quinta-feira, julho 27, 2017

BOÊMIA, MÚSICA E CERVEJA GELADA

Ponto tradicional do Centro Antigo de Salvador, o Velho Espanha volta rebatizado, repaginado e com festival de música de alto nível

Descontração e cerveja gelada do lado de fora (foto Ramiro Smith)
Tradicional ponto de encontro para intelectuais e nem tão intelectuais assim, o centenário (em 2020) Bar do Espanha reabre neste fim de semana repaginado e sob nova direção.

Para marcar a ocasião, um pequeno festival de música popular de amanhã à domingo.

Rebatizado Velho Espanha, o espaço defronte à Biblioteca Central dos Barris abre as portas para o público e para atrações como Chorinho do Dadá e o duo Vanessa Melo & Felipe Guedes (amanhã), Pirombeira e Duo B.A.V.I. (sábado) e Coisa Mandada, Samba das Moças e Carla Lis (domingo).

À frente do empreendimento, que já vinha funcionando há alguns dias em esquema soft open, estão dois entusiastas do Centro Antigo de Salvador: Arthur Daltro e Uiara Araújo.

...e do lado de dentro do Velho Espanha (foto Ramiro Smith)
"Desde que vim morar em Salvador, que moro nos Barris, tanto eu quanto minha sócia. E o Espanha para nós era um era um fetiche. Seu Zé, que atendia no balcão antigamente, digamos que não era o sujeito mais simpático (risos), mas mesmo assim a gente vivia lá. Mesmo ele nos servindo cerveja quente. Mas com o tempo, o tratamento foi melhorando e a cerveja foi gelando. Uns dez anos se passaram e em 2012, seu Zé passou o bar adiante. A última administração tava saindo há alguns meses quando entrei em contato com o proprietário do imóvel, porque o bar ia até fechar, outros investidores queriam o local para outras coisas. A próprio dono do imóvel gostou da ideia de assumirmos para manter o bar aberto, mesmo eu e Uiara não tendo experiencia no ramo", relata Arthur.

“Aí passamos três meses em reforma, uma reforma que dialoga com o tradição do centro, com iluminação vintage e fotos antigas. A perspectiva é de ser um bar de cerveja sempre gelada e à preços acessíveis. A ideia é movimentar a região, ser uma ode ao centro da cidade. Mas ao mesmo tempo querendo provocar e trazer algo novo. Um bar para todos e toda a cidade”, diz Arthur.

O grupo Samba das Moças se apresenta no domingo. Foto Umeru Bahia
Como nem só de cerveja vive o ser humano, a casa conta com a chef Ariadne Maceió no preparo de pratos e petiscos tradicionais de boteco – com um toque gourmet.

”A costelinha de porco, por exemplo, vem com cebola caramelizada. E assim como a cerveja, tudo tem preço acessível, na faixa dos R$ 30 a R$ 40 o prato para duas pessoas”, conta Arthur.

A ambientação também mereceu atenção especial, para não apenas valorizar a elegância antiga do local, mas também fazer referência ao seu passado glorioso de ponto de encontro da nata intelectual da cidade.

“Impossível conceber o projeto de reforma de um bar de quase 100 anos sem respeitar toda a história que aquele lugar conta a quem o visita”, afirma a arquiteta Damile Mata.

No projeto da  foram mantidos o teto de madeira de lei, o piso de ladrilho hidráulico (material que sequer é mais fabricado na Bahia) e paredes de adobe exposto.

“(Mas) Fizemos questão de dar uma nova cara ao bar, jovem, descolado e com a personalidade dos novos donos – mantendo a tradição do balcão, das prateleiras de bebidas, a mesinha de carretel, o piso, as paredes e teto”, diz.

Em breve, fotos de ex-frequentadores ilustres como o cineasta Glauber Rocha e o jornalista André Setaro adornarão as paredes do bar, complementando a  decoração.

Duo B.A.V.I. toca sábado. Ft Joana Rizério
Sem terror na vizinhança

Com atrações de primeira linha como a elogiada banda Pirombeira, Samba das Moças e o Duo B.A.V.I., o fim de semana vai ser agitado na Rua General Labatut – mas sem terror para a vizinhança: os shows começam cedo e terminam cedo.

“Sou morador dos Barris há 30 anos e o bar sempre foi um local de encontro e diálogo dos transeuntes e moradores. A volta do bar,  um casarão histórico, é importante, é  um pedacinho do centro que volta a pulsar”, afirma Rafael Alvim, bandolinista do grupo  Coisa Mandada, que no domingo leva o samba de  ao local.

"Tocamos samba tradicional da Bahia: Batatinha, Riachão, Edil Pacheco, Ederaldo Gentil, Nelson Rufino, o samba raiz da Bahia. Venham que vai ser massa", convida Rafael.

Festival Barris de Música / Sexta- feira, sábado (17h) e domingo (14h) / Velho Espanha Bar e Cultura (Rua General Labatut, 38, Barris) / Pague quanto quiser / https://www.facebook.com/velhoespanha/

12 comentários:

Franchico disse...

Vortando. Devagar, pegando no tombo. Mas vortando. Depois não reclamem.

Adelvan disse...

Ele voltou, o boêmio voltou novamente...

rodrigo sputter disse...

romero se foi...Martin Landau, tb...estamos menos assustadores...

gourmetizaram a porra do lugar foi??
pqp!!
agora todo mundo vai dizer que já ia lá desde antes de 1920...

Franchico disse...

O ponto a que chegamos:

https://paginacinco.blogosfera.uol.com.br/2017/07/27/oferta-de-r30-mil-para-quem-meter-bala-em-anderson-franca-impede-escritor-de-ir-a-paraty/

Brasil, um país dominado pela criminalidade.

andre L.R. mendes disse...

welcome back ;)

Rodrigo Sputter disse...

Chico, os comentários sobre a "não ida" do escritor são as "melhores", li algumas, mas parei antes de vomitar...tamú fudido..."pior" do que o tiro que o cara vai tomar...

Franchico disse...

RIP Sam Sheppard

https://omelete.uol.com.br/filmes/noticia/sam-shepard-ator-de-bloodline-morre-aos-73-anos/

Crônicas de Motel.

rodrigo sputter disse...

PQP Chico, veio lágrimas...Sam foi o cara pra mim que eu li e falei "a-ha...tá vendo que minha escrita não é de toda errada...ó um mestre fazendo algo que eu tenho em minha mente, mas as pessoas daqui não entendem"...prosas curtas, às vezes de uma página...poemas...foi um cara que me deu uma luz a seguir...confiar em mim...uma pena..."crônicas de motel" foi um livro que mudou minha vida, no sentido literário de (meu) ser:

cheguei citá-lo em dois poemas meus:

http://rodrigosputter.blogspot.com.br/2011/01/210106.html

http://rodrigosputter.blogspot.com.br/2011/01/eu-rodrigo-chagas.html

foda isso...fudeu meu dia...eu que já venho bastante triste esses dias...pqp...logo vc sam, era pra ir agora??


pqp...meu sonho era encontrá-lo e falar que escrevi dois poemas citando-o...

rodrigo sputter disse...

curiosamente há uns meses botei nas caixas quase todos os livros dele que li (acho que cinco ou mais) só não um com quatro peças que não li todo...foi um grande companheiro meu...

Se vc me perguntasse quem foi o cara que me foi responsável por eu me encontrar na poesia...não poderia dizer nenhum em 1o lugar que não fosse o Sam...

aqui tem a causa da morte dele...era só um ano mais velho que minha mãe:

http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/sam-shepard-ator-americano-morre-aos-73-anos-dizem-sites.ghtml

e tem cada comentário que pqp...meu deus...se sam não fosse um cara foda, casado com uma gata (9que ainda é uma senhora linda) e com filhos que amava (9pelo menos eu via assim), poderíamos dizer "ainda bem que se foi embora desse mundo ignorante", mas pela doença que li...pqp...acho q descansou mesmo viu...é daí pra pior o nível das pessoas...bolsonazi presidente 2018 não é surpresa...e a ignorância dos patrulhadores de esquerda tb não fica atrás...estamos fudidos...

rodrigo sputter disse...

num dia quente
a maionese pode te matar
é o que minha tia me contou

ela também me disse
que eu jamais saísse sem minha carteira
no caso de eu ser morto
elas vão precisar dela pra identificar o cadavér

Sam Shepard
26/04/81
Homestead Valley, California.


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da grama alta, alta
até o final do parque de asfalto
vejo você me
estudando

vejo você quando não sabe que eu estou olhando
e todo olhar que roubo
soma um dia em minha vida

ultimamente, você tem sido difícil de pegar
ou talvez eu esteja ficando velho
um de nós está perdendo, com certeza


Sam Shepard
06/11/81
Homestead Valley,
California.


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seus canários
estavam sucumbindo como moscas
todas as manhãs
havia outro
duro
no fundo da gaiola

o Veterinário disse
que era devido a bactérias
na água que estavam bebendo
mas ele próprio sabia
que era
pela maneira como estamos vivendo

Sam Shepard
02/08/81
Homestead Valley, California


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Insônia é uma corrente
Insônia é um arco
Insônia é um ciclo vicioso

Bem agora
Dentro do meu crânio
Dentro dos meus ossos

Meu pescoço vira
A cartilagem se move
Gosto do som dos meus próprios ossos

No centro dessa emergência
Penso em você
e só em você

No centro de todo esse sangue insone
Seus lábios rosados
Seus braços esticados
pra cima

Não posso respirar sem você
Mas este círculo de costelas
Continua trabalhando por si próprio

Sam shepard
17/05/82
Lancaster, California


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as pessoas aqui
se tornaram
as pessoas
que estão fingindo ser.


Sam Shepard.
27/07/81.
Los Angeles, Califórnia.


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Se você ainda estivesse por aí
Eu te segurava
Te sacudia pelos joelhos
Soprava ar quente nas tuas orelhas

Você, que escrevia como um Gato Pantera
O que quer que corra em suas veias
Que tipo de sangue verde
Te levou à tua sina

Se você estivesse por aí
Eu rasgava teu medo
Deixava ele pendurado fora de você
Em logos riachos
Fios de pavor

Te virava
Encarando o vento
Dobrava tua
espinha no meu joelho
Mascava tua nuca
Até que você abrisse a boca para esta vida


Sam Shepard
31/01/80
Homestead Valley, California.


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Talvez deva fazer um fogo. Você gostaria de um
fogo? Vou fazer um fogo.

Talvez deva rasgar o Jornal de Domingo em pedaços
pequenos e tentar não ficar ligado nos anúncios.

Talvez deva terminar de cavar o buraco que estava
cavando no pátio.

Talvez deva fazer uma xícara de chá e tomar Vita-
mina C. Você gostaria de uma xícada de chá?

Talvez deva apenas dar uma caminhada sem destino.

Talvez deva ficar num lugar, no mesmo lugar e pa-
rar de imaginar razões para me mover.

Talvez nós dois pudéssemos ter uma conversa. Você
gostaria de ter uma conversa?


Sam
Shepard
14/01/80
Homestead Valley, California.

rodrigo sputter disse...

já que estamos falando em mortos:

https://www.publico.pt/2017/07/31/culturaipsilon/noticia/morreu-jeanne-moreau-uma-das-maiores-actrizes-do-cinema-frances-1780847

não a conhecia muito, mas pelo curriculum...


nem sabia que tinha morrido, soube hj, há pouco:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_M._Pirsig

nunca terminei de ler o "zen e a art...", comecei há 17 anos, li umas 120 páginas e parei...um dia retomo...eu acho...vc já leu todo chico??

Franchico disse...

Nunca li Zen e a arte da manutenção de motocicletas. Tenho a impressão que não devo ler mais. Tipo do livro que vc tem que ler na idade certa, como On The Road. Depois de velho não faz sentido.