quinta-feira, setembro 08, 2005

CAVALHEIROS FORA DE SÉRIE

Segundo volume da Liga de heróis vitorianos de Alan Moore é mais um petardo extraordinário.

Vivemos em um mundo em constante mutação. As mudanças são muitas e vão se atropelando. Pretos viram brancos, brancos querem ser negros, aliados se tornam inimigos, velhos se travestem de jovens, crianças se disfarçam de adultos, valores até ontem importantes, hoje não valem sequer um peido num elevador. Em um mundo tão inconstante, é um conforto saber que, faça chuva ou furacão, ler uma obra escrita pelo senhor Alan Moore será sempre - sempre - um enorme prazer. O amigo e a amiga leitora devem guardar um conselho deste redator, ainda que tal ato - dar conselhos - tenha se tornado uma prática absolutamente desaconselhável nos dias que correm: ao se deparar com uma obra assinada pelo senhor Moore, seja em uma banca de revista, livraria ou sebo, não a deixe passar impune: tome-a em mãos, investigue-a. Melhor mesmo compra-la logo, se puder. Mas eu tô me perdendo. Voltando à Terra. Ou melhor: voltando à Marte. Em A Liga Extraordinária Volume II, Moore e o desenhista Kevin O'Neill retornam à ação com a equipe formada por personagens extraordinários de clássicos da literatura de aventura do século XIX. Mais especificamente, (anti)-heróis surgidos na Era Vitoriana, como Alan Quartermain (de As Minas do Rei Salomão, de H. Rider Haggard), Hawley Griffin (O Homem Invisível, de H. G. Wells), Dr. Jekyll/Mr. Hyde (O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson), Mina Harker (Drácula, de Bram Stoker) e Capitão Nemo (20 Mil Léguas Submarinas, de Júlio Verne). Eles foram reunidos no primeiro volume por um gordinho enviado pelo serviço secreto britânico chamado Campion Bond, cujo sobrenome é só uma amostra do tipo de referência que o autor de Watchmen usa para temperar sua fantástica sopa à base de literatura, pulps e Era Vitoriana. Ajuda na leitura ser meio rato de cultura inútil e ter passado a infância assistindo Disneylândia, Sítio do Pica Pau Amarelo e coisas do tipo na TV, além de gostar de ler desde guri. Logo no primeiro capítulo (de seis), somos levados ao planeta Marte, onde John Carter (aventureiro espacial criado por Edgar Rice Burroughs, mais conhecido por ter criado Tarzan), surge combatendo, ao lado de um outro terráqueo chamado Gullivar (desconheço a referência exata, mas deve ser mesmo o Gulliver de Jonathan Swift), uma raça de alienígenas malignos similares à moluscos. Ao se aproximar das naves dos bichos, elas decolam, claro, direto para invadir a (Ingla)Terra. Dispostos a detonar. Moore conduz seu conto de invasão extraterrestre usando de todo o seu habitual domínio absoluto das atenções do leitor, sempre focando sua narrativa nos personagens da Liga, explorando suas características e criando conflitos entre eles em diversas subtramas paralelas que convergem para um desenlace em comum de forma brilhantemente arquitetada. Como de costume, aliás, nas obras do senhor Moore. Destaque para a genial e escrotíssima seqüência do acerto de contas entre o inescrupuloso Homem Invisível e o instável monstro psycho Mr. Hyde, quase uma espécie de Hulk do século XIX, muito mais refinado, claro. As coisas não terminam bem no confronto com os E.T.s, a Liga sofre baixas no fim, rola uma traição entre eles, um caso de amor e um estupro, além da participação especial do Dr. Moreau e suas criaturas híbridas, direto do livro de H. G. Wells, numa das melhores e mais arrepiantes passagens de mais esta obra extraordinária do mago de Northampton. A caprichada edição da Devir pode não ser barata (R$ 49), mas compensa pela qualidade editorial. Encadernação e papel de primeiras e extras preciosos, como a reprodução de todas as capas das seis edições originais americanas, portraits de página inteira dos personagens principais, uma página em preto e branco para colorir, passatempos, um cartão de natal, biografias fictícias dos autores, um jogo destacável de tabuleiro do tipo ludo (para jogar com um dado) e mais apêndice de 50 e tantas páginas intitulado Almanaque do Novo Viajante, que narra em capítulos divididos com os nomes dos Sete Continentes, as impressionantes anotações e descobertas dos integrantes da Liga Extraordinária em suas expedições, desde sua primeira formação, no século XVI, até a que conhecemos, do século XIX. Tudo naquele texto tremendamente elegante - dentro dos intencionais estilo e tom exacerbadamente britânicos - do autor de A Piada Mortal. Aí o leitor mais ranheta fica naquela eterna dúvida: "sim, mas é melhor que Watchmen e V de Vingança?". Ah, meu amigo, pare de olhar para o passado e veja o futuro dos quadrinhos aqui e agora, pois seu nome continua sendo Alan Moore. Desculpem o comentário estúpido, mas nada no Volume II da Liga é menos que extraordinário e não merece mesmo outra nota, que não um redondo DEZ. Na falta de notação mais elevada. (Mas quem sou eu para dar 10 pra Alan Moore? Ah que banana, vão ler essa bagaça, vão.)

A LIGA EXTRAORDINÁRIA VOLUME II, DE ALAN MOORE E KEVIN O'NEIL.
America's Best Comics / Ed. Devir. 222 páginas em cores. R$ 49,00. Nas livrarias.

AINDA MOORE - Quem sabe o que é bom nunca se satisfaz e com Alan Moore é assim mesmo. Deu no Omelete que a editora americana Airwave vai publicar um livrinho de 80 páginas que consistem unicamente de um puta entrevistão com o autor de Tom Strong feita pelo jornalista Bill Baker, onde Moore aborda sua relação com a magia, cultura e como produzir quadrinhos de qualidade, entre outras cositas. Essencial. Será que sai no Brasil? Leiam aqui.

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE ROCK - Recebi pelo correio, do meu amigo Dino Ribeiro, que reside em Londres há uma cara, uma matéria de capa dos Pixies publicada na revista dominical do jornal The Guardian. Assinada pela jornalista Laura Barton, a matéria flagra os Pixies em estado de graça, com os pingos nos is da complicada relação entre Frank Black e Kim Deal devidamente pingados em seus lugares. O gordinho careca admite que agiu mal na primeira encarnação da banda em relação à baixista, reconhecendo nela hoje uma certa star quality que ele não admitia quando mais jovem: "A verdade é que, na época, eu não admitia o quão carismática é a Kim Deal. E quão atraídas as pessoas ficam por ela. No palco, ele pode nem estar fazendo nada, não está nem tocando, apenas fumando um cigarro e nego fica maluco lá embaixo. Na época, aquilo simplesmente parecia uma coisa que estava lá só para me irritar. Agora eu reconheço isso como um bem. Estou mais velho e é tipo: OK, já entendi. Tem um tipo de star quality rolando ali". Em outra passagem ótima, a estrela Kim Deal desmistifica sua imagem de produtora ligada à bandas como Guided by Voices e Brainiac, entre várias outras do underground ianque: "Eu ia ao estúdio comprar maconha e a banda me creditava como produtora no CD". É interessante notar também que, mesmo conhecidos no mundo inteiro, tendo feito shows em tudo que é país da Europa e por toda a América do Norte, nenhum integrante da banda parece ter ficado rico. Tirando o líder Frank Black (o único que construiu uma sólida carreira solo), todos passavam por dificuldades financeiras antes de voltarem com a banda. Kim Deal chega a brincar durante a entrevista, ao contar como soube da reunião: "Eu estava visitando Kelley (irmã gêmea e parceira na banda Breeders). Ela mora tipo uma milha da"... Aí ela encosta a boca no gravador e fala pausadamente: "Eu moro com meus pais, OK? Eu moro com papai e mamãe, eu sou uma perdedora". O baterista David Lovering também passava maus bocados com sua carreira de mágico, não muito bem sucedida. Já o guitarrista Joey Santiago morava em Los Angeles, onde sobrevivia criando trilhas sonoras para desenhos animados e seriados vagabundos de TV. Agora eles estão de volta e felizes da vida. Para Frank Black nem parece que onze anos se passaram entre 1993 e 2004. "Na verdade, parece que foram apenas 2 anos", diz.

FORA DE ÓRBITA - Texto recebido por email de uma moça chamada Elisabete:

Dando continuidade ao Rock'n San Cation, teremos nesta Sexta, 09/09/2005, o DJ Cristiano comandando mais uma vez as pickups fazendo as obras de JC Barreto e o publico vibrarem. Gostaríamos de agradecer de antemão à banda Meteora que fez um belíssimo show em 26/08 e prometeu voltar pra lançar seu CD e Vídeoclip até o final do ano(Vocês serão sempre bem vindos!!!). Semana passada contamos com a apresentação da Roots Nyabinghi (que apresentou seu novo CD e distribuiu muitos autógrafos após o show), tivemos também exposição das obras dos artistas Joas Melo e Solange Cruz e as já tradicionais canjas dos artistas presentes nos eventos. E para quem ainda não sabe, a primeira remessa dos alimentos arrecadados junto ao público já foram entregues(fotos em breve),no sábado dia 27/08/2005, ao Sr. Evandro, representante oficial da Igreja Batista de São Caetano. Lembrando que essa doação faz parte da campanha Rock em Ação Social, numa parceria firmada em julho de 2005 entre a Banda Órbita Zero e o artista plástico JC Barreto. Nossos sinceros agradecimentos aos colaboradores, amigos, público e bandas que tem nos apoiado e contribuído para que o evento e a campanha aconteçam de forma tão grandiosa. É o Rock em Ação Social, PARTICIPE!!!!
ATENÇÃO!!! Ainda não fechamos a grade de setembro, se você tem banda e deseja participar entre em contato (71) 9915-0888 David/ 99366792 Bete.
Serviço:
Rock'n San Cation com Órbita Zero e convidados Dias: 09,16, 23 e 30/09(Sextas-feiras)Horário: 22:00Local: Café Ateliê JC. Barreto, Rua Direta do São Caetano, 491-A. (Galeria Céu Aberto, Fim de linha)Ingresso: 1 kg de alimento não-perecível (não vale sal) ou R$ 2,00 por pessoa
A VOTAÇÃO continua... A banda Órbita Zero, foi, pelo segundo ano consecutivo, selecionada para o Palco Nativo do Ceará Music. Somos a única banda de Salvador concorrendo a uma vaga no Festival. Quer ajudar? VOTE JÁ!!!
http://www.cearamusic.com.br/votacao/votar.asp?palco=nativo Nosso CD está à venda nos seguintes locais: Ajuda 39: 71 33211938, Berinjela: 71 33220247, São Rock: 7133352974, Andarilho Urbano: 71 34504533, Banca de Revista largo da Geral em São Caetano e nos shows. Entre na Comunidade Órbita Zero no Orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=973800
Elisabete
Visite o site do Nordeste Independente:
http://www.nordesteindependente.com.br

18 comentários:

cebola disse...

Eu tenho a Liga I e adorei, com essa recomendação de chicomoore, acho que terei de morrer em 49 conto. Valeu, véi!

Franchico disse...

cê encontra facinho na Siciliano do Iguatemi, Cebola. passei lá agora depois do almoço e tava lá à sua espera um exemplar.

Franchico disse...

leiam as últimas palavras de Hunter Thompson antes de meter uma bala na cabeça. é arrepiante.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u53301.shtml

Franciel disse...

Xiconha,
relatar show da brincando de deus no conforto do pós tudo é muito bom. Quero ver seu faro (opa) de repórter cobrindo o glorioso Rock'n San Cation amanhã, oquei? Aguardo notícias sobre.
abraços.

Anônimo disse...

Barry - www.champvinyl.blogger.com.br

Chico, o guerreiro no carpete voador chama-se Gullivar Jones e foi criado pelo autor inglês Edwin L. Arnold para a obra 'Lieutenant Gullivar Jones: His Vacation'. Não, eu não sou nenhum maníaco CDF: todas as referências que o Alan Moore empregou nos 2 volumes da série foram dissecadas por um grupo de fãs no seguinte site: www.enjolrasworld.com/Jess%20Nevins/League%20of%20Extraordinary%20Gentlemen/LoEG%20index.htm

osvaldo disse...

Kelly Deal passou um bom tempo presa por ter sido flagrada recebendo heroina via correio, o que acabou com o projeto das gemeas, e deixou Kim, outra junkie, na mao.Chico ta de pe aquele lance de fgazer uma feirinha de vinil?Se tiver sugiro fazer na Sao Roque, nos sabados a tarde.

Franchico disse...

Franciel: como repórter do rock, não recebi os convites para implementar a cobertura do Festival Rock n' San Cation. Se vier a recebe-los, prometo cumpri-la de forma absolutamente isenta a profissional, como aliás é a praxe neste órgão de imprensa nanica e virtual, oquei? (ai, ai)

Barry, valeu a dica, meu velho. Nunca ouvi falar nesse personagem. Vou lá nesse site conferir as referências que passaram batidas.

Bramis, demorô. Já fiz uma triagem lá em casa e tô com (acho) uns 100 vinis para negociar / doar (os que eu não conseguir fazer rolo, claro). Tem de Tom Petty a Living Colour, de Judas Priest e Uriah Heep a Jane's Addiction, de Sinfonia das Aves Brasileiras a Noel Rosa. Tava quase indo amanhã mesmo pro centro, desovar esse material entre a Berinjela e a Ajuda 39, mas se vcs disserem que tão interessados em negociações, eu espero na boa.

Greice, que notícia boa essa da Facom. Contem comigo, quem sabe eu não possa colaborar em alguma coisa. Qto ao Volume 1 da Liga, ela foi lançada primeiro na forma de minissérie em 5 edições pela Pandora Books, que já faliu, e soube, deu calote em muita gente por aí. Pouco depois a Devir a relançou encadernada (com o mesmo padrão de qualidade editorial do Vol 2) e acho que cheguei a vê-la na Siciliano, mas há muito tempo, mais de um ano atrás. Acho que a essa altura, só encomendando pela internet ou pedindo numa livraria dessas para eles trazerem. Não sei se gosto mais do Volume 1 ou do 2. Ambos são excelentes, e é aquela coisa, no primeiro ele apresenta os personagens, as situações, o tom da série. No segundo, as relações entre os personagens são aprofundadas - da forma brilhante que é habitual ao autor - e por isso, e talvez ainda sob o impacto da leitura recente, eu devo dizer que o segundo me impressionou mais. Um beijo.

Franchico disse...

Ah, Greice. Por sinal, na minha triagem dos vinis lá em casa, encontrei um single dos Picassos Falsos (da música Carne e osso, se não me engano), da época do primeiro disco, que eu já disse para Roninho que é dele e ninguém tasca. Se vc quiser, posso te emprestar o primeiro volume da Liga tb junto (caso vc não faça questão de comprar mesmo o seu exemplar ). Qualquer coisa, mando por Carol para ela te entregar na Facom. Diga aí.

Anônimo disse...

cadê mario jorge mj, tomou doril foi? fabiana

osvaldo disse...

Chicão, vou falar com Toni Lopes, se todos tiverem de acordo.Acho ali o lugar ideal pra feirinha de vinil porque a São Roque é um ponto mais central para todos e criar-mos uma alternativa ao centro da cidade.

cebola disse...

podem me incluir dentro dessa aí, meu povo.

Franchico disse...

bala, Braminha. tô com uma tranqueira lá em casa que eu quero passar adiante. mantenha-nos informados, valeu?

Franciel disse...

Franchicória,
você, que é apreciador de HQ e mondo bizarro, tem que correr com urgência à sala do Cine XIV para ver Old Boy. Apesar da referida sala ser uma sucursal do inferno, com o som e o ar-condicionado dando calundu direto, vale o ingresso.

Franchico disse...

rapaz, eu fui logo na primeira semana no Cinema do Museu. cheguei lá, um viadinho avisava às pessoas já na fila que Old Boy tinha tido um problema de distribuição, coisa e tal, que só chegaria na terça seguinte, que o jornal publicou errado a programação etc. aí já era. na outra semana não pude ir. nem vou lá naquela sala lá do Pelô, que'u num sou masquista. agora deixa chegar em DVD. ê, bahêa!

Franchico disse...

Fats Domino escapou, mas Clarence "Gatemouth" Brown, 81 anos de bues, não. Depoi de ter a casa e todos os seus pertences (instrumentos incluídos)destruídos em Slidell (próximo à New Orleans),o velho morreu de desgosto, parece. leiam no site da BBC em português: http://www.bbc.co.uk/portuguese/cultura/story/2005/09/050911_gatemouthml.shtml

Franchico disse...

É melhor ler logo a notícia aqui mesmo:

'Lenda do blues' morre após ter casa atingida por Katrina

O cantor e guitarrista americano Clarence "Gatemouth" Brown morreu no sábado, na sua cidade-natal, Orange, no Texas.
Ele tinha 81 anos, e sofria de câncer de pulmão e problemas no coração.

Gatemouth perdeu sua casa e todos os seus pertences na cidade de Slidell, perto de Nova Orleans, por causa do furacão Katrina, e seu agente disse que o músico ficou muito abalado.

Até a manhã deste domingo, seu site oficial ainda exibia uma mensagem pedindo doações em dinheiro para ajudar o cantor a se estabelecer na cidade de Austin, no Texas, além de comprar remédios e novos instrumentos musicais.

Muitos talentos

Ele despontou nos anos 40, com os sucessos de blues Oakie Dokie Stomp e Ain't That Dandy.

Nos anos seguintes, no entanto, Gatemouth enveredou por ritmos como jazz, R'n'B, country e swing, completando quase 50 anos de carreira.

Além da guitarra, ele tocava violino, bandolim, viola e bateria.

Em 1982, o músico ganhou o prêmio Grammy da categoria blues pelo álbum Alright Again!.

Sua obra inclui ainda trabalhos com nomes como Eric Clapton, Ry Cooder e Frank Zappa.

cebola disse...

Chicrete (essa foi mal), só digo uma coisa. O disco novo daquela banda velha que todos querem aposentar é "O" disco do ano, isso nas duas primeiras audições, por que periga ser mais do que apenas o disco do ano. Aguarde minha resenha. sim, estou falando dos STONES.

Franchico disse...

tá bom. se vc tá dizendo, eu acredito.