HQ - Fenômeno editorial surgido na Itália do pós-guerra é o personagem com mais títulos no Brasil, além de representar o fascínio europeu pela América mítica
Quem nunca, no mínimo, folheou uma revista do Tex, que dispare seu Colt primeiro. Fenômeno editorial como poucos no Brasil e no mundo, o caubói definitivo criado pelos italianos Giovanni Luigi Bonelli (texto) e Aurelio Galleppini (arte) completou, em 2008, nada menos que 60 anos de muitas aventuras e tiroteios.
Até aí, tudo bem, o negócio é que, só no Brasil, este galante ranger texano bate ponto nas bancas de revistas há nada menos que 37 anos (desde 1971), ininterruptamente. São 444 meses com um, dois, às vezes até 4 ou 5 gibis simultâneos do personagem nas prateleiras.
Além da revista mensal, hoje em seu número 469 (de novembro), o leitor tem ainda à disposição uma enxurrada de títulos como Tex Coleção (reedições), Os Grandes Clássicos de Tex, Tex Edição Gigante (formato álbum), Tex Edição Ouro, Tex Especial de Férias, Tex Edição Histórica e Tex Almanaque.
Antes disso, ainda houve uma breve fase do gibi nos anos 50. De lá para cá, ele passou por quatro editoras: Rio Gráfica Editora (anos 50), Vecchi (anos 70), de novo pela RGE / Globo (anos 80 e 90) e a atual, Mythos, do início da década para cá.
Paixão nacional, pelo visto, é pouco para definir o relacionamento entre o Águia da Noite (seu apelido entre os índios navajos) e os leitores brasileiros. Por que nenhum outro personagem de HQ (excetuando-se o orgulho nacional Turma da Mônica) oferece tantos títulos no mercado brasileiro: nem Superman, nem Homem-Aranha, nem Batman, nem os X-Men.
Para comemorar tão ilustre ocasião, chegou recentemente às bancas a edição Tex Especial 60 Anos, com uma aventura em cores, escrita pelo atual roteirista oficial do personagem, Claudio Nizzi, com desenhos do fantástico Fabio Civitelli.
Tradutor há mais de uma década das revistas do Tex, o paranaense Júlio Schneider – que na sua identidade secreta é advogado – conta que, a edição, lançada em setembro último na Itália, saiu quase simultaneamente aqui.
"Antes mesmo de ir para a gráfica lá na Itália, o material veio para mim. Fui a primeira pessoa no mundo a ler a história. Até apontei um ou dois errinhos, corrigidos antes da revista chegar às bancas de lá", relata, sem esconder o orgulho.
Adequadamente, a história da edição revisita o passado de Tex, mais especificamente, seu relacionamento com a índia Lyllith, mãe do seu filho Kit. Há ainda matérias especiais do próprio tradutor e de Sergio Bonelli, filho de Giovanni e dono da editora que leva seu nome, a Sergio Bonelli Editore, a maior casa editorial especializada em HQs da Europa.
Uma das maiores autoridades do personagem no Brasil e dono de uma mítica gibiteca (já foi até objeto de reportagens), Schneider credita o sucesso do personagem no Brasil "às histórias lineares com começo, meio e fim, ao mesmo tempo inteligentes e acessíveis".
Para ele, a época do lançamento também ajudou: "Em 1971, não existia muita opção de distração. E na TV e cinema, o que mais tinha era bangue-bangue. Todo mundo que lia Tex, gostava. Aí ele foi ficando. Talvez, se tivesse chegado mais adiante, ele não teria permanecido", acredita.
Western e pós-guerra
Criado em uma Itália em pleno processo de reconstrução após os flagelos do regime fascista e da 2ª Guerra Mundial, Tex reflete em si a esperança que os americanos levaram à Europa após a libertação do continente. "Tem total relação uma coisa com a outra", pontua Júlio Schneider.
"Com a Europa destruída pela guerra, eles precisavam de um fiapo de esperança no futuro. Aí o que acontece? Quem libertou Roma e parte da Itália foram os americanos", lembra.
"Quando acabou a Guerra, foi uma festa. De repente, começaram a chegar os filme e gibis americanos mostrando a conquista do oeste: a construção de um país. Essa era a imagem que os italianos estava precisando, de reconstruir todo um país e se opor a quem estava reprimindo", observa.
"Os gibis de bangue-bangue mostravam que era possível lutar por liberdade e justiça. Se fosse aqui, na mesma época, não teria o mesmo efeito, por que não estávamos vivendo aquele momento tão difícil. O sucesso do Tex é exatamente em função do pós-guerra – além da qualidade inerente ao material em si, claro", acredita Júlio.
O enorme sucesso de Tex na Itália fez a fortuna de Gian Luigi Bonelli, que através dos anos, criou, em parceria com os grandes profissionais que arregimentou, outros personagens extraordinários, como Zagor, Martin Mystère, Dylan Dog, Nick Raider e até um meio brasileiro, meio americano, Mister No, defensor da Amazônia.
Todos eles são ainda hoje publicados na Itália pela editora que hoje leva o nome do seu filho, a Sergio Bonelli Editore. Quase todos esses já foram, em algum momento, publicados no Brasil.
Mais recentemente, séries brilhantes como J.Kendall - Aventuras de Uma Criminóloga e Mágico Vento vêm dando continuidade à tradição bonelliana de contar boas histórias. Ambas estão sendo publicadas regularmente no Brasil, com relativo sucesso.
O Brasil, aliás, é quase uma segunda casa para Sergio Bonelli, amigo pessoal de Júlio Schneider. "O Sergio se diz brasileiro de corpo e alma. Quando você vai lá na sede da editora em Milão, é uma casa simples, mas com um ambiente familiar, calor humano. Se souberem que você é brasileiro, então, eles levantam logo os olhos, curiosos e muito simpáticos", relata Júlio.
Tex Especial 60 Anos
Claudio Nizzi / Fabio Civitelli
Mythos / Sergio Bonelli Editore
R$ 9,90
www.mythoseditora.com.br
13 comentários:
Ontem mesmo conversando com um amigo espanhol (um ano mais velho que eu) sobre o que se consumia na infancia daqui e de lá, ficamos boas horas cultuando a Tex e o vila sésamo. Ele conta que apesar dos bloqueios da ditadura de Franco a tex era muito consumida na espanha. Chegamos a conclusão que essa porra tomou conta de todo o mundo ocidental.
P.S. Francisco, não me venha com essa história de férias... não pare de postar coisas aqui não porra.
Mario
Porra, Mário é comentarista mais rápido do oeste! Postei esse texto não tem nem 10 minutos, eu acho!
Galerinha do mal, volto a postar semana que vem, juro.
Quem quiser saber mais sobre Tex, recomendo este link aqui:
http://www.universohq.com/quadrinhos/2008/n30092008_06.cfm
de caetano no seu blog obra em progresso
Adoro Radiohead. Thom Yorke canta muito e a banda é boníssima. Não creio que Milton se entusiasmasse com eles, mas há algo de Minas ali sim. Como sou baiano, muitas vezes prefiro até Arctic Monkeys, pela linhagem mais seca, que vem de Sex Pistols, Nirvana, Strokes - e o eterno disco dos Pixies na BBC. Radiohead é muito líquido. O som é muita água e o texto é muito obscuro, muito “não quero que você me entenda”. Mas é um grupo refinado e caprichado. Lindo de se ouvir. Acho que não vou ao show da Madonna, mas ao do Radiohead eu quero ir.
Gente , Caetano 'e indie!
Quem com porcos anda, farelos comes!"
Sem radicalismo Oswaldão!!
ei, posso te citar no meu blog?! achei genial o seu post sobre o Chinese Democracy, o meu não ficou tão bom assim! hahaha
bom, sou nova nesse negócio de blog e mesmo sem ter popularidade alguma quero continuar escrevendo, pretendo ganhar mais visitantes no meu blog para não ficar falando com a paredes viruais! haha
de qualquer forma, adorei seu blog!
beijos.
erro!
*paredes virtuais
Essa cultura da "Casa grande & Senzala" consegui assustar qualquer pessoa no show business, mesmo as "putas velhas":
"Camarotes VIPs no Brasil deixam equipe de Madonna 'perplexa'
A coluna da Monica Bergamo hoje na Folha, tem mais informaçoes de bastidores sobre a passagem de Madonna por Sao Paulo na semana que vem. Diz que a equipe da cantora está "perplexa" com os camarotes VIPs que costumam ser montados por aqui em eventos do gênero. Sao espaços privilegiados que reunem celebridades e paparazzi autorizados a fotografar os convidados. Segundo a coluna, o problema é que pelas regras da pop star, somente 20 fotografos podem entrar nos estádios onte ela se apresenta. "
Irado seu blog, cara. Sou muito ligado em música e tava mesmo procurando blogs de música pra trazer idéia do que tocar em uma festa. Se quiser dar uma dica, pinta lá no meu.
trauma de tex...
meu pai é louco por tex. tem a coleção completa, eu acho. o negócio é que o castigo dos meus irmãos menores era ficar olhando pra parede enquanto ele lia uma tex inteira...tadinhos! hihihi
lídia
Por mais que hoje tenha tanta coisa em internet, game... ainda dá MUITA saudade da gibizada de um tempinho atrás...
MUITO BOM!
Postar um comentário