Visita: O 2+ O Rock Loco vai ao ensaio da Maglore e encontra um cantor de ressaca e uma banda em ascensão
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Teago, Dieder e Damatti. Fotos (péssimas, eu sei): Franchico / Rock Loco |
É o fim da tarde de segunda-feira, 27 de janeiro último, e Teago Oliveira curte uma ressaca.
De óculos escuros e parecendo ainda mais pálido do que de costume, o compositor e cantor da banda Maglore é "entregue" pelo baterista, Felipe Dieder: “Foi uma cachaça aí na casa do meu pai”, conta o rapaz.
“Só que isso foi no sábado – e o cara tá de ressaca até hoje!”, admira-se.
Mas não há tempo a perder. O trio, completado pelo baixista Rodrigo Damatti, acaba de chegar ao estúdio aonde costuma ensaiar, o Caverna do Som, na Boca do Rio, e o relógio já está contando.
Motivados por três shows bem próximos na agenda – um em Brasília no domingo (2) e dois em Salvador (veja serviço abaixo) –, instrumentos são plugados e a bateria é armada.
“Olha só, o show em Brasília é de uma hora e meia, então vamos desenferrujar umas músicas, né?”, convida Teago.
Residente em São Paulo, a banda passa a estação em Salvador, aonde promove a temporada Verão Maglore Convida, que já teve dois shows (com as bandas Suinga e Pirigulino Babilake) e ainda terá mais dois, com Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta e Cascadura.
“Está bem legal essa temporada”, conta Dieder. “Tínhamos receio de uma queda de público, já que são shows semanais, mas não foi o que aconteceu”, diz.
“Com Cascadura e Ronei, eu acho que a tendência é aumentar a frequência do público“, aposta Rodrigo Damatti.
“O que eu queria era fazer um show de graça, aberto, tipo no Mercadão (do Peixe do Rio Vermelho)”, suspira Teago.
“Aí a gente ia medir mesmo o nosso público. Nem todos podem pagar ingressos, voltar de madrugada pra casa”, diz.
“Seria massa, mas isso é difícil pra caramba de bancar”, pesa Felipe Dieder.
Teago lembra o show do Verão Coca-Cola no ano passado: “Aquilo foi incrível. Oito mil pessoas cantando junto, mais alto que o PA (amplificadores). Nessas ocasiões é que se vê o tamanho de um artista”.
“Mas é isso. Após o Carnaval voltamos a São Paulo. E no segundo semestre já vamos iniciar a produção do 3º álbum”, avisa Teago.
"Na verdade, até ficamos em dúvida um pouco se deveríamos trabalhar mais o Vamos Pra Rua ou se partíamos para o terceiro disco", pesa Dieder.
"Por mim, gravo um disco por ano", afirma Teago. "Na verdade, vamos gravar dez discos e depois se matar", brinca.
Processo em curso
O repórter pergunta se é a primeira vez que eles vão tocar em Brasília. “Não, já tocamos no Móveis Convida (da banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju). Fizemos Goiânia e Anápolis também”, conta Damatti.
Com dois álbuns na bagagem, elogios na imprensa nacional e shows por todo o Brasil, a Maglore segue firme em seu processo de profissionalização e conquista de público.
Alguns dos seus vídeos no You Tube já contam visualizações na casa das centenas de milhares, enquanto a MTV aponta a banda como “Aposta para 2014”.
(O clipe mais recente, Espelho de Banheiro, acaba de ser liberado no You Tube. Veja logo abaixo).
Na verdade, desde o primeiro álbum, Veroz, de 2011, a imprensa nacional reparou no então quarteto, com o jornal O Globo apontando a banda como uma das “Revelações do Ano”.
De lá para cá, evoluíram em um segundo álbum claramente superior ao primeiro, Vamos Pra Rua (2013), que contou até com a bênção de Carlinhos Brown, que canta em dueto com Teago na faixa Quero Agorá.
Agora, Teago se curva para mexer na pedaleira. Quando se levanta, o faz gemendo – dor de cabeça. Irmão Carlos, o dono do estúdio, ri e sugere que ele beba mais para matar a ressaca.
“E aí, passamos o repertório todo?”, pergunta Dieder.
“Vamos começar com Debaixo de Chuva?”, sugere Damatti.
“Porra, começar com essa, de ressaca, é pedir para me matar. Mas vamos”, assente Teago.
Músicos concentrados, Damatti chama a canção e logo ela toma conta do estúdio gelado.
Na Caverna do Som, pode-se perceber como a estrada deixou a banda afiada, entrosada, segura de si. Sem
virtuoses, apenas a soma de três talentos individuais, formado um conjunto harmonioso.
É um agradável fim de tarde na Boca do Rio.
Influência óbvia de Los Hermanos começa a dar lugar à identidade própria
Quando surgiu, a Maglore era meio que ame-a ou deixe-a.
O critério para adotar o amor ou o desprezo pela banda era bem claro: se você gosta de Los Hermanos, vai gostar da Maglore. Se não gosta... bem...
A influência dos barbudos cariocas, por demais evidente na produção inicial da banda (registrada no primeiro CD, Veroz) veio se diluindo.
E agora, apesar de anda estar lá – até por que abandona-la seria como pedir ao Oasis que deixasse sua influência dos Beatles de lado – já soa como mais um elemento no som do grupo, e não como sua razão de ser.
Um sinal desse passo rumo a uma identidade artística própria é a forma à vontade com que os próprios meninos falam do assunto.
“Esse som mais próximo da MPB é uma vertente. Por que não podemos fazer também? É como se alguém perguntasse: só João Gilberto pode fazer bossa nova”, reflete Damatti.
“Teve uma época que era quase uma vergonha dizer que gostava de Los Hermanos. Hoje eu já superei isso. Dane-se, gosto mesmo. A verdade é a seguinte: a gente gosta das mesmas coisas que eles gostam: MPB e New Weird (artistas americanos Animal Collective, Grizzly Bear e Devendra Banhart, entre outros)”, reivindica Teago.
“E depois, se Marcelo Camelo não é um bom compositor, quem é? Mas é isso, você precisa de obra, um corpo de trabalhos lançados para estabelecer sua identidade”, conclui.
Verão Maglore convida / Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta
(sábado) / Cascadura (dia 14) / Portela Café, 22 horas / R$ 25 (na
hora) e R$ 20 (antecipado no Portela ou Companhia da Pizza) / Ouça: www.maglore.com.br
Matéria publicada antes no Caderno 2+ do jornal A Tarde.