quinta-feira, outubro 05, 2017

MISSÃO CUMPRIDA

Sequência do maior filme cult de todos os tempos, Blade Runner 2049 se beneficia da visão fresca do diretor e da experiência do roteirista 

K (Ryan Gosling) e seu batmóvel - ops, carro voador mesmo...
Há mais de 30 anos, Blade Runner: O Caçador de Androides (1982) paira no imaginário cinéfilo como o filme sci-fi perfeito, uma espécie de unicórnio: feito por um grande estúdio (portanto, comercial), mas cheio de pretensões artísticas e profundidade filosófica.

Com o passar dos anos, Blade Runner ganhou dimensão mítica, tornando-se, muito provavelmente, o filme mais cultuado de todos os tempos, a própria definição de "filme cult".

Algo assim não deveria jamais ser conspurcado por uma continuação, algo muito arriscado em mãos erradas.

Que bom então, poder trazer pelo menos uma boa notícia em tempos tão sombrios: Blade Runner 2049, a temida (e tardia) sequência, caiu em mãos mais do que  hábeis  para tão arriscada tarefa – no caso, as  do diretor franco-canadense Denis Villeneuve.

Ana de Armas. Me chama pra Cuba que eu vou!
Aclamado por filmes espetaculares como A Chegada (2016) e Incêndios (2011), Villeneuve soube tanto honrar o legado de Ridley Scott – diretor do original e produtor da sequência –, quanto conseguiu imprimir sua própria marca.

Na verdade, isso não deve ter sido tão difícil assim: além de ter o mentor Scott colado na produção, o roteirista também é o mesmo do clássico de 1982: Hampton Fancher – desta vez em dupla com Michael Green (em 1982, a parceria foi com David Peoples).

A forma certeira como o fio da meada é retomado no roteiro, a reconstrução do ambiente noir futurista (imitado à larga desde 1983), o timing mais lento da edição, as atuações intimistas – tudo remete à produção original e colabora na verossimilhança, suspendendo a descrença e tornando possível que cinéfilos e fãs embarquem na viagem: sim, esta é, de fato (finalmente!), a continuação de Blade Runner.

K e Luv (Sylvia Hoeks), ainda civilizados, levando um papo de boa
Transposta esta cancela, é só alegria.

Amplificar, não replicar

Ambientada 30 anos depois dos eventos do primeiro filme, a trama de Blade Runner 2049 acompanha um novo caçador de androides na Los Angeles pós-apocalíptica, chamado apenas K (Ryan Gosling), que, em uma missão de rotina, topa com um segredo que, naturalmente, pode virar o mundo de cabeça para baixo etc.

Em sua investigação, auxiliado por uma espécie de concubina virtual, Joi (a belíssima cubana Ana de Armas), K discute muito com a chefe (Robin Wright, exalando autoridade como em House of Cards), apanha adoidado da replicante Luv (Sylvia Hoeks, implacável) e eventualmente se encontra com o Blade Runner original, Rick Deckard (Harrison Ford).

Harrison Ford reencontra seu Rick Deckard 35 anos depois e manda bem
Aparecendo menos, mas de forma marcante, há ainda o oscarizado rock star Jared Leto (Esquadrão Suicida) no papel de Niander Wallace, o todo poderoso magnata / gênio da Corporação Wallace, a fabricante dos replicantes após aquisição da Corporação Tyrell, vista no primeiro filme – e devidamente explicada no decorrer da trama.

Como não poderia deixar de ser, as questões filosóficas acerca da dualidade homem / inteligência artificial, marca de Blade Runner, continuam aqui, abordadas em diálogos e monólogos sem muito hermetismo – ou mesmo através de símbolos, como o cavalo que aparece aqui e ali desde a versão do diretor do primeiro filme, lançada em 1992 (além do origami feito pelo policial interpretado pelo magistral Edward James Olmos, que volta em 2049, em breve aparição).

Não dá para ser injusto e exigir uma repetição da carga dramática de cenas retumbantes, antológicas, como a morte do replicante Roy Batty (Rutger Hauer no melhor momento de sua carreira) – ou mesmo a perseguição à replicante Zhora (Joanna Cassidy) em meio à chuva e à multidão das ruas de Los Angeles, em 1982.

Jared Leto, RyanGosling, Harrisão e Ana de Armas
Até porque Villeneuve é, de fato, mais contido nesse sentido. Mas o filme é plenamente bem sucedido em engajar o espectador interessado na trama e intriga-lo com certas falas (especialmente as de Niander Wallace, personagem que lembra um pouco o de Anthony Hopkins na série Westworld).

No fim das contas, Blade Runner 2049 não “replica” Blade Runner – mas o amplifica.

Blade Runner 2049 / Dir.: Denis Villeneuve / Com Ryan Gosling, Harrison Ford,  Ana de Armas, Sylvia Hoeks, Jared Leto, Robin Wright,   Mackenzie Davis / Cinemark, Cinépolis Bela Vista, Cinépolis Shopping Salvador Norte, Cinesercla Shopping Cajazeiras, Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha, UCI Orient Shopping Barra, UCI Orient Shopping da Bahia, UCI Orient Shopping Paralela

6 comentários:

Franchico disse...

Mais abaixo, no post do Uruguai, adicionei meu primeiro vídeo publicado no You Tube, gravado na Casa Pueblo. Dá um like?

Rodrigo Sputter disse...

gostei chico, mesmo "filosófico" que o 1o...mas tem um bom roteiro...andamento...clima...textura...som...a galera que foi ao cinema esperando bangue-bangue futurista saiu desanimada do cinema...otári@s...claro que o 1o é mais foda, mas aí tb é querer demais.

Rodrigo Sputter disse...

http://rodrigosputter.blogspot.com.br/2011/01/rachaels-kiss.html

lembrei que escrevi um poema dia desses, já fazem 7 anos, quase 8, inspirado em blade runner...quando revi na época...bacaninha até o troço.

rodrigo sputter disse...

https://www.saraiva.com.br/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas-edicao-especial-de-50-anos-9861826.html?p=Dick,%20Philip%20K&ranking=1&typeclick=3&ac_pos=header

num resisti e comprei na pré-venda!!

Unknown disse...

Achei bem curioso usarem o nome Joe K pro protagonista (referência ao Joseph K d'O Processo de Kafka, talvez?). O filme é irretocável tecnicamente e o Vileneuve foi bastante corajoso em ampliar o(s) conceito(s) do original.
Mas, confesso, fiquei incomodado com o teor preto-no-branco do filme. Fulano é bom, ciclano é mal (beltraninha é mau que nem o pica-pau). O original tinha uns tons de cinza que faziam toda a diferença. Isso fez muita falta. E não tivemos atuações fodas como foi o Hauer no original.
Apesar de tudo um filmaço, dos melhores do ano.

Rodrigo Sputter disse...

mas esse tom maniqueísta é um pouco dos anos 80 não? embora não lembre o 1o ter isso agora, mas preciso rever...tem uns sete anos que não revejo...baixei até uma versão hd...tenho dvd, mas devo ter comprado há dez anos.