HQ: Fora de catálogo no Brasil desde 1969, Barbarella volta em novo álbum
Em tempo de empoderamento feminino e Marcha das Vadias pelo direito sagrado e inalienável de (se) dar para quem bem entender sem julgamentos, a desinibida heroína futurista Barbarella é um belo lembrete de que essa luta não vem de agora.
Desaparecida do mercado editorial brasileiro desde 1969, a sirigaita espacial volta agora em um simpático álbum da editora Jupati em toda sua glória lasciva, cortesia do seu criador, um francês safadinho e talentoso chamado Jean-Claude Forest (1930-1998).
Criada em 1962, a personagem pode até ter sido criada tendo em vista muito mais os desejos púberes masculinos dos leitores de quadrinhos do que a liberação feminina, mas o fato é que, a partir de Barbarella, universitários antenados e garotas francesas começaram a se interessar a ler quadrinhos na pátria de Voltaire.
As razões são bem explicadas no prefácio do álbum, escrito pelo pesquisador baiano Gonçalo Júnior: “Causou escândalo a desinibição moral e a fantasia poética de suas aventuras. Barbarella também interessava às mulheres”.
“Sem se preocupar sobre o que podiam pensar dela, fazia do seu corpo o que bem entendesse. Até transaria com um robô, como se verá na história a seguir”, escreve.
Em suma: Barbarella mudou o jogo. Depois dela, nada mais foi a mesma coisa.
Contexto e sátira
Claro que, com o álbum em mãos, o leitor contemporâneo pode até não se impressionar muito.
Bonitos, porém simplórios, os desenhos de Forest mostram uma heroína que é sim, bela (até por que sua figura era baseada em Brigitte Bardot) – mas quase esquelética se for injustamente comparada com as bombadas e atléticas aventureiras de hoje em dia, desenhadas por nomes como Frank Cho (Liberty Meadows) ou Bryan Hitch (Os Supremos, The Authority).
(O curioso é que, adaptada para o cinema em 1968 pelo diretor Roger Vadim, a personagem acabou tendo a imagem eternamente associada a outra atriz da época, Jane Fonda).
Mas é como se diz – pelo menos neste caso –, contexto é tudo.
Tendo em mente que se trata de uma HQ de ficção científica de tons satíricos escrita e desenhada em plenos anos 1960, o leitor de agora pode se divertir muito com as peripécias aventurescas e sensuais de Barbarella às voltas com planetas estranhos e seus problemas ainda mais esquisitos.
O leitor mais atento poderá até mesmo identificar pinceladas de sátira política com ressonâncias perturbadoramente atuais.
Em sua aventura inaugural, Barbarella cai no desértico planeta Lythion, onde só há civilização em uma cidade – por que toda a água do único rio do planeta foi desviada para lá.
Revoltados, os habitantes do deserto atacam a cidade sem aviso. À luz dos fatos recentes, uma HQ profética.
Barbarella / Jean-Claude Forest / Tradução: Pedro "Hunter" Bouça / Jupati Books / 72 páginas / R$ 42
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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8 comentários:
Meu estômago se contorceu em repugnância perante o ridículo a cada vez em que ouvia a fala do narrador gringo da língua enrolada pronunciar o nome "b-bârb-borela".
PQP, como a língua inglesa é fudida... ô idioma estúpido... puro barbarismo...
Meu amigo americano escritor Robert Gaulke desabafou comigo, falando em bom português: "Os americanos falam como se estivessem mastigando lata, hrrrinham, hrrrinham, hrrrinham..."
De fato, é mesmo uma pena que o diretor francês Roger Vadim se casou com aquela vadia americana da Jane Fonda, que nunca teve uma fração do talento do pai...
...E por isso é ainda mais lastimável que esse clássico da arte podrera francesa dos lisérgicos anos 60 tenha se tornado um produto de Hollywood, com Barbarela sendo encarnada por uma ianque vagabunda...
...mas pelo menos o filme é divertido, embora seja uma completa idiotice.
Pra assistir na falta de LSD.
...além da participação da alemã palerma Anita Pallemberg, namorada de dois Rolling Stones, que saltou dos braços furados por agulhas de Brian Jones para os bracinhos esburacados de Keith Richards.
...e, é claro, o vilão Duran Duran, que inspirou o nome do grupo pop inglês new wave que nos anos 90 fez a canção "Eletric Barbarella".
Duran Duran - Electric Barbarella
https://www.youtube.com/watch?v=MK1g5dMYR3s
Chico, li isso no domingo e pensei..."será que as feministas vão gostar do termo 'sirigaita' que Chico usou? mesmo que seja como uma ironia...brincadeira??", alguém comentou algo contigo? será q elas gostariam da hq? vi aqui "barbarella all nude scenes" e num vi nenhuma nude-ehhhehehe
Sputter, antes de usar o termo pesquisei seu significado e isto foi o que encontrei:
sirigaita
substantivo femininoBinfrm.
1.
mulher vivaz, ladina, espevitada.
2.
mulher que usa requebros para seduzir, atrair.
Ou seja, nada com se ofender aqui, certo? Por que se tem alguma qualidade que definitivamente se aplica a personagem é, justamente, "sirigaita". E nada de errado com isso, o termo não diminui sua importância nem a denigre.
Felizmente, ninguém reclamou comigo até agora....
Cuidado, mestre Chico! o verbo "denegrir" pode ter caído na malha fina da Patrulha do Pensamento do Politicamente Correto. Você pode ser enjaulado por causa disso. e exposto na página policial, como um criminoso malvado. Melhor editar esse seu último comentário...
E pensar que em 1989, na cena final de Máquina Mortífera 2, a última linha de diálogo era a piadinha triunfante entre a dupla de nossos heróis policiais, um branco e um negro, sobre os vilões traficantes de drogas do governo do apartheid da África do Sul:
Mel Gibson: E os racistas?
Danny Glover: Foram denegridos.
(gargalhadas triunfantes na tela e na platéia)
pq é fogo, conheço muitas minas q falam q não podemos comentar sobre machismo...pq somos machos...não entendemos ou temos o direito...sobre denegrir...gostaria de ouvir um etimólogo falar melhor...pq manchar algo de negro, num quer dizer que é pq é da etnia...uma mancha negra num pano branco, num é estraga pq parece negro a etnia...num sei sobre denegrir, se tem a ver com isso ou não...mas os tempos confusos geram isso...ou vc tá lá ou cá...dizem q judiar tem a ver com judeu...
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