), é preciso ter em mente duas coisas.

Uma: jamais julgar. Duas: mandar a hipocrisia classe-média  às merecidas favas.

Por que Junky é assim: sem retoques, sem meias palavras, sem julgamentos.

Publicado originalmente nos Estados Unidos em 1953, a obra relata o dia-a-dia de Bill Lee (o próprio Burroughs), um viciado (junky, na gíria) em heroína (junk) e no que mais pintar.

O estilão anavalhado, seco mesmo – quase noir – da narrativa em primeira pessoa, além da absoluta amoralidade ou propósito do personagem principal (fora se drogar) fez com que Junky fosse considerado “impublicável” na época.

Falar de drogas pesadas  era uma coisa tão complicada (na verdade, ainda é), que o poeta Allen Ginsberg nota, na introdução desta edição, que “se alguém dissesse em voz alta ‘fumo’ no ônibus ou no metrô, podia ser preso. Mesmo que estivesse apenas discutindo mudanças na legislação”.

Foi Ginsberg (o célebre autor de Uivo), o grande incentivador de Burroughs, ao lado de outro poeta beat: Carl Solomon (De Repente, Acidentes). Juntos, eles foram os responsáveis por botar Junky nas bocas.

Solomon era sobrinho do dono da editora Ace Books. Assim, Junky foi publicado não apenas com diversos cortes, mas em uma esdrúxula edição Two Books in One (dois livros em um), com outro livro no verso, escrito por um ex-agente da Delegacia Federal de Entorpecentes.

Esta edição, felizmente, não só não traz o dispensável livrinho moralista do cana, como chega, pela primeira vez, com o texto integral, sem cortes.

Para confirmar o caráter “definitivo” anunciado na capa da presente edição, a tradução é do mesmo Reinaldo Moraes que já havia traduzido a versão publicada pela Brasiliense nos anos 1980.

Para quem não sabe, Moraes é autor daquele que talvez seja o maior clássico beat brasileiro: Tanto Faz (1981).

Tão direto que fica cômico

Em tempos que se discute a legalização da maconha e uma mudança de paradigmas no combate ao tráfico e tratamento de viciados, Junky oferece uma visão sobre o tema das drogas tão descompromissada com a seriedade inerente ao assunto, que recomendar sua leitura como referência seria, no mínimo, uma irresponsabilidade.

É esse mesmo descompromisso, porém, que torna sua leitura tão fascinante.

Alguns trechos são tão absurdamente diretos que chegam a ser cômicos, de tão subversivos.

Exemplo: quando adota o uso de cocaína para se livrar da heroína, o narrador faz as seguintes considerações: “Coca é puro barato. Te deixa ligadão – uma ligação mecânica que começa a te abandonar mal você começa a senti-la. (...) Mas no que a cocaína abandona seu organismo, você esquece por completo dela. Cocaína não provoca dependência”.

Hum, hum.

Incorreção política à parte, Junky deve ser lido pelo que é: um clássico de sua época.

Junky - Drogado - Edição Definitiva / William S. Burroughs / Companhia das Letras/ 176 p./ R$ 37/ E-book: R$ 26/ www.companhiadasletras.com.br

3 comentários:

Franchico disse...

Lou Reed caiu na faca:

http://omelete.uol.com.br/musica/lou-reed-se-recupera-apos-transplante-de-figado/

Rodrigo Sputter disse...

có foi essa de Lou?
judiação demais com o fígado dele?
eu gosto + de junky do que de naked lunch...o naked nem li todo...
mas livro sobre drogas que li e + gostei foi esse:

http://www.dantes.com.br/livro.php?id=12

Rodrigo Sputter disse...

Chico, a ediouro lançou ele esse livro na 1a metade dos anos 2000, foi a que li e tenho, tem até glossário e notas, qual a diferença entre elas?

http://compare.buscape.com.br/junky-william-s-burroughs-8500016477.html#precos

só o livro do cana que foi lançado junto com o livro?