quinta-feira, maio 10, 2012

JORGE SOLOVERA, ANDINO COM DENDÊ


Quem vê o produtor musical Jorge Solovera, figura tranquila e reservada,  circulando pelos estúdios e palcos da cidade não imagina quanta história e experiência de vida este chileno de 37 anos, residente na Bahia desde 1986, tem para contar.

 Solovera não lembra do seu pai. Ele tinha um ano de idade quando os militares golpistas do Chile o capturaram e desde então, nunca mais foi visto.

“A última notícia que tive foi que surgiram alguns documentos e ossadas, que disseram que pode ser do meu pai, mas não foi confirmado ainda”, conta.

“Sei que o lugar aonde ele ficou detido era pertinho da casa aonde morávamos em Santiago. Tem um memorial nesse mesmo lugar com os nomes de todos que foram torturados e mortos ali, incluindo meu pai, mas ainda não tive coragem de visitar o local”, confessa.

Em 1983, sua mãe, Patricia Salas, se casou de novo, com um brasileiro – e a família migrou para o Brasil. Depois de uma passagem de um ano e meio no  Rio de Janeiro, chegaram à Salvador.

Mas a experiência de Solovera com a música já tinha começado anos antes, ainda no Chile. Tanto o pai, sindicalista da CUT chilena, quanto a mãe eram músicos. “Minha mãe tinha um grupo de música andina formada só por mães e mulheres de desaparecidos”, revela.

“Elas organizavam atos e viajavam o Chile todo. Tinha música, dança, protesto, era um negócio bem emocionante. E eu sempre ia junto. Se chamava Grupo Detenidos Desaparecidos”, conta.

Do Tesão & Cia aos estúdios

Solovera tomou as primeiras aulas de violão clássico aos seis anos e entrou no conservatório da Universidade do Chile aos oito.

Já em Salvador, sua mãe se tornou sócia do antológico bar / comunidade libertária Tesão & Cia., que ficava em Piatã.

“Comecei a tocar na noite lá, pirralho ainda, com 14, 15 anos. Toquei em bandas cover da Blitz (Let It Blitz), The Doors e Raul Seixas. Eventualmente, minha mãe conheceu a mãe de Glauber Guimarães (ex-Dead Billies) e chegamos a morar todos juntos, rachando um apartamento no Cabula”, revela Solovera.

“Um dia, Glauber botou um LP do Iron Maiden pra tocar e começou a cantar junto – igual ao vocalista. Aí eu pirei. Disse: ‘velho, você tem que tocar comigo’. Aí começamos a nos apresentar em dupla no Tesão. No dia seguinte, íamos ao Iguatemi torrar o dinheiro todo em sorvete e discos novos”, ri.

Com o tempo, os convites começaram a surgir e Solovera não parou mais. Emprestou seu talento de instrumentista para nomes como Ricardo Chaves, Daniela Mercury, Jeremias Não Bate Corner, Jorge Zárath, Clara Ghimel e muitos outros.

Por conta disso, conhece a fundo os dois lados da música baiana – o comercial e o artístico. “Não tenho o menor problema em dizer: eu não considero a axé music um trabalho artístico. Sua única preocupação, da forma como ela é feita, é o mercado. É tudo muito tosco. Ultimamente, até houve uma certa evolução técnica, mas até pouco tempo,  tudo era muito mal gravado. Foi um dos motivos por que larguei”, relata.

Apesar da grande musicalidade e habilidade como guitarrista,  foi mesmo como homem de estúdio que Solovera se encontrou profissionalmente.

Seu mestre foi o mesmo de nove entre dez produtores baianos: Nestor Madrid. “Ele me ensinou todas as técnicas. Hoje não consigo passar uma semana sem gravar”, confessa.

Entre os nomes que passaram por sua mão, seja como produtor ou arranjador, estão: Dois Em Um, Cascadura, Formidável Família Musical, Teclas Pretas, Los Canos, Mou Brasil e Maglore. Sua maior expectativa agora é o disco novo de Lazzo Matumbi. “Vem com uma pegada soul, meio Tim Maia”, conclui.

SOLOVERA LINKS:

http://www.myspace.com/soloveramixing

http://www.jorgesolovera.com.br/
 

http://soundcloud.com/jorge-solovera

6 comentários:

glauberovsky disse...

soloverajones, meu irmão.
G.

Rodrigo Sputter disse...

conheço-o pouco pessoalmente, mas sempre foi um cara simpático...não sabia dessa história de vida dele...FORTE...ainda bem q existe a arte pra dar uma aliviada nas dores da vida...

andre L.R. mendes disse...

grande produtor...terminei de gravar meu disco com ele...e digo...já trabalhei com ótimos produtores,dentre eles o lendário tom capone...mas te digo seguramente...solovera é o melhor dentre os quais já trabalhei.

Diego Orrico and The Blue Bullets disse...

Meu grandississimo "pippistrellone" que me surpreende a cada instante, cada nota evocada dos seus dedos, cada piada bem colocada, cada trabalho, cada projeto, ele nos abastece de sua genialidade, inquietude e beleza.

Bacione pirlone!

D´Orrico

Izolda disse...

Só assim pra ter notícias de Glauber, Jorgito! kkkkk
Essa dupla já deu o que falar. Saudades....
Sucesso para essa dupla mais que talentosa!

Marina Fraga disse...

Grande Sol!!!!