Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
Membro de uma verdadeira reserva ecológica de talentos (o grupo do Encontro de Compositores do Teatro Vila Velha), o soteropolitano Kalu (foto: Lívia Cunha) se traduz em uma grata surpresa no seu primeiro disco, Amaralina.
Lançado com show no Pelourinho há coisa de duas semanas, o CD é um primor em vários sentidos.
Da produção sempre caprichada de andré t. ao lindo projeto gráfico de Duardo Costa (sim, o ex-Vendo 147 é artista visual) – sem esquecer, claro, do principal: as canções belas e quase sempre maduras de Kalu.
Engana-se, porém, quem acha que o rapaz nasceu ontem. Aos 27 anos, ele está na estrada da música local desde os 16. É ex-membro dos grupos Clube da Malandragem e Forró da Gota. Com Amaralina, lança-se solo.
“Já fiz muito som de baile pela noite. Agora é a hora de ouvirem meu trabalho”, afirma Kalu.
“O repertório do CD é um apanhado de composições que venho fazendo ao longo dos anos. Tem coisa de 2008 até 2012”, detalha o músico.
“Sou poeta”
Brasileiro contemporâneo, o som de Kalu passeia do ijexá ao rock, passando pelo samba, reggae e outros ritmos.
Ouvindo Amaralina, a influência de Lenine fica meio evidente aqui e ali.
“Ele é uma influência, mesmo. Não pretendo negar isso. Aliás, eu mesmo vejo bem isso nas faixas Cantora de Banheiro e A Cura”, admite, honesto.
“Mas também tem Gil, Caetano, Gonzaguinha, Chico Buarque, os caras que ensinaram a incluir poesia na letra”, diz.
“Sou poeta também. Eu sei que soa estranho dizer isso, ‘sou poeta’, mas eu escrevo poemas. Então meu contato com a poesia veio através desses caras, pelo trato poético. Além daqueles que seguiram essa tradição, como o próprio Lenine, Chico César e Zeca Baleiro”, detalha.
Cronista social, letrista sensível, bom cantor, músico de responsa: Kalu é mais um daqueles talentos surpreendentes que a Bahia produz e costuma não dar a mínima – é que o rapaz não manda ninguém sair do chão.
“Acho que isso tem mudado aos poucos. O público tem crescido. Hoje você vai no show da Baiana System e vê roqueiros do Rio Vermelho e público do Bahia Cafe Hall. Mas sim, claro, Salvador ainda é um lugar com muitas limitações para a música não-comercial”, conclui.
Hoje! Alex Pochat! & Os Cinco Elementos! (Que na verdade são uns seis ou sete)! Grátis! Porra!
O colunista blogueiro não mente: Alex Pochat & Os Cinco Elementos (foto Jenny Morales) é um dos preferidos da casa. Sério, o cara e sua banda de feras fazem um super show. Experimente hoje, 21 horas, no Largo Quincas Berro D’Água. Grátis.
Swagger night! Ô, ô!
O melhor da moderna black music local está na festa Swagger. Se liga: Soraia Drummond (reggae, dub), Laz Paz (rap), Manospreto (reggae roots) e DJ Nai Sena. Casa da Águia (antiga Zauber), 22 horas, R$ 15.
Les 'furieux' Royales
O rock ‘n’ roll primitivo e furioso dos Les Royales faz a Rockabilly Sessions hoje, no Dubliner’s Irish Pub. DJs BigBross e Bruno Aziz nas pick-ups. 22 horas, R$ 15 ou R$ 10 (pela lista rockabillysessions@gmail.com).
Há cinco anos, fãs de quadrinhos soltavam fogos: a cidade finalmente tinha uma comic shop.
Mal sabiam eles que a RV Cultura & Arte, o estabelecimento em questão, tinha planos muito mais abrangentes do que vender gibis aos nerds locais.
À esta atividade, Larissa Martina e Ilan Iglesias, dupla responsável pela RV, adicionou uma intensa agenda de mostras e atividades na área das artes visuais, especialmente de artistas novos que dialogam com linguagens como grafite, HQ, tatuagem, impressos e outras.
Na tarde deste sábado, a RV espera receber habitués e novos amigos para comemorar a trajetória.
Na ocasião, lançarão uma série de serigrafias de artistas locais com os quais trabalham: Pablo Cordier, Rômolo (imagem ao lado), João Oliveira e Túlio Carapiá.
“Fizemos trinta cópias de cada, numeradas e assinadas. Sai por R$ 80 cada. Trabalhamos com serigrafias justamente para atrair uma galera mais jovem que quer colecionar arte, mas acha que é caro. Por ser um produto em série, uma serigrafia é mais acessível”, conta Larissa Martina.
Desde que abriu as portas em 2008, a RV já abrigou mais de uma dezena de mostras (entre individuais e coletivas), lançamentos de HQs e tardes de autógrafos, fundou um selo editorial e já tem uma agenda de eventos até dezembro.
E justamente em dezembro, a RV deixa sede da Rua do Barro Vermelho e passa para uma outra: “Vamos para um prédio que está sendo construído. Um lugar bem maior, com tudo interligado: galeria, comic shop, livraria, auditório e espaço para workshop. A mostra de abertura será do Ígor Souza, nosso primeiro artista, a quem representamos desde 2008”, revela.
Pode visitar sem comprar
Mas daqui até dezembro, muita tinta ainda vai rolar. “Em maio teremos uma individual do Pedro Marighella. Já em julho, coletiva do Burt Sun, Bel Borba e André Constantini”, adianta.
“Vamos trazer um pouco do novo trabalho dos três artistas, que mistura intervenção urbana, fotografia e vídeo. Teremos o filme que foi exibido no telão Jumbotron da Times Square de Nova York no ano passado, mais alguns frames selecionados”, conta a galerista.
A programação não para por aí: “Em agosto, individual do gravurista Nestor Jr. Em outubro, individual de Davi Caramelo com um trabalho de colagens. Finalmente, em novembro João Oliveira vem mostrar seus trabalhos de calcografia, ou seja, gravura em metal”, conta.
Jovem e articuladíssima, a dupla Larissa e Ilan não olha só para o mercado local. Em agosto do ano passado, marcaram presença no Salão de Arte, importante feira realizada no Clube A Hebraica, em São Paulo.
“Isso foi bem legal. Ficamos numa área de arte contemporânea e vendemos várias peças. As pessoas super gostaram dos artistas que representamos. Elas nem imaginavam que aqui tem uma arte contemporânea jovem, interessante e com essa pegada autoral forte”, relata.
As peças criadas com fogo de espadas (da mostra Correndo o Risco) do artista Zé de Rocha (foto ao lado), foram especialmente apreciadas.
“As pessoas ficaram enlouquecidas por que não entendiam aquele trabalho com as espadas”, conta Larissa.
Possivelmente a única galeria da cidade a dialogar com um público mais jovem, a RV espera desmitificar “a coisa do ‘cubo branco’, ensimesmado e cheio de obras inacessíveis”, define.
“Esses impressos e serigrafias são para mostrar ao público que podem vir só para visitar. Dá pra comprar também, mas venham conhecer. Isso é muito importante no estabelecimento de um mercado”, conclui Larissa.
5 anos da RV Cultura & Arte / Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho / Tel.: 3347-4929 / Sábado, das 14 às 18 horas / http://rvculturaearte.com/
Em um tijolaço de quase 900 páginas (Shakespeare: A Invenção do Humano), o erudito Harold Bloom defende que o bardo inglês não apenas representou, mas “inventou” o homem.
Se a teoria procede ou não, cabe à crítica acadêmica discutir.
Com duas novas adaptações para HQ de suas peças chegando às prateleiras, o bom mesmo seria que elas “inventassem” mais e novos leitores para o gênio de Stratford-upon-Avon.
Ainda que partam da mesma fonte, são duas adaptações de estilos bem diferentes.
Hamlet de William Shakespeare é uma adaptação brasileira para o célebre périplo do príncipe dinamarquês atormentado pelo assassinato do seu pai, um certo complexo de Édipo e a eterna dúvida entre “ser ou não ser”.
Já A Tempestade é o quarto volume da coleção Mangá Shakespeare, que, como o nome indica, traz as tramas do inglês vertidas para a estética dos modernos quadrinhos japoneses.
Desenhos primorosos
Curiosamente, a adaptação brasileira para Hamlet aparenta mais fidelidade à estética clássica da peça original do que a linguagem de mangá foi capaz de conceder à Tempestade.
O principal responsável pelo feito é o desenhista paulista Alex Shibao.
A arte que ele entrega em Hamlet é simplesmente de encher os olhos.
Extremamente elegantes, seus desenhos misturam a atmosfera medieval típica da peça com referências do século 19 em uniformes militares e acessórios – estética provavelmente pescada da subestimada adaptação cinematográfica de Kenneth Branagh, lançada em 1996.
A adaptação, a cargo do experiente roteirista Wellington Srbek (Estórias Gerais), partiu do texto original, traduzido por ele mesmo – algo temerário em se tratando de Shakespeare.
Aparentemente, o rapaz deu conta da tarefa, sem deslizes - descontados os necessários cortes para a adaptação em HQ.
O resultado é um álbum primoroso, ideal para, quem sabe, seduzir jovens leitores.
Mangá britânico
Tarefa igualmente árdua cabe à adaptação mangá de A Tempestade.
A trama tardia de Shakespeare (acredita-se que foi sua última peça) é também uma de suas obras mais fantasiosas, tendo entre os personagens feiticeiros, espíritos errantes e criaturas bestiais.
Ambientada em uma ilha remota, toda a história gira em torno de Próspero, um ex-duque de Milão versado em artes ocultas que prepara uma engenhosa armadilha para aqueles que o traíram, fazendo-o cair em desgraça e subsequente exílio.
Apesar da estética mangá escolhida para esta adaptação, ela não é japonesa, mas tão britânica quanto o próprio William, já que a toda a coleção Mangá Shakespeare é original da editora inglesa Self Made Hero.
De alguma forma, a coisa toda faz sentido.
A Tempestade, uma peça de desenvolvimento ágil e intrincado, se presta muito bem à ligeireza da estética do mangá, com suas muitas linhas de movimento e enquadramentos arrojados.
Comparar os desenhos de Paul Duffield de A Tempestade aos de Shibao para Hamlet seria injusto.
O que se pode dizer é que, em comparação a outros mangakás, Duffield é um artista mediano, que dá conta do recado.
Em uma nota introdutória, Bueno garante ter preservado “fidelidade formal absoluta aos originais, ou seja, o que é verso foi traduzido em verso, os trechos em prosa foram traduzidos em prosa, e quando havia rima esta sempre foi mantida”.
Adaptações bem cuidadas, Hamlet e A Tempestade mantém vivo o espírito de Shakespeare para as novas gerações.
Hamlet de William Shakespeare / Wellington Srbek e Alex Shibao / Nemo / 80 p. / R$ 42 / www.editoranemo.com.br Mangá Shakespeare: A Tempestade / Richard Appignanesi (adaptação), Paul Duffield (desenhos), Alexei Bueno (tradução) / Galera Record / 216 p. / R$ 24, 90 / www.galerarecord.com.br
O I Festival Habemus Rock chega ao seu último dia nesta sexta-feira, com as bandas locais Falsos Modernos e Gepetto (ambas já vistas por aqui) e uma visitante, a conquistense Na Terra de Oz (ao lado, em foto de Cristiane Alves).
Oriunda de uma das cenas roqueiras mais ativas do interior da Bahia, o quinteto é sanguinho novo que dá gosto.
Fundada no finalzinho de 2011, já conta com um EP razoavelmente bem gravado com seis faixas. Esta será sua primeira viagem “grande” para fazer um show.
“Já tocamos em Poções, mas é bem aqui do lado, só uma hora de viagem daqui de Vitória da Conquista”, conta o vocalista, Marcus Vinicius, por telefone.
“Estamos na expectativa desse show em Salvador. Vai saber, um show na capital pode até definir o rumo da banda”, acredita o rapaz.
Ele conta que a banda começou pela iniciativa de Breno Mota (bateria) e Rafael (guitarra e voz).
“Eles eram colegas de cursinho e queriam montar uma banda. Eu conhecia os caras da rua, mesmo. Aí um dia chegaram pra mim e disseram que eu tinha ‘cara’ de banda de rock. Me chamaram pra um teste e foi isso”, relata Marcus.
Os outros habitantes Na Terra de Oz são a guitarrista Maiêeh Sousa e o baixista Beto.
“Como cada um tinha influências muito diferentes entre si, tinha muita briga. Aí decidimos tocar covers e começar a compor, para ter músicas próprias”, conta.
Influência, promessa
Ouvintes mais familiarizados com o rock baiano poderão detectar semelhanças evidentes no som da Na Terra de Oz com a soteropolitana Canto dos Malditos na Terra do Nunca.
A começar pelo nome, passando pelas letras atormentadas e terminando no jeitão de cantar do vocalista, visivelmente influenciado por Andréa Martins.
Nada que desabone uma banda em início de carreira e ainda em busca de identidade própria, é bom acrescentar.
O EP Louca Sem Destino contém seis faixas e alguma promessa, especialmente no bom diálogo entre as guitarras.No show, o CD sai por módicos R$ 10. Experimente.
Habemus Rock / Com Na Terra de Oz (Vitória da Conquista), Gepetto e Falsos Modernos / Sunshine (Rua Guedes Cabral, 20, Rio Vermelho) / Sexta-feira, 21 horas / R$ 15 (R$ 10 até 23 horas)
Manu no shopping A cantora Manuela Rodrigues (ao lado, em foto sem crédito retirada do seu site) faz pocket show de
voz e piano na Livraria Saraiva (Salvador Shopping), com bate-papo.
Quinta-feira, 19 horas, gratuito (são só 40 lugares, então chegue cedo).
Radiola gratuita hoje Em grande fase, a banda Radiola faz show gratuito no Largo Tereza Batista (Pelourinho), hoje, às 21 horas. Perguntar não ofende: isso não é meio tarde para um dia de semana, não?
Suinga com hermano Também no Pelourinho, também hoje, gratuito e no mesmo horário, a Suinga se apresenta no Largo Quincas Berro D'agua. Participação de um certo Onôfre, O Argentino do Arrocha.
Senhores passageiros O evento semanal Trans_port - Intervenção Sonora de Música Eletrônica Avant-Garde segue conduzindo seus adeptos por paisagens incomuns e insuspeitas. Senhores passageiros, queiram embarcar hoje, a partir das 20 horas no Dubliner’s. O bilhete é gratuito.
Remanescentes dos anos 90 mantém espírito de época
Primeiro
CD do Smash Mouth em seis anos, Magic mantém intacta a grande
característica da banda, que é o clima de festa na praia. Em Justin
Bieber, tiram onda com ídolos passageiros. Perfect Planet é um ótimo
single. E de quebra, atualizam o hino Don’t You (Forget About Me), do
Simple Minds, celebrizado no clássico filme de 1985, O Clube dos Cinco (The Breakfast Club), do saudoso John Hughes). Diversão descompromissada. Smash Mouth / Magic / Lab 344 / R$ 29,90
Faça este favor a si mesmo
Clichês não existem por acaso. Então, isto aqui não se chama “música
clássica” por que serve só para ouvir. Isto aqui eleva espíritos,
estimula a civilidade, conecta coração e mente e gera seres humanos
melhores. Nada que porcarias como Facebook, futebol ou automóveis sejam capazes. Em tempo: esta é a pianista portuguesa Maria João Pires, em suas sempre elogiadíssimas interpretações das sonatas do compositor austríaco Franz Schubert (1797-1828). Maria João Pires / Schubert / Universal / R$ 37,90
Yop City em HQ e nas telas
Na segunda parte desta encantadora HQ da marfinense Marguerite Abouet, Adjoua, melhor amiga de Aya, engravida. O filho, porém, não se parece em nada com o pai. Bintou se apaixona por um francês de férias. E Aya se prepara para o concurso Miss Yopougon. São histórias de três amigas adolescentes na Costa do Marfim dos anos 1970, sempre em torno do bairro de Yopougon, ou Yop City, como é também conhecido. A HQ fez tanto sucesso na França que já virou um longa-metragem animado. Lindos desenhos de Clement Oubrerie. Aya de Yopougon vol. 2 / Marguerite Abouet e Clément Oubrerie / L&PM / 128 p. / R$ 42 / www.lpm.com.br
Cidade santa, conflitos mundanos
A milenar cidade-sede de três religiões ancestrais tem sua saga contada neste livro de fôlego do jornalista norte-americano James Carroll. Ainda que acessível aos leigos, a narrativa cruza disciplinas como história, ciência política, relações internacionais e paleoantropologia para melhor expor a Cidade Santa. Jerusalém, Jerusalém / James Carroll / Cultrix / 464 p. / R$ 58 / www.pensamento-cultrix.com.br
Erudito ao mar
O pianista Daniel Maudonnet mistura jazz, música brasileira e erudita neste belo manifesto de música pura e sem concessões. Vai Que Eu Vou é samba para o cérebro. E Suíte do Pescador vale por um filme – ora épico, ora intimista. Daniel Maudonnet Noneto / Pescador / Independente / R$ 20 / www.danielmaudonnet.com.br
Rapeize do hype
Terceiro álbum da banda indie britânica, queridinha da rapaziada muderna. Até que começa bem, com três faixas fortes de abertura, calcadas nas guitarras The Edge-style a permear o disco. Mas vai perdendo o fôlego na segunda metade. Precisa mais feijão. Foals / Holy Fire / Warner / R$ 34,90
Folias medievais
Coletânea das HQs do mago picareta Vostradeis, criado por Fernando Gonsales (Níquel Náusea), originalmente publicadas nos anos 1980. Ótimo trabalho do quadrinista veterano, com destaque para a forma inteligente com que brincava com os clichês medievais. Grande Gonsales. Vostradeis: O Mago, o Mito, o Picareta / Fernando Gonsales / Devir / 112 p. / R$ 52,50 / www.devir.com.br
Dicas rapidinhas
A primeira parte da tríade “sexo, drogas & rock ‘n’ roll” é escancarada neste livro-confessionário em que vários rockeiros, mais ou menos famosos, falam de suas preferências, práticas e estratégias para faturar – e depois se livrar, claro – o maior número possível de groupies. Educativo - especialmente para as groupies. Dicas de Sexo de Astros do Rock / Paul Miles / BestSeller/ 272 p./ R$ 39,90/ record.com.br
Em vez de dar dinheiro pra pastor analfabeto, leia isto
Alain de Botton, o filósofo-pop, oferece neste livro uma saudável alternativa às religiões, futebol, consumismo e demais válvulas de escape. Descomplicado, ele receita Sêneca para consolar a falta de dinheiro, Schopenhauer para desilusões amorosas, Nietzsche para dificuldades em geral etc. As Consolações da Filosofia / Alain de Botton / L&PM/ 320 p. / R$ 22 / www.lpm.com.br
Os primórdios de Guilherme
Digam o que quiserem de Guilherme Arantes, mas não dá pra negar: ele abria o peito e cantava sobre o que bem lhe convinha: a cidade (Coração Paulista), tédio (S.O.S.), ditadura (Fantoches) etc. Este LP de 1980 é bom exemplo de sua produção menos comercial. Guilherme Arantes / Coração Paulista / Warner / R$ 24,90
Abalos sísmicos poderão ser sentidos na Cidade Baixa na noite desta sexta-feira. Mas não há motivos para alarme.
O fenômeno será resultado da passagem do power trio alemão Sodom, que estará se apresentando no Cais Dourado.
Quem ainda não conhece, mas se liga em som pesado, vale a dica: a oportunidade é de ouro.
O Sodom, ao lado dos contemporâneos Kreator e Destruction, forma uma espécie de “triunvirato sagrado” do thrash metal alemão. Juntas, as três criaram os fundamentos dos estilos thrash, death e speed.
“Quando eu era moleque nos anos 1980, tinha quatro músicas que até pela simplicidade, o cara que queria aprender a tocar thrash metal, tinha que dominar”, conta Vladimir Sena, o Lord Vlad, da Malefactor.
“Paranoid do Black Sabbath, Troops of Doom do Sepultura, Nightmare do Sarcófago e Outbreak of Evil, do Sodom”, enumera Vlad.
O músico baiano não só é um dos produtores responsáveis pela vinda dos gringos, mas também abrirá a noite com sua banda, que está prestes a lançar um novo CD, Anvil of Crom.
Não é o primeiro show internacional que Vlad traz a Salvador. No dia 25 de janeiro último, a já citada Destruction se apresentou em uma casa de forró (!), em Patamares.
“Me associei com duas produtoras de Recife e uma daqui, a Black Order. Ma já trabalhava com produção na época da Maniac (loja / reduto do heavy metal local, já extinta)”, conta.
“Aí, ele (João Carlos, proprietário da Maniac) começou a fazer shows de médio porte. Fui pegando know how. Fiz o Destruction, deu certo. Agora pintou a oportunidade de trazer o Sodom, que é do mesmo empresário”, relata Vlad.
Fuga das minas de carvão
Desta vez, Vlad espera um pouco mais de atenção para o evento. “O Destruction deu 800 pessoas, é um clássico. Mas nem a TVE foi lá”, reclama.
“Essas bandas alemãs são fundamentais para o que veio a se tornar o death, o thrash, o black metal desde os anos 1980. De lá, chegou aos Estados Unidos e à América Latina, influenciando todo mundo: Sepultura, Headhunter, Krisium e minha banda também”, cita Vlad.
“É uma escola mais próxima do Motörhead, com um som mais veloz, sem baladinha nem vocais limpos. Não é melodioso como o Metallica”, defende.
Original de Gelsenkirchen (do estado da Renânia do Norte-Vestfália), cidade cuja base da economia é o minério de carvão, o Sodom foi fundado em 1981.
Sua formação atual é Tom Angelripper Such (baixo e vocais), Bernd Bernemann Kost (guitarra) e Markus Makka Freiwald (bateria).
Angelripper é o único membro original. Consta que teria fundado a banda justamente para tentar escapar do destino comum a todos os jovens de origem pobre da sua cidade, que era arrebentar as costas nas minas de carvão.
Desde então, o trio já teve diversas formações e gravou 14 álbuns cheios. In the Sign of Evil (1984), Persecution Mania (1987) e Agent Orange (1989) são considerados clássicos.
Epitome of Torture (2013), o mais recente, sai dez dias após o show em Salvador. “Estamos produzindo com dinheiro do bolso. Temos outros shows internacionais em vista, mas por enquanto não podemos divulgar nomes. Estamos fazendo para movimentar a cena, por que o lucro é ínfimo”, conclui Vlad.
Além do trio alemão, a noite terá a banda local Malefactor e Decomposed God, de Recife (PE), banda contemporânea da Malefactor e que também se apresenta em Salvador pela primeira vez.
Sodom, Malefactor e Decomposed God / sexta-feira (19), 20 horas / Cais Dourado (Avenida Jequitaia, 102, Comércio) / 2º Lote: R$ 80, 3º Lote: R$ 90, camarote: R$ 100 / Vendas: Foxtrot e Ticketbrasil / 16 anos
O rock não é nem jamais deve ser visto como uma religião. Ainda assim, não lhe faltam “santuários” e locais de “peregrinação” ao redor do mundo – alguns deles são até secretos, acessíveis apenas a membros do alto clero roqueiro e estudiosos da história do gênero.
O estúdio de gravação Sound City, no distrito de Van Nuys (Los Angeles, Califórnia), era um desses lugares.
O verbo vai no pretérito por uma razão simples: depois do recém-lançado documentário Sound City, dirigido por Dave Grohl, multidões de fiéis perigam invadir este verdadeiro templo sônico.
Fundado em 1969, o Sound City foi palco da gravação de inúmeros álbuns considerados clássicos dentro da história do rock.
No filme, Grohl e dezenas de entrevistados reiteram a qualidade da acústica do local – algo espantoso, dado o mal estado de suas instalações, sujas e beirando o cacete armado.
Uma explicação possível é que, antes da instalação do estúdio, o endereço abrigava uma planta de produção do fabricante de caixas de som Vox.
Legendas reveladoras
Típico projeto de Grohl, Sound City é uma carta de amor ao som analógico e ao que ele chama de “integridade do rock ‘n’ roll”, além de uma reunião e tanto de músicos, produtores e funcionários que passaram por lá.
Entre os muitos clássicos gravados na sua fase inicial, estão After the Gold Rush (Neil Young), Gumbo (Dr. John), Fleetwood Mac (idem), Heaven Tonight (Cheap Trick) e Damn the Torpedos (Tom Petty).
Grohl resolveu fazer o documentário depois que soube que o estúdio estava fechando suas portas, em maio de 2011.
Comprou sua lendária mesa de som Neve 8028, da qual só existem outras três no mundo e foi atrás do seu criador, o engenheiro de som Rupert Neve.
A cena em que ele entrevista Neve, um senhor aparentando 80 anos, é hilariante. Enquanto o veterano engenheiro se perde em detalhes técnicos incompreensíveis, Grohl faz cara de quem está entendendo tudo.
Ao mesmo tempo, legendas mostram o que ele está pensando: “Cara, do que ele está falando? Não tô entendendo nada. Pô, eu fugi da escola”.
Queda de Bastilha analógica
Muito dinâmico e ágil, o filme alterna pedaços da história do estúdio ao longo das décadas com inúmeros depoimentos.
Mas é como historiografia da música nos últimos quarenta anos que Sound City impressiona mais.
De estúdio up to date nos anos 1970, o estabelecimento recebeu seu primeiro golpe da indústria logo na primeira metade dos anos 1980, com o advento do compact disc (CD) e do som digital.
Em 1986, um dos principais produtores da casa, Keith Olsen, pediu demissão e abriu seu próprio estúdio, do outro lado da rua. Seu estabelecimento consistia de uma pequena mesa de som e um computador.
Os clientes, que naquela época eram majoritariamente bandas de hard rock poser da cena da Sunset Strip, começaram a escassear. O apogeu da era digital não tardou em chegar.
A queda da Bastilha analógica foi a interrupção da produção das fitas de rolo, o que empurrou todos os últimos resistentes para a gravação digital.
O estúdio estava a ponto de fechar quando, em 1990, um trio de moleques em uma van chegou de Seattle.
Nevermind (1991), o LP arrasa-quarteirão do Nirvana, mudou tudo e salvou o Sound City. Depois dele, todas as bandas alternativas queriam gravar lá.
Abriu-se a cancela para uma nova leva de clássicos, como Rage Against The Machine (Idem), Amorica (The Black Crowes), Unchained (Johnny Cash), Wild Flowers (Tom Petty) Pinkerton (Weezer), Iowa (Slipknot) e The Hunter (Mastodon).
A era digital acabou por enterrar o estúdio 20 anos depois. Com o filme, Dave Grohl prestou seu tributo ao estúdio que mudou sua vida e a história do rock.
O melhor epitáfio veio de Josh Homme: “A era digital é OK, a internet é legal. Mas graças a ela, também não há mais livrarias, não há mais lojas de discos e não há mais Sound City”.
Sound City / Dirigido por Dave Grohl / Com Depoimentos de músicos, produtores e funcionários / RCA - Sony Music / R$ 39,90
Além do documentário, lançado no Brasil em DVD, Grohl chamou uma
constelação de músicos para gravar novas canções no Sound City, como
Paul McCartney, Stevie Nicks, Trent Reznor, Joshua Homme, Rick
Nielsen, Chris Goss, Corey Taylor, o chapa Krist Novoselic, alguns membros do Foo Fighters e outros. Sinceramente, é um disco bacana, tem um puta som, mas as canções soam como rock genérico, sem uma identidade definida. No documentário, as sessões de gravação deste álbum perfazem a parte final do filme e acabam por deixar claro este aspecto. Os convidados de Grohl & Cia chagavam lá, eles testavam alguns riffs, umas levadas elogo começavam a gravar. A sessão de McCartney mesmo não parece ter durado mais que duas horas. O legal é ver as caras de espanto que Grohl e Novoselic fazem um para o outro enquanto velho Macca não está olhando: "Cara, eu tô com gravando com Paul McCartney!!!". Tolinhos. Sound City: Real To Reel / Sony Music / R$ 27,90
ALGUNS CLÁSSICOS GRAVADOS NO SOUND CITY
After the Gold Rush, Neil Young
Lançado em 1970, é o terceiro LP solo do gênio canadense. Parte de suas faixas foi gravada no Sound City. Entre elas o hit When You Dance I Can Really Love. Um LP clássico do country e folk rock
Holy Diver, Dio
Lançado em 1983, consolidou o potente vocalista ítalo- americano Ronnie James Dio como ídolo do heavy metal depois de sair do Black Sabbath. Com um som poderoso de ponta a ponta, os hits são a faixa- título e Rainbow in the Dark
Nevermind, Nirvana
O disco que varreu Michael Jackson e as bandas poser das paradas, salvou o rock – e o Sound City. Grohl conta que nem lembra como a banda chegou a decisão de gravar no estúdio. Uma paulada na orelha, a epítome da angústia adolescente engarrafada
Wild Flowers, Tom Petty
Possivelmente, o melhor disco de Tom Petty, um gênio do rock norte-americano, mas pouco valorizado no Brasil. Produzido por Rick Rubin, tem som cristalino, arranjos certeiros e letras de chorar de tão bonitas. O manifesto sônico da depressão urbana
Unchained, Johnny Cash
Segundo álbum da série American (também produzida por Rubin, que era outro entusiasta do estúdio), traz o pioneiro do country rock em versões inspiradíssimas de Memories Are Made of This (Dean Martin), Rusty Cage (Soundgarden), além de composições próprias do Man in Black
Rated R, Queens of The Stone Age
Lançado em 2000, é o álbum que chamou a atenção do mundo para a banda de Josh Homme e seu então parceiro constante, o baixista Nick Oliveri. Tem como constante um som extremamente grave, ainda que nunca perca um certo sentido pop. Hits: The Lost Art of Keeping a Secret e Feelgood Hit of The Summer.
Referência da música independente baiana desde que surgiu com o premiado álbum Tantas Coisas (1998), a cantora Rebeca Matta (fotos: Tiago Lima) lança hoje À Flor da Pele, seu primeiro DVD da carreira, com um show no Commons Studio Bar.
O vídeo é uma uma bela realização da artista, que não se preocupou em apenas filmar o show – gravado em dezembro de 2011, no Solar Boa Vista.
Há uma preocupação evidente em construir um espetáculo “sinestésico” (capaz de provocar múltiplas sensações).
Para isto, ela lança mão de recursos como video-projeções do VJ Dexter e cenografia, fotografia e direção assinadas pelo artista visual Marcondes Dourado.
No palco, Rebeca é acompanhada por músicos profissionais de primeiro time: Juninho Costa (guitarra), Emanuel Venâncio (bateria), Ricardo Cadinho (baixo) e João Meirelles (programações eletrônicas).
Para completar, convidados igualmente conceituados, como o duo Dois Em Um, o violonista Mario Ulloa, o guitarrista Peu Sousa e o cantor Ronei Jorge. Infelizmente, suas participações so poderão ser vistas no DVD.
Espetáculo sensorial
Exigente, Rebeca se diz satisfeita com o DVD, ainda que “a gente sempre quer mais. Mas se não der um ponto final, passa a vida inteira no mesmo trabalho”, diz.
O ponto mais importante, para ela, é o caráter coletivo da criação da coisa toda: “Consegui atingir a ideia inicial, que era um trabalho com produtores e músicos com os quais tenho relação e admiração. E que topassem a proposta de experimentar nos arranjos e fazer tudo em conjunto”, detalha.
“Meu trabalho sempre foi na linha de experimentar mesmo, de não deixar nada nascer pronto e nem seguir fórmulas”, garante.
“A partir disso, a proposta era de criar um espetáculo sensorial, sinestésico mesmo, capaz de proporcionar sensações. Com isso, os arranjos teriam que colar na proposta. Até por que as letras pedem isso”, observa Rebeca.
Para a artista, o mais importante é que tudo – som, imagem, poesia – chegue junto ao espectador: “As coisas que eu falo e penso, eu estou afirmando um modo de vida, uma maneira de pensar. Então, pra mim, é importante que minha poesia passe isso tudo com força e intensidade. Tudo junto com a música”, diz.
Outra característica típica da cantora é a forma curiosa como consegue aliar elementos digitais com analógicos, modernidade com tradição: “Eu acho que temos que carregar nossa memória, mas sempre olhando para frente. Eu não nego nada. Minha música vem carregada de um passado que tem um sentido. Aí eu pego e coloco ele, de alguma forma, à frente”, explica Rebeca.
Em breve, ela leva o espetáculo ao Sesc de São Paulo. “Só falta fechar a data. Tô atrás de levar para outras cidades. Estamos com muita sede de tocar”, conclui.
Rebeca Matta & Banda – lançamento: À Flor da Pele / Hoje, 23 horas / Commons Studio Bar / R$ 30 e R$ 15 / 18 anos
À Flor da Pele / Rebeca Matta / Independente - Conexão Vivo - Fazcultura / R$ 32 (DVD + CD)
Talvez você já tenha ouvido falar ou lido algo a respeito. Andaram dizendo que o rock baiano, gloriosa tradição cultural brasileira, estava morto.
Obviamente, foi um exagero. A Bahia está pipocando de bandas de rock. Em Salvador e no interior.
(OK, agora quem exagerou um pouco fui eu. Menos, né?).
E o Festival Habemus Rock, com criteriosa seleção de bandas da produtora Ana Camila, jornalista, 28 anos, promete mostrar um pouco da nova cena roqueira baiana, trazendo novidades da capital e de pólos do interior, como Feira, Conquista e Cruz das Almas.
“A ideia surgiu de uma forma muito espontânea, fruto da observação de um novo movimento, ainda tímido, de novas bandas de rock em Salvador”, conta a jornalista / produtora. Leia entrevista completa com a moça.
Como surgiu a ideia do festival?
Ana Camila: A ideia surgiu de uma forma muito espontânea, fruto da observação de um novo movimento, ainda tímido, de novas bandas de rock em Salvador, com diferentes estilos, e cada uma na sua correria particular, correndo atrás, fazendo show aqui e ali. Eu queria, na verdade, só fechar uma temporada de shows com duas bandas que produzo, mas depois pensei que seria mais pró-ativo reunir essas novas bandas todas e propor algo como um grande encontro, concentrado, onde elas poderiam trabalhar juntas e fazer parcerias futuras. A ideia não era bem um festival, mas acabou se tornando um, pela quantidade de bandas. E eu mesma fiquei impressionada com as mil possibilidades. Então fechei essas três datas, com três bandas cada, e o nome Habemus Rock, apesar de ser uma brincadeirinha com o caso do Papa, foi também uma forma bem-humorada de chamar atenção para o fato de que temos um novo movimento rocker no estado, com várias bandas de diversos estilos.
O rock baiano parece que andou estagnado um tempo. Você acha que tem uma geração nova vindo aí, com outras influências além de Los Hermanos?
AC: É justamente por achar isso que estou investindo nesse festival. Acho que o rock baiano andou estagnado, como você diz, por falta de um movimento interno das bandas mesmo, e também porque um outro movimento foi surgindo na Bahia, com novas bandas e músicos independentes que investiram em outros gêneros, outro tipo de música, e que funcionou. Mesmo assim, as bandas de rock mais antigas continuam aí trabalhando, correndo atrás. O que eu observo hoje é que as novas bandas de rock baianas estão mais criativas, muito diversas entre si, e ao mesmo tempo engajadas em "resgatar" o que elas entendem como rock n' roll. Tem umas que acham que rock é Raul Seixas, outras acham que é Pink Floyd, outras que é Jovem Guarda, Beatles, Coldplay... E eu vejo isso como um momento bacana de inspiração.
Você tem acompanhado o movimento das bandas do interior? O interior está virando o celeiro do rock baiano?
AC: O que na real acontece no interior é que o público parece ser bem mais curioso que o de Salvador. Feira de Santana e Vitória da Conquista se destacam por ter uma parceria forte com a Fora do Eixo, mas a verdade é que em Camaçari, Cruz das Almas, Jequié, Poções e tantas outras tem uma galera se virando pra produzir, tem muitas bandas surgindo e, o melhor, tem um público ávido por novidade, que se envolve, se diverte. Salvador é meio chatinha com isso, se a banda não for de algum amigo, é difícil ir lá ver o show, as próprias bandas em geral não vão nos shows das outras bandas, e é muito mais complicado você atingir um público que não tem curiosidade. Acho que o público é o x dessa questão, e não é à tôa que as bandas de Salvador ficam felizes de sair pelo interior pra tocar, mesmo que as condições de produção não sejam ideais. Minha ideia é levar a ideia do festival para o interior, levar as bandas de Salvador pra circular e conhecer públicos que também querem conhecê-los.
Qual foi o critério para a seleção das bandas? Você poderia dizer o que a atraiu em cada uma delas - especialmente as do interior, menos conhecidas do público local?
AC: Meus critérios foram dois, basicamente. O primeiro foi o fato de as bandas serem novas, da "nova geração", por assim dizer, e estarem tocando na noite de forma totalmente independente e, até certo ponto, bem tímida também. O segundo foi a percepção de que essas bandas levam seus trabalhos a sério, estão na busca do profissionalismo, não estão "brincando de banda", mas investindo em gravação, imagem, todas com seus EPs ou discos lançados... Tentei montar uma grade que revelasse ao público a diversidade rocker de Salvador, mas também do estado - por isso incluí as três bandas do interior, mas só pra dar um gostinho porque tem muitas outras bandas no interior e que, por sinal, nunca nem tocaram em Salvador. O que me atraiu, na verdade, é que cada uma delas tem sua própria identidade, suas influências bem específicas, e são tão diferentes entre si! A Callangazoo com a pegada Raul Seixas declarada, Os Jonsóns com um rockabilly reinventado, a Falsos Modernos que quer atualizar o melhor do rock brasileiro dos anos 1960 e 70, a Vitrola Azul com uma proposta mais pop. A Andaluz e a Gepetto já são de outra vertente, uma coisa mais melancólica, mais intimista, influências claras de Radiohead, Muse e bandas do gênero. As bandas do interior eu conheci de formas diversas, através do Grito Rock, que rolou recentemente, mas também do contato que elas mesmas fizeram comigo, ou de eu ter ouvido falar do lançamento de um EP, ter ido lá ouvir e ter gostado. A SAL, de Feira, tem uma forte influência do Pink Floyd e apresenta um trabalho super rico, sofisticado, e com vocal feminino, coisa que já não vemos com frequência no rock baiano, infelizmente. A The Gins!, de Cruz das Almas, é a única das bandas que canta em inglês, o que me retraiu um pouco no início, mas reflete a experiência dos músicos em arranjos bem bacanas, canções com potencial pra virar hits! A Na Terra de Oz, de Vitória da Conquista, é um rock com aquele espírito bem mais "jovem", que se reflete nos arranjos e nas letras, um sangue novinho em folha. Acho que, no fim das contas, o festival consegue apresentar um panorama do que está rolando no rock baiano agora, com toda a diversidade que, pra mim, é o mais interessante.
I Festival Habemus Rock / Com The Gins! (Cruz das Almas), Callangazoo e Os Jonsóns (dia 12), SAL (Feira de Santana), Andaluz e Vitrola Azul (dia 19), Na Terra de Oz (Vit. da Conquista), Gepetto e Falsos Modernos (dia 26) / Sunshine (Rua Guedes Cabral, 20, Rio Vermelho) / 21 horas / R$ 15 (R$ 10 até 23 horas)
Fotos de cima para baixo: Na Terra de Oz (retirada do Facebook da banda, sem crédito), The Gins! (foto Rick Van Pelt) e Falsos Modernos (foto Leonardo Monteiro).
O delegado Jean Baptiste Adamsberg é uma figura rara na literatura policial - seja ela clássica ou contemporânea.
Ele troca os nomes de lugares e pessoas. Chama o restaurante Javali Veloz de Javali Azul e Exército Furioso de Exército Curioso.
Está aprendendo a conviver com um filho de 28 anos, que até outro dia ele nem sabia que existia.
E utiliza recursos da polícia para investigar quem está torturando os pombos de rua que aparecem com as pernas amarradas pelos arredores da delegacia.
Criado pela escritora francesa Fred Vargas (pseudônimo de Frédérique Audoin-Rouzeau, vista acima na foto de Marcello Casal Jr., da Agência Brasil), Adamsberg é um dos personagens mais interessantes da literatura policial contemporânea.
Na sua aventura mais recente, O Exército Furioso, Adamsberg e seus assistentes Danglard (alcoólatra, erudito e ciumento), Veyrenc (novato, alvo do ciúme do último) e Retancourt (obesa e braba) investigam três casos simultaneamente.
O primeiro dá título ao livro e parte de uma lenda medieval.
O Exército Furioso é um grupo de fantasmas descarnados que, quando são avistados em algum vilarejo, levam seus piores habitantes com eles.
Em Ordebec (na Normandia), uma bela mulher os avista.
Logo, os aldeões mais odiados de Ordebec, como um caçador cruel e um vidraceiro, começam a aparecer barbaramente assassinados.
A lenda do exército furioso (The Wild Hunt, em inglês) existe em toda a Europa continental, tendo sido retratada em inúmeras telas e gravuras ao longo dos séculos.
Esta ao lado, belíssima, diga-se de passagem, chamada Åsgårdsreien, é do norueguês Peter Nicolai Arbo (1831-1892).
O segundo caso é o assassinato de um dos homens mais ricos da França, incendiado dentro do próprio carro.
O suspeito é um jovem incendiário - já fichado pela polícia - de origem árabe, que atende pela alcunha de Momô Mecha-Curta.
Todas as evidências apontam para ele, mas Adamsberg tem lá suas dúvidas, o que o leva a empreender a jogada mais arriscada de sua carreira para provara inocência do rapaz no caso e prender o verdadeiro responsável.
O terceiro caso é o do torturador de pombos. Adamsberg leva um pombo ferido para sua casa e seu filho, Zerk, é quem cuida dele ao longo de todo o livro.
Enquanto isso, o investigador envia o barbante utilizado no "crime" para a perícia - torcendo para que ninguém questione a mobilização de recursos da polícia na investigação.
O princípio Scooby-Doo
Com habilidade fora do comum, Vargas costura as três tramas simultaneamente, fazendo parecer às vezes que se trata de um único caso. O que não é.
Em Ordebec, Adamsberg e seus assistentes vão encontrando uma galeria de personagens adoráveis, como uma encantadora senhora de 80 anos que mora sozinha, um conde decadente, um chefe de polícia local com mania de grandeza e uma família pra lá de estranha – todos com um passado obscuro em comum.
Segredos que Adamsberg vai desenterrando até desvendar o assassino serial que se aproveita de uma antiga lenda para agir livremente – uma espécie de “princípio Scooby-Doo”, aqui utilizado com muito mais profundidade, claro.
Em outro nível de leitura, O Exército Furioso traz um enfoque muito interessante à dualidade campo versus cidade – ou superstição versus racionalidade, ao contrapor policiais de Paris e aldeões ligeiramente caipiras do noroeste francês.
Mas sempre com muita leveza, de forma que, uma vez iniciada a leitura, dificilmente ela será abandonada antes de sua conclusão.
O EXÉRCITO FURIOSO / FRED VARGAS / Tradução: Dorothée de Bruchard / Companhia das Letras / 408 p. / R$ 49,50 / www.companhiadasletras.com.br
Não é de hoje, a Bahia exporta sua música para o Brasil e o mundo, quase sempre com boa recepção de público e crítica – especialmente na Europa, aonde parece haver um maior interesse na música brasileira.
A partir de amanhã, contudo, um tipo completamente diferente da música baiana que costuma frequentar os palcos europeus chegará do outro lado do Atlântico: é a banda Headhunter DC (foto , referência sul-americana do estilo death metal.
Fundada em 1987, a Headhunter DC, junto da qual comumente se lê adjetivos como “pioneira”, “fiel” e “brutal”, é uma das poucas bandas da sua geração que ainda não haviam pousado na Europa.
“É verdade. Até pelo tempo de estrada que temos, muita gente cobrava da gente esse giro na Europa”, admite o vocalista Sérgio Baloff Borges.
“Muitas bandas bem mais novas que a Headhunter já foram. E hoje em dia está bem mais fácil (chegar até a Europa). Se você tem dinheiro no bolso, você toca até na Lua”, afirma.
“Dinheiro só não compra história. Mas isso nós temos de sobra”, acrescenta.
A turnê, nomeada a partir do título do último CD da banda, In Unholy Mourning (Em Luto Profano), será uma pequena maratona, percorrendo pelo menos 15 cidades em 24 dias – veja quadro ao lado.
“Serão 24 dias. Na verdade, a lista oficial completa não saiu ainda. Devem ser de dezoito a vinte shows. As outras datas vão pintar pelo caminho”, diz Sérgio.
“Já estavamos devendo essa tour na há algum tempo. Ano passado, completamos 25 anos. Em maio, chegamos aos 26. O que acontece é que ainda estamos na campanha do último. Então, essa tour vai dentro das comemorações de 25 anos e da promoção do Unholy Mourning. A ideia era fazer (uma turnê) até maior, mas para uma primeira vez já está perfeito. Vai ser um bom reconhecimento de campo. Estamos muito animados ”, afirma, satisfeito.
"Foi uma trabalheira para conciliar a vida detodo mundo com essa viagem. Tivemos de conciliar com os trabalhos de todos os integrantes. Paulo (Lisboa, guitarra) mesmo, que é o fundador da banda, é professor de inglês em escolas do estado e do município. Mas conseguiu aí uma licença de um mês", conta.
Os shows serão em lugares de perfis diversos, indo desde pubs tradicionais, redutos da cena metálica na Europa e pelo menos um grande festival: "Começamos pela Alemanha, depois seguimos pela Holanda, Espanha, Áustria, França, Polônia, República Tcheca em duas cidades (Praga e Mlada Boleslav) e por aí vai. Mas o maior show vai ser em Portugal, no festival SWR Barroselas Metal Fest, que é o maior festival de metal extremo da Europa, com bandas grandes como Possessed, Onslaught e Pentagram. Devemos encarar ali um público de mais ou menos 10 mil pessoas. Mas devem pintar mais algumas datas pelo caminho", detalha Sérgio.
Metal baiano na Europa
A oportunidade de embarcar surgiu ainda no ano retrasado, por meio de um convite de parceria do tour manager paulista Daniel Duracell, sócio d a agência Roadmaster Booking, sediada na Alemanha.
Em todo o trajeto, a Headhunter DC excursionará em trio com mais duas bandas: a paulista Nervochaos e a croata War-Head, liderada pelo sócio de Daniel, Vladimir Suznjević.
Na verdade, a Headhunter não é a primeira banda do cenário metálico baiano a chegar à Europa.
Anteriormente, bandas como Malefector, Mystifier, Cobalto e Minus Blindness já rodaram pelo Velho Mundo.
Baloff acredita que isso só é possível por causa da união que sempre caracterizou o underground do heavy metal, desde os anos 1980.
“Desde o comecinho, antes mesmo do primeiro disco (Born, Suffer, Die, 1991), sempre participamos do circuito mundial através da troca de correspondência e fitas, o chamado tape trading”, conta.
“Isso espalhava nosso nome lá fora. Nos agradecimentos do primeiro disco já tem vários para diferentes contatos no exterior. Não tinha internet, download, nada disso. Gastava-se uma fortuna para mandar um LP lá pra fora”, lembra.
"Na época, o selo Cogumelo, que lançou o primeiro disco, também mandava muitas cópias lá para fora. E desde então sempre tivemos um feedback bom do exterior. Saíram muitas resenhas em publicações europeias, as músicas tocavam nos programas de rádio especializados em metal, coisa que hoje nem existe mais. Ninguém ficava com a bunda na frente do computador apertando tecla. Tinha que enviar o material pelo correio", relata.
"Mas ainda hoje, dentro do circuito da gente, que é o underground, temos muito colaboradores que não são reconhecidos, como fanzineiros, distribuidores etc. Não podemos dizer que não temos suporte. Temos, sim. Agora, não fazemos música para as massas. Nosso som é direcionado", admite.
"Se é foda? É foda mesmo! São 26 anos atuando sem suporte externo fora do próprio circuito. Mas é isso mesmo, vamos matando um leão a cada dia, conquistando nosso espaço com muita garra, suor e divertimento, claro! Senão não haveria razão de ser", reflete.
"Só temos orgulho de nossas raízes, cara. Somos a única banda de death metal dos anos 80 que nunca parou nem traiu as origens. Isso é muito, muito raro. Muita gente que começou na mesmoa época, como o Sepultura, mudou o som, ficou mais comercial e tal. Nós, não", reivindica.
"Nós viemos do underground e vamos nos manter nele mesmo. Temos muito orgulho disso. E mais: isso ajuda bastante no reconhecimento entre nossos pares, especialmente na Europa. Lá eles valorizam muito as bandas de metal extremo brasileiro, até pelas dificuldades. O negócio é seguinte: uma banda que se mantém há 25 anos na ativa sem mudar é verdadeira e deve ser levada a sério", afirma.
União metal e culto da morte
Hoje, através das redes sociais, a banda retomou contato com muitas das pessoas com quem trocavam cartas: “Os caras estão comemorando: ‘pô, finalmente vou ver vocês por aqui’ e tal”, conta.
“O legal do underground é isso, a união. Acho que o metal é o único estilo de música que é realmente unido. Por isso que eu digo que o death metal – e metal em geral – não é só música. Se fosse, já tinha morrido, como outros estilos”, acredita.
“É uma espécie de culto, mesmo. Os fãs são muito fiéis. Apesar do download e do MP3, o fã de metal faz questão de comprar o material físico para ter em sua coleção”, afirma Baloff.
Com 25 anos ininterruptos de estrada completados em 2012, a banda conta com cinco álbuns de estúdio, uma coletânea dupla de lados B, versões ao vivo e raridades, além de marcar presença em uma infinidade de coletâneas internacionais.
“Sempre participamos de coletâneas e tributos às bandas de que gostamos – até para manter a atividade nos longos hiatos entre um disco e outro”, diz.
Para quem se pergunta o que significa o “DC” depois do Headhunter, a resposta é “Death Cult”: Culto da Morte.
Antes que digam que os rapazes são satanistas do mal, é bom deixar o Baloff explicar: “O lance do culto da morte é o nossa forma de respeitar e contemplar o destino inexorável de todo mundo, que é a morte mesmo”, afirma o músico.
“Tem uma frase da banda suíça Hellhammer que adoramos e resume bem essa história: ‘Only death is real’. Só a morte é real. Acreditamos que morte é o fim, o descanso absoluto. Não há nada depois dela”, explica.
“Mas enquanto isso, estamos aqui é pra viver muito. Temos muita estrada pra percorrer”, conclui.
Obviamente, as letras da banda também passam por um tema bastante comum para o death metal, que é a rejeição às religiões instituídas, especialmente as cristãs - tema comum não apenas no death metal, mas para muitos intelectuais e literatos, diga-se de passagem.
"Abordamos muito o tema anti-religião. Na nossa visão, a religião é uma das grandes mazelas da humanidade. Ela aleija as pessoas, no sentido de que as proíbe de andar com os próprios pés. Somos livres de todo esse lixo. Nãoqueremos converter ninguém, só expressar nosso desprezo, mesmo. Mostrar que somos contra isso. Quem tem uma cabeça boa e ler as letras, poderá entender isso como uma coisa boa", reflete Sérgio.
Em agosto, já de volta, tocam em São Paulo, abrindo o show do Possessed, considerada a banda criadora do death metal e grande influência para o Headhunter.
A Headhunter DC é Sérgio Baloff Borges (vocal), Paulo Lisboa e George Lessa (guitarras), Zulbert Buery (baixo) e Daniel Brandão (bateria). Ouça: www.headhunterdc.net
HEADHUNTER D.C. "...IN UNHOLY MOURNING FOR GOD... EUROPEAN TOUR 2013" - ITINERÁRIO CONFIRMADO:
April 11th, Thursday (BOOKED) Wermelskirchen, Germany @ AJZ Bahndamm
April 12th, Friday - (BOOKED) Kassel, Germany @ Hammerschmiede
April 13th, Saturday - (BOOKED) Warsaw, Poland @ Klub Fonobar
April 14th, Sunday - (BOOKED) Mlada Boleslav, Czech Republic @ Club Orthodox
April 15th, Monday - (BOOKED) Prag, Czech @ Exit-Us
April, 16th, Tuesday - Bielsko Biala (POL) @ Rude Boy
April 17th, Wednesday - (BOOKED) Amsterdam, Holland @ The Cave
April 18th, Thursday - (BOOKED) Leeuwarden, Holland @ Cafe Mukkes
April 19th, Friday - (BOOKED) Wiesloch, Germany @ Rock & Pop
April 22th, Monday - (BOOKED - Montaigu, France @ Zinor
April 24th, Wednesday - (BOOKED) - Oviedo, Spain @ TBA
April 25th, Thursday - (BOOKED) - Guadalajara, Spain @ Sala Bumerang
April 26th, Friday - (BOOKED) Portugal @ Barroselas Metal Fest
April 27th, Saturday - (BOOKED) Castellón, Spain @ Emetic Club
April 28th, Sunday - (BOOKED) Barcelona, Spain @ Eclèctic
April, 30th, Tuesday - Bologna (ITA) TBA