quarta-feira, agosto 30, 2017

CAMINHANDO NA MARÉ

Lançado 11 anos depois do primeiro, Travessia é o segundo álbum da cultuada banda local de rock Canto dos Malditos na Terra do Nunca

CMTN, foto Rana Tosto
A Canto dos Malditos na Terra do Nunca tardou, mas não falhou.

Onze anos depois de lançar seu primeiro CD – e dez depois de anunciar sua dissolução – a banda baiana, que retornou  às atividades em 2012, lança finalmente seu segundo disco: Travessia.

Resultado de uma bem sucedida campanha de crowdfunding (financiamento coletivo) junto aos fãs, Travessia cumpre bem dois propósitos básicos – e quase opostos.

Travessia  consegue manter a identidade roqueira da banda (muito graças à voz característica da cantora Andréa Martins) – ao mesmo tempo em que  atualiza sua sonoridade, sintonizando-a com precisão ao zeitgeist do som jovem atual, mais afeito à MPB alternativa do que ao rock.

É um feito e tanto, e certamente, os méritos devem caber tanto à banda quanto à afiada dupla de produtores que trabalhou com o quinteto nas gravações: andré t. e Tadeu Mascarenhas.

“Tivemos essas duas figuras colocando (nesse trabalho) suas características, que  são muito peculiares e diferentes”, comenta Andréa ao telefone.

Com dez composições – todas de Andréa, que dividiu a direção musical com o baterista Leonardo Bittencourt – Travessia consegue se equilibrar nesse fio de navalha entre o rock e a MPB contemporânea, uma decisão pensada em grupo: músicos  e produtores.

“Teve a vantagem de os meninos (da banda) serem muito abertos, não ficaram com medo, tipo ‘tem de ser rock’,  isso ou aquilo”, conta Andréa.

“Então o disco tem essa característica, uma vontade de ter uma liberdade e aproveitar a oportunidade de trabalhar com dois grandes produtores. Daí  gravamos várias coisas que nem imaginaríamos gravar quando começamos”, diz.

Assim, Travessia poderá agradar tanto aos fãs mais antigos com faixas mais pesadas, à moda do primeiro álbum, como À Deriva e Não Há, quanto também poderá traze-los à bordo para navegar em mares ainda não explorados, como na balada Contra Maré e na valsa etérea Tanto Mar.

“(Ao compor as faixas) Pensei que som seria este depois de tanto tempo (depois do primeiro disco), eu já com projeto solo e tudo. Seria minha vibe de agora ou seriam músicas mais semelhantes ao que seria próximo disco se não tivéssemos parado a banda em 2006?”, pergunta-se Andréa.

CMTN, foto Rana Tosto
Na dúvida, a cantora deu uma de Moisés e abriu um caminho no meio da maré.

“Então peguei músicas compostas há dez anos, que já seriam para um segundo disco na época e outras que são as de agora mesmo”, conta.

“É que eu precisava dizer o que sinto agora, dez anos depois (de lançar um disco por uma gravadora major, Warner), tinha que  ter uma relação com o presente”, acrescenta.

Trajetória sui generis

Formada em meados da década passada, a CMTN teve uma trajetória curiosa.

Chamou a atenção do público pela primeira vez ao ser classificada para a seletiva local do concurso nacional de bandas Claro Q é Rock!, abrindo o show da banda inglesa Placebo na Concha Acústica, em 2005.

Atenta ao potencial do grupo, a major Warner contratou a banda, então formada por adolescentes, e lançou seu primeiro disco já no ano seguinte, 2006.

Foi muito para os jovens músicos digerirem na época. Resultado: em 2007, a CMTN anunciou sua dissolução, antes mesmo de fazer uma turnê pelo Brasil.

“Voltamos em 2012 e nos animamos, por que tinha a sensação de morte precoce da banda. Rodamos alguns estados tocando e as pessoas pediam muito para continuarmos. Mas não faria muito sentido tocar mais do mesmo, tinha que trazer algo novo aos fãs. Este disco cumpre esta função”, conclui Andréa.

Travessia / Canto dos Malditos na Terra do Nunca / Independente / Disponível nas plataformas digitais




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