terça-feira, agosto 22, 2017

GAME OVER RIVERSIDE: "NÃO ACREDITAMOS QUE O ROCK ESTEJA ESGOTADO"

Paredes de guitarras, peso grunge: Game Over Riverside volta com novo EP matador

Game Over Riverside, foto Fernando Fernandes
De volta à atividade no cenário local desde 2015, a Game Over Riverside é uma banda a se acompanhar com interesse – caso o interesse seja rock sujo e sem frescura, mais para anos 1990 (na sonoridade e no espírito), do que 2010.

Depois de um bom EP de seis faixas autointitulado e  lançado há um ano, a GOR volta ao front com Empty, uma espécie de segunda parte daquele trabalho.

Por enquanto, só está liberado para audição o single Me and My Band (ouve aí embaixo!). O EP completo sai em setembro.

Mas o colunista já ouviu tudo e pode garantir: são seis faixas com paredes de guitarras, riffs crocantes, levadas grunge / pós-punk / rock alternativo de lavar a alma de todos que não aguentam mais  tropicalismo de boteco de universitário millenial.

“Quando fizemos o primeiro EP, tínhamos repertório para um disco cheio. Por uma questão de formato e, principalmente, de orçamento, decidimos gravar somente seis, rodar o quanto fosse possível com ele e voltar ao estúdio o quanto antes para gravarmos as demais. Sabíamos que era importante estar no feeling do nosso debut e dos nossos shows para entramos novamente no estúdio e registrarmos o segundo EP. O final de 2016 chegou, aproveitamos essa verve e demos início a construção de Empty”, conta o baterista Léo Cima.

"(Ter voltado com a banda) Foi muito bom, melhor até do que esperávamos. O nosso retorno em 2015 foi bastante tímido, estávamos em fase de readaptação da nossa formação após a saída do nosso antigo baixista, com André Gamalho mudando de instrumento, assumindo o baixo, e Sérgio Moraes ficando com a terceira guitarra. Na época preferimos manter a cautela sobre as atividades da banda por conta das nossas rotinas pessoais e por sabermos que o cenário roqueiro daqui não era mais o mesmo de dez anos atrás. Isso fez com que nos organizássemos melhor e aos poucos voltarmos a ganhar espaço no cenário local. 2016 foi um ano mais movimentado, com bastante apresentações e lançamento do EP de estreia, que consequentemente nos levou e novas amizades e a boa receptividade do público. 2017 chegou com a gente aparecendo de maneira mais pontual em shows, pois o disco novo se tornou prioridade", relata Léo.

Ouvindo ambos os EPs da GOR, é quase impossível não traçar um paralelo com o álbum de estreia (lançado há pouco), de outra banda local de veteranos da cena, Rosa Idiota. Ambos trazem um som de rock alternativo / HC bastante similar - e isto é um elogio.

"É uma boa coincidência! Não fazemos parte do mesmo ciclo social, mas tive a oportunidade de conhecer o Marcelo Adam (vocalista e guitarrista) e bater um papo com ele, o Rodrigo Gagliano (baterista) já conheço há um bom tempo e ambos tem trabalhos para além da Rosa Idiota. O Marcelo com a Aphorism e o Rodrigo com a Ivan Motosserra (e tantas outras bandas de sua carreira), todas com propostas diferentes e diversas entre si, o que abre um bom leque de possibilidades e conexões. Creio que a similaridade dos sons talvez venha daí, do fato de escutarmos bastantes grupos e artistas! O programa Lado B da MTV ajudou a formar o d.n.a musical da G.O.R. e nele tínhamos acesso a uma quantidade imensa de bandas como a Hüsker Dü, por exemplo, mesmo ela não sendo uma influência direta para a gente. Mas tudo chegava até nós, consumíamos aquelas músicas com uma atenção quase que religiosa, ficávamos instigados e tínhamos a curiosidade de fuçar tantos outros grupos na web (uma vez que a internet havia acabado de chegar às nossas vidas e se apresentado como uma fonte inesgotável para a pesquisa musical). Processávamos isso a nossa maneira, o que acabou nos guiando para o som que fazemos", observa Léo.

Demência via Chadler

GOR ao vivo, foto do Facebook da banda
“Dementes como toda criança da Cidade Baixa que cresceu respirando a fumaça suja da fábrica Chadler”, segundo Rodrigo Sputter Chagas (The Honkers), Leo, André Gamalho (baixo), Leko Miranda, John-John Oliveira (guitarras) e Sérgio Moraes (vocal e guitarra base), capricharam ao trabalhar no estúdio para deixar Empty ainda mais matador do que o EP de 2016.

“As composições ganharam mais unidade. Passamos mais tempo no estúdio e o período de shows que precedeu as gravações foi significativo para as músicas tomarem uma forma mais robusta”, afirma Leo.

“Eu diria que as composições ganharam mais unidade aqui nesse novo trabalho. Passamos mais tempo dentro do estúdio e o período de apresentações que precedeu as gravações foi significativo para as músicas tomarem uma forma mais robusta. Houve um acréscimo natural de novos arranjos nas canções, o que já é um reflexo da mistura desses shows com nossas novas influências. A sequência de faixas foi mais bem pensada, com isso, o EP ficou mais pesado, de certa maneira mais sombrio até, porém, sem que perdêssemos o bom humor. Trabalhamos melhor o uso das três guitarras e em algumas músicas utilizamos somente duas, incluímos backing vocals femininos em certos momentos (cortesia da cantora Suzi Almeida) e experimentamos recursos de estúdio para criar um discreto efeito de textura. Pudemos raciocinar melhor todas as composições ao lado do produtor André Araujo, que novamente as entendeu muito bem e fez um excelente trabalho, dando mais unidade ao trabalho”, conta.

Agora senta que lá vem história: como sabemos, o rock meio anda sem moral com a meninada. Culpa do rock mesmo, de roqueiros velhos reacionários como Lobão e Roger ou da meninada que tem uma visão superficial do próprio rock,comprando os estereótipos vendidos pela mídia?

"Creio que essa seja uma situação presente por toda a cena brasileira, é claro que uma ou outra se destaca de maneira positiva, mas não é algo exclusivo do cenário baiano. Essa é uma condição complicada e curiosa ao mesmo tempo. Porque mesmo havendo essa baixa de popularidade, em paralelo se tem produzido muito dentro do rock da Bahia, de maneira diversa e qualitativa. Estamos em um momento em que várias bandas / artistas têm lançado trabalhos interessantíssimos e proporcionado ótimas performances em seus shows. Há um esforço grande e louvável de produtores e coletivos em manter festivais e eventos frequentes só com grupos autorais, como os tradicionais Big Bands e o Quanto Vale o Show?, organizados pelo Rogério Bigbross, o Rockambo, que é tocado pelo Thiago Guimarães e que tem um forte perfil de intercâmbio cultural entre bandas da capital e do interior, o Incubadora Sonora, evento capitaneado pelo Irmão Carlos que visa dispor mais conhecimento para os conjuntos, o Festival Soterorock, meu, de Sérgio Moraes e de Kall Moraes, onde juntamos bandas novatas e veteranas em um mesmo som e o Feira Noise Festival, do Feira Coletivo Cultural, que possui a posição de ser um dos maiores festivais de rock do interior do estado, ao lado do Ruídos no Sertão, além do Sunday Rock, do Artur W, em Alagoinhas, e os eventos organizados pelo Coletivo Camaçari Rock, que fizeram suas primeiras investidas nesse ano. Isso para ficar só em alguns. Não há falta de divulgação do gênero por aqui, existem os canais no youtube do Sanção Maia, o Cafeína, no qual ele apresenta o Bahia do Rock, e o Vandex TV, do Evandro Botti, com apresentações ao vivo, tem os textos do Portal Soterorock, os podcasts Rota Alternativa, de Kall Moraes, Fora da Agulha, da Beatriz Cerqueira e o Alternativa Ativa do Magno Costa e da Leinne Portugal, ambos veiculados na programação da Mutante Radio, e tem também o seu espaço aqui na sua coluna Coletânea e no Rock Loko. É fato que há um empenho em prol do rock aqui na Bahia, mas quem comete o erro? É a banda que não busca propagar da melhor maneira a sua música, ou até mesmo se articular adequadamente, esperando ser descoberta ou que as coisas aconteçam do nada? É o comodismo de preferir formar uma banda de covers? É o encerramento das atividades de casas de shows voltadas para grupos de rock? É dificuldade em ter acesso às pautas desses lugares? É o público que não vai aos shows e que é pouco interessado em buscar novos sons, que espera tudo na mão e que se contenta somente com o que o seu serviço de streaming de música indica para ele ouvir só com quinze segundos do refrão? É porque não temos tido espaço na televisão e no radio? Na verdade é bem complicado apontar um erro central, diante de tantos fatores existentes. Aí ainda temos que lidar com declarações como a do Giovani Cidreira, que afirmou que o gênero se acabou (mais uma de que o rock morreu) e de que ele é conservador (essa aí foi nova), tudo isso dito com um argumento raso e com referências superficiais, típico de quem não presta atenção no que está acontecendo no cenário musical local como um todo. Mas o mais engraçado disso é que ele se cercou de bastante gente do rock para dar corpo ao seu novo trabalho, como o Paulo Diniz, que foi frontman da Weise e que gravou um dos melhores discos de rock da Bahia na última década (Aquele que superou o fim dos tempos), e com quem fez parceria em algumas de suas novas composições e com o Junix Costa, talentosíssimo e versátil músico, com passagens pela banda do Cirque du Soleil e a Subaquático, e que gravou os baixos do seu álbum. É incrível como o rock também pode ser a solução e a salvação para muita gente que não é roqueira, desde aquele novo cantor que se desgarrou da sua boyband e partiu para a carreira solo, até o novo hipster hypado do momento, não é? Definitivamente, nós da G.O.R. não acreditamos que o gênero esteja esgotado ou que seja irrelevante, muito pelo contrário, o rock ainda tem muito para oferecer!", discursa Léo.

Fundada em 2005, a GOR parou três anos depois e só retornou em 2015. Bem recepcionados pela cena roqueira local, os meninos andaram meio recolhidos nos últimos meses, para trabalhar no estúdio. Mas agora chegou a hora de meter o pé na porta das casas de show de novo.

“Pretendemos retomar uma rotina mais frequente de shows daqui para adiante. Valeu a pena ter voltado, para nós a música é diversão e gostamos de ter isso”, conclui Leo.



NUETAS

Circo e Hot Coffees

Circo Lltoral e The Hot Coffees Band fazem a Noite NHL neste mês de comemorações da session Quanto Vale o Show?.  Cole às 19 horas no  Dubliner’s e pague quanto quiser.

Antiporcos no Shopping

A banda Antiporcos faz show de lançamento do seu segundo EP, Seguimos no Front, com participações de  Gigito e DJ Avast. Amanhã, na Coreto Store (Shopping Bela Vista), 19 horas,  gratuito.

Sax suíço no ICBA

Essa é chique: o saxofonista suíço Hans Koch se apresenta no Teatro do ICBA  (Goethe Institut) com os músicos Thomas Rohrer (rabeca, sax soprano) e Antonio Panda Gianfratti (percussão). Cortesia Low Fi Processos Criativos. Sábado, 20 horas, R$ 30 e R$ 15.

Um comentário:

Rodrigo Sputter disse...

essa faixa da da game over tá um primor. Lançaram o melhor disco de rock nacional – e da América latina - E um dos melhores lançamentos mundiais – do ano passado.
Tou LOUCO pra ouvir com mais calma . ..ouvi uma prévia e já gostei…trampo mais “denso”, “arrastado”, que o primeiro…não chega a ser soturno… Ou daquele clime pesado, ruim, ao contrário… Com certeza será um dos melhores do ano, a nivel mundial…e a banda é TODA daqui da cidade-baixa e o disco foi todo gravado aqui TB…orgulho dos meus vizinhos de região !!

eles dizem que a banda começou em 2005...mas em 2004 eu já ouvia mp3 deles...já falei pra pararem com isso, tem que dizer a idade de idoso deles-ehheeheh
a banda acho que é de 2002...

ps.: me arrependo de ter atiçado essa polêmica aí-ehheheeh