segunda-feira, julho 01, 2013

MEMÓRIAS RANDÔMICAS DA ERA DISCO


Ideias e tendências são um troço engraçado. Elas costumam (na falta de termo melhor) pairar por aí, ao alcance das antenas de alguns poucos visionários privilegiados.

Aqui no Brasil, outro dia mesmo, Ed Motta se saiu com um novo álbum (AOR) em que recupera sons do fim dos anos 1970 / início dos 80.

Eis que, de lá de fora, lá vem o duo francês Daft Punk fazer mais ou menos o mesmo com o seu novo disco, Random Access Memories.

Lançado no mercado internacional no último dia 17, o álbum caiu como uma bomba para público e crítica. De cara, estreou no topo das vendagens de discos em nada menos que 22 países.

A crítica especializada caiu de joelhos. Classificações como “nota 10” ou “cinco estrelas” são comuns na imprensa internacional.

E a razão para tamanho sucesso de público e crítica é muito simples: o disco é danado de bom, mesmo.

OK, nada aqui é, assim, original, mas o que é hoje em dia? Basicamente, o que o duo formado por Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo fez foi resgatar e retrabalhar, com muita propriedade e criatividade, diversas sonoridades e estilos daquela época citada lá no início deste texto.

Escaldados pelas críticas mornas recebidas pelos seus dois últimos álbuns – Human After All (2005) e a trilha do filme Tron: Legacy (2010) –, acusados de serem meio frios, eletrônicos demais, os franceses resolveram deixar a robótica de lado (exceto pelos famosos capacetes) e investir em músicos de carne e osso para as gravações do seu quinto álbum de estúdio.

Mestres da disco recuperados

Decisão acertadíssima. Mestres na ambientação da pista de dança, Bangalter e Homem-Christo abriram mão dos samplers e ativaram sua máquina do tempo em busca de inspiração.

Lá no passado estavam os dois nomes fundamentais da disco music: o produtor italiano Giorgio Moroder e o guitarrista norte-americano Nile Rodgers.

O primeiro formatou a disco ao processar Kraftwerk e James Brown no liquidificador, resultando nos hits de Donna Summer, Sparks, Bonnie Tyler, etc.

Já Rodgers é o guitarrista (e band leader) do Chic, certamente a melhor banda disco de todos os tempos.

Do primeiro, eles gravaram um depoimento, que usaram ao longo da faixa Giorgio By Moroder. Em seus nove gloriosos minutos, ouvimos, na verdade, dois depoimentos: o verbal, de Giorgio, e o musical, da banda.

O resultado é uma emocionante homenagem ao mago da disco, que soa como uma suíte em quatro movimentos, cada um mais intenso e pesado do que o anterior.

Já Nile Rodgers foi aproveitado fazendo o que sabe fazer melhor: tocando guitarra em três faixas: a abertura arrasadora de Give Life Back to Music, Lose Yourself to Dance e Get Lucky. Nas duas últimas os vocais ficam por conta de outro convidado de primeira linha: Pharrel Williams, produtor e cantor muito requisitado no meio R&B.

Só essas quatro faixas com Moroder, Rodgers e Williams já valem o disco – na verdade, são mesmo seus melhores momentos.

É nas faixas restantes que as possíveis falhas de Random Access Memories se evidenciam. Há um  abuso do vocoder (voice encoder, aparelho que dá  tom robótico às vozes) em The Game of Love e na interminável introdução de Touch.

Especialmente na última, cantada pelo veterano ator / cantor Paul Williams – que, quando parece que vai engrenar ali pelos três minutos e meio, cai de novo.

Instant Crush, com Julian Casablancas, é um bom momento, mas não empolga. Já Beyond, abertura orquestrada, bate um bolão.

Tudo fecha em tom grandiloquente, em Contact. Um grande disco para uma época nem tanto. Talvez daí tanta aclamação.

Daft Punk: Random Access Memories  / Columbia -  Sony Music  / CD Nacional: R$ 29,90  / CD importado: R$ 74,90 / LP importado: R$ 159,90


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