Once in a lifetime, Talking Heads.

Direto ao assunto. Em seu primeiro disco, E se for dessa vez..., a Flauer me cheira muito à punk rock feminino, com ecos de P.J. Harvey, The Breeders, Sleater-Kinney (bandas do movimento riot grrrrls, enfim) e bossa nova. Elas provavelmente negariam, mas senti a influência maligna de Alanis Morrissete e suas mãozinhas suadas avançando sobre os vocais de No need for a friend (faixa 6, que depois fica bem pesada, mas paciência). Bandas punk de meninas costumam ser aquela coisa meio tosca e divertida, puxada pro bubble gum, mas não é o que acontece aqui. Digo, a tosquidão instrumental está presente, mas senti falta de uma certa leveza (e não é no som), um sentido de diversão, mesmo (refrões do tipo cante junto, talvez), substituída por uma inegável pretensão em criar uma obra mais personal. Ei, essas meninas tem pretensão. Aleluia, irmão! Falando sério agora, não é ruim ter pretensão, mas é chato quando a obra em questão fica aquém dela. E infelizmente, é o que acontece aqui. As letras trazem essa pretensão bem patente em versos como "perdida na infinda distância, a liberdade que morreu em mim e não venço nem luto, subsisto em memórias patéticas, sem histórias inéditas, não fujo desse encanto que me amaldiçoou". Ok, eu vou dizer só uma vez, então, se liguem: simplicidade é a chave, meninas. Não compliquem! (Ih, olha só: eu tô falando - pra um bando de mulher - não complicar. O maluco aqui sou eu, óbvio). Contudo, isso não significa que esse primeiro disco da Flauer seja ruim, não, longe disso. Fernanda Veiga tem uma bela voz, muito adequada à sua seara do punk rock, e a banda como um todo passa sinceridade no seu som. Claro que isso não é razão para ninguém gostar, mas o som está bem maneiro. Se não chega a causar uma forte impressão de primeira no ouvinte, também não irrita. A faixa 3, Samba para meu bem, faz aquela improvável mistura de punk com... samba e soa bem. Essa mesma fórmula é usada em outras faixas desse disco, que só tem oito. É o estilo, vá. Já em Come (faixa 5), um canto a capella em inglês faz a introdução para uma bossa bem bonitinha (agora em português) acompanhada de teclado (não creditado no disco), guitarra e bateria, para depois se transmutar em um indie rock quase safado. Já na faixa 6 (a já citada No need for a friend), conhecemos o lado mais feroz da Flauer em sua música mais pesada do disco. A última faixa, Você só mente, é do poeta do morro Noel Rosa, irreconhecível no indie punk das meninas. Desnecessário, ao meu ver, já que não acrescentou muito nem ao Noel, nem ao disco. No geral, trata-se de uma boa banda punk, de sabor indie rock, com alguma influência de música brasileira - o que é muito natural, já que estamos no Brasil, ora essa. Não chega a causar uma impressão muito forte à primeira orelhada, até por que talvez ainda careça de uma identidade mais definida. A indecisão entre cantar em inglês ou português (são três músicas no idioma pátrio, quatro em inglês e uma em ambas) é um forte sinal dessa proposta ainda em aberto - o que é muito normal também, não é toda banda que surge pronta, plenamente conceituada logo de cara. Esse disco foi mixado e masterizado entre janeiro e março do ano passado (não há créditos para estúdio de gravação e produtor). Imagino que à essa altura, elas já estejam mais amadurecidas, em outro nível. Para conferir, é só comparecer no Miss Modular essa quinta, no lançamento do disco. A festinha promete, então confira o serviço logo abaixo. A Flauer é Fernanda Veiga: Vocal, Emília Núñez: Guitarra e backing vocals, Carol Petersen: Guitarra, Fernanda Félix: Baixo e Mariana Drummond: Bateria. Flauer no MySpace / Flauer na Trama Virtual / flauer@walla.com
FLAUER - E SE FOR DESSA VEZ... (Big Bross Records / MuvDiscos / Up Records)
Lançamento do cd, com as bandas: Flauer, Brinde e Maria Bacana. DJs: Jubaleo e SG Grooveio - Dia: 27/04 (Quinta-feira) - Horário: 22:00 - Local: Miss Modular (Morro da Paciência - Rio Vermelho) - Ingresso: R$ 8,00 (até 0:00) - R$ 10,00 (depois de 0:00) - R$ 15,00 (cd + ingresso até 0:00) Informações: www.bbrecords.com.br / http://ubbibr.fotolog.net/bigbrossrecs.
SABADÃO NO WARM UP BOOM BAHIA
Confesso que não estava no pique da grobo sábado passado. Maresia, sei lá. Já cheguei meio atrasado, no finzinho do show de Ronei Jorge e seus Ladrões de Bicicleta, que faziam seu set com a competência de sempre. Logo deram lugar para a Automata, banda que já vi umas duas vezes antes e realmente, não faz meu estilo, mas que demonstra competência na execução do seu rock pesado a la Deftones e congêneres. Esperava que desse mais gente - tava razoável de público, longe de estar vazio. Eu é que esperava que estivesse lotadão, mesmo. Deve ter sido a chuva, por que a atração principal, o Big Dog dos Pampas, está bombado, até onde eu sei. Mas quem tava no pique pôde se divertir adoidado com o clima tranqüilo reinante e o ambiente coalhado de muitos amigos e conhecidos conversando, rindo e bebendo. Além, claro, de uma quantidade bastante razoável de cocotas a florir o evento. Findo o show da Automata, Cury sobe no palco e anuncia: "Para os fãs do Belle and Sebastian: Sangria!". Uma galera chega junto do palco para conferir o esporro monumental - e enxuto na concepção, coisa de verme que sabe o que está fazendo - dos meninos sangrentos. "Sangra, Sangria!", berravam da platéia alguns amigos, ensaiando um grito de guerra original para a banda. Entre uma música e outra, Pedro Bó (baixo) - apesar de elegância de sempre - balançava e assoprava a mão direita, provavelmente um resultado do esforço exigido para acompanhar o monstruoso baterista Emanuel, que deixa todo mundo de boca aberta com sua técnica, inventividade e garra - definitivamente, um achado, não canso de dizer. A rodinha de pogo é de lei e a galera se choca e se acotovela, feliz da vida. Um careteiro Apú (guitarra) comanda a avalanche de riffs com a competência de sempre, apoiado por Bola (gtr base), que também esbanja presença de palco. E Mauro Pithon (vocal), ah, esse dispensa comentários - mas eu vou comentar assim mesmo. Discutivelmente o melhor frontman de sua geração (afinal, Fábio Cascadura e Moskabilly são páreos duríssimos), Mauro, que fora do proscênio é um rapaz simpático, carinhoso e acessível, à frente da Sangria transforma-se em um magnético sacerdote do caos, o invocador da besta fera sobre a terra, com seus berros, cusparadas para o alto e versos satânicos. Haja garganta. Com os ouvidos zunindo, saio para buscar uma cerveja. Olho pro alto e vejo nos camarotes alguns integrantes do Cachorro Grande e do Matanza, todos visivelmente de queixo caído. O Cachorro Grande demora os vinte minutos-meia hora regulamentares para subir no palco, mas quando o faz, já entra arrebentando com o hit Você não sabe o que perdeu, botando a casa - cheia à essa altura - para cantar junto à plenos pulmões e dançar. Dançar, aliás, é o que mais dá vontade de fazer num show do Big Dog. E na primeira metade do show, era o que mais você via as pessoas fazendo, praticamente o Rock in Rio inteiro estava dançando ao som dos hits da banda gaúcha, especialmente os mais novos, do último disco - aqueles de riffs econômicos que guardam uma certa semelhança com o som dos Strokes. Meninas enlouquecidas cantavam junto todas as letras e Beto Bruno (vocal) se esgoelava como sempre. Uma das coisas que mais gosto no som do Cachorro, especialmente nos shows, é o acompanhamento constante do piano elétrico daquele gordinho que esqueci o nome, o que confere uma classe e um estilo muito pouco em uso hoje em dia - só mesmo uma banda francamente retrô como eles para lançar mão de tal recurso. Outra característica tipicamente retrô deles é a recorrência de jams (felizmente, não muito longas) costurando os espaços entre uma música e outra. Coisa fina, muito bem feita, o que, diga-se de passagem, não é para qualquer um. Eu mesmo não sou fã desse tipo de coisa, mas devo admitir que com eles, funciona maravilhosamente bem, agradando - e não irritando - os ouvidos. Ali pelo fim do show, Beto Bruno chama, nas suas palavras, "o melhor de todos": e Fábio Cascadura sobe ao palco para cantar Jumpin' Jack Flash (Rolling Stones), que começa bem e acaba num concurso pra ver quem grita mais alto - o que é bastante comum nessas ocasiões e nesse horário (quase 4 da matina). O show acaba, o pessoal vai saindo. Encontro Morotó Slim, que me abraça e de repente se vira comigo para os camarotes. Acena para Jimmy do Matanza, levanta meu braço, pega minha mão e a vira para baixo, como se eu estivesse desmunhecando, apontando para ele. Desconfio que ele tava chamando o Gigante Irlandês de viado e me usando para isso, vejam vocês. Eu não sei em quem ele tava se fiando para tamanha ousadia, mas, felizmente, Jimmy sorriu e gesticulou, tipo "Vai te catar, Morotó!". Chegando em casa, o zumbido no meu ouvido era mais alto que meus pensamentos. Incapaz de articular um único pensamento coerente, deitei e dormi instantaneamente.
ESCONDAM SUAS BIKES - Esses dias Ronei Jorge e Os Ladrões de Bicicleta tocam no Rio e em São Paulo, levando seu som esquizo-mpb-rock às exigentes platéias sulistas. As datas são as seguintes: 30.04. no Projeto 2 em 1 (Coppola Music - São Paulo) com Hurtmold e 01.05 no Festival Amplitude (Melt - Rio de Janeiro) com Móveis Coloniais de Acaju.
Aguardem (ou não) atualizações e mais agenda nesse mesmo post, ao longo da semana.
HORA DO ROCK 27.04 - Vai rolar Nick Drake, Nick Cave, Isobel Campbell & Mark Lanegan, Neil Young, Tom Waits, Leonard Cohen, Stooges, MC5, Heartbreakers, Dictators, Sex Pistols, Siouxie and The Banshees e The Clash. Para ouvir: toda quinta, às 21h, na Globo FM (90,1), ou www.gfm.com.br para quem não mora em Salvador.
JAZZ ROCK QUARTET - DATAS: 26/04 - MISS MODULAR - (PRAIA DA PACIÊNCIA, RIO VERMELHO) R$ 5 27/04 - BORR ACHARIA (RUA CONSELHEIRO PEDRO LUIS - RIO VERMELHO) R$ 10.
Nave versão Retrô - Classic Rock - Jovem Guarda - Rockabilly - Mod - Soul - Swing - Nuggets - British Invasion - Revival - Iê Iê Iê - DJs: Janocide - el Cabong - Ramon Prates - Moskabilly Cover - Sputter - Dan Carlos - 29.04.2006 23h R$10 (R$8 até meia-noite) - Miss Modular (Morro da Paciência, 3810, Rio Vermelho) - Salvador-BA Contato: festanave@gmail.comFotolog: http://www.fotolog.com/nave_
Nem Camisa de Vênus, Nem Raul Seixas: PERSONA S.A & ARAPUKA - Nesta noite vai rolar rok'n'roll de verdadeHORÁRIO: A Partir Das 22 Horas. Ingresso:R$ 5,00 Entrada + R$ 5,00 De Consumo. INFORMAÇÕES: Fone: +55 71 9957-4653Ps: O Rock é o mesmo, a banda é a mesma, mas, a Persona agora é S.A (Persona Non Grata) Obs.: A casa só aceita pagamentos em espécie.
Los Canos, Verbase (MG), The Honkers, Vendo 147, Cissa Guimarães e Johnny Marceleza & Os Costeletas - dia 30, domingo, no Miss Modular.