quinta-feira, abril 26, 2012

MICRO RESENHAS CADA VEZ MAIS MICRO, ASSIM COMO O SACO DO RESENHISTA (EU DISSE O SACO - O SACO, ENTENDERAM? O SACO!)

Ratos do Oeste
 
Maus, de Art Spiegelman, tornou-se um clássico das HQs e ganhou um prêmio Pulitzer ao narrar as memórias de um sobrevivente de Auschwitz com ratos (judeus) e gatos (nazistas). Oeste Vermelho, dos irmãos Costa, não deve angariar tamanho reconhecimento, mas ganha muitos pontos ao contar uma típica história de western  – bandidos atacam cidade isolada e pacífica, pistoleiro busca vingança – com gatos no lugar dos vilões, ratos no lugar dos mocinhos, decupagem cinematográfica digna de um filme do Clint Eastwood e desenhos espetaculares. Grande estreia desses irmãos. Que venham novos trabalhos desses caras. Oeste vermelho / Magno Costa e Marcelo Costa / Devir/ 88 p./ R$ 34,50/ devir.com.br


Choro-jazz-bossa etc.

Virtuose sem ser chata, a pianista, flautista, compositora e arranjadora Debora Gurgel passeia pela bossa, choro, jazz e outros ritmos neste belo CD de música instrumental de primeira linha. Em dez faixas,  ela experimenta (e faz bonito) em diversas formações. Debora Gurgel / Da Pá Virada Music / R$ 22,90 / www.deboragurgel.com.br








Kicking dead dogs part one

Não fosse o fato de que tocam instrumentos, em nada chamaria a atenção o quinto álbum do quarteto de rap Gym Class Heroes. Ainda assim, eles conseguem soar perfeitamente banais, como 99% do hip hop ianque. Fazer o que? Gym Class Heroes / The Papercut Chronicles II / Warner / R$ 27,90








Melancolia e mistério
 

Neste mangá, Mitsuru Adachi cria um tocante drama dividido em sete histórias curtas de pessoas relembrando momentos-chave de sua infância, sempre com um toque agridoce na sua abordagem. Fracassos, pequenas tragédias e dúvidas envoltas em tons nostálgicos. Um mangá melancólico e um tanto misterioso.Aventuras de menino / Mitsuru Adachi / L&PM/ 216 p./ R$ 15/ www.lpm.com.br







Clássicos para a juventude

Idealizada por Fernando Sabino e com belíssimo projeto gráfico, a coleção Novelas Imortais, da Rocco, traz obras clássicas de Melville, Stevenson, Flaubert, Henry James e Hoffmann para os jovens. Nesta, o russo Andreiev (1871-1919) faz um pungente libelo contra a pena capital e o regime czarista. Relato sombrio e brutal. Os Sete Enforcados / Leonid Andreiev / Rocco/ 168 p./ R$ 24,50/ www.rocco.com.br







Kicking dead dogs part two

É incrível a teimosia da molecada em se prender a fórmulas prontas. Entendam de uma vez por todas: esse negócio de começar a música “pesadona”, depois entrar o vocal limpo seguido de gutural no refrão já foi! Vamos mudar esse disco? Que coisa!  Taking Back Sunday / Taking Back Sunday / Warner / R$ 27,90

 







Pogue sem parar

Coletânea com vinte bandas da atual cena punk / hardcore brasileira, cada uma com direito a uma faixa. Da Bahia comparece a Buster, com No Self Respect. A qualidade e os estilos variam, mas o resultado é uma senhora festa punk. Vários artistas / Manual de Resistência 3 / Antireckordz / R$ 5 / http://antireckordz.wordpress.com/

 





 

Country folk decente

Adorável surpresa este álbum da cantora norte-americana Alela Diane. Da turma do neo folk (The Decemberists, Iron & Wine), Diane canta com pegada country, mas as composições remetem à imensidão da América profunda, estilo Neil Young. Alela Diane & Wild Divine / Rough Trade - LAB 344 / R$ 27,90 / www.lab344.com.br








Rei bárbaro

Fera dos quadrinhos e ilustrações, o paulista Alexandre Jubran lança um livro de arte em que extrapola o conceito de mero portfolio com detalhes técnicos de seu ofício. Pesquisador incansável, seus desenhos de guerreiros, bárbaros, soldados, espadachins e cadetes espaciais são fruto de uma ampla pesquisa histórica, reproduzindo uniformes, armas e veículos com assombrosa fidelidade. Uma amostra generosa que inclui estudos e sketches a lápis, bem como trabalhos finalizados coloridos. Bárbaros: Guerreiros e Guerreiras / Alexandre Jubran / Criativo / 120 p. / R$ 56 / www.editoracriativo.com.br



Fim de trilogia literária zumbi

Com A Ira dos Justos, a saga Apocalipse Z chega à sua terceira e última parte. Foram cerca de mil páginas de muita correria, suspense, vísceras e desmembramentos em um dos melhores romances de zumbis de todos os tempos. Recomendadíssimo aos apreciadores do (sub)gênero. Apocalipse Z: A Ira dos Justos / Manel Loureiro Doval / Planeta / 400 p. / R$ 39.90 / www.editoraplaneta.com.br

 






Subversões dispensáveis

Seal segue a trilha aberta por Rod Stewart lança mais um volume de standards. Neste caso, de soul music. O problema é que, assim como Rod, Seal investe em arranjos caretas que “embranquecem” suas versões. Solução? Fique logo com os originais. Seal / Soul 2 / Warner /R$ 31,90








Reis do esquizo-funk de branco de volta


Cultuado nos anos 1990, o power trio Primus retorna com  álbum em que mantém o estilo funk esquizoide sombrio com muita competência e sem aquele gosto de autoparódia. Destaque para o peso suingado de Tragedy’s A’ Comin’ e  Lee Van Cleef. Primus / Green Naugahyde / Lab 344 / R$ 27,90 / www.lab344.com.br







Edição nacional

Se foi Amy Winehouse quem trouxe a soul music de volta às paradas, a “culpa” é desta senhora,  Sharon Jones e a espetacular banda The Dap-Kings. Quarto álbum da trupe, é o primeiro lançado no País, depois dos shows arrasadores do ano passado. Antes tarde... Sharon Jones & The Dap-Kings / I Learned The Hard Way / Oi Música / R$ 29,90 / www.oimusica.com.br






Antes do delírio 3D, havia um livro

Publicado aqui em 2007, a encantadora fábula do menino que mora escondido em uma estação parisiense de metrô e tenta descobrir o segredo de um autômato ganha reedição, graças ao delírio 3D de Scorsese. Ele não deve ter tido muito trabalho, já que as ilustrações já são quase um storyboard. Belíssimo experimento que mistura texto em prosa e narrativa sequencial. A Invenção de Hugo Cabret / Brian Selznick / Edições SM/ 534 p./ R$ 42/ ww.edicoessm.com.br/hugocabret







Policial à baiana

Fiel discípula de Agatha Christie, a baiana Nádia São Paulo tempera seu terceiro romance policial com um toque de Medium (série de TV com vidente que resolve casos). Aqui, um balneário paradisíaco serve de cenário para as atribulações de uma família em uma casa cheia de segredos. O Mistério da Casa na Praia / Nádia São Paulo / Novo Século / 224 p. / R$ 29,90 / www.novoseculo.com.br

 






Humor negro à Maurício de Sousa

Um dos personagens mais obscuros de Maurício de Sousa, Nico Demo é uma espécie de anti-Cebolinha. Esse negócio de dar nó em orelha de coelhinho não é com ele. Como diria Vandex, Nico Demo não quer nem se dar bem – ele só quer prejudicar. Mas sempre com boa intenção. Ou será que não? Tiras mudas de um mestre do humor em grande momento. Nico Demo - Aí Vem Encrenca / Maurício de Sousa / L&PM/ 128 p./ R$ 11/ www.lpm.com.br

sexta-feira, abril 20, 2012

ABRIL PRO ROCK CHEGA A VIGÉSIMA EDIÇÃO

As vezes não precisa ser santo para operar milagres. Paulo André, idealizador / produtor do festival recifense Abril Pro Rock,  que o diga.

Amanhã, o evento chega à sua (inacreditável) vigésima edição, com Los Hermanos fechando a primeira noite (de três), que ainda terá bandas como as norte-americanas Antibalas, Nada Surf (al lado, em foto de Peter Ellenby) e Exodus (mais abaixo, em foto de divulgação cedida pela organização do festival).

O line up globalizado ainda conta com a revelação paranaense A Banda Mais Bonita da Cidade, os mexicanos do Brujeria, os portugueses do Buraka Som Sistema, os italianos do Cripple Bastards e, fechando um ciclo, dois artíficies do manguebeat que estiveram na primeira edição, em 1993: Mundo Livre SA e Otto.

“Tudo isso, lutando contra dois grandes gargalos que, aliás, são os mesmos de 20 anos atrás”, ressalva Paulo André. “Primeiro, as rádios. As privadas, que são bem apelativas, para pegar leve. Isso  quando não são de uma rede e já vem com a programação fechada do Sudeste”, observa.

“Já as rádios públicas estão mofadas e atrasadas. Um exemplo: em 2010, a BBC3 de Londres veio pela terceira vez cobrir o festival. Gravaram alguns shows e depois veicularam o áudio por lá”, relata PA.

“Já a rádio da UFPE age como se estivéssemos em 1982. Só toca frevo ancestral pra ninguém, dá traço no Ibope. Ou seja,  é mais fácil fazer uma parceria com a rádio pública britânica do que com a pernambucana”, dispara.

"É uma rádio inoperante e ineficente. Se Mundo Livre e Chico Science já não tocavam na primeira edição, agora com o disco novo continuam não tocando. E novos nomes, como Tibério Azul e Ska Maria Pastora, esses também não tem oportunidade de tocar em lugar nenhum em Recife. Mas se você pegar qualquer novo nome brasileiro, é um problema gerneralizado. Acho que é mais agravado aqui em Recife por que temos uma produção cultural intensa e produtiva, que encontra essa barreira na própria casa. Ai deles se não fosse o exterior. Ou seja, nada mudou", resigna-se.

O segundo gargalo é a falta de espaços em Recife para as bandas tocarem. “Isso não é ser pessimista, é ser realista, e essa realidade, essa falta de estrutura atrasa muito a ascensão de novos artistas, até por que  falta um filtro na internet. Por que a juventude alienada do axé e o caralho não está na rede para descobrir novas bandas, só para ouvir mais do mesmo”, constata.

"Os bares da moda não contam,  já que nem todo mundo vai nele atrás de uma coias nova, né? Vai atrás de banda cover e tal", observa.

Abril Pro rock 2012 / Sexta-feira, sábado e domingo / Chevrolet Hall (Olinda - PE) / www.abrilprorock.com.br

APR e Macca no mesmo fim de semana em Recife: o atraso brutal de Salvador esfregado bem no nosso focinho

Mesmo submetido a essa dura realidade, o Abril Pro Rock chega a sua vigésima edição depois de, ancorado no movimento Mangue Beat, ter (re)colocado Pernambuco no mapa cultural nacional, bem como na rota dos shows internacionais – e isso, francamente, é muito mais do que qualquer soteropolitano jamais poderá  se gabar.

Só este fim de semana, Recife recebe o APR (com bandas como Exodus, ao lado) e Paul McCartney.

Se isso não for de fazer corar qualquer baiano (pelo menos, aqueles com um mínimo de instrução), nada mais será.

Além disso, lá ainda tem RECBeat, Virada Cultural (que dura três dias) e programação intensa e diversa de São João.

"Na verdade, o poder público ainda é o grande contratante, com cinco grandes ciclos de shows gratuitos pela cidade (Carnaval, São João, Virada, Natal e mais uma que esqueci agora). No entanto, ainda não tem uma rádio para tocar essas bandas”, contemporiza.

“Mas foi mesmo uma estrada árdua”, admite Paulo Andre. “Lá atrás não existia um calendário de festivais independentes. Com essa situação das rádios e das gravadoras inexistindo, os festivais são a principal plataforma para artistas novos. Tanto para o conhecimento do publico, quanto para a critica”, vê.

“Essa evolução se deu por que houve  uma interação com cenas musicais de lugares do país que não dialogavam antes. Valeu a pena. E eu acredito muito numa nova geração”, encerra.

Enquanto isso, em Salvador...

terça-feira, abril 17, 2012

DE VOLTA DE MAIS UMA INCURSÃO TEXANA, VANDEX VAI MOSTRAR O TAMANHO DA SUA CONCRECOISA NA SALA DO CORO

Quanto mais velho,  mais irreverente – e doido de pedra. Este é Vandex (em foto de Sora Maia), um legítimo enfant terrible do rock local.

Fundador da antológica banda Úteros Em Fúria (1986- 1995), Evandro Botti saiu em carreira solo como Vandex em meados da década passada, quando sua banda anterior, a Guizzzmo, se dissolveu.

Lançou seu primeiro álbum, Ironia Erótica, em 2011. O CD foi bem elogiado pela crítica e manteve seu nome em circulação nos meios culturais alternativos dentro e fora da Bahia.

“Foi um gozo geral, um orgasmo cultural, um êxtase quase sexual”, garante ele, formado em Composição e Regência (Ufba).

“Atingimos todas as nossas metas: muitas garotas, muito dinheiro, muita fama e muitos quartos de hotel destruídos”, afirma. Como se vê, a ironia com Vandex não é só erótica.



No coração do Texas

Em março, esteve pelo segundo ano seguido em Austin (Texas) para se apresentar no festival South By Southwest.

“Na verdade, este ano participamos do festival que acontece simultâneo ao SXSW, o Heart of Texas Rock Fest, graças ao apoio do Fundo de Cultura”, corrige.

“Tocamos na Sixth Street, em um palco de rua, montado em um estacionamento. Foi melhor que no SXSW, quando tocamos em um pubzinho”, relata.

"Deu um bom público, a receptividade foi boa. Inclusive, cantei uma musica nova que é em inglês e o refrão é 'Porra'! A gringada saiu toda gritando 'Porra!', o que foi legal, por que senti que conseguimos levar um pouco da cultura baiana ao Texas. Em breve levaremos também a 'casa do caralho', em outras oportunidades de intercâmbio cultural", relata Vandex, sério como um porco mijando.

Na próxima segunda-feira, ele faz um show especial na Sala do Coro dentro do projeto Conexão Vivo com sua banda de acompanhamento, formada por  Mauricio Pedrão (bateria),  Son Melo (baixo),  Alex Mesquita e Fábio Serrano (guitarras).

Mas o  que torna este show realmente especial é a quantidade e a categoria dos convidados: Aderbal Duarte (violão em Punk Bossa) André Becker (sax), Gilmar Santiago (trombone e tuba), César Rasec e Luís Caldas.

“Esses dois últimos participam numa adaptação musical da negação de Pedro a Cristo. Fizemos uma concrecoisa a partir de um poema de Rasec, inspirados nessa história. Eu musiquei e o Luis Caldas participa tocando guitarra e cantando”.

(Só não perguntem ao blogueiro que porra é "concrecoisa").

Em fase eclesiástica / messiânica, ele encerra conclamando: “Prejudicai-vos uns aos outros como eu vos tenho prejudicado”.

Palavras de salvação.

Conexão Vivo apresenta Vandex / Segunda-feira (23), 20 horas / Sala do Coro do TCA / R$ 8 e R$ 4

NUETAS

Pochat convida

Só deu VIP na coluna hoje. De volta de apresentação em Estocolmo (veja na foto ao lado), Alex Pochat & Os Cinco Elementos fazem dois shows no Espaço Cultural Barroquinha, sempre às quintas-feiras, com grandes bandas convidadas. Nesta quinta (19) é com Retrofoguetes. E na próxima, 26, com  Radiola. 19 horas, R$ 10. Rock sem fronteiras.


Peso punk no pub
Inglorius, Fridha, Kaduk e The Pivos fazem a noite punk rock / do sábado. Dubliner’s Irish Pub, 20 horas. O “capilé” é R$ 10.

A Bolha versão 2.0
A festa A Bolha agora é no Portela Café, com direito a duas pistas. Sábado, com el Cabong, Lola B, Carol Morena, Modern Jules, Lucas Albarn e Laíse Kelman. R$ 15, até meia-noite.

Blues Free forever
A night blueseira de todas as quartas-feiras segue firme e forte no Dubliner's com a banda Água Suja (Jerry Marlon, Oyama Bittencourt, Zito Moura e Brian Knave) e convidados. Amanhã quem pinta por lá é a cantora Cláudia Garcia. 22 horas, grátis.

quarta-feira, abril 11, 2012

AUTOMATA ASSUME QUE ACABOU E LANÇA ÚLTIMO REGISTRO

Surgida no início do século, a Automata (em foto de André Fofano) foi uma das últimas bandas do rock local imune às influências de MPB que marcam a geração seguinte, nascida sob a égide dos Los Hermanos.

Após uma certa evidência no meio local graças à boa qualidade dos músicos e às composições sintonizadas com o nü metal que a molecada da época gostava de ouvir, lançaram em 2005 o álbum Indivíduo-Ação pelo selo Atalho Records.

Apesar das boas resenhas na Bahia e fora dela, os problemas comuns às bandas de rock baianas (membros pulando fora, incentivo zero etc) minaram a motivação da rapaziada e banda parou pouco depois.

“Voltamos em 2009, mas não bateu”, conta o vocalista, Sérgio Franco Filho. “O cenário já tinha mudado muito, o clima tava estranho. E tava todo mundo meio desmotivado”, justifica.

Depois de dois shows, a banda parou de novo. Mas desta vez, como despedida definitiva, os membros decidiram gravar as composições remanescentes em um álbum que fica como o canto do cisne da Automata.

Com 11 faixas e uma vinheta, Especiais Que Somos já está disponível para audição em streaming no site do selo de Sérgio, o Torto Fonogramas.

Mix: Montreal. Master: NY

“Então é um adeus. Um adeus menos melancólico do que o das bandas que nem assumem que acabaram – ainda que o disco soe ainda mais sombrio do que o Indivíduo-Ação”, define.

Gravado em Salvador entre maio de 2011 e fevereiro deste ano, Especiais Que Somos foi mixado em Montreal – aonde hoje vive o baterista e coprodutor Jera Cravo – e masterizado em Nova York por Roger Lian, profissional com discos do Rush, Muse e Slayer  no currículo. 

“Em maio vamos lançar em CD também.  Vamos vender por R$ 5. É prejuízo certo, mas não estou visando grana mesmo“, admite Sérgio.

Além dele e de Jera, a Automata conta com Vicente Fonseca (guitarra e violão, é também o outro coprodutor) e Daniel Toshiro (baixo).

Infelizmente, as possibilidades de rolar um show de lançamento são parcas.

“Quem sabe quando eles estiverem todos por aqui, a gente faz um show tipo a volta dos mortos-vivos. Até tem essa possibilidade. A dificuldade  é todos  toparem e ter tempo hábil para marcar, produzir, ensaiar etc”, conclui Sérgio.

 Um fim digno para uma banda idem.

Ouça: www.tortofonogramas.com

NUETAS

Bestiário estreia
Demorou! Neste sábado, a Bestiário, banda liderada por Mauro Pithon (ex-Úteros Em Fúria e Sangria), finalmente faz sua estreia ao vivo no Portela Café, em um super show com a elogiada Vendo 147. Desfalcada de dois membros originais (Apú Tude e Emanuel Venâncio, ainda na foto ao lado, de Frito), a banda sobe no palco com o guitarrista Wallie Beerman (Mizeravão), Nuno Chuck Norris (baixo) e Dimmy Demolidor (da mesma V147) na bateria. Vale lembrar que a Bestiário é outra joia do cast da Torto Fonogramas e tem um álbum completo (e brutal), produzido por andré t., disponível para download gratuito no site do selo. Sábado, Portela, 22 horas, R$ 20.

Tabuleiro Musiquim
Formada por membros  de bandas como Velotroz, Suinga e Quarteto de Cinco, a Tabuleiro Musiquim estreia lançando EP no Teatro Eva Herz (Livraria Cultura). Domingo, às 18 horas, grátis. Breve, nesta coluna.

IRVINE WELSH, DE TRAINSPOTTING, ENFOCA PEDOFILIA EM "CRIME"


Se tem uma coisa de que o escritor escocês Irvine Welsh (ao lado, em foto de Rankin) entende é da marginália.

Em Trainspotting (1993, publicado no Brasil pela Rocco), ele criou o clássico de uma geração ao fazer a crônica de um grupo de jovens sem rumo de Glasgow, viciados em heroína.

Levado às telas três anos depois por Danny Boyle, o filme Trainspotting - Sem Limites tornou-se um dos registros definitivos do que foi ser jovem na década de 1990.

Consagrado, Boyle ainda retomou seus personagens na continuação Pornô (2002), mas também voltou sua atenção para outros tipos de marginália em dois livros policiais: Filth (1998, ainda inédito no Brasil, e que está sendo adaptado para o cinema, com os atores James McAvoy e Jamie Bell) e Crime.

Lançado originalmente em 2008, este último saiu por aqui no final de 2011, pela mesma editora Rocco.

Em seus romances, Welsh criou um universo de personagens recorrentes. Filth está coalhado de citações aos personagens de Trainspotting e Pornô.

E Crime, o livro em questão aqui, é protagonizado por um dos personagens principais de Filth: o policial Ray Lennox.

Traumas, pó e um crocodilo

No início de Crime, encontramos Lennox desconfortavelmente instalado em uma poltrona de avião, em um voo de Edimburgo para Miami. Acompanhado da noiva, Trudi, o policial está cruzando o Atlântico em uma viagem de férias compulsórias após um traumatizante caso de sequestro, estupro e assassinato de Britney Hammil, uma menina de dez anos de idade.

O que Lennox nem imagina é que, longe de alcançar algum conforto, esta viagem lhe proporcionará um outro caso escandaloso de pedofilia.

Com a psique estilhaçada pelo fracasso no caso Britney lá em Edimburgo, o atormentado policial – que, ainda por cima, é viciado em cocaína – vai arriscar tudo (férias, casamento, carreira e a própria vida) para se redimir. Com uma prosa tão ágil quanto objetiva, cortante mesmo, Irvine Welsh agarra o leitor pelo colarinho em uma obra de fôlego literário evidente.

A tensão de Ray Lennox, um personagem incrivelmente bem construído, é tão bem descrita que chega a ser palpável.

Ele se debate com a imagem da menina morta que lhe vem a memória a todo instante, com a noiva que só pensa no casamento, com a tentação do pó e, por fim, com o ódio profundo que sente por pedófilos – fruto de um segredo escabroso que ele guarda a sete chaves.

Após uma discussão com Trudi, Lennox acaba no apartamento de uma prostituta com uma filha de dez anos – enfiado na lama do submundo de Miami, ele acaba topando com uma rede de pedofilia que se estende por várias cidades do Sudeste dos Estados Unidos.

Fora de controle em estado de confusão mental ocasianada por uma mistura de trauma e noite em claro cheirando pó, ele praticamente sequestra Tianna, a filha da prostituta, na intenção de protege-la dos pedófilos.

A partir daí, a situação se complica ainda mais com uma sequência de personagens obscuros (incluindo policiais corruptos envolvidos com a rede pedófila) e situações absurdas.

Até o cachorro de estimação de um amigo de Lennox tem um mau dia ao se encontrar com um crocodilo nos pântanos da Flórida, imagem carregada do humor negro típico de Welsh e que traz uma metáfora inusitada.



Quem vence no final?

Quase uma obra de denúncia, Crime é um grito de alerta sobre este crime sexual odioso – e sobre como as vítimas (as sobreviventes) lidam com ele: seguir em frente e reconstruir a alma estilhaçada?

Ou permitir que isso defina sua personalidade, deixando o estuprador vencer no final?

Welsh, longe da Escócia natal, ao sol escaldante da Flórida, arriscou (e acertou) em um livro de tema atual e muito delicado.

Não a toa, encerra agradecendo às vítimas de abuso com quem conversou, bem como as assistentes sociais que entrevistou, durante a pesquisa para escrever o livro.

Crime / Irvine Welsh / Rocco/ 416 p./ R$ 54/ www.rocco.com.br

sábado, abril 07, 2012

TRÊS DISCOS PARA JÁ (E ATÉ PARA DAQUI A ALGUM TEMPO...)

Longe do espectro da grande mídia – muito ocupada com reality shows e irrelevâncias a fim –, pode às vezes parecer ao grande público brasileiro que o rock já era, que é algo que se resume aos dinossauros de sempre e fedelhos de cabelo esticado.

Ledo engano. Boas bandas surgem a todo momento. Algumas levam tempo para se firmar e chegar ao grande público.

Já outras, graças ao processo meio planejado, meio espontâneo, denominado hype, são içadas à fama instantânea.

No primeiro grupo está o quarteto norte-americano Mastodon (ao lado, em foto de Cindy Frey).

Os conterrâneos do  Howler, a despeito de   qualidades evidentes, são um exemplo perfeito de grupo hypado.

E os ingleses do The Horrors já passaram pelo hype, sobreviveram e chegam maduros ao 3º CD.

Trovão na montanha

Em seu quinto álbum de carreira, The Hunter, o Mastodon é o grande destaque desta leva.

Trata-se, sem dúvidas, de um CD de heavy metal, mas, a exemplo do Black Album do Metallica ou do Nevermind do Nirvana, é uma daquelas obras que, de tão boas, extrapolam  limites de gêneros e se tornam capazes de agradar fãs do rock de qualquer idade ou orientação.

E se for verdade que a primeira impressão é a que fica, é praticamente impossível fugir a à sensação arrebatadora provocada logo na primeira faixa, Black Tongue.



Depois de  um riff sinistro, que parece ter sido gravado do alto de uma montanha em meio a uma tempestade, a bateria de Brann Dailor desce sobre o ouvinte como uma avalanche descontrolada.

Quando Troy Sanders (baixo e vocal) surge rugindo como um leão ferido, a voz pairando muito clara e quase etérea sobre a massa sônica, o estrago no ouvinte – no bom sentido – já foi feito.

Formado por instrumentistas virtuosos, o quarteto de Atlanta não se utiliza de suas habilidades para mero efeito de espanto dos ouvintes – e sim, como o meio através do qual expressam uma musicalidade afiadíssima, precisa, criativa e brutal.

Não a toa, o Mastodon tem sido apontado como uma das bandas responsáveis por trazer o rock sujo e viajandão de grupos como Hawkwind e Black Sabbath  para o século 21.

As influências são bem claras, mas são estão tão impregnadas de personalidade própria  (e pegada contemporânea) que eles alcançam aquela qualidade indefinível, reservada apenas aos grandes: soar novo e reconhecível ao mesmo tempo.

A sensação em algumas faixas é de pânico na estação orbital, graças a orientação sci-fi e  space rock de faixas fortes e viajantes, como Blasteroid e Stargasm.

Destaque ainda para Curl of The Burl (com uma levada funky irresistível) e o estilo schizo-jazz de Octopus Has No Friends.

Mas o álbum inteiro é nota dez.

(Falando francamente agora, aposto neles como uma espécie de Led Zeppelin para o século 21. No sentido de que os caras TOCAM PRA CARALHO e são extremamente criativos com essas habilidades, nunca são chatos. Esse disco foi o pulo do gato comercial para eles e por isso mesmo, os antigos fãs estão chiando muito lá fora, dizendo que os caras se venderam. Porra nenhuma, eles simplesmente estão deixando de ser uma banda de nicho - metal, no caso -, para se tornar uma das maiores bandas de ROCK de sua geração. Mais ou menos como o Metallica fez com o Black Album. Se sobreviverem aos hypes, à montanha de grana que vão ganhar - e as drogas, egotrips etc -, terão um futuro imenso pela frente.)

NADANDO DE BRAÇADA NO OCEANO INDIE

Já as bandas Howler (de Minneapolis, EUA) e The Horrors (de Southend, Inglaterra) vem nadando de braçada no chamado  circuito indie graças aos elogiados America Give Up (da primeira) e Skying (da segunda).

Encabeçando as apostas de “próximos Strokes”, o Howler (em foto de Pieter Van Hattem) soa mais como  um Jesus & Mary Chain mais ensolarado e menos deprimido do que com a banda de Nova York com a qual tem sido comparada.

Estão lá as melodias sessentistas (praia surf music), as guitarras apitando e as batidas bubble gum, que tanto vem agradando aos adeptos do estilo.

Como quase todas as bandas de sua geração, contudo, o Howler se dá muito bem em singles e peca nos álbuns cheios.

Com apenas dois anos de formada, a banda  explicita em America Give Up sua imaturidade, para o bem e para o mal.

Para o bem, por que afinal de contas, isso aqui é rock ‘n’ roll e maturidade não exatamente combina com o conceito do gênero em sua forma mais crua.



E para o mal, por que, no fim das contas de fato, o disco tem bons momentos, mas fica no empate – não é espetacular,  mas aponta para algo promissor.

Entre as faixas que valem a pena, Back of Your Neck (surf music pós-J&MC), This One’s Different (levada empolgante e rapidinha, boa de levantar pista de dança) e I Told You Once.

Já os ingleses do The Horrors (foto de Michel Hartt) mais experientes, portanto mais maduros, foram uma das sensações do ano passado na Europa, com Skying.

Mais uma vez, nada de exatamente novo aqui.

E sim, uma atualização – muito bem sucedida, diga-se – de sons que gerações anteriores de indie rockers conhecem muito bem, como Joy Division, The Cure, My Bloody Valentine e afins.

Assim como o Mastodon, os rapazes do Horrors conhecem bem suas fontes, mas tem personalidade o bastante para não cair na mera imitação.

O curioso é que, mesmo partindo de influências tão macambúzias (conhecido no metiê roqueiro local como rock triste), o Horrors não sugere o cortar de pulsos iminente que caracterizou suas referências.



Still Life, primeiro single de Skying, é a faixa que melhor exemplifica essa inusitada capacidade de criar melodias que, ainda que sugiram uma aura crepuscular, não chega a jogar o ouvinte em um poço sem fundo de melancolia terminal.

Na verdade, ela tem sido comparada ao pop eletrônico de estádios do Simple Minds. I Can See Through You é outro hit do álbum, uma levada em crescendo de teclado e guitarra com refrão para cantar junto.

The Hunter / Mastodon / Roadrunner - Warner Music / R$ 34,90 

America Give Up / Howler / Rough Trade - Lab 344 / R$ 27,90

Skying / The Horrors /  XL Recordings - Lab 344 / R$ 34,90

quinta-feira, abril 05, 2012

GUSTAVO MÜLLEN 60: CAMISA FAZ SHOW DE ANIVERSÁRIO DO GUITARRISTA NESTE SÁBADO

O guitarrista Gustavo Müllen (primeiro à esquerda, na foto de Victor Kaupatez), da banda Camisa de Vênus, não nasceu ontem.

De fato, ele nasceu há 60 anos. Por isso mesmo, vale a pena ouvir o que tem a dizer este verdadeiro veterano do rock baiano e brasileiro.

Para comemorar a data, o redivivo grupo, hoje com Eduardo Scott (Gonorreia) no vocal, faz show neste sábado, no Portela Café.

“60 anos a gente não comemora, a gente chora”, corrige Gustavo, a língua afiada e a franqueza de sempre.

Como qualquer pessoa com mais de dois neurônios, Gustavo vive em conflito com a cidade em que vive. “A maior besteira que cometi na minha vida foi  voltar para a Bahia”, dispara.

“Voltei por questões familiares. Mas não gosto de praia, não como acarajé, não suporto Carnaval. O que eu vim fazer aqui”?, pergunta-se.

Não  que Gustavo odeie Salvador, mas como ele mesmo assume, “eu não tenho nada de soteropolitano. O pior é que a Bahia já foi uma terra muito culta. Caetano, por mais chato que seja às vezes, já fez tanta coisa boa. Gil, Raul, Glauber, tanto artista genial. Mas hoje em dia é a terra da burrice”, constata o músico.

Caju no bolso

Um fato marcante em sua carreira foi ter sido o último guitarrista de Raul Seixas, durante o disco / turnê A Panela do Diabo, que o gênio baiano gravou em parceria com Marcelo Nova.

“Adorava ele, mas não gostava muito dos shows. Ficava meio lento, caía para o rockabilly, que é algo que eu odeio”, assume.

“O companheiro de farra dele era eu, por que na Envergadura Moral (banda de Marcelo Nova à época), ninguém mais bebia. O problema é que ele era incontrolável. Raul chegava ao ponto de andar com um caju no bolso, que ele amassava no copo de cachaça”, relata.

Quanto ao antigo companheiro  Marcelo Nova, Gustavo diz não ter mais proximidade. “Mas quando nos encontramos, somos muito cordiais”, diz.

Já em relação a atual encarnação da banda, o guitarrista diz que há a intenção de gravar um álbum de inéditas, mas sua opinião é que ficar por aqui não vai adiantar.

“Tem que gravar e passar uns tempos fora. Aqui não tem espaço nem oportunidade”, percebe.

CAMISA DE VÊNUS / Sábado, 22 horas / Portela café / R$ 20 (ANTECIPADO na CiA. DA PIZZA E LOJAS MITO ) /  R$ 25 na hora

NUETAS


Hoje: Caio Corsalette aqui e Candy Dandy Bandy estreia

O Portela Café, recebe hoje a Candy Dandy Bandy (nova banda de Peu Sousa, com Thiago trad na batera e Tati Trad no baixo), só com repertório de covers dos anos 1960. E Caio Corsalette (ao lado, em foto de Daryan Dornelles), ótimo cantor paulista de country rock que estreia em terras baianas. 22 horas, R$ 15 antecipado, R$ 20 na hora.

4 Cabeça vezes 4

Maurício Baia volta à Bahia com o projeto paralelo 4 Cabeça, o qual toca em parceria com os compositores cariocas Luís Carlinhos, Gabriel Moura e Rogê. Acústico, o trabalho soa como uma espécie de Crosby Stills Nash & Young caboclo (isto é um elogio). São quatro shows gratuitos: dia 11 no Portela, dia 12 em Alagoinhas, dia 13 no Teatro Eva Herz e dia 14 em Conceição do Coité. VÁ!

MOSTRA DA GUITARRA BAIANA 2012 COMEÇA HOJE, COM O LUTHIER FÁBIO BATANJ E A REFERÊNCIA CONQUISTENSE LÚCIO FERRAZ

Com formação em música e engenharia, Batanj aplica seus conhecimentos nos instrumentos que fabrica. Já Lúcio Ferraz vem mostrar o que aprendeu em vinte anos de experiência

O primeiro dia da Mostra de Guitarra Baiana vai preencher com muitos acordes e riffs a Casa da Música do Abaeté nesta quinta-feira. A cada dia, dois músicos se revezam acompanhados do curador Júlio Caldas & Banda Choro Rock. E os dois primeiros guitarristas são duas feras: Fábio Batanj (ao lado, em foto de Dalila Souza) e Lúcio Ferraz.

Fábio tem se destacado nos últimos anos mais como um requisitado luthier de designs arrojados e técnica apurada do que como músico propriamente dito. Nesta quinta, ele ganha uma rara oportunidade de mostrar tudo o que sabe com a guitarrinha em mãos.

Professor licenciado pela Ufba desde 2004, Batanj também atua como técnico no ramo da engenharia civil. Na sua atividade de luthier, o rapaz, hoje com 35 anos, alia as duas áreas de conhecimento valendo-se do que aprendeu em Álgebra e Geometria Plana e Descritiva.

“No meu processo construtivo, busco combinar as densidades das madeiras que são secadas naturalmente e tem o corte no sentido ideal da fibragem. A construção visa aumentar a volumetria e dar equilíbrio e visual arrojado ao instrumento, além de pesquisar muito sobre qual captador utilizar. Nestes últimos anos, venho pesquisando sobre timbragem de captadores específicos para guitarra baiana. Chegamos a excelentes resultados, tanto utilizando as marcas estrangeiras conceituadas, quanto produzindo artesanalmente protótipos dos nossos próprios captadores”, detalha Fábio Batanj.

(Para quem não entendeu bulhufas, "captador" é a peça de guitarra que fica logo atrás das cordas e tem a função de captar, transformar em som e enviar para os amplificadores a vibração produzida pelo músico nas cordas).

FERRAZ - A segunda atração da noite, o conquistense Lúcio Ferraz (ao lado, em foto de Nádia Oliveira), é outro músico de formação tão fina quanto os bons cafés que saem de sua terra para o resto do mundo.

Aprendeu teoria musical sob influência de grandes acadêmicos,  como Demétrius Comidours (professor de teoria musical USP), Clériston Cavalcante (Maestro) e Carlos Porto (Maestro).

 Nos últimos vinte anos, percorreu a Bahia como músico de acompanhamento do Bando Virado no Mói de Coentro, Banda Mixta, Pierre Onassis, Dinho Oliveira, Evandro Correia, Papalo Monteiro, Dércio Marques, entre outros artistas baianos.

Em 2006, lançou o álbum Lúcio Ferraz & Grupo Tampilha, com participações especiais de Armandinho e Luiz Caldas. O disco tem como proposta inicial o Chorinho, “verdadeira essência da música brasileira”.

Hoje, participa como integrante da Banda Café com Blues, Banda Badalêra e com o forrozeiro Edgar Mão Branca.

MOSTRA DE GUITARRA BAIANA 2012

Em seu quarto ano, a Mostra foi idealizada por Júlio Caldas, é realizada em parceria com a Casa da Música e viabilizada através do Edital de Projetos Calendarizados do Fundo de Cultura da Fundação Cultural do Estado, órgão da Secretaria de Cultura da Bahia.

Em 2012, a Mostra acontece todas as quintas-feiras de abril, na Casa da Música do Abaeté

SERVIÇO:

MOSTRA DE GUITARRA BAIANA - ANO 4

TODAS AS QUINTAS-FEIRAS DE ABRIL, SEMPRE AS 20 HORAS

ENTRADA GRATUITA

CASA DA MÚSICA DO ABAETÉ - BAIRRO DE ITAPOAN


 



PROGRAMAÇÃO:

    5 de abril: Fabio Batanj e Lucio Ferraz
    12 de abril: Morotó Slim e Mike Caldas
    19 de abril: Parah Monteiro e Marcio de Oliveira
    26 de abril: Aroldo Macedo e Marcos Molleta

terça-feira, abril 03, 2012

CAUBY, SHOWMAN DEFINITIVO

Reconhecer que Cauby Peixoto (em foto de Marco Máximo) é o maior cantor do Brasil é o mínimo. É chover no molhado.

Gogó intacto, o crooner de todos os crooners chega aos 81 anos de idade comemorando seis décadas de carreira tão cintilante quanto seus ternos dourados. Entre homenagens, lança uma caixa com três discos inéditos.

Cauby, o Mito: 60 anos de Música encaixota os álbuns A Voz do Violão, Caubeatles e Cauby Ao Vivo: 60 anos de Música, que sai também em DVD.

Ele pega o telefone para a entrevista e já sai cantando: "Bahiiiia... / Terra da Felicidade / Eu tô morrendo de saudade"... Só depois começa a falar.

“No primeiro disco sou eu cantando seresta. O Ao Vivo é um  show com repertório  internacional e o outro é com canções dos Beatles”, conta o artista, por telefone, a satisfação evidente.

“Ah, eu estou muito (satisfeito)! Tá vendendo muito”, comemora. Mas não adianta perguntar qual dos três ele prefere. “Olha, eu prefiro eles todos, o trabalho como um todo”, diz.

Crooner por vocação, Cauby é quase que indissociável do som das grandes  orquestras. Daí a curiosidade que é ouvi-lo soltar o portentoso  vozeirão acompanhado apenas de um violão, experiência de que diz  adorado.

“No violão a gente pode mostrar mais a voz. Com uma orquestra, as nuances que a gente faz desaparecem um pouco. No violão eu canto mais à vontade”.

Pocket show telefônico

Cauby é tão showman que até numa rotineira entrevista por telefone, ele se esforça para impressionar o entrevistador – como se ainda precisasse disso – cantando à sério, com direito a subidas de tom e solfejos a todo momento.

Perguntado sobre a escolha de repertório do CD dedicado aos Beatles, ele entoou trechos inteiros de nada menos que três músicas.

“As (canções) dos Beatles eu peguei as mais românticas e bonitas, coisas lindas! (Começa a cantar Michelle e emenda com Hey Jude). Ah, são lindas, My Love também é uma beleza! (Começa a cantar My Love, de Paul McCartney). Olha que linda”, exclama, extasiado.



Arrepiado, só resta ao repórter tentar dar prosseguimento à entrevista – afinal, 60 anos de carreira não é para qualquer um.

“Ah, mas  eu estou muito bem! Ganhei um grave na voz depois de adulto, sabe? Tô com 81 anos, e melhorou a voz, tá mais grave agora”, constata.

Arrependimentos? Nem pensar. “Não tenho arrependimento não, foi tudo muito bom. O que mais me importa é a voz mesmo, sabe? É o primeiro plano,  o primeiro lugar”, afirma.

“Até por que a gente não consegue enganar o público. Ele sabe, ele compara, eles preferem a minha voz. É sinal que eles conhecem (de música)”, acrescenta o mito.

Um fato pouco divulgado sobre sua carreira é que Cauby foi o primeiro cantor a gravar rock no Brasil. Rock and Roll em Copacabana, composta por Miguel Gustavo, foi registrada por ele em 1957.

No ano seguinte, cantou a música That's Rock, de Carlos Imperial, em uma comédia do tempo das chanchadas. 

E adivinha só quem fazia os backing vocals? “Eu tive de coral Roberto e Erasmo Carlos (então na banda The Snakes). Foi para um  filme, Minha Sogra é da Polícia. Mas na época eu não dançava bem, ainda”, relembra.



Pouco depois, partiu para a música romântica, estilo no qual fez sua carreira. “É, eu parti para mostrar que voz é voz, né querido? A gente pode enganar em um rock 'n’ rol, mas para cantar uma música romântica, com (essa) voz, agrada melhor”, diz.

Ele canta toda segunda-feira no Bar Brahma (centro de São Paulo), descansa a voz na terça e ensaia, grava e faz shows nos outros dias da semana. E não esconde que está louco para voltar à cidade.

“Estou para ir à Bahia há algum tempo, aonde tenho  um público maravilhoso. Você chama os empresários para contratar a gente, que nós  vamos. Eu  sempre agradei muito aí”.

Você agrada sempre – e em qualquer lugar, Cauby.