segunda-feira, junho 13, 2016

TODAS AS NOTAS PARA LUGUITA

Luciano Souza, lenda do jazz rock brasileiro, morre de insuficiência respiratória e deixa em conclusão o CD de inéditas Alma

Texto de Zezão Castro, fã número 1 e produtor executivo dos seus três últimos álbuns

Luciano e sua melhor amiga, em foto de Nancy Viegas
Quando o programa Jovem Guarda, da TV Record, lançava moda na programação televisiva para o público jovem brasileiro com Roberto, Erasmo e Wanderléa, as demais emissoras davam seus pulos e imitavam o formato.

Um desses êmulos televisivos foi o Programa O Bom, da TV Excelsior, apresentado por Eduardo Araújo e Silvinha. A grade era formada por uma espécie de “time B” da Jovem Guarda.

Desse grupo participavam Os Incríveis, Os Brasas, Sérgio Reis, Enza Flori e também Os Minos, um grupo de garotos que saíram da Bahia com o nome de Os Príncipes do Yé,Yé,Yé e, após o grego Minus Matzas pegá-los para garotos propaganda de sua loja de roupas, (Minos Ports), foi rebatizado em homenagem ao rei de Creta.

Os guris eram Pepeu Gomes (baixo e vocal) 14, Jorginho Gomes (bateria), 11, Ricardo Souza (guitarra base) 12, e Luciano Souza, (guitarra solo) 10.

Foram de Kombi pela Rio-Bahia até São Paulo. Luciano, no dizer de Pepeu Gomes “era o macaquinho da banda”.

Todos engomadinhos e de terno, como Os Beatles, os guris eram atração fixa. E o tal macaquinho, desde 1966, antes de os discos de Jimi Hendrix serem lançados no Brasil, já tocava com a guitarra nas costas desde os tempos de Salvador.

Franzino, parecia ser menor do que o instrumento. Num certo dia, Eduardo Araújo lançou um concurso pra ver quem tocava mais entre todos os grupos do programa. Já eram quinteto após a entrada do solista vocal Leif Ericksson.

Pois bem, Os Incríveis ganharam na primeira edição da “competição” porque Manito, que era saxofonista (multi-instrumentista, na verdade) tocou teclados com o nariz.

O empresário dos Minos, Seo Dilson (pai de Luciano e Ricardo), enérgico que só ele, sempre dizia: “Vocês podem não ser os maiores mas tem que ser os melhores”.  Retou-se e emendou, “Luciano, na próxima semana você vai tocar com o pé”.

Quando foi na outra semana, após as narigadas dos Incríveis, o guri de 10 anos colocou a guitarra virada pra cima apoiada num cavalete, a banda atacou e ele, com um pé, deslizava a sola da bota (revestida com uma chapa de ferro), no braço do instrumento. Com a mão direita, paletava na parte debaixo, perto dos captadores.

Desbancaram Os Incríveis.

Falecido ao dar entrada no Hospital Geral do Estado no último dia 7 de junho devido à insuficiência respiratória provocada por enfisema pulmonar, Luciano Mário Soares Souza, o Luguita, já poderia ter parado aí.

Ainda bem que não parou e foi até os 58 anos.

Conhecido por ser o músico dos músicos, esta lenda do jazz rock brasileiro ganhou de Luis Vagner (Os Brasas), já nos anos 70, o citado apelido de Luguita, de Luciano + guitarra. E era verdade. Eu o vi pela primeira vez em 1995, na Jam do Mam.

Fiquei chocado.

A sensação era a de que, se o braço da guitarra medisse 1 km² ele tocaria em todas as notas do perímetro. De quebra, Dom Lula Nascimento na bateria.

Eu fazia questão de, toda vez que ele estava gravando os dois CDs que produzi, (Virtuose, de 2008 e Olhando o Acordar da Esperança, de 2013) sentar-me no chão do estúdio Casa das Máquinas, de Tadeu, para ser bombardeado pela radiação.

Sem essa de sala de isolamento.

Adolescente, de 13 anos, trabalhava num banco no Comércio, em Salvador, quando viu pela vidraça a trupe dos Novos Baianos.

O ex-companheiro Pepeu, uma menina com o espelho na testa, além de outros magrelos cabeludos. A galera olhou pra o “jovem-futuro-quase-bancário” e começaram a fazer gestos, chamando pra rua e tocando guitarras imaginárias, sugerindo que ali jamais seria o seu lugar.

Às vezes ele e o irmão Ricardo ficavam cada um com sua guitarra Snake, imitando carros de fórmula 1 se ultrapassando, controlando e descontrolando a microfonia em paletadas esquizóides para descabelamento da mãe, dona Nair, responsável por segurar muitas ondas do filho até o fim da vida do músico.

Em 1972, ele passou a integrar o power trio de rock progressivo baiano Creme, com Jaime Sodré (bateria) e Moisés Gabrielli (baixo e vocal). Entrou substituindo Perinho Santana que tinha ido tocar com Luiz Melodia.

Após sair do Creme, em 1975, Luciano vai aventurar em Sampa e Eduardo Araújo, que empregava Os Minos no passado, o convida para tocar guitarra com ele e a esposa Sylvinha em sua nova banda, que contava também com Lanny Gordin.

Seu exame de ingresso na banda foi ouvir as bases do LP Sou Filho Deste Chão, de Eduardo Araújo e Sylvinha e, na mesma hora, colar a guitarra.

Coisa pouca sempre foi bobagem...

Nessa época, Piska, do Casa das Máquinas o viu tocar e, simplesmente lhe deu a guitarra Royer de dois braços que tinha sido de Steve Hackett, do Gênesis.

Em 1977, passa a integrar o conjunto de rock Som Nosso de Cada Dia, onde imprimiu mais brasilidade ao progressivismo do grupo paulistano fundado por Manito (ex-Os Incríveis) Pedrão Baudanza (baixo) Pedrinho (bateria) e outros.

Era um tempo em que os caras tomavam ácido lisérgico até pra gripe.

“Eu sou da geração do ácido, Zé, esse pessoal de hoje só toma porcaria e fuma cocô de cavalo”, desabafava.

No início dos 1980, passa a integrar a banda de Baby Consuelo e de Pepeu Gomes, excursionando pelo Brasil e Europa.

No mesmo ano, integra na qualidade de convidado especial do 1º Festival Instrumental da Bahia onde toca com o pianista de jazz Jeff Gardner.

Discreto, sem estrelismos, Luciano (o Baby) era sideral. Conseguia, ainda, ser melhor pessoa do que
músico. Pra tocar com Luciano só Lula Nascimento, costumavam dizer os músicos.

Quando pude juntá-los em CD, no Virtuose, em 2008, (com Didi Gomes!!) eu próprio pensei, que, se um raio me fulminasse naquele momento, eu morreria feliz.

O guitarrista deixou também gravado o CD Alma, que está em fase de conclusão, mas ainda sem data  para lançamento.

Da próxima vez que uma sonda partir pro fim de linha do universo com lembrancinhas da Terra vou solicitar à Nasa para colocar seus CDs no balaio com a seguinte mensagem: Quando superarem isso, apareçam (e tragam a seda).

DISCOGRAFIA DE LUCIANO SOUZA

Trabalhos Autorais

CD – Virtuose – Projeto contemplado pelo Fundo de Cultura 2008, da Secretaria

Estadual de Cultura.

CD – Olhando o Acordar da Esperança – Projeto contemplado pelo Edital de Demandas

Espontâneas 2013 da Secretaria Estadual de Cultura.

Com Os Minos

Compacto Vem meu bem/ Fingindo me amar

Compacto Febre de Minos /Menina. Copacabana, 1967.

Com o Som Nosso de Cada Dia

Compacto Black Rio / Identificação, CBS, 1978.

Como músico acompanhante

Arnaud Rodrigues – LP Som do Paulinho, Som Livre, 1976.

Eduardo Araújo e Sylvinha – Sou Filho Desse Chão, Beverly, 1976.

Roze – LP Acorde, Chantecler, 1979.

Projeto Pixinguinha, Governo do Estado da Bahia – 1981.

CD Trilhas Urbanas – Antologia Musical da Cidade do Salvador, (com o Jazz Rock

Quartet), Fundação Gregório de Mattos, 2007. Coletânea de Artistas.

5 comentários:

Franchico disse...

Grande Geddel!

http://www.brasilpost.com.br/2016/06/11/temer-fim-ebc_n_10418058.html?utm_hp_ref=brazil

Ele tem toda razão! Pra que uma TV estatal para promover o governo quando podemos direcionar toda essa verba para as agências de propaganda dos amigos, né?

Gênio!

Do crime.

Franchico disse...

Todo apoio à TV Brasil e Ricardo Melo!

http://tvbrasil.ebc.com.br/

Se o governo ilegítimo está perseguindo, é por que alguma coisa boa eles estão fazendo.

Franchico disse...

Esse canalha obeso se diz "contra o aparelhamento".

Então tá, mas e a TV Cultura de SP, que todo dia coloca um ou dois comentaristas declaradamente pró-governo na bancada do Jornal da Cultura, incluindo aquele "projeto de intelectual" (como disse Hadad), cão raivoso travestido de historiador Marco Antonio Villa?

E o Roda Viva, outrora um programa de grande credibilidade, hoje um palanque para coxinhas sem noção?

Ora, porra, me faça uma garapa!

Franchico disse...

http://www.brasilpost.com.br/2016/06/13/governo-temer-nao-encampa_n_10436534.html?utm_hp_ref=brazil

Claro que não, já viu bandido botar alarme na casa que ele mesmo vai roubar?

Rodrigo Sputter disse...

http://www.msn.com/pt-br/noticias/mundo/ar-15-usado-em-orlando-%C3%A9-o-fuzil-mais-popular-dos-eua/ar-AAgZar9?li=AAggXC1&ocid=mailsignoutmd

e tem gente q lê esse blog q defende armamento...até parece que lunáticos num terão acesso...aliás, já tem...nos eua...terra da liberdade...do capitalismo...onde ninguém é triste...todo mundo é feliz...


não dei uma lida toda, embora seja pouca coisa, mas um amigo passou esse link:

http://www.cartapotiguar.com.br/2012/02/11/zygmunt-bauman-e-sua-acida-critica-do-facebook-e-do-twitter/

tou aqui absorto na bio do lou reed...bem melhor do que ficar na net...vim aqui pra ler meu programa diário...cansado da internet...com seus reacionários e neo-reacionários...e seus libertários perfeitos que todo mundo é errado, só não eles...elas...tod@s, enfim...todo mundo apontando seus dedos pros defeitos dos outros e não enxergam os seus próprios...

geddel safadão, ministro de lula e de dilma...e agora foi contra o pt e a favor do "chefe da nação"que é do partido dele...coliga-se com safados...dá nisso...próxima vez, se der tempo de ter...q vejam onde tão pisando...

foda esse texto do Luciano...ouvindo aqui os links do youtube...muito bão!!
e olha que eu acho alguns virtuoses um saco...mas a faixa que vc postou no link é foda...muito bão...já tá na 2a parte do som...