terça-feira, janeiro 17, 2017

BOA NOVIDADE DE 2016, A SOROCABANA PAULA CAVALCIUK FAZ SHOW SEXTA-FEIRA EM SALVADOR

Paula Cavalciuk, foto Camila Fontenelle
O Brasil tem tradição de grandes cantoras. E a cada ano, surgem tantas cantoras novas que é difícil se destacar em meio a concorrência.

Em 2016, uma das cantoras mais interessantes que ouvi foi a sorocabana Paula Cavalciuk.

E não foi só eu que achei, não. Seu primeiro álbum, Morte & Vida, rendeu à Paula, de cara, uma indicação de artista revelação da música brasileira pelo júri da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).

Enquanto escrevo isto, Paula e banda de três músicos se revezam na direção de um carro rumo ao Nordeste, onde farão turnê por oito estados.

Em Salvador, eles se apresentam sexta-feira, na Tropos. Eu sei que a cidade tá agitada, o verão tá bombando e tal. Mas se eu fosse você, reservava espaço na agenda para conferir Paula e sua banda.

“A gente acredita muito na estrada como ferramenta de transformação, de formação de público. E o Nordeste sempre foi um destino pretendido, pela cultura riquíssima que só chega a conta-gotas pra nós do Sudeste”, conta Paula.

“(A turnê é) Tudo feito na raça e na coragem. Todo o longo percurso de quase oito mil quilômetros será feito de carro, revezamento de direção e bora lá, porque esperar as oportunidades baterem à nossa porta tá difícil, ainda mais nesse período político doido, de desmonte da cultura, etc. Bora cair na estrada”, convida.

A faixa de abertura do seu álbum, Morte & Vida Uterina, versa na letra sobre questões de opressão contra as mulheres. Quando mais uma notícia de estupro coletivo - algo que parece ter se tornado rotineiro - foi explorada pela mídia, Paula convidou fãs, amigos e contatos de redes sociais para enviarem mensagens em vídeo.

O resultado é clipe aí embaixo.



Paula e banda, foto André Pinto
"O machismo é parte da estrutura da nossa sociedade colonizadora e seu combate só se dá com a prática de empatia, auto-análise e exercício diário de tudo isso. Quando os homens entenderem que também perdem muito com o represamento de seus reais sentimentos, com o cumprimento de expectativas de como ser um macho, talvez caminhemos lado a lado e fique mais fácil e fluído", afirma Paula.

"Com a ascensão dos meios de comunicação, tudo veio à tona, as opressões, mas também o inconformismo. A gente não fica mais calada diante da injustiça e esse barulho ameaça os privilégios dos grupos opressores, então isso incomoda pois ninguém quer abrir mão de privilégios, nem para equalizar melhor a sociedade. Mas eu sou otimista e prefiro seguir o caminho da compreensão nesta luta. Penso que não são os piores tempos para se viver, em termos de opressão, eles são só mais transparentes porque as máscaras caem e isso facilita saber quem está do seu lado e quem ainda poderá estar, se quiser compreender", reflete.

Sem auto-engano

Cheia de personalidade, Paula é dona de uma voz que é, digamos, só dela. E olha que ela até tentou não ser artista. Mas não teve jeito, a música falou mais alto. Até por que ela sempre fez parte de sua vida.

No You Tube, um vídeo de Paula cantando em dueto com sua irmã, Lucile, não deixa dúvidas de que o talento é coisa de família.

"Lucile é minha irmã, minha metade. A criança com quem desenvolvi a fala, o canto, o humor, os medos. Duas meninas que viveram boa parte da vida no meio do mato (interior do Vale do Ribeira) e criaram uma linguagem própria, um universo para fugir do tédio e do mundo dos adultos. Nós mapeávamos os tipos de dicções, sotaques, jeito de falar e cantar das pessoas. Tudo que era diferente de nós, era fascinante. A música sempre esteve presente em nossa formação, pois a TV pegava mal e o rádio não pegava de jeito nenhum, então o jeito era ouvir os discos do meu pai (de Beatles a Duduca e Dalvan). Minha mãe tinha música em suas veias, um cantar profundo, simples, sofrido e o palco que lhe coube foi o grupo de canto da capelinha que ela mesma construiu em nosso quintal. Eu e a Lucile acompanhávamos minha mãe e nossos timbres muito parecidos e afinados, junto com a facilidade em assimilar diferentes músicas, sempre facilitaram a tarefa de ensaiar um bom coral", conta.

Paula. Foto Camila Fontenelle
“Não consigo me lembrar da minha primeira cantarolada, mas eu ainda nem frequentava a escola, quando cantava na igreja, coisa de 4, 5 anos de idade. Na adolescência eu já morava em Tapiraí e o contato com a rádio, o empréstimo de CDs, as revistas de música me trouxeram outras opções e referências. Acho que a música sempre foi tão vital pra mim que talvez por isso eu só tenha encarado a opção de viver dela aos 25. Antes, eu estava presa às lendas de mercado competitivo, tutoriais de como se dar bem numa entrevista de emprego, etc. Mas bicho do mato preso em escritório não dá muito certo e depois de muito penar com as divisórias de eucatex e a pilha de papelada sempre atrasada em cima da minha mesa, fui cantar em barzinhos com meu amigo Vinicius Lima (hoje, guitarrista da minha banda) e estamos aí”, acrescenta.

O resultado está no álbum, disponível para download e já reconhecido pela crítica - algo que a surpreendeu.

“Eu fiquei muito feliz! A gente quando tá imersa dentro de um processo (composição, gravação, lançamento) perde um pouco a noção do todo, do seu próprio tamanho. Cantar minhas músicas para outras pessoas é uma conquista bem recente, começou, de fato, em 2014 e veio de um exercício de conquistar auto-confiança. Eu comecei a responder minhas dúvidas, minhas perguntas mentais, mostrava minhas músicas para pessoas próximas, depois para estranhos e fui perdendo a vergonha, gostando da sensação, e mais ainda, da sonoridade que eu fui alcançando. Depois que vi meu vizinho cantarolando uma música minha no estacionamento do prédio, eu pensei ‘acho que agora eu posso cantar pra qualquer pessoa’”, afirma.

Sexta-feira, Paula finalmente traz seu próprio show à cidade. Antes, ela veio à Salvador com o show
Dolores in Blues, com repertório da Dolores Duran.

"A primeira vez que estive em Salvador foi em 2014 apresentando o show "Dolores in Blues", com repertório da Dolores Duran, em arranjos de jazz e blues. Na ocasião, foi uma correria danada e só deu tempo de dar entrevistas e tocar. Eu voltei embora aos prantos, pois desde que botei os pés nessa cidade senti uma vontade de conhecer, zanzar por aí, pisar no chão, conhecer a história. Só deu tempo de tomar uma cachaça no Cravinho, mas desta vez, quero curtir a cidade um tantinho mais", lembra.

"A Bahia é maravilhosa! Tem uma coisa, uma arte pulsante, então a música é coisa de doido! Não tem como não falar de música brasileira sem citar a importância de Caetano Veloso, Tom Zé, Gal Costa, Daniela Mercury, Novos Baianos, Raul Seixas, mas há de se admitir que produção musical baiana vem se reinventando dum jeito bem bonito, com BaianaSystem, Marcia Castro, Vivendo do Ócio, Maglore. E como não falar da minha querida amiga baiana Assucena Assucena, que ao lado de Raquel Virginia, toma a frente duma das mais importantes bandas da atualidade, As Bahias e a Cozinha Mineira. Bahia é muito amor mesmo", conclui Paula.

Paula Cavalciuk: Morte & Vida / Sexta- feira, 21 horas / Tropos (Rua Ilhéus, 214) /  Pague quanto puder

Ouça, baixe: www.paulacavalciuk.com.br



NUETAS

Sens, Hot Coffees

As bandas Sens e The Hot Coffees tocam no Quanto Vale o Show? de hoje. Dubliner’s, 19 horas, colaborativo.

Dórea, Squeeze, Bia

O Hot Dougie’s Rendezvous (Porto da Barra) está com uma baita oferta de bons sons. A coluna indica Dórea (sábado, 16 horas), Squeezebox (sábado, 18 horas) e Bia Táui (domingo, 16 horas). O primeiro faz Neil Young e Bob Dylan, o segundo é uma superbanda de clássicos do rock e a terceira canta soul. Tudo free.


FUBA sábado no MAM

Astralplane, Kazenin Máfia, Nágila Maria, Daniele Moreira, WWL Rap, Afrochoque e Novas Escutas tocam no FUBA (Festival Universitário Baiano de Arte e Cultura). Sexta, 10 horas, no MAM.

3 comentários:

Franchico disse...

Tenha a santa paciência....

https://omelete.uol.com.br/musica/noticia/frejat-deixa-barao-vermelho-e-rodrigo-suricato-e-o-novo-vocalista-da-banda/

Tenham dignidade, acaba a banda e mantém o respeito pelo nome dela. Mas não, tem chamar um zémané qualquer de reality show. Que merda.

rodrigo sputter disse...

nem sabia que o barão ainda existia...

Chico...vc resenhou sobre o novo filme da série star wars?

pela 1a vez um filme blockbuster, feito pra matar grana em cima de uma coisa legal, me agradou..."tenso", nervoso...adrenalina pura...foda que eu fui pensando que era o star wars novo...

Franchico disse...

Resenhei não, Sputter. Não houve cabine de imprensa. Mas nem foi por isso. Tava atolado com outras pautas na época e aí não pude. Cinema não é minha prioridade como repórter no jornal. Já temos outras pessoas nessa função. Vez ou outra que assumo a frente. Mas vi e gostei bastante de Rogue One. Filmaço de guerra tipo... nas estrelas.