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Nem só de super-heróis gringos vive o leitor brasileiro quadrinhos, Maurício de Sousa que o diga. Mas, além do célebre criador de Mônica e Cebolinha, as livrarias e bancas têm recebido uma animadora oferta de HQs brazucas – tanto em termos de quantidade, quanto de qualidade.
Só no último mês, cinco álbuns de luxo – e até de alto luxo – aportaram nas lojas: Piratas do Tietê - A Saga completa Vol. 3, Níquel Náusea - Minha mulher é uma galinha (ambas da Devir Livraria), Quadrinhofilia, Leão Negro - Pepah (ambas da HQM Editora) e O alienista (Companhia Editora Nacional. Impossível deixar de citar também a revista Antologia Chiclete com banana, que está republicando o material da clássica revista homônima dos anos 80 e chega agora ao seu quinto número.
O leitor que tiver a oportunidade de conhecer todos estes materiais vai perceber, pelo menos, duas características marcantes da HQ brasileira. Uma é a variedade de estilos e temáticas. O quadrinista brasileiro que desenvolve um trabalho autoral não se limita a mostrar pessoas comas cuecas para fora das calças voando por aí, parecendo mais preocupado em desenvolver estilos e universos estéticos próprios e intransferíveis.
A outra característica que marca essa leva de lançamentos é a alta qualidade do quadrinho nacional, seja numa produção mais recente (como Quadrinhofilia e Níquel Náusea) ou mais antiga, como Piratas do Tietê e Chiclete com banana, ambos produzidos nos anos 80.
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Nesse sentido, o carro-chefe é sem dúvida a coleção Piratas do Tietê - A Saga Completa, que apresenta as hilárias aventuras dos bucaneiros paulistanos criados pelo cartunista Laerte Coutinho. Piratas ganhou uma luxuriante coleção de três álbuns em capa dura e papel off-set de 120 gramas. No último e recém-lançado terceiro volume, um enorme poster colorido acompanha o livrão.
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Mas os outros lançamentos, se não têm capa dura, também têm qualidade para conquistar qualquer leitor, como álbum Níquel Náusea - Minha mulher é uma galinha, sétima coletânea de tiras do cartunista e veterinário Fernando Gonsales.
Estrelada por uma constelação de animais engraçadíssimos, Níquel Náusea ganha a simpatia do leitor pelo humor simples e direto que muitas vezes reflete o inesgotável repertório da estupidez humana. De forma cômica, Gonsales toca em assuntos sérios com um toque leve, deixando espaço para quem lê tirar suas próprias conclusões. Risadas garantidas.
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Estrelada por Othan, um anti-herói egoísta e dono de uma grande juba branca, Leão Negro se passa num mundo medieval habitado por leões antropomorfizados e – como não poderia deixar de ser – com o pavio bem curto e desejos irrefreáveis. O senão desta edição é a colorização em tons de cinza um tanto exagerada e que interfere um pouco na visualização dos belos desenhos. A HQM promete novos álbuns da série para breve.
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Versátil, premiado e com HQs publicadas na Europa, Aguiar é um dos maiores talentos dos quadrinhos nacionais na atualidade fora da seara do humor, merecendo pleno reconhecimento do público. Seu domínio da linguagem e a narrativa precisa são simplesmente impressionantes, dignos de muitos aplausos.
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Outro lançamento que merece atenção é a adaptação do pernambucano Laílson de Holanda Cavalcanti para O alienista, a genial e irônica fábula de Machado de Assis sobre a hipocrisa que rege a sociedade.
Dono de um traço clássico, firme e com estilo próprio, Cavalcanti produziu a terceira adaptação recente da obra para os quadrinhos. As outras são de Francisco S. Vilachã (para a editora Escala Educacional) e dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá (para a AGIR). Ainda assim, é (mais) uma válida e bela re-interpretação do clássico.