Festival: Quinta edição do Zona Mundi traz shows Largo Teresa Batista. Seleção de artistas nacionais e locais refletem a nova música brasileira
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Metá Metá: hypado, trio de SP faz o show Metal Metal, mistura afro jazz rock
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A Bahia, que não costuma receber shows internacionais relevantes, tem uma cena de festivais igualmente claudicante.
Felizmente, graças a alguns poucos obstinados, vez por outra algo acontece, como o Zona Mundi, que chega a quinta edição a partir de amanhã, no Pelourinho.
O obstinado aqui é o músico Vince de Mira, que, a frente da produtora Maquinário, organiza o Zona graças ao apoio (via edital) da Petrobras Cultural.
Nesta edição, as atrações principais de fora do estado são a cantora carioca Bárbara Eugênia, o trio paulista Metá Metá, BNegão Trio (RJ) e a banda olindense Academia da Berlinda.
As atrações locais são igualmente interessantes: Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta, Junix_11 & Rafa Dias, Ifá Afrobeat e Vince de Mira & O Batuque do Vigia.
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Vince de Mira por Carol Garcia |
“Aos cinco anos, o festival está mais consolidado do que nunca”, afirma Vince.
“Claro que tem potencial para ser maior. Mesmo assim, estamos sempre de orelhas em pé, correndo para cumprir metas – nossas e dos patrocinadores”, diz.
Com curadoria do próprio Vince, ele conta que “todos os anos vamos mapeando o que tem de interessante sendo produzido, como o Metá Metá, que agora se apresenta em Salvador com a formação completa”, conta.
“Bárbara Eugênia é a primeira vez que vem. Tem uma linha que a gente segue mesmo, em relação as experiências contemporâneas, com artistas como IFÁ, BNegão, Rafa Dias (que é do do grupo A.MA.SSA), Junix, caras que tem referências de música contemporânea e que misturam várias linguagens no som. Bandas que transformaram muito seus sons desde o acesso aos novos plugins, os novos softwares. A gente tenta pegar dai em diante. A ideia é tentar entender e misturar esse nichos, pensar essas tendências da nova música brasileira”, diz.
O Zona também foi a oportunidade para o produtor finalmente estrear ao vivo seu próprio trabalho, Vince de Mira & O Batuque do Vigia.
"É, meu show demorou pra caramba. Agora é unir o útil ao agradável. É até mais sincero estrear no contexto de um festival com um trabalho novo do que fazer logo um show só meu. Não que eu não queira, mas neste momento, tocar num festival com boa estrutura é bacana pára qualquer banda. Vai ser um show relâmpago, de 40 minutos", conta Vince.
Bárbara com Cascadura
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Bárbara canta com Cascadura. Ft: Marcos Vilas Boas |
Elogiada pela crítica, badalada pelo público, Bárbara conta que realmente, é difícil para artistas independentes viajar pelo país.
“Comecei a viajar mais com o segundo disco (É o que temos - Oi Música, 2013). Só agora estou chegando ao Norte e Nordeste”, conta.
Artista de difícil classificação, a cantora autodefine seu estilo como “rock canção”.
“É um termo que explica bem, pois não faço o rock tradicional, mas também não é pop simples. São canções, com uma coisa romântica. Rock canção explica um pouco”, afirma.
No show em que Bárbara fará músicas dos seus dois álbuns, a cantora contará com o auxílio luxuoso da banda local Cascadura. Por questões de agenda, seus músicos de São Paulo não poderão vir.
“Mandei um email pra Márcia Castro, ‘preciso de uma banda em Salvador’ e tal, e ela me passou o contato dos meninos”, relata.
Ronei: possível novo álbum dos Ladrões no futuro
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Edinho, Pedrão, Kopinski e Ronei: disco novo no futuro dos Ladrões de Bike? |
Um dos maiores nomes do cenário alternativo local, a banda Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta volta aos palcos após um bom tempo afastado.
“Vamos tocar umas três músicas novas. Duas são parcerias com Edinho (Rosa, guitarrista)”, conta Ronei.
Bastante ativa na década passada, a banda acabou em 2010, após dois álbuns elogiados até nacionalmente. Voltou em 2013, mas sem pressão.
"Estamos operando em ritmo tranquilo, é como se fosse um recomeço. A gente acabou, voltou, teve aquele show da volta que foi um reencontro com os caras e as músicas já conhecidas. Esse agora a gente já vai experimentar algo novo, já pensando em disco novo, mas ainda é tudo muito embrionário", diz.
“Não descarto (lançar um disco novo), não. É um desejo natural dos quatro membros gravar algo mais. Estamos montando repertório novo. O disco do Tropical Selvagem (duo de Ronei com João Meirelles) deve sair antes, por que está mais encaminhado, já fez bastante show. Ano que vem devemos lançar um EP. E os Ladrões, quando tiver tudo engatilhado vamos correr atrás”, diz.
"A Ladrões estava parada, aí foi a oportunidade de começar a desenvolver outras coisas, trilhas, esse trabalho com João (Meirelles, com Ronei forma o duo Tropical Selvagem), que é algo completamente diferente dos Ladrões. Dá vazão a outro tipo de trabalho", observa.
"O lance é que eu tô muito querendo desenvolver o que me for permitido: música, cinema etc. Como surgiu essa oportunidade trabalhar com João, para mim é ótimo, como também é ótimo trabalhar com os Ladrões ou até tocar com outras pessoas. É uma coisa de desenvolver múltiplas trajetórias e possibilidades artísticas, todas são enriquecedoras para caramba. Os Ladrões é uma banda que já trabalho há muito tempo e a gente se encontra e faz shows. Se surgir a possibilidade de fazer um terceiro disco é bom também, mas tudo relax, no nosso tempo", conclui.
BNegão homenageia Dorival
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BNegão Trio: MC, DJ e trompetista. Foto: Felipe Diniz |
Outra atração bastante esperada é o BNegão Trio, liderado pelo rapper carioca que se notabilizou nacionalmente nos anos 90 ao dividir a frente do Planet Hemp com Marcelo D2.
Formado por BNegão, DJ Castro e Pedro Selector (trumpete), o show do Trio terá homenagem a um baiano: “Independente do lugar que estivermos no planeta, costumamos encerrar nossas apresentações com uma homenagem feita de coração, ao mestre dos mestres, Dorival Caymmi”, conta o rapper.
Um dos principais talentos do rap brasileiro, BNegão costuma agradar não só ao público do hip hop, já que foge aos clichês do gênero.
“Tem sempre coisa nova e improvisos. O show é baseado em músicas que gravei ao longo do tempo”, diz.
“Uma coisa é certa: as frequências graves (cortesia do nosso DJ Castro) dominam o ambiente. A questão principal é sempre se o público comparecerá ou não. E, no nosso caso, o pessoal costuma sempre chegar juntis”, conclui.
Zona Mundi 2014
13/11 (quinta), 14h: Mesa redonda: “Música periférica, mercado em desenvolvimento”. Participantes: Augusto Jobim e DJ Branco. Local: auditório do Instituto Mauá (Pelourinho), entrada gratuita.
13/11 (quinta), 14h: Workshop: “A utilização dos meios de produção como linguagem de ressignificação da música periférica (ritmo, timbres e ambiências)”, com Junix_11 e Rafa Dias. Local: Palco da Praça Pedro Archanjo (Pelourinho), entrada gratuita.
14/11 (sexta), 20h: Junix_11 e Rafa Dias, Ifá Afrobeat, Metá Metá, BNegãoTRIO
15/11 (sábado), 20h: Vince de Mira & O Batuque do Vigia, Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta, Bárbara Eugênia, Academia da Berlinda. Shows no Largo Teresa Batista / www.facebook.com/zonamundi / R$ 20 e R$ 10
BÔNUS: 4 PERGUNTAS PARA BNEGÃO
Como vai ser o show em Salvador? Material dos dois discos, mais alguma coisa - inédita, improviso?...
BNegão: Tem sempre coisa nova e improvisos, nas apresentações do Trio, mas o show é baseado em músicas que eu gravei ao longo do tempo. Isso inclui as versões originais de "Enxugando Gelo" e "Dorobo", por exemplo ( nos Seletores, fizemos versões pra banda tocar), e versões completamente diferentes de "Bass do Tambô" e "Essa é Pra Tocar no Baile".Tem também uma versão de "Sorriso Aberto" ( imortalizada pela mestra Jovelina Pérola Negra), que fiz com meus irmão do Digitaldubs, aqui do RJ. E, dentro disso tudo, uma coisa é certa: as frequências GRAVES (cortesia do nosso Dj Castro) dominam o ambiente. E, sempre, independente do lugar que estivermos, no planeta, costumamos encerrar nossas apresentações com uma homenagem feita de coração, ao mestre dos mestres, Dorival Caymmi.
É uma formação bem inusitada, a do BNegão Trio. Surgiu naturalmente ou foi algo pensado para ser exatamente assim? Por que trompete especificamente – e não flauta ou sax, por exemplo?
BN: Surgiu naturalmente. Na verdade, o trio remete ao início dos Seletores de Frequencia: quando eu tive a idéia de fazer o meu trabalho solo (que depois acabou virando uma banda, da qual eu sou o líder), ele começou comigo e com o Kalunga (baixista dos Seletores, nessa época, como MC),e um dj convidado, no caso o Negralha (que toca com os meus irmãos d'O Rappa). Essa foi a formação do primeiro show. Quando rolou o convite pro segundo, já pensei no Pedro (Selector), pra somar, pela versatilidade e estilo que muito me agrada. A gente já tinha tocado junto na formação final do Funk Fuckers. Depois disso, à cada show, foi entrando um integrante, até a banda se formar por si só, sem uma idéia pré-concebida. O Trio é meio que essa raiz dos Seletores.
Foi um intervalo bem longo entre seu primeiro e seu segundo álbum. Ainda assim, sei que vc não para de trabalhar com outros artistas e projetos (aliás, sensacional seu trabalho com os Autoramas). Para quando podemos esperar um novo álbum seu com os Seletores? Há alguma previsão?
BN: O intervalo entre um disco e outro foi longo, mas a nossa caminhada é muito singular, realmente fora dos padrões: Lançamos o "Enxugando Gelo" em novembro de 2003, daí começamos à fazer vários shows médios e grandes na Europa, sendo o ponto alto, uma apresentação (retumbante) no Roskilde Festival de 2006, na Dinamarca. Neste mesmo ano, o disco começou à pegar aqui no Brasil (!), o que nos fez ficar por aqui mesmo, fazendo shows incessantes,sendo que o auge dessa fase foi o nosso show no Festival SWU, em 2010! Daí lançamos o "Sintoniza Lá" no segundo semestre de 2012,e estamos preparando o segundo videoclipe desse disco (da faixa "Essa É Pra Tocar no Baile" ) apenas agora, uma coisa completamente fora do que são as regras do "mercado fonográfico". Dito isso, te escrevo que sim, é muito provável que lançemos um disco novo, no ano que vem. Estamos preparando um disco de música instrumental também...enfim: aguardem as cenas dos próximos capítulos.
Ainda nessa questão: para um artista dinâmico como vc, gravar álbuns ainda é uma prioridade? Ou é mais uma formalidade para vender shows?
BN: Eu não entendo muito essa questão de não se fazer mais discos. Eu amo esse formato,e o nosso público também. Nós temos idéias e estofo pra fazer um trabalho desses, que são quadros daquele momento específico da vida, da nossa visão particular do mundo.Eu gosto dessa idéia de ter uma sequencia de músicas, uma arte visual e tudo mais. Acho que isso define um trabalho. Sobre a questão de marcar shows ou não, existem sim alguns poucos lugares que ainda estão atrelados à essa questão de só fazer shows à partir dos discos novos, mas a maioria independe disso. A questão principal é sempre se o público comparecerá, ou não. E, no nosso caso, o pessoal costuma sempre chegar juntis.