Nos últimos anos da década de 1970, ele já era punk – sem saber. Pouco depois, fundaria uma das bandas pioneiras do estilo no Brasil: Inocentes. Hoje, Clemente Nascimento (foto: Daniel Arantes) é um dos músicos e produtores mais respeitados do rock brasileiro. Neste sábado, no Groove Bar, os baianos poderão conhecer sua outra faceta: DJ.
Ele, que hoje ainda trabalha como apresentador de dois programas do portal Showlivre (showlivre.com), Pé Na Porta e Estúdio Showlivre, confessa que, quando vai discotecar, não costuma planejar muito o repertório.
“Depende muito da cara do povo! A gente nunca sabe, né? Vamos sentir o clima. É que, as vezes, vou pensando em tocar uma coisa e toco outra, então nunca é uma coisa fechada. Mas posso adiantar que sempre rolam umas coisas velhas, mas também coisas novas. Tento dar uma equilibrada“, conta, bem-humorado.
Jornada dupla – Hoje em dia, além de continuar na ativa com a Inocentes, ele também toca guitarra em outra banda fundamental do punk Brasil: Plebe Rude.
Inclusive, no último Carnaval, ele esteve aqui com as duas bandas, que se apresentaram no Palco do Rock de Piatã.
O fato é interessante por reunir em uma única banda as duas principais tendências do estilo no País: o punk de São Paulo e o punk de Brasília, de perfis bem diferentes – enquanto os primeiros eram proletários, os jovens brasilienses eram burgueses, filhos funcionários do governo.
“Conheço os caras da Plebe Rude desde a primeira vez que vieram pra São Paulo com o pessoal da Legião Urbana, em 1983. Eu trabalhava no (clube noturno) Napalm e sempre fomos amigos. Aí um dia teve um show-tributo ao The Clash aqui e tocamos juntos. O Phillipe (Seabra, vocalista) teve ‘um estalo‘ e aí me convidou pra entrar na banda ali, na hora“, conta.
Novo mercado – No front da Inocentes, as coisas também vão bem, obrigado. “Acabamos de lançar um DVD ao vivo (Som e Fúria), fizemos um show antológico na Virada Cultural e agora estamos preparando um CD de inéditas“, resume.
Com os anos 00 quase no fim, começa a chegar o momento de avaliar tudo o que aconteceu na década do download. Diferentes de muitos apocalípticos, Clemente a vê com bons olhos: “Achei uma década bacana. A internet abriu espaço para a liberdade artística, mas também tem o lado pro mal. Como não é uma ‘mídia normal‘, você é que tem que gerar a sua audiência. É meio desafiador“.
Mas o grande ganho da década é mesmo o estabelecimento definitivo – e ainda em processo – de um mercado musical médio, intermediário entre o mainstream e o realmente pequeno.
“O lance da cena independente que se estabeleceu é que o melhor. Nunca toquei tanto com os Inocentes quanto agora. Tocamos no Brasil todo em vários festivais, do Pará ao Rio Grande do Sul, o que era impensável na década de 80. E aí começa a se estabelecer uma cena independente fortíssima no Brasil“, diz.
Dentro disso, Clemente destaca a baiana Cascadura como uma das melhores bandas desse novo cenário.
“Eu tô louco pra fazer o Cascadura no Estúdio Showlivre. Um dos melhores álbuns que eu ouvi ultimamente foi o Bogary. Vi também os Retrofoguetes no Clube Vegas outro dia. Foi muito bom. O que eu achei mais louco foi quando Morotó pegou a guitarra baiana, por que faz um link com a música brasileira sem perder o punch rock n roll. Não é o instrumento que você toca que diz se você é rock, mas o modo como você toca. Já vi muita banda por aí dizer que faz um som ‘fudido‘ (super-pesado) e tal, quando você vai ouvir é uma bosta“, ri Clemente.
Clemente - DJ set
Participação: DJs el Cabong e Pinguim (Residente)
Sábado, 22 horas
Groove Bar (3267-5124)
Rua Marques de Leão, 351 A, Barra
R$ 15