Com a crise, 2009 não foi fácil para festivais independentes. Mas, como na Bahia o rock não conta mesmo com a iniciativa privada, festival acontece graças a edital
2009 tem sido um ano de vacas magras para o rock independente brasileiro – em que pese o fato deste segmento, na verdade, nunca ter tido um período de fartura propriamente dita.
Porém, como “vaso ruim“ não quebra mesmo, Salvador terá – pelo menos – um bom festival este ano: a 2ª edição do Big Bands, que acontece neste fim de semana, no Pelourinho.
Idealizado pelo produtor Rogério Big Brother Brito, com quase 20 anos de atividades junto ao rock local, e organizado com o auxílio de um dedicado grupo de parceiros, o Big Bands dá continuidade não apenas ao trabalho de Big (como é conhecido), mas também não deixa morrer a ideia de um festival que dê conta de alimentar o cenário local – incluindo aí um público carente de opções – com atrações relevantes do cenário indie nacional, como o gaúcho Frank Jorge, os goianos da Black Drawing Chalks e os pernambucanos da Julia Says.
Além de evidenciar alguns dos nomes mais significativos da esfera roqueira daqui mesmo, como Nancy Viegas, Estrada Perdida e Demoiselle, entre outros .A grade ainda tem o acréscimo de três mesas redondas reunindo convidados importantes – locais e de fora – para discutir os assuntos que movem a produção e divulgação da música independente em todo o Brasil.
O pior ano dos festivaisClaro, ninguém faz isso sem patrocínio – públicos e / ou privados. No caso do Big Bands, o apoio foi público mesmo. (Aliás, mais notório do que o trabalho de Big, só mesmo o gélido desprezo do setor privado em relação ao rock local – não raro, tratado a pontapés pelo empresariado soteropolitano, mal acostumado com os números astronômicos proporcionados pela indústria carnavalesca).
“O Big Bands foi viabilizado por que ganhamos em 2008 o edital Tô No Pelô, da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb)“, conta o organizador.
”E o apoio vem dos parceiros de sempre: MTV Salvador, Boomerangue, Se Ligue etc. Graças à Jah, tá tudo caminhando bem, a divulgação já tá indo pra rua... Tudo foi feito com bastante antecedência, então agora nem tá dando tanto trabalho. Agora estamos mais é na expectativa mesmo”, continua, tranquilo.
Claro, nem tudo são flores. 2009, como já se disse mais acima, tem sido um ano especialmente difícil para o setor independente, que, como qualquer outro, também sofreu a rebarba da crise mundial que se abateu sobre a economia entre o fim de 2008 e o 1º semestre deste ano.
Associado à ABRAFIN (Associação Brasileira dos Festivais Independentes), Big conhece por dentro os meandros da política que move (ou paralisa) a realização desses eventos.
”Esse foi o pior ano pros festivais”, vaticina. ”O Abril Pro Rock, por exemplo, diminuiu um dia, até por que a Petrobras retirou o patrocínio, e pelo Brasil afora, muita gente fez festival capenga esse ano só pra cumprir tabela – para não deixar de comparecer e demarcar território, na esperança de que a coisa melhore em 2010”, observa.
Boas expectativas para 2010Mesmo com todas as dificuldades, Big vê espaço para o crescimento não só do rock local, mas também de festivais como o seu e o outro que ele também ajuda a organizar, o Boom Bahia – aquele que, no ano passado, trouxe de Seattle a lenda grunge Mudhoney, lotando a Praça Pedro Archanjo, no Pelourinho.
”Claro que teremos mais uma edição do Big Bands em 2010, com certeza”, garante. ”E o Big Bands vai crescer, mas não substituir o Boom Bahia, que ainda tem chance de rolar em breve. Veja só: Goiânia, que é uma cidade bem menor que Salvador, tem quatro festivais. No Tocantins eles têm mais quatro bons festivais de médio porte. No Tocantins! É só raciocinar: lógico que Salvador cabe muito mais. Então temos mais é que que fazer o Boom Bahia também, em paralelo ao Big Bands”, reivindica.
Então, segue aqui uma informação importante às bandas candidatas aos próximos festivais Big Bands e Boom Bahia: ”Esse negocio de MySpace pra mim não cola. Eu gosto da coisa física. Se o CD não chegar na minha mão, dificilmente eu vou ouvir”, avisa.
O festival Big Bands começa nesta sexta, com uma festa na Boomerangue. No sábado e domingo, ele segue para sua base, na Praça Teresa Batista (Pelourinho), a partir das 15 horas. A entrada é gratuita, mas a produção incentiva a doação de um livro infanto-juvenil usado.
ENTREVISTA: FRANK JORGE
O rock gaúcho sempre foi um planeta à parte no cenário musical brasileiro. Desse mundo saíram diversas figuras exóticas que enriqueceram de forma inestimável o rock brasileiro, como um punk brega (Wander Wildner), um inexpugnável poeta hermético (Humberto Gessinger), um duende psicodélico alucinado (Júpiter Maçã) e o guardião da Jovem Guarda, Frank Jorge. Na ativa desde os anos 80, Frank integrou bandas essenciais do rock sulista, como Cascavelettes e Graforreia Xilarmônica. Em carreira solo há dez anos, virá à Bahia pela primeira vez na vida, divulgar seu novo CD, Volume 3. Em paralelo, coordena o curso Formação de Produtores e Músicos de Rock da Unisinos.
E aí, Frank? Vai ser o seu primeiro show por aqui, correto?Frank Jorge: Cara, te juro que não é exagero: é um sonho meu conhecer a Bahia em função de sua importância histórica e tal. Em festival às vezes fica aquela coisa meio marrenta de participar de gigs e tal, mas eu tô numa outra idade. Eu quero conhecer outros locais, as vielas, dar voltas a pé. Sabe, antes mesmo de cursar Letras na PUC, eu já era fã do Gregório de Mattos Guerra. Eu recitava poemas dele nos shows dos Cascavelettes nos anos 80, fã total! Só não vou beijar o chão por que eu não sou o papa. (risos) Mas vai ser muito bom ir à Bahia nesse momento tão peculiar. Nasceu o filho da Ivete , tem a Vivendo do Ócio... (risos) Não, tô brincando! (Recompõe-se) Vamos com a banda completa: duas guitarras, baixo, bateria e teclado. Teremos músicas dos três CDs solo mais umas quatro da Graforreia Xilarmônica. Garanto que o show não deixará a desejar em crocâncias, harmonias e deboche!
E a palestra (Produção cultural e formação musical), como será?FJ: Olha, por sorte, eu não vou estar sozinho, senão só ia falar besteira. (risos) Na verdade, vou tratar da trajetória musical, onde você aprende na paulada a lidar com gravadora, casa noturna, internet etc. Não que com o tempo, você adquira know how e vá ficar milionário (risos), mas dá pra ficar mais exigente quando a situação permite, avaliar quando as coisas possibilitam uma evolução. Tem locais que você toca por convicção, por que agrega a tua trajetória tocar lá. Basicamente isso, vou falar de tempo e trajetória.
E o curso de Produtores e Músicos de Rock, a quantas anda?FJ: Tá rolando superbem! Formamos a primeira turma, com 21 alunos, em agosto último. E uma segunda turma, menor, se forma em janeiro... Independentemente de não ter ficado satisfeito com o título do curso – uma questão mercadológica –, ele trabalha com gerenciamento de carreira e formação musical. Apesar de ter o termo “rock“ no título, o cara que nos busca quer se preparar para o mercado, saber sobre áudio, direito autoral, produção.
Como está o rock gaúcho?FJ: É difícil precisar. O rock aqui era mais Beatles e Stones. Passado esse tempo, tá muito disseminado as bandas que copiam Los Hermanos, Arctic Monkeys, Strokes. O pessoal fez uma leitura meio errada, copiando Franz Ferdinand para atingir tal público, isso é a maior roubada. Dá para fazer música pop com mais identidade. Também tem que dar um crédito, pois é um período de transição: muita ferramenta, muita rede social e pouco know how do que já existiu na música.
NUETASA importância da doação de livrosAssim como nos festivais Boom Bahia em 2007 e 2008, o Big Bands faz um apelo à rapaziada que vai comparecer para que tragam pelo menos um livro usado (de preferência, didático ou infanto-juvenil). Todos os livros arrecadados serão doados para o acervo da Biblioteca Zeca de Magalhães, do Centro de Referência Integral de Adolescentes (CRIA). “É muito importante que a galera traga o livro didático para doação. Não vai ter porteiro na entrada cobrando, ninguém vai ser barrado se não trouxer. Mas para a gente é como um ‘opcional obrigatório‘“, brinca Rogério Big Brother.
Nancyta & Radiola consolidam parceriaA cantora Nancy Viegas, um dos grandes talentos locais presentes no Big Bands, aproveita o show no festival para consolidar uma parceria que promete bastante, com a banda Radiola. “Fomos juntos para a Espanha há alguns meses, e foi muito legal. Nós nos identificamos muito e eles meio que traduzem tudo o que eu já passei, de sde a banda Crack!, passando pelos Grazzers, até a fase atual (do CD Mezzodelirante)“, conta. No show, Nancy & Radiola executam boa parte do repertório da cantora em suas diversas fases, além de músicas dos dois CDs da própria banda.
Baixe as músicas novas de MessiasO ex-brincando de deus Messias Guimarães Bandeira aproveita a semana em que estreia seu show solo no festival Big Bands para lançar mais duas músicas novas: Offbeat e Broadcast Your Escape. Ambas fazem parte do seu aguardado (e ambicioso) projeto escrever-me, envelhecer-me, esquecer-me. Trata-se de um álbum triplo, reunindo 32 canções, a ser lançado em CD, vinil e MP3, “nas próximas semanas“, segundo o próprio. Com produção de andré t., as faixas estão disponíveis no site www.reverbnation.com/messias, onde já há outras três, lançadas anteriormente.
AS BANDAS DO BIG BANDSO Melda: Banda de um homem só, O Melda é o mineiro Claudão Pilha, guitarrista que toca acompanhado de programações e um “capacete percussivo“. (Sexta).
Demoiselle: rock setentista e acessível
Formada por dois guitarristas (Toni e The Flash) revelados na Cascadura, mais uma competente vocalista (Ivana), a Demoiselle tem no Led Zeppelin sua maior influência, sem deixar de ser acessível.
Pastel de Miolos: Veteranos do punk rock baiano, estão mais ativos do que nunca e lançaram CD recentemente (Sábado).
Nancy Viegas & Radiola: A inesperada parceria que está dando o que falar no rock local. Promete um show animado e arrojado. (Sáb.)
Tom Bloch: rock denso, eletrônico
O duo Tom Bloch, formado por Pedro Verissimo (vocais) e Iuri Freiberger (produtor e baterista), é outra boa atração do Big Bands de sábado, com seu rock indefinível, sóbrio e eletrônico.
Messias: o veterano do indie rock baiano estreia seu novo trabalho ao vivo.
Frank Jorge: o homem que vai largar a Jovem Guarda por todo o país faz seu primeireo show na capital baiana.
Irmãos da Bailarina aliam peso e poesia
Com um som denso, pesado, aparentado do stoner rock, a Irmãos da Bailarina se caracteriza também pelas letras poéticas do vocalista Théo Filho, de pegada MPB.
Julia Says: electro rock do Recife
Formado pelos músicos Pauliño Nunes (vocal, guitarra, violão e sintetizadores virtuais) e Anthony Diego (programações, bateria e percussão), a dupla de electro rock recifense Julia Says se apresenta no domingo na Praça Teresa Batista. Surgida em 2007, traz influências vanguardistas na forma livre como busca criar suas canções, sem se prender aos formatos prévios – sejam do rock ou da música eletrônica. Já se apresentaram em festivais importantes, como o Rec Beat, o Coquetel Molotov e de Inverno de Garanhuns. Vale a pena buscar na net o divertido vídeo de Mohamed Saksak.
Mortícia: Uma das revelações do ano passado, pratica o que eles mesmos chamam de MPB: Música Pesada e Barulhenta. Conta com o carismático Leonardo Leão (Os Mizeravão) nos vocais. (Domingo).
Yun-Fat: Talvez a banda mais vanguardista de todo o elenco do festival, misturam death metal com bossa nova(!). (Dom).
Black Drawing Chalks: Essa rapaziada de Goiânia é uma das revelações deste ano. Hard rock acelerado e setentista, mas em releitura atual, o que equivale dizer que lembram bandas como Forgotten Boys e Death From Above 1979. (Dom).
Estrada Perdida: Uma das bandas mais radicais de Salvador. Peso e poesia em sintonia, mas de uma forma totalmente diferente dos Irmãos da Bailarina, por exemplo. (Dom).
Mesas-redondasSerão três, na sexta-feira. Inscrições: festivalbigbands@gmail.com.
Rede Música Bahia: organização de redes de trabalho Com Emmanuel Mirdad, Eric Taller, Jair Guimarães e Vince de Mira.
Produção cultural e formação musical: entrar e permanecer no mercado independente Com Messias Bandeira, Frank Jorge, Iuri Freiberger e Rex (Retrofoguetes).
Abertura e manutenção de casas noturnas Com Theo Filho, Cláudio Vieira Rocha e Rafael Bandeira.