quinta-feira, dezembro 15, 2016

CAU GOMEZ: VIVEMOS CEGOS DIANTE DO SMARTPHONE

O cartum que rendeu mais um troféu a Cau
Detentor de múltiplas premiações por suas charges e caricaturas em salões e concursos em diversas partes do mundo, o mineiro baiano Cau Gomez deve estar precisando abrir espaço na prateleira.

No dia 22 de novembro, ele ganhou mais um troféu de peso ao conquistar o segundo lugar no 33rd Aydin Dögan International Cartoon Competition em Istambul, na Turquia.

A obra premiada, que pode ser vista nesta página (assim como o troféu), foi feita a partir do tema do concurso: “Refugiados”.

De volta à Salvador, onde mora há mais de vinte anos (15 deles trabalhando em A TARDE), Cau fala nesta entrevista sobre como se sente sobre o tema, o que viu e sentiu em Istambul e o que planeja fazer em breve.

Você levou o segundo lugar em um concurso internacional de cartuns com o tema "Refugiados". Como é o processo para chegar até esta ideia? Quantas ideias você descartou antes de chegar na vencedora?

Não podia assistir aos terríveis acontecimentos sem fazer nada. Abordei o tema sobre os refugiados porque uma mágoa e uma inquietação me consumiam, me impulsionando ao mesmo tempo para a prancheta, papel, lápis, pincéis e tinta gouache. Fiquei extremamente gratificado quando finalizei este cartum. Ele é a minha mensagem de protesto ilustrada, que personifica os autores das atrocidades e instiga o olhar de cada pessoa que o observa. O júri do Aydin Dögan International Cartoon Competition, que é um dos cinco maiores e tradicionais neste segmento de humor gráfico no mundo, viu isso e contemplou este meu trabalho em meio a centenas de outros desenhos, inclusive premiando cartuns de outros dois brasileiros, Rodrigo Rosa e Raimundo Rucke, que levaram menções honrosas.

Cau  após a premiação em Istambul
Cartuns podem ser instrumentos poderosos para levar à reflexão sobre questões importantes. Como você vê o alcance de um trabalho como o seu no Brasil hoje?

Os meus cartuns e charges mais contundentes são como alertas para mim, e servem para acordarmos e denunciarmos a intolerância e outras mazelas desse mundo ordinário, que não percebe o predominante crescimento da xenofobia e da fome em várias partes do mundo. Por aqui, seguimos na mesma batida. A violência não nos choca mais, e vivemos cegos diante de um smartphone.

A Turquia é um país que sofreu uma tentativa de golpe há alguns meses, sofre com atentados terroristas e, mesmo assim, é o país que mais acolhe refugiados no planeta. O que você viu / aprendeu nesta estadia lá, convivendo com estrangeiros do mundo todo?

A situação é gravíssima, um imenso martírio enfrentado pelos refugiados, desesperançosos e famintos vindos de diversas partes do mundo. As pessoas estão assustadas e o aumento da segurança para se entrar em todos os locais de Istambul, não só no aeroporto, foi visivelmente diferente do que quando estive lá em 2010. Apesar do esforço da população turca, a situação política duvidosa do governo Erdogan e os atentados terroristas afastaram os turistas, desarmonizaram a população e deixaram uma atmosfera de insegurança. Há muita rigidez e controle nos aeroportos, museus, mesquitas, centros comerciais e outros pontos turísticos. O lado positivo disso tudo é que ainda é possível sobreviver a este período infernal sem perder a alegria na hospitalidade. Os turcos e os brasileiros são bem parecidos nesse aspecto.

Você chegou a ver algum acampamento de refugiados na Turquia? O que vc viu / sentiu por lá relativo a esta questão?

Creio que os acampamentos ficam afastados do roteiro turístico de Istambul, apesar ter detectado famílias dormindo no aeroporto de Attatürk. O período de estada na maior cidade turca foi muito curto dessa vez. Ficamos restritos à programação estabelecida pela Fundação Aydin Dögan.

A arte do cartum tem estado em discussão nos últimos tempos, especialmente graças ao semanário satírico francês Charlie Hebdo, que publicou charge de Maomé e depois teve parte de sua equipe massacrada naquele atentado. Depois, todos que se solidarizaram com o veículo se voltaram contra ele, quando publicou uma charge de mau gosto, relativa às vítimas de um terremoto na Itália. Como você vê esta questão? O cartum deve se curvar ao "politicamente correto"? Qual é o limite do humor?

O cartum e a charge bem elaborados não devem ter limites editoriais e precisam ter espaço nos veículos. Mas o cartunista tem de ser responsável e se ater à veracidade das informações, e checá-las antes de “botar o bloco na rua” e fazer uma crítica mais severa.
O episódio do semanário ilustra bem o quanto as pessoas, depois da internet e das redes sociais, passaram a querer dominar todos os assuntos. Existe uma gritante diferença entre os fatos e as maneiras divergentes de interpretação. Daí o conflito, a rusga. Para mim, definitivamente, o politicamente correto e a auto-censura vão estar entrelaçados no final das contas, caso não tenhamos liberdade criativa e sagacidade para nos expressarmos.

O que você tem feito, Cau? Está publicando regularmente em algum veículo ou só frilando? Pretende publicar algum livro, revista, algo assim?

Recentemente fiz a capa para o Le Monde Diplomatique Brasil, que narrava a “primavera secundarista”, referência às ocupações nas escolas públicas. Colaboro também com o Courrier International, na França. Tenho me dedicado a fazer trabalhos diversificados e explorado as várias possibilidades gráficas: design gráfico e capa de livros, ilustração editorial e infanto-juvenil, charge política para internet, caricaturas para exposições, cartuns para veículos diversos e incrementei o portfolio com um imenso graffiti para a fachada da “Borracharia”, uma conhecida e badalada danceteria alternativa soteropolitana, no Rio Vermelho. Mas confesso, naturalmente, que aceito tudo com uma certa dose de sossego e bom prazo para a entrega da arte-final, em contraponto à correria diária de jornais impressos. Finalmente, ainda planejo publicar um livro contando os meus 30 anos de profissão dentro das artes gráficas.

6 comentários:

Franchico disse...

Não adianta, Miguel.

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/12/principal-neurocientista-pais-tiro-no-pe.html

Os lobos já tomaram conta do galinheiro. Brasil, um país defunto.

Franchico disse...

Essa é uma daquelas notícias que nos fazem pensar: Morrissey está certo.

http://oglobo.globo.com/mundo/familias-pedem-autorizacao-para-matar-filhas-evitar-estupro-em-aleppo-20646105

"Come, Come, Come - nuclear bomb"

Franchico disse...

Gente, que absurdo!

http://www.brasilpost.com.br/2016/12/16/malafaia-alvo-operacao-pf_n_13672082.html?utm_hp_ref=brazil

O paxtô é um homem (cof cof) de Deus!

Ponho minha mão no fogo por ele!

(Ai! Caralho!)

Franchico disse...

"Bom mesmo era na ditadura, quando não tinha corrupção"!

http://www.bbc.com/portuguese/brasil-38337544

Hã, hã. Sei. Agora conta uma engraçada.

Rodrigo Sputter disse...

curioso é que nessa faixa do mozz eu só lembro quando ele fala pro Armagedom chegar...coisas de ter crescido em escola adventista...ehhehe

essas tipos de notícias deixa Ernesto ainda mais anti-istlã...e nem adianta meu caro ernesto me enviar email...quiser responder. responde aqui-ehheehheeh

desculpe as "risadas", mas total bizarrismo isso aí...descrença na humanidade...mas mulheres sendo estupradas em guerra, infelizmente é desde q mundo é mundo...crianças e mulheres se fodem muito em guerra...os homens tb claro, mas estupro então...na áfrica rola muito estupro de homens...pra desmoralizar...agora um cara que penetra outro, com pau duro, pra dizer que é mais machão que o outro...freud - coitado - explica

chico meu caro...acredite que eu já vi gente dizer que pastor não pode ser questionado, é homem de deus...q isso é coisa do demo q quer ludibriar-nos...é homem santo...


nem tv eu vejo direito:

http://www.brasilpost.com.br/2016/12/14/imposto-netflix-spotify_n_13634214.html

aqui no brasil a galera quer sempre mamar de alguma maneira...

pode me chamar de preconceituoso:

http://www.brasilpost.com.br/2016/12/13/ivete-sangalo-e-o-tchan_n_13605490.html

mas nessa hora me pergunto se é um site sério, se tem gente que entende de música...arte..pq...pqp...tanta cantora que podia ser diva...respeito a ivete, sei que é uma artista que tem um show de qualidade, canta bem, não me encanta em nada tudo isso...mas putz...enfim...errado sou eu....a chamada é a pior coisa que tem, se isso vai ser o melhor que eu vi na net hj...então me mato.


PQP. CHOCADO pela número seis:

http://www.brasilpost.com.br/2016/12/15/25-acoes-de-marketing-sairam-pela-culatra-em-2016_n_13646836.html

rapaz...alguém faltou aula de humanidade na facul de publicidade...e publicidade é humana??

Rodrigo Sputter disse...


ano passado, acho que foi nessa época do ano, falei com uma mina, que achava sp mais racista do que salvador...no começo do papo ela disse que em sp tinha que se afirmar negra o tempo todo, como estávamos com mais pessoas e falamos muito tempo, acho q ela esqueceu, e eu tb, que falou isso, daí comentei que achava o sp mais racista que salvador (reacionário tb), ela discordou, eu argumentei sobre o que vinha acontecendo no pais, bem antes do impeachment, sobre lá ter organizações racistas e nazistas, white power, ela disse que não achava, que era era negra e podia falar melhor do que eu, ainda chamou um rapaz negro, baiano, que veio reforçar o pensamento...claro, sou "branco", não sinto na pele o racismo, mas sei enxergar as pessoas e os lugares, pode não rolar comigo, mas vejo o que rola com as pessoas, posso não sentir...mas vejo o que falam, o que vivem, nas cidades que fui...um olhar de fora, mas vejo, comentei isso com uma amiga negra sobre esse dia, ela estava, mas não participou do papo, ela é mineira e concordou comigo...disse que essa mina era metida, se achava, fez isso só pra tirar comigo, já que eu não podia "falar nada", daí vejo isso e me vem a cabeça "tá vendo que eu falei":

http://www.brasilpost.com.br/2016/12/09/mano-brown-racismo_n_13533338.html

agora, ela vai argumentar que mano brown nunca viveu aqui, mas mermão...sp é um lugar BEM sinistro em muitos aspectos...com galera neonazi armada e as porra...falei dia desses com uma italiana e um cara gay, numa festa GLS, sobre salvador, eles diziam que aqui era província, com razão, mas falei q todo lugar é um pouco provincia...e SP acho demais...o rapaz era do interior baiano e tal...aí ficaram indignados comigo e fui explicando, mas mesmo assim céticos comigo...poucos dias depois veio o impeachment, galera em sp nas ruas, reaças, crimes homofóbicos e etc...é foda, sp é um lugar muito, muito estranho...gosto mais dos meus amigos e amigas lá...do que a cidade em si...a $$ foi pra lá e as coisas circulam por lá...se viesse pra k, como aqui já foi capital do país, as coisas seriam diferentes...