Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
quarta-feira, janeiro 30, 2013
DIGITÁLIA 2013 - POSTÃO COM MATÉRIA E ENTREVISTAS COM PARELES, EMICIDA, FAUSTO FAWCETT E TINÉ (OOS)
Pelo terceiro ano consecutivo, Salvador periga se tornar uma espécie de “capital mundial da cultura digital” – pelo menos, durante a realização do Digitália 2013, um curioso mix de conferências acadêmicas, “desconferências”, performances, work- shops, shows musicais e outras atividades relacionadas.
Entre os destaques, o crítico de música do jornal New York Times Jon Pareles (leia entrevista na página 3), Gilberto Gil (que participa pelo segundo ano consecutivo), Fausto Fawcett, acadêmicos renomados como Derrick de Kerckhove, Nelson Pretto, Xavier Serra e Volker Grassmuck, entre outros.
Haverá ainda workshops, encontros de redes e shows de DJs famosos, como Marky, Spooky e Telefunksoul. Para a festa de encerramento, shows na Concha Acústica do rapper Emicida e do Original Olinda Style, que vem a ser um amálgama da banda Eddie com a Orquestra Contemporânea de Olinda.
Idealizado pelo Doutor em Comunicação, músico e agitador cultural Messias Bandeira (ao lado), o Digitália é viabilizado através de patrocínio da Fundação Cultural do Estado da Bahia, além do apoio da Capes.
“O Digitália é multidisciplinar: reune academia, artistas, sociedade e setor produtivo. E a partir dessa edição, ele passa a ser um evento permanente. Ele continua acontecendo ao longo do ano, com outros episódios”, revela Messias.
“Além desse encontro de 1º a cinco de fevereiro, teremos atividades como videoconferências, shows e outros debates que serão propostos ao longo do ano”, acrescenta. “Queremos dar um caráter de permanência, mesmo. O Digitália ainda não é um evento de grande porte, mas vem se consolidando ano a ano”, vê.
Gilberto Gil ataca duas vezes
Empreendedor obstinado, ele estabeleceu uma meta para 2014: ”Transformar Salvador na capital da cultura digital. E tentar sensibilizar a sociedade com mais eventos dessa natureza, buscando mais inclusão social e acesso à cultura digital”, diz.
No que depender do entusiasmo dos participantes, ele já tem meio caminho andado. Segundo Messias, Gilberto Gil, cabeça de uma concorrida mesa de debates na edição de 2012, procurou a produção para voltar agora: “Quando lançamos a chamada pública a artistas e pesquisadores, ele pleiteou logo sua participação”, afirma.
“Ele tem sido muito simpático e interessado nesse debate. Ano passado, ele foi para todos os dias. Chegava de manhã e só saía de noite, deu oficina, foi muito generoso”, conta.
Fausto, Emicida, Olinda Original Style
Outro participante famoso é o cantor-poeta-escritor Fausto Fawcett, que encabeça uma mesa dedicada à sua produção literária cyberpunk: “Teremos uma conversa a partir do meu livro mais recente, Favelost (Martins Fontes, R$ 39,90)”, conta ele, por telefone.
Em um cenário futurista no qual as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo se amalgamaram em uma só megalópole, um casal de protagonistas “tem que trepar o tempo todo, senão um chip instalado neles vai matálos”, descreve Fausto.
“É um ensaio hiperbolico e delirante sobre o que acontece quando nossas vidas estao completamente guiadas, direcionadas e perturbadas pela tecnologia digital”, resume.
Já Emicida, que trará a Salvador seu show com banda completa, representa, assim como o rapper Criolo, que encerrou o Digitalia 2012, um novo momento no hip hop nacional: “Vejo isto primeiramente como fruto do meu trabalho e, claro, como uma consequência do que foi plantado alguns anos atrás por ídolos nossos, como Racionais MCs”, escreve, por email.
“Acho que a diferença (entre sua geração e a dos Racionais) seja talvez em termos de influências musicais diferentes, mas isso não se deve necessariamente ao fato de sermos de gerações diferentes. É uma questão de artista para artista mesmo, independentemente da época em que nasceu”, vê.
Já Tiné, um dos vocalistas do Original Olinda Style (foto acima, de Beto Figueroa), está animado com o show e os debates: “Pra gente que trabalha no meio alternativo, a Internet é muito importante. Não temos apoio de rádios, gravadoras, nada. Então aproveitamos essas brechas para divulgar nosso som e fazer parcerias”, conta.
DIgitália 2013: de 1º a 5 de fevereiro / Incrições, programação completa e info: www.digitalia.com.br
Entrevista: Jon Pareles, crítico de música do New York Times
Por Chico Castro Jr. (perguntas 1, 2 e 3) e Lucas Cunha (perguntas 4, 5 e 6 e texto de abertura)
Entrevista publicada no Caderno 2+ do jornal A Tarde em 29 de janeiro de 2013
Sempre ouvindo. É assim que se descreve no Twitter o norte-americano Jon Pareles (photo: Michael Loccisano / Getty Images), chefe de Crítica de Música Pop do jornal The New York Times, que participa de uma conferência em Salvador na próxima segunda-feira, 4, às 9 horas, no Pátio do Instituto Goethe, no bairro da Vitória, como parte da programação da terceira edição do festival de música e cultura digital, o Digitália.
Em sua conferência, Pareles irá discutir as novas formas de acesso à informação musical e o papel da mediação cultural na era das redes.
Nesta entrevista concedida para A Tarde, ele fala sobre o atual papel da crítica e de sua relação com a música brasileira.
1. Quando a internet expodiu com blogs e sites, críticos amadores começaram a pipocar pra todo lado. O tempo passou e, surpreendentemente, isso não enfraqueceu o papel dos profissionais. A crítica de música continua tão confiável hoje quanto já foi no passado? Qual é, definitivamente, o papel do crítico?
Jon Pareles: Amador ou profissional, o crítico de música deve iluminar a música que você ouve - seja apontando detalhes do som ou descobrindo tendências ou colocando toda uma cultura em um novo contexto. A crítica só é confiável quando o crítico é confiável. Mas há muitos, muitos críticos soberbos.
2. Você começou nos anos 1970. É realmente diferente escrever sobre música naquela época e agora? Quais seriam as grandes diferenças entre escrever sobre música agora e naquela época?
JP: A maior diferença é a simples quantidade de música gravada. Antes da internet mudar tudo, a música era distribuída em discos e fitas, processo que filtrava muita música. Agora que tudo está on line, as escolhas se multiplicam. Infelizmente, as horas do dia não fazem o mesmo. Mas a disponibilidade da música para todos - não apenas para os críticos, mas para todos conectados à internet - significa que há mais ideias no ar. É mais complicado agora se manter atualizado com a quantidade de música disponível, mas também é mais fascinante do que nunca.
3. É muito comum que, a medida que vamos ficando mais velhos, passemos a achar que as coisas eram melhores quando éramos mais jovens. Você já se sentiu desta forma em relação à música? Há quem diga que o rock está completamente morto, agora. O que você acha disto? Quais são as grandes bandas do nosso tempo? Existe tal coisa?
JP: Há grande música em todas as eras, independentemente do que rege qualquer Top 10 atual. Acho que cientistas que pesquisam o cérebro descobriram que, em certa fase do desenvolvimento humano - adolescência? Início dos 20 anos? - a música se agiganta para cada um de nós enquanto indivíduo, mas eu rejeito a ideia dos "bons e velhos tempos". Estilos chegam, dominam, desaparecem e, as vezes, retornam. O rock foi declarado morto tantas vezes - apenas para retornar com truques novos. E eu me esquivo de nomear as "grandes bandas do nosso tempo", por que eu teria uma lista diferente daqui a um mês ou um ano. Grandes músicos continuam a me surpreender e deliciar - por isso continuo ouvindo. Já houve muitas "eras douradas" - e outras virão.
4. Como um crítico norte-americano que acompanha a música brasileira desde a Tropicália até artistas mais recentes como Daniela Mercury e Ivete Sangalo, como você avalia a forma como ela é percebida nos Estados Unidos? Os americanos ainda associam o Brasil exclusivamente ao glorioso passado da bossa nova ou já há um reconhecimento de artistas mais novos, como Céu e Curumin, mais próximos do pop contemporâneo?
JP: É muito difícil para a música brasileira cruzar a barreira da língua e alcançar ouvintes norte-americanos. Para muitos americanos, Brasil sempre será sobre bossa nova, ainda que ouçam mais Bebel Gilberto do que João. Mas audiências mais jovens gravitarão em torno da música do presente, e não do passado. E com a Internet, as pessoas podem buscar a música que as rádios comerciais não tocam, então esta nova música brasileira pode chegar através dos novos canais. Fãs potenciais podem encontrar sugestões de ouvintes mais bem informados e aventureiros, como DJs de casas noturnas, produtores de hip hop, blogueiros dedicados, amigos descolados etc. Céu (foto acima) e Curumin tiveram seus álbuns lançados por selos norte-americanos e estão construindo uma audiência por aqui. Gostaria que músicos brasileiros fizessem turnês pelos Estados Unidos mais frequentemente - é uma boa forma de fazer novos fãs.
5. Uma vez você declarou que uma das entrevistas mais interessantes que você já fez, ao lado de Bob Dylan e Kurt Cobain, foi com Caetano Veloso. Você poderia nos contar um pouco mais sobre sua relação com ele? Ouviu seu último álbum, Abraçaço? Outra coisa: Beck Hansen disse nos anos 1990 que o trabalho atual de Caetano é tão vanguardista quanto em seus álbuns clássicos dos anos 1970. Trazendo para o momento atual, você concordaria com esta declaração?
JP: Não tenho relação pessoal com Caetano Veloso, além do respeito que que tenho por qualquer grande artista. Quando fiz uma longa entrevista com ele há anos, ele foi inteligente, amável e sua natureza poética ficou evidente. Suas apresentações são excepcionais (ainda que não precise lembrar os brasileiros disso). A música que Caetano tem feito com Cê, Zii e Zie e Abraçaço é certamente provocativa, livre e altamente individual. Ele ainda é ele mesmo, pegando grandes ideias e escoando-as em canções elegantes.
6. Na sua fala aqui em Salvador você vai discorrer sobre "as novas formas de acesso à informação musical e o papel da mediação cultural na era das redes". Como você (e o New York Times) entendem essa nova forma de consumo da crítica musical, com a concorrência de milhares de blogs e sites como o Pitchfork Media e o Metacritic, um site que compila boa parte da crítica produzida em língua inglesa (inclusive a sua no NY Times)? O que se ganha e o que se perde com tudo isto?
JP: Com o Pitchfork o ganho é total - é uma voz mais informada falando aos ouvintes sobre a música que eles deveriam buscar. Nem sempre concordo com os resenhistas do Pitchfork (ou quem quer que seja), mas eles fazem um esforço sério na abordagem de cada canção ou álbum sobre o qual escrevem. Tenho minha dúvidas sobre classificar um álbum em uma escala de 100 pontos. A nota 8.1 de alguém pode ser 8.4 ou 7.9 para outras. Mas esse é um caso da mídia formatando a mensagem. Computadores são digitais, portanto, compatíveis com números e tabulações, que é o que o Metacritic faz: ele calcula a média do que considera ser a "nota" dada em cada resenha que coleta. Mas eu não dou nota nas minhas resenhas, nem o fazem muitos outros críticos coletados pelo Metacritic, então alguém lá está conferindo um valor numérico preciso para algo que não é preciso. Isto leva à média numérica, um numero duro que, se supõe, mede um consenso. Mas raramente há um consenso. Resenhas tendem a ser contraditórias: alguns amam, outros odeiam, outros tantos dão de ombros. Para mim, a média calculada não é a questão. Eu quero saber é o que os críticos mais espertos perceberam e julgaram, não de um número. Talvez isto sinalize se a preponderância das resenhas é para positivo ou negativo. Mas como jornalista, você deve sempre considerar cada fonte diretamente. Eu tendo a ignorar o número artificial e clicar direto para as resenhas. Para isto, o Metacritic é um execelente agregador e tornar todas aquelas resenhas facilmente acessíveis oferece um tipo diferente de ganho.
ENTREVISTA: EMICIDA
Como vai ser o show com banda completa aqui? O repertório abrange músicas desde o início da carreira ou é concentrado em material mais recente?
Emicida (foto Luciana Faria): O repertório vai passear por todos os meus trabalhos, tem desde músicas da primeira mixtape (Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida Até que Eu Cheguei Longe) até canções do meu trabalho mais recente, o EP Doozicabraba e a Revolução Silenciosa. Mas claro, teremos também algumas surpresas preparadas especialmente para Salvador e a participação do meu parceiro Rael, que fará algumas faixas comigo e mostrará uma música que estará no novo trabalho dele (que será lançado pelo meu selo, Laboratório Fantasma).
Artistas como você e Criolo vem dando nova cara ao rap brasileiro, conseguindo ser mais acessível ao grande público, mas sem abrir mão da qualidade musical-poética ou da ligação com o movimento hip hop. Como vc vê este novo momento? Qual a principal diferença entre sua abordagem e a da geração anterior, de artistas como Racionais e MV Bill, por exemplo?
E: Vejo este novo momento primeiramente como fruto do meu trabalho e, claro, como uma consequência do que foi plantado alguns anos atrás por ídolos nossos como Racionais MCs. Acredito que a diferença seja talvez de termos influências musicais diferentes, mas isso não se deve necessariamente ao fato de sermos de gerações diferentes. É uma questão de artista para artista mesmo, independentemente da época em que nasceu. Cada um tem suas influências, isso é bem pessoal. Por que nós deveríamos simplesmente copiá-los? E, ao contrário do que alguns vêm pregando, não acho que a minha geração conseguiu se tornar mais acessível ao grande público porque deixou o discurso de lado. Vejo só uma outra maneira de propagar o discurso, agregando a ele essas influências musicais diferentes da que tinha essa geração que você citou.
Vc vai encerrar um evento que celebra a música e a cultura digital. Em que medida vc acha que esta nova ordem mundial é melhor do que a época em que as grandes companhias multinacionais davam as cartas no mercado fonográfico? Ou isso é uma ilusão: eles continuam ditando o que as pessoas vão ouvir?
E: Sem falsa modéstia, acho que o modelo que criamos na Laboratório Fantasma é a prova de que não são apenas as grandes companhias multinacionais que dão as cartas. Acho que esta nova ordem se mostra mais democrática por um lado, dando a mais pessoas a chance de espalhar seu trabalho. Por outro lado, com esse volume grande de coisas circulando, há que se pensar em novas maneiras de espalhar a informação pra se destacar e não passar batido, não ser só mais um. Honestamente, ainda há ramos do mercado em que apenas as multinacionais conseguem chegar facilmente. Ou seja, não estamos com o "jogo ganho". Nós, os menores, independentes, ainda precisamos achar o caminho, mas vamos chegar lá, estamos trabalhando pra isso.
ENTREVISTA: FAUSTO FAWCETT
Como rolou de vir para o Digitália, Fausto?
Fausto Fawcett: Um amigo meu, Vinícius Pereira, enviou um projeto e me passou a dica e os contatos da organização. Eles souberam do meu interesse, eu topei, foi assim. Será uma conversa a partr do meu livro Favelost (Martins Fontes, R$ 39,90). (Nota: a mesa de Fausto se chama Desconferência: Literatura, Cultura Cyberpunk e Imaginário Tecnológico na obra de Fausto Fawcett, e tem como participantes o próprio Fausto, Vinicius Pereira [UERJ/ABCIBER], Simone Sá [UFF], Adriana Amaral [UNISINOS].
Do que se trata seu livro?
FF: É uma trama urbana, um cenário futurista no qual as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo se amalgamaram em uma só megalópole. É uma gigantesa Serra Pelada, mas urbana. Tem dois protagonistas, um casal que se encontra, dá uma trepada e tem um um chip que vai mata-los. Só a trepada impede essa morte pelo chip. É essa aventura, nessa Favelost. Tem esse caráter delirante, mas é um ensaio hiperbólico sobre o que acontece quando nossas vidas estao completamente guiadas, direcionadsas e perturbadas por essa tecnologia digital.
É como vê todo esse cenário hiper-conectado? O futuro chegou?
FF: Não é nem a questao de futuro. O futuro hoje é uma coisa velhinha, obsoleta. O que existe é um futuro contínuo. Toda essa tecnologia complementa uma coisa que vem acontecendo dese os anos 1970, e que diz respeito ao aspecto mercadológico que tomou conta de nossas vidas. Comércios ofciais e não-oficiais que se trornaram transnacionais e seguindo as privatizações de nossas vidas, isso só gera muito egoísmo, narcisismo e outros ismos. Tudo isso vem minando o que chamamos de cidadania, os interesses coletivos etc. E o digital facilitou isso tudo.
Você ainda faz música, Fausto?
FF: Faço! Passei realmente um bom tempo mais concentrado em literatura, procurando marcar minha preseça nesse meio. O Favelost deve virar um espetáculo. E com essas mudanças de mercado, com a Internet, tá tudo tão fragmentado... Não há mais os esquemas de gravadoras, mas em breve vou recuperar todo esse repertório antigo, retornar com os Robôs Efêmeros (banda de Fausto nos anos 1980) e botar novos sons na rodinha.
Você nunca chegou a fazer shows aqui, né? Nem no tempo da Kátia Flávia (hit estrondoso de Fausto Fawcett & Os Robôs Efêmeros em 1987)?
FF: Não, é curioso, nunca cheguei a fazert sow aí em Salvador.
Alguma outra atividade em vista?
FF: Estou bolando uma peça de teatro a partir do personagem do McLuhan (Marshall McLuhan, teórico da comunicação). Vai se chamar McLuhan na Praia, uma referência ao Einstein na Praia (peça musical de autoria dos norte-americanos Robert Wilson e Philip Glass).
ENTREVISTA: TINÉ, vocalista do Original Olinda Style (Eddie + Orquestra Contemporânea de Olinda)
Foto: Beto Figueroa.
Como surgiu o grupo?
Tiné: Foi uma idea bem óbvia por que somos todos muito amigos e tem várias bandas de Olinda que tem membros comuns entre si. Então, tava demorando de acontecer essas reuniões. Tivemos a ideia, fizemos o primeiro show e a coisa começou a rolar. A gente já sabia que ia ser legal. O Eddie tem vinte anos de estrada, e a gente da Orquestra, tem cinco, então é um trabalho bem representativo da cena de Olinda.
E o repertório? Tem músicas das duas bandas e do frevo pernambucano?
A união é bem por aí. A maior parte é em cima do repertório das duas bandas. Pegamos as músicas que mais gostamos das duas e fazemos. Tem uma do Bonsucesso Samba Clube e outras coisas de bandas de Olinda que a gente gosta. Tocamos também Trombone de Prata, que é um frevo tradicional de Olinda.
É grande a expectativa para tocar em Salvador?
Vai ser muito bom tocar aí. A expectativa é a melhor possivel, até por que tem um tempo que queremos sair daqui pra tocar pelo Brasil. E a nossa estrutura é grande porque é muita gente, são 15 caras no palco. Apesar disso, já onseguimos sair. Fizemos um show em Arcoverde, no sertão pernambucano e também em São Paulo. Essa vai ser a terceira viagem desta banda.
Como é que organiza isso? 15 caras no palco?
Apesar de ter 15 membros, poucas vezes toca os quinze de uma vez. Quando um baixista tá, o outro não, a mesma coisa com os bateristas. Então rola um revezamento. O legal é que o Eddie ganha os metais da Orquestra. Os metais tocam o show inteiro.É essa soma, nós participamos das musicas deles e vice versa. Tá bem legal, é uma brincadeira bem legal o Original Olinda Style.
Vocês vem encerrar um grande evento dedicado à música e a cultura digital. Como se posicionam nesse admirável cenário novo?
Pra gente que trabalha no meio alternativo, a internet é muito importante. Não temos nenhum apoio de rádios, gravadora, nada. Então a gente aproveita essas brechas da internet para divulgar nosso som e ainda exercer outras atividades, como compor músicas com pessoas de outros países ou cidades. E distribuir música de graça, que é uma forma de atingir pessoas que estão distantes e não nos conheceriam de outra forma. Aí pensamos em estratégias. A gente tem uma história que é o ouvinte pagar o mp3 gratuito com uma tuitada ou um compartilhamento em rede social. A internet é a nova rádio, aonde nossa musica aparece não só em áudio, mas também atraves de vídeos e arquiovos de musica. Música que você pode carregar no penderive, no telefone etc. Para músicos como nós, a internet é uma grande oportunidade.
terça-feira, janeiro 29, 2013
SKANIBAIS: PRIMEIRA BANDA DE SKA BAIANA CHEGANDO BONITO
Ah, diversidade! Quantas vezes teu nome é clamado em vão nesta terra besta e bela (copyright "terra besta e bela" by Franciel Cruz).
Pois é em nome da real diversidade musical que esta coluna tem o prazer de apresentar aos seus leitores aquela que é, provavelmente, a primeira banda de ska da Bahia: Skanibais (em fotos de Anderson Ferreira).
Ska, se alguém aí ainda não conhece, é a música jamaicana que precedeu o reggae, originada da mistura de ritmos caribenhos como mento e calipso com o rhythm ‘n’ blues que os músicos da ilha ouviam nas transmissões de rádio a partir dos Estados Unidos.
É uma música festiva, plenamente dançante e que tem pelo menos dois grandes momentos: a onda original jamaicana do final dos anos 1950, que se estendeu ao longo da década seguinte, e a retomada britânica em meio à explosão punk (1976), que gerou o histórico selo / movimento Two Tone.
Grandes nomes: The Skatalites, Toots & The Maytals, The Specials, Madness, The Beat (ou The English Beat), entre muitos e muitos outros.
Agora, Salvador apresenta sua contribuição ao gênero, com dois representantes surgidos quase ao mesmo tempo: o cantor Luis Natureza e a banda Skanibais.
Natureza foi visto na revista Muito há pouco tempo e está prestes a lançar seu primeiro disco. O Skanibais fez seu primeiro show no último dia 4 e abriu o show da Baiana System na sexta-feira passada, no Clube Fantoches.
Gênese Skanibalesca
A banda surgiu da iniciativa de João Teoria, trompetista da banda de Carlinhos Brown.
Natural de Muritiba, ele tem uma longa história na cena reggae de Cachoeira, tendo tocado e gravado discos de Edson Gomes, Nengo Vieira, Sine Calmon e outros.
“A ideia da banda surgiu de forma engraçada, quando eu estava bebendo cerveja com minha namorada em casa”, diz.
“Estávamos ouvindo um disco do Skatalites e ela estava lendo um livro sobre canibais. Uma coisa levou a outra, e deu no Skanibais”, diverte-se.
Com Teoria (trompete), Gilmar Chaves (trombone), Evanailton Bispo (sax), Anderson Lacerda (teclados) e Nelmário Marques (baixo), a banda conta com “baterista e guitarrista contratados”, acrescenta Teoria.
No show, clássicos do gênero e versões para Xô Chuá (Riachão), Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás (Raul Seixas), Thriller (Michael Jackson) e outros.
“Eu não componho, mas eu pedi uma composição inédita pro Letieres Leite e ele disse que ia me arrumar uma. O Evanailton também. Vamos montando um repertório proprio aos poucos".
"Além disso, vamos fazer releituras de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. A ideia é fazer um ska bem brasileiro e baiano. Xô Chuá ficou muito massa, bem gostosa. Tô doido pra gravar nossa versão, queremos muito chamar o Riachão não só para cantar, mas até por conta da própria liberação. Preciso conversar com ele", esfrega as mãos.
Essencialmente instrumental, a Skanibais deverá contar com uma ou outra participação vocal, mas isso não deverá ser uma regra.
"Conversando com o Russo (Passapusso), da Baiana System (e Bemba Trio), chamei ele também para uma participação. Ele adorou por que na Bahia ainda não há um movimento de ska. Como a banda não tem cantor, vamos convidar sempre um cantor da cena como Russo, para cantar um ou duas músicas. Mas a banda é instrumental: não tem cantor e nem pretendo botar. Quero mudar essa coisa de sempre ter que ter um canário", demarca.
.
Nesse primeiro momento, a banda ainda dá os primeiros passos, devagarzinho. "Primeiro, eu quero que as pesoas conheçam não só minha banda, mas o som, o estilo do ska - que é bom demais e tem muito a ver com a Bahia", percebe.
Boas-vindas a Skanibais.
Conecte-se: Skanibais.
NUETAS
Real Vinyl para elas
A festa Real Vinyl deste mês é especial, dedicada às ladies – DJs e apreciadoras. Além do anfitrião Big Bross, discotecam Vika Guerreiro, Cassicas, Tati Trad e Danni. Ponto de encontro certo para colecionadores, comerciantes, DJs etc. Amanhã, no Portela Café, 21 horas, R$ 10.
Pizza de Beatles
Tá de bobeira? Levante a poeira e vá curtir a reunião mensal do Beatles Social Club na Companhia da Pizza. Hoje tem Banda de Rock, Os Proxenetas, Candice Fiais, Ícaro Britto e Ben Tedder. 20 horas, gratuito.
Mundo Livre quinta
A fantástica Mundo Livre SA volta à Salvador em show com a Diamba. Quinta-feira (31), 22 horas, no Coliseu do Forró (Patamares), R$ 30.
Pois é em nome da real diversidade musical que esta coluna tem o prazer de apresentar aos seus leitores aquela que é, provavelmente, a primeira banda de ska da Bahia: Skanibais (em fotos de Anderson Ferreira).
Ska, se alguém aí ainda não conhece, é a música jamaicana que precedeu o reggae, originada da mistura de ritmos caribenhos como mento e calipso com o rhythm ‘n’ blues que os músicos da ilha ouviam nas transmissões de rádio a partir dos Estados Unidos.
É uma música festiva, plenamente dançante e que tem pelo menos dois grandes momentos: a onda original jamaicana do final dos anos 1950, que se estendeu ao longo da década seguinte, e a retomada britânica em meio à explosão punk (1976), que gerou o histórico selo / movimento Two Tone.
Grandes nomes: The Skatalites, Toots & The Maytals, The Specials, Madness, The Beat (ou The English Beat), entre muitos e muitos outros.
Agora, Salvador apresenta sua contribuição ao gênero, com dois representantes surgidos quase ao mesmo tempo: o cantor Luis Natureza e a banda Skanibais.
Natureza foi visto na revista Muito há pouco tempo e está prestes a lançar seu primeiro disco. O Skanibais fez seu primeiro show no último dia 4 e abriu o show da Baiana System na sexta-feira passada, no Clube Fantoches.
Gênese Skanibalesca
A banda surgiu da iniciativa de João Teoria, trompetista da banda de Carlinhos Brown.
Natural de Muritiba, ele tem uma longa história na cena reggae de Cachoeira, tendo tocado e gravado discos de Edson Gomes, Nengo Vieira, Sine Calmon e outros.
“A ideia da banda surgiu de forma engraçada, quando eu estava bebendo cerveja com minha namorada em casa”, diz.
“Estávamos ouvindo um disco do Skatalites e ela estava lendo um livro sobre canibais. Uma coisa levou a outra, e deu no Skanibais”, diverte-se.
Com Teoria (trompete), Gilmar Chaves (trombone), Evanailton Bispo (sax), Anderson Lacerda (teclados) e Nelmário Marques (baixo), a banda conta com “baterista e guitarrista contratados”, acrescenta Teoria.
No show, clássicos do gênero e versões para Xô Chuá (Riachão), Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás (Raul Seixas), Thriller (Michael Jackson) e outros.
“Eu não componho, mas eu pedi uma composição inédita pro Letieres Leite e ele disse que ia me arrumar uma. O Evanailton também. Vamos montando um repertório proprio aos poucos".
"Além disso, vamos fazer releituras de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. A ideia é fazer um ska bem brasileiro e baiano. Xô Chuá ficou muito massa, bem gostosa. Tô doido pra gravar nossa versão, queremos muito chamar o Riachão não só para cantar, mas até por conta da própria liberação. Preciso conversar com ele", esfrega as mãos.
Essencialmente instrumental, a Skanibais deverá contar com uma ou outra participação vocal, mas isso não deverá ser uma regra.
"Conversando com o Russo (Passapusso), da Baiana System (e Bemba Trio), chamei ele também para uma participação. Ele adorou por que na Bahia ainda não há um movimento de ska. Como a banda não tem cantor, vamos convidar sempre um cantor da cena como Russo, para cantar um ou duas músicas. Mas a banda é instrumental: não tem cantor e nem pretendo botar. Quero mudar essa coisa de sempre ter que ter um canário", demarca.
.
Nesse primeiro momento, a banda ainda dá os primeiros passos, devagarzinho. "Primeiro, eu quero que as pesoas conheçam não só minha banda, mas o som, o estilo do ska - que é bom demais e tem muito a ver com a Bahia", percebe.
Boas-vindas a Skanibais.
Conecte-se: Skanibais.
NUETAS
Real Vinyl para elas
A festa Real Vinyl deste mês é especial, dedicada às ladies – DJs e apreciadoras. Além do anfitrião Big Bross, discotecam Vika Guerreiro, Cassicas, Tati Trad e Danni. Ponto de encontro certo para colecionadores, comerciantes, DJs etc. Amanhã, no Portela Café, 21 horas, R$ 10.
Pizza de Beatles
Tá de bobeira? Levante a poeira e vá curtir a reunião mensal do Beatles Social Club na Companhia da Pizza. Hoje tem Banda de Rock, Os Proxenetas, Candice Fiais, Ícaro Britto e Ben Tedder. 20 horas, gratuito.
Mundo Livre quinta
A fantástica Mundo Livre SA volta à Salvador em show com a Diamba. Quinta-feira (31), 22 horas, no Coliseu do Forró (Patamares), R$ 30.
domingo, janeiro 27, 2013
ENKI BILAL: ANIMAL'Z NO BRASIL, FANTASMAS NO LOUVRE
Expor no Museu do Louvre, o mais visitado do mundo, é a consagração para qualquer artista.
O mais recente a receber tal honraria foi o quadrinista iugoslavo Enki Bilal, cuja obra, finalmente, começa a ser adequadamente publicada no Brasil.
Depois de lançar a Trilogia Nikopol em volume único e acabamento de luxo, obra que o consagrou, o Nemo (selo de quadrinhos da Editora Autêntica), soltou nas livrarias Animal’Z, HQ mais recente (2009), com o mesmo tratamento.
Já a mostra Le Fantômes du Louvre, assinada por ele, entrou em cartaz no famoso museu parisiense no dia 20 de dezembro de 2012, permanecendo aberta até 18 de março próximo.
Nela, o artista, hoje aos 62 anos de idade, fotografou 50 obras do museu.
Escolheu 23, as quais ampliou em telas de 50 x 60 cm e pintou diretamente sobre elas, criando os fantômes (fantasmas) que dão título à exposição, disponível na prestigiosa Salle Sept-Cheminées.
(Veja mais sobre esta exposição aqui e aqui.)
Apocalíptico e desintegrado
Mas a exposição no Louvre é, na verdade, uma consequência, um coroamento do verdadeiro trabalho da vida de Bilal, que é criar mundos (ou visões de mundo) muito particulares em HQs cultuadíssimas por crítica e público em nível planetário.
Na Europa, assim como no Japão, lugares do mundo em que histórias em quadrinhos são vistas (também) como entretenimento adulto e uma manifestação artística reconhecida, isso não é pouca coisa.
Sua Trilogia Nikopol, iniciada em 1980 e concluída em 1993, reflete sua juventude vivida na Iugoslávia sob a ditadura socialista de (Josip Broz) Tito, que se estendeu de 1953 a 1980.
Passa-se em uma Paris futurista, dominada por fascistas, pós-apocalíptica e combina tecnologia delirante, deuses egípcios e crítica sócio-cultural. Já foi definida como “Terry Gilliam dirigindo Blade Runner” – só para dar uma ideia.
Já em Animal’Z, lançamento mais recente no Brasil, o cenário futurista pós-apocalíptico permanece, mas o contexto é bem diferente.
Ao contrário de Nikopol, em que o apocalipse é provocado pelo homem, em Animal’Z, é a natureza que se revolta, provocando um desastre climático global.
Esse fenômeno natural, chamado “Golpe de Sangue”, causa um desequilíbrio total em escala global, mudando a face geográfica do planeta ao desmembrar continentes, o que leva a obliteração de boa parte da população mundial.
Nesse cenário, os poucos sobreviventes se abrigam em pequenos refúgios e a água potável se torna um bem valioso. Em meio ao caos surgem criaturas híbridas de humanos e animais, criados em laboratório.
Esses seres podem se metamorfosear em diversas espécies animais através de pequenos dispositivos instalados em suas colunas.
Tom azulado, clima gélido
Tudo isso é só o cenário em que a trama urdida pelo quadrinista vai se desenvolver, envolvendo os tais seres híbridos, lagostas e cavalos marinhos falantes, refugiados que aderiram ao canibalismo, cientistas etc.
Em clima de faroeste futurista pós-apocalíptico, Bilal ainda encontra inspiração para, da boca de um de seus personagens, disparar citações literárias que vão de Nietzsche a Cioran, passando por Celine, Flaubert e Camus, entre outros.
Tudo isso emoldurado pela belíssima arte de Bilal, toda à lápis e carvão com toques sutis de vermelho e azul, deitada sobre papel de tom azulado, o que contribuiu bastante para estabelecer o clima gélido e oceânico do ambiente em que os personagens circulam.
De fato, uma obra digna do Louvre.
Animal’Z / Enki Bilal / Tradução: Fernando Scheibe / Nemo / 104 p. / R$ 54 / www.grupoautentica.com.br/nemo
O mais recente a receber tal honraria foi o quadrinista iugoslavo Enki Bilal, cuja obra, finalmente, começa a ser adequadamente publicada no Brasil.
Depois de lançar a Trilogia Nikopol em volume único e acabamento de luxo, obra que o consagrou, o Nemo (selo de quadrinhos da Editora Autêntica), soltou nas livrarias Animal’Z, HQ mais recente (2009), com o mesmo tratamento.
Já a mostra Le Fantômes du Louvre, assinada por ele, entrou em cartaz no famoso museu parisiense no dia 20 de dezembro de 2012, permanecendo aberta até 18 de março próximo.
Nela, o artista, hoje aos 62 anos de idade, fotografou 50 obras do museu.
Escolheu 23, as quais ampliou em telas de 50 x 60 cm e pintou diretamente sobre elas, criando os fantômes (fantasmas) que dão título à exposição, disponível na prestigiosa Salle Sept-Cheminées.
(Veja mais sobre esta exposição aqui e aqui.)
Apocalíptico e desintegrado
Mas a exposição no Louvre é, na verdade, uma consequência, um coroamento do verdadeiro trabalho da vida de Bilal, que é criar mundos (ou visões de mundo) muito particulares em HQs cultuadíssimas por crítica e público em nível planetário.
Na Europa, assim como no Japão, lugares do mundo em que histórias em quadrinhos são vistas (também) como entretenimento adulto e uma manifestação artística reconhecida, isso não é pouca coisa.
Sua Trilogia Nikopol, iniciada em 1980 e concluída em 1993, reflete sua juventude vivida na Iugoslávia sob a ditadura socialista de (Josip Broz) Tito, que se estendeu de 1953 a 1980.
Passa-se em uma Paris futurista, dominada por fascistas, pós-apocalíptica e combina tecnologia delirante, deuses egípcios e crítica sócio-cultural. Já foi definida como “Terry Gilliam dirigindo Blade Runner” – só para dar uma ideia.
Já em Animal’Z, lançamento mais recente no Brasil, o cenário futurista pós-apocalíptico permanece, mas o contexto é bem diferente.
Ao contrário de Nikopol, em que o apocalipse é provocado pelo homem, em Animal’Z, é a natureza que se revolta, provocando um desastre climático global.
Esse fenômeno natural, chamado “Golpe de Sangue”, causa um desequilíbrio total em escala global, mudando a face geográfica do planeta ao desmembrar continentes, o que leva a obliteração de boa parte da população mundial.
Nesse cenário, os poucos sobreviventes se abrigam em pequenos refúgios e a água potável se torna um bem valioso. Em meio ao caos surgem criaturas híbridas de humanos e animais, criados em laboratório.
Esses seres podem se metamorfosear em diversas espécies animais através de pequenos dispositivos instalados em suas colunas.
Tom azulado, clima gélido
Tudo isso é só o cenário em que a trama urdida pelo quadrinista vai se desenvolver, envolvendo os tais seres híbridos, lagostas e cavalos marinhos falantes, refugiados que aderiram ao canibalismo, cientistas etc.
Em clima de faroeste futurista pós-apocalíptico, Bilal ainda encontra inspiração para, da boca de um de seus personagens, disparar citações literárias que vão de Nietzsche a Cioran, passando por Celine, Flaubert e Camus, entre outros.
Tudo isso emoldurado pela belíssima arte de Bilal, toda à lápis e carvão com toques sutis de vermelho e azul, deitada sobre papel de tom azulado, o que contribuiu bastante para estabelecer o clima gélido e oceânico do ambiente em que os personagens circulam.
De fato, uma obra digna do Louvre.
Animal’Z / Enki Bilal / Tradução: Fernando Scheibe / Nemo / 104 p. / R$ 54 / www.grupoautentica.com.br/nemo
quinta-feira, janeiro 24, 2013
BATRÁKIA: PARTY LIKE IT'S 1989
Há muito tempo atrás, em uma galáxia muito distante, as paradas de sucesso eram dominadas por homens de jeans (muito) apertados e cortes de cabelo estilo mullet (interessados chequem este outro link. É inacreditável).
Não, não era o Chitãozinho & Xororó. Quase. Eram bandas como Bon Jovi, Poison, Cinderella e Def Leppard.
Depois a coisa até que melhorou, com a chegada de grupos com um som um pouco mais pesado, como Guns ‘n’ Roses e Skid Row.
Mas aí Kurt Cobain apareceu berrando de dor de barriga e botou todo mundo pra correr, mas essa é outra história.
O lance é que o hard rock de FM daqueles dias pré-grunge nunca morreu.
Nem que seja como caricatura, em filmes como Ainda Muito Loucos (1998) e o recente Rock of Ages (2012), com Tom Cruise.
Agora Salvador ganha uma banda que segue de forma sincera o estilo do Guns e Skid Row – sem ser uma paródia, como a banda The Darkness, por exemplo.
É a Batrákia (na foto de David Vasconcelos), liderada pelos irmãos gêmeos Dell (guitarra) e Chico Brito (bateria).
Sem medo de farofa
Depois de fundar a banda em 2008 e as formações flutuantes de praxe, se estabilizaram em 2010 com Bruno Passy (voz), João Daltro (guitarra) e Lucas Vieira (baixo).
De lá para cá, fizeram vários shows pelo circuito do Rio Vermelho e demais recantos underground da cidade, além de incursões pelo interior.
“Tocamos em Irecê e já fomos convidados para voltar em abril. Também recebemos convites para ir em Cicero Dantas, Paulo Afonso e Feira“, conta Dell.
“Ficamos espantados em ver como o cenário no interior é forte, até em termos de organização”, afirma.
Finalista do concurso de bandas iBahia Garage Band, a Batrákia não ganhou, mas teve votação expressiva do público, além de já estar confirmada para tocar, pelo segundo ano consecutivo, no Palco do Rock 2013, durante o Carnaval.
Com letras em português e um vocalista muito promissor, a Batrákia não tem medo de soar caricata pela associação com a colorida cena da qual tira inspiração.
“É, já ouvimos críticas. Dizem que é rock farofa e tal. Mas é o som que a gente curte. Sabemos que era comercial e tal, mas tentamos dar uma pegada atual, com nossa cara”.
Além do repertório autoral com letras em português, a banda faz covers de Guns n’ Roses, Skid Row, Mötley Crüe...
Ouça: www.palcomp3.com/batrakia e aqui.
NUETAS
Skanibais famintos
Vendida como “a primeira banda de ska da capital baiana”, a Skanibais faz show no Cine Teatro Solar Boa Vista sexta-feira, 20 horas. Na verdade, a banda faz este show e depois corre lá pro Clube Fantoches, aonde faz o número de abertura do Baile da Terapia, da Baiana System. Tão começando bem. Este macaco velho aqui realmente não se lembra de nenhuma outra banda baiana de ska – bom, tem o senhor Luiz Natureza, mas ele também está chegando agora. Será que finalmente a Bahia está descobrindo o mais esfuziante dos ritmos jamaicanos? Demorô! R$ 10 e R$ 5 (Abaixo, vídeo deles na apresentação do dia 4 de janeiro, no Solar Boa Vista).
Sábado rock ‘n’ risos
Os Mizeravão e Os Jonsóns (vistos há poucas semanas nesta coluna) se apresentam sábado, no Dubliner’s Irish Pub. Os Mizeravão é veterana da night local e tem público cativo para sua mistura bagaceira de Black Sabbath com Roupa Nova. Já Os Jonsóns, autoral, segue o estilo psicodélico despojadão do rock gaúcho. Diversão e risadas garantidas. 22 horas, R$ 15.
Robertão por Sete Cabeludos
Ontem teve o primeiro show da banda Os Sete Cabeludos (foto Jamile Vasconcelos) na Varanda do Sesi. Formada por caras bem conhecidas da cena local - Paquito (voz e guitarra), Morotó Slim (guitarra), Rex (bateria), Nuno (baixo) e Juliano Oliveira (teclados) -, essa rapaziada só toca o repertório juvenil de Roberto Carlos (1963 a 1972). Dada a categoria do repertório e dos músicos envolvidos, vale conferir a próxima apresentação deles, na quarta-feira, dia 30. Varanda do SESI, Rio Vermelho, às 21hs, R$ 20 e R$ 15 (lista amiga).
Não, não era o Chitãozinho & Xororó. Quase. Eram bandas como Bon Jovi, Poison, Cinderella e Def Leppard.
Depois a coisa até que melhorou, com a chegada de grupos com um som um pouco mais pesado, como Guns ‘n’ Roses e Skid Row.
Mas aí Kurt Cobain apareceu berrando de dor de barriga e botou todo mundo pra correr, mas essa é outra história.
O lance é que o hard rock de FM daqueles dias pré-grunge nunca morreu.
Nem que seja como caricatura, em filmes como Ainda Muito Loucos (1998) e o recente Rock of Ages (2012), com Tom Cruise.
Agora Salvador ganha uma banda que segue de forma sincera o estilo do Guns e Skid Row – sem ser uma paródia, como a banda The Darkness, por exemplo.
É a Batrákia (na foto de David Vasconcelos), liderada pelos irmãos gêmeos Dell (guitarra) e Chico Brito (bateria).
Sem medo de farofa
Depois de fundar a banda em 2008 e as formações flutuantes de praxe, se estabilizaram em 2010 com Bruno Passy (voz), João Daltro (guitarra) e Lucas Vieira (baixo).
De lá para cá, fizeram vários shows pelo circuito do Rio Vermelho e demais recantos underground da cidade, além de incursões pelo interior.
“Tocamos em Irecê e já fomos convidados para voltar em abril. Também recebemos convites para ir em Cicero Dantas, Paulo Afonso e Feira“, conta Dell.
“Ficamos espantados em ver como o cenário no interior é forte, até em termos de organização”, afirma.
Finalista do concurso de bandas iBahia Garage Band, a Batrákia não ganhou, mas teve votação expressiva do público, além de já estar confirmada para tocar, pelo segundo ano consecutivo, no Palco do Rock 2013, durante o Carnaval.
Com letras em português e um vocalista muito promissor, a Batrákia não tem medo de soar caricata pela associação com a colorida cena da qual tira inspiração.
“É, já ouvimos críticas. Dizem que é rock farofa e tal. Mas é o som que a gente curte. Sabemos que era comercial e tal, mas tentamos dar uma pegada atual, com nossa cara”.
Além do repertório autoral com letras em português, a banda faz covers de Guns n’ Roses, Skid Row, Mötley Crüe...
Ouça: www.palcomp3.com/batrakia e aqui.
NUETAS
Skanibais famintos
Vendida como “a primeira banda de ska da capital baiana”, a Skanibais faz show no Cine Teatro Solar Boa Vista sexta-feira, 20 horas. Na verdade, a banda faz este show e depois corre lá pro Clube Fantoches, aonde faz o número de abertura do Baile da Terapia, da Baiana System. Tão começando bem. Este macaco velho aqui realmente não se lembra de nenhuma outra banda baiana de ska – bom, tem o senhor Luiz Natureza, mas ele também está chegando agora. Será que finalmente a Bahia está descobrindo o mais esfuziante dos ritmos jamaicanos? Demorô! R$ 10 e R$ 5 (Abaixo, vídeo deles na apresentação do dia 4 de janeiro, no Solar Boa Vista).
Sábado rock ‘n’ risos
Os Mizeravão e Os Jonsóns (vistos há poucas semanas nesta coluna) se apresentam sábado, no Dubliner’s Irish Pub. Os Mizeravão é veterana da night local e tem público cativo para sua mistura bagaceira de Black Sabbath com Roupa Nova. Já Os Jonsóns, autoral, segue o estilo psicodélico despojadão do rock gaúcho. Diversão e risadas garantidas. 22 horas, R$ 15.
Robertão por Sete Cabeludos
Ontem teve o primeiro show da banda Os Sete Cabeludos (foto Jamile Vasconcelos) na Varanda do Sesi. Formada por caras bem conhecidas da cena local - Paquito (voz e guitarra), Morotó Slim (guitarra), Rex (bateria), Nuno (baixo) e Juliano Oliveira (teclados) -, essa rapaziada só toca o repertório juvenil de Roberto Carlos (1963 a 1972). Dada a categoria do repertório e dos músicos envolvidos, vale conferir a próxima apresentação deles, na quarta-feira, dia 30. Varanda do SESI, Rio Vermelho, às 21hs, R$ 20 e R$ 15 (lista amiga).
quarta-feira, janeiro 23, 2013
TEMPO DE GUITARRINHA
Tema do Carnaval 2013, a guitarra baiana é celebrada esta semana com nada menos que cinco shows / bailes diferentes
Ela é pequenininha e quem vê pela primeira vez pode até achar que é um brinquedo.
Em mãos hábeis, porém, levanta até defunto: é a guitarra baiana, patrimônio cultural (e científico) legitimamente baiano, tema do Carnaval 2013.
Nesta semana, a celebração em torno dela está à toda, com nada menos que cinco diferentes shows.
A maratona começa quinta-feira, com ensaio aberto do Trio Guitarra Baiana, formado por Júlio Caldas, Fábio Batanj e Márcio de Oliveira, no Largo Teresa Batista.
Na sexta-feira, dose dupla: Retrofolia na Arena Sesc Senac Pelourinho e Baiana System no Clube Fantoches.
Sábado tem Júlio Caldas & Choro Rock com mais um show de lançamento do seu novo CD, Circuito Guitarra Baiana, também na Teresa Batista.
No domingo, Fred Menendez comanda o Domingos Instrumentais na Ponta de Humaitá.
Cabe a Júlio, Fábio e Márcio abrir os trabalhos da semana com o show do seu Trio Guitarra Baiana, que desfila no Carnaval e tem este ensaio aberto na quinta-feira.
“É um trabalho diferente do que faço com a banda Choro Rock”, diz Júlio.
“Segue a onda de releituras dos clássicos do instrumento, mais alguns temas de Jimi Hendrix (Voodoo Chile, All Along The Watchtower, Little Wing, If Six Was Nine) e Stevie Ray Vaughan (Pride & Joy, Mary Had a Little Lamb). E não é instrumental, não. Eu canto”, diz.
Se alguém aí estranhou a escolha de repertório, a resposta vai na ponta da língua: “Decidi que vou tocar o que eu quiser, cara. Sou livre” demarca.
Sábado, Júlio e a já citada banda Choro Rock fazem mais um show com o repertório do CD instrumental lançado em dezembro.
Na sexta-feira, a Baiana System faz show de lançamento do seu EP Terapia, recentemente solto na internet.
Com a faixa-título mais uma – Amendoim Pão de Mel – a banda liderada pelo guitarrista Robertinho Barreto recebe o famoso cantor Ninha (ex-Timbalada, atual Trem de Pouso) no palco.
Co-produção entre Marcelo Seco (baixista) e o experiente Dudu Marote (Skank), o EP sinaliza a direção que a banda deve seguir no próximo trabalho, com um som, na definição de Roberto, “mais universal”.
“Com tantos hits do Skank, o Marote tem a manha do nosso tipo de som. Nos conhecemos em um dos festivais do Conexão Vivo”, conta Robertinho.
“Ele tirou um som nosso que nunca imaginamos. Terapia tem uma coisa maio arrocha-pagode-dub, bem popular. Tinha que ser o Dudu. E o resultado ficou muito bacana”, aposta o músico.
No mesmo dia, o Retrofolia, pioneiro baile de retomada da guitarra baiana comandado pelos Retrofoguetes, espalha confete & serpentina pela Arena do Sesc Senac.
Além do trio, hoje formado por Rex (bateria), CH (baixo) e Julio Moreno (guitarra), o ex-membro Morotó Slim e Paulo Chamusca, assim como o cantor Kaverna, estarão o tempo todo no palco.
Paquito, Ronei Jorge, Júlio Caldas e Fernando Barreto (Mil Milhas) são os convidados da vez.
“Além de Armandinho, Dodô & Osmar, tocamos temas do Trio Tapajós e Missinho. Tem uma dele bem difícil, aliás: Tulasi”, diz CH.
Fechando a tampa, Fred Menendez e banda fazem a trilha sonora do fim do domingão na idílica Ponta de Humaitá (Cidade Baixa).
“Tô com a agenda lotada. Sábado ainda saio com dois bloquinhos no Bonfim: Micaretinha às 9h30 e o Carnamigos, 16 horas. Me sigam!”, convida Fred.
GUIA: Siga aquela guitarrinha!
Trio Guitarra Baiana Quinta-feira, 24 de janeiro, 20 horas / Largo Tereza Batista (Pelourinho) / Gratuito
Baiana System: Baile da Terapia Sexta-feira, dia 25, 21 horas / Clube Fantoches da Euterpe (Rua Democrata, 18, Bairro Dois de Julho) / R$ 25
Retrofoguetes & Convidados: RetrofoliaSexta-feira, dia 25, 21 horas /Arena do Sesc-Senac Pelourinho (Praça José de Alencar, 19, Centro Histórico) / R$ 20 e R$ 10
Júlio Caldas & Choro Rock: Sábado, 21 horas / Largo Tereza Batista (Pelourinho) / Gratuito
Fred Menendez: Domingos InstrumentaisDomingo, 17 horas / Ponta de Humaitá (Cidade Baixa) / Gratuito
Ela é pequenininha e quem vê pela primeira vez pode até achar que é um brinquedo.
Em mãos hábeis, porém, levanta até defunto: é a guitarra baiana, patrimônio cultural (e científico) legitimamente baiano, tema do Carnaval 2013.
Nesta semana, a celebração em torno dela está à toda, com nada menos que cinco diferentes shows.
A maratona começa quinta-feira, com ensaio aberto do Trio Guitarra Baiana, formado por Júlio Caldas, Fábio Batanj e Márcio de Oliveira, no Largo Teresa Batista.
Na sexta-feira, dose dupla: Retrofolia na Arena Sesc Senac Pelourinho e Baiana System no Clube Fantoches.
Sábado tem Júlio Caldas & Choro Rock com mais um show de lançamento do seu novo CD, Circuito Guitarra Baiana, também na Teresa Batista.
No domingo, Fred Menendez comanda o Domingos Instrumentais na Ponta de Humaitá.
Cabe a Júlio, Fábio e Márcio abrir os trabalhos da semana com o show do seu Trio Guitarra Baiana, que desfila no Carnaval e tem este ensaio aberto na quinta-feira.
“É um trabalho diferente do que faço com a banda Choro Rock”, diz Júlio.
“Segue a onda de releituras dos clássicos do instrumento, mais alguns temas de Jimi Hendrix (Voodoo Chile, All Along The Watchtower, Little Wing, If Six Was Nine) e Stevie Ray Vaughan (Pride & Joy, Mary Had a Little Lamb). E não é instrumental, não. Eu canto”, diz.
Se alguém aí estranhou a escolha de repertório, a resposta vai na ponta da língua: “Decidi que vou tocar o que eu quiser, cara. Sou livre” demarca.
Sábado, Júlio e a já citada banda Choro Rock fazem mais um show com o repertório do CD instrumental lançado em dezembro.
Na sexta-feira, a Baiana System faz show de lançamento do seu EP Terapia, recentemente solto na internet.
Com a faixa-título mais uma – Amendoim Pão de Mel – a banda liderada pelo guitarrista Robertinho Barreto recebe o famoso cantor Ninha (ex-Timbalada, atual Trem de Pouso) no palco.
Co-produção entre Marcelo Seco (baixista) e o experiente Dudu Marote (Skank), o EP sinaliza a direção que a banda deve seguir no próximo trabalho, com um som, na definição de Roberto, “mais universal”.
“Com tantos hits do Skank, o Marote tem a manha do nosso tipo de som. Nos conhecemos em um dos festivais do Conexão Vivo”, conta Robertinho.
“Ele tirou um som nosso que nunca imaginamos. Terapia tem uma coisa maio arrocha-pagode-dub, bem popular. Tinha que ser o Dudu. E o resultado ficou muito bacana”, aposta o músico.
No mesmo dia, o Retrofolia, pioneiro baile de retomada da guitarra baiana comandado pelos Retrofoguetes, espalha confete & serpentina pela Arena do Sesc Senac.
Além do trio, hoje formado por Rex (bateria), CH (baixo) e Julio Moreno (guitarra), o ex-membro Morotó Slim e Paulo Chamusca, assim como o cantor Kaverna, estarão o tempo todo no palco.
Paquito, Ronei Jorge, Júlio Caldas e Fernando Barreto (Mil Milhas) são os convidados da vez.
“Além de Armandinho, Dodô & Osmar, tocamos temas do Trio Tapajós e Missinho. Tem uma dele bem difícil, aliás: Tulasi”, diz CH.
Fechando a tampa, Fred Menendez e banda fazem a trilha sonora do fim do domingão na idílica Ponta de Humaitá (Cidade Baixa).
“Tô com a agenda lotada. Sábado ainda saio com dois bloquinhos no Bonfim: Micaretinha às 9h30 e o Carnamigos, 16 horas. Me sigam!”, convida Fred.
GUIA: Siga aquela guitarrinha!
Trio Guitarra Baiana Quinta-feira, 24 de janeiro, 20 horas / Largo Tereza Batista (Pelourinho) / Gratuito
Baiana System: Baile da Terapia Sexta-feira, dia 25, 21 horas / Clube Fantoches da Euterpe (Rua Democrata, 18, Bairro Dois de Julho) / R$ 25
Retrofoguetes & Convidados: RetrofoliaSexta-feira, dia 25, 21 horas /Arena do Sesc-Senac Pelourinho (Praça José de Alencar, 19, Centro Histórico) / R$ 20 e R$ 10
Júlio Caldas & Choro Rock: Sábado, 21 horas / Largo Tereza Batista (Pelourinho) / Gratuito
Fred Menendez: Domingos InstrumentaisDomingo, 17 horas / Ponta de Humaitá (Cidade Baixa) / Gratuito
segunda-feira, janeiro 21, 2013
MÁRIO MEMÓRIA: PARTE 1
É com imenso prazer e o coração latejante de emoção que anuncio ao volta do RockLoquista Original a sua casa: Mário Jorge, velho amigo pessoal deste jornalista, baterista das bandas Úteros em Fúria e Penélope, fundador do programa de rádio Rock Loco (origem deste blog), está escrevendo algumas de suas memórias dos loucos anos 1990. Neste primeiro texto, que ele publica também em sua página no Facebook, Mário nos conta como foi seu périplo solitário (ou nem tão solitário assim) de Salvador ao Rio deJaneiro, para testemunhar o histórico Hollywood Rock de 1993 - aquele do Nirvana. Sem mais, divirtam-se!
DIÁRIO DO ROCK 1 - 19 de janeiro de 1993:
Caganeira, caipirinha e pimentas ardidas
No início dos anos 90, o rock estava com gosto de querosene, inclusive em Salvador: MeioHomem, brincando de deus, Mütter Marie, Dr. Cascadura, Crack... Visceralidade e vontade de sobra. Duas rádios tocavam “rock” (96 FM e Cidade), mas MTV não pegava por aqui (que tardou, só chegou em 1995).
A gente tinha que se contentar em assistir ao Vídeo Jovem com Josenel Barreto como apresentador, soltando pérolas como: “O Metallica que acaba de ganhar o premio gremlins”. Quem tinha acesso a MTV? Só lembro dos irmãos Serravalle (Dalmo e Quinho, da brincando de deus), TV a cabo ainda era muito restrita.
Nessa época, o Brasil entrava na rota dos shows internacionais. O Hollywood Rock rolava no verão no Rio e em SP e concentrava grandes atrações em poucos dias de apresentação. Solução: o velho Itapemirim comercial, sem nenhuma dúvida... Avião não era pra roqueiro. E se não tivesse onde ficar, ficava na rua, ninguém quer mexer com um “maluco sujo”.
Época de uma leva de rock alternativo espetacular e nenhuma preocupação. A madrugada de 19 de janeiro de 1993, exatamente há 20 anos atrás, passei de caganeira . Comprei elixir paregorico (opiáceo usado pra diarréia... Minha mãe usou muito na minha infância. Acredito que hoje seja uma medicação controlada) e embarquei torcendo pra dá tudo certo.
O remédio deu um sono monstro e dormi quase que a viagem toda sem precisar do banheiro do buzú. Vinte e seis horas depois: o Rio. Mais um buzu rumo a Copacabana, onde Fernando Bueno (amigo baterista que morava no Rio com a sua banda Dead Easy) me cedeu um teto.
Banho básico, um pão com ovos e suco na esquina e vamos lá! “Praça da Apoteose”. O DeFalla abriu o festival com um show bem maluco, mas quando a gente é fã, acha tudo bonito.
Foi então que me apareceu meu amigo Cebola e me apresentou a maior invenção do verão de 93: “a
caipirinha em lata” (a partir desse momento não tenho certeza da real seqüencia dos fatos). Nos abraçamos e pulamos como cangurus endemoniados.
Na seqüencia, biquíni cavadão. Que beleza! Hora de ir pro bar e chapar o coco de caipirinha. Eu e Cebola já estávamos achando tudo lindo.
O Alice In Chains, com um puta de um show pesado e sombrio (e isso é um elogio, tá?), e eu curtindo. E aí que veio a porra! O Red Hot Chilli Peppers entrou no palco “botando prá vê táuba lascá”, rock do bom e muita disposição para chegar colado ao palco.
Fiquei emocionado, só senti coisa igual no Robert Plant (com Jimy Page) em 1994 e no Neil Young no Rock in Rio de 2001. O guitarrista não era o Frusciante... Acho que foi uma das poucas apresentações deErick Arik Marshall no RHCP. Gás total até o final do show e a sensação de que tudo vale a pena.
Cheguei na casa de Bueno com uma fome da porra. Nada perto dava esperança de alimento naquela hora da madrugada. Saí andando a esmo pelas ruas de Copacabana e no calçadão avistei uma barraquinha de cachorro quente. Quando cheguei me deparei com Edu K e Castor Daudt (DeFalla).
Pensei... Caralho, ou o mundo do glamour é uma farsa mesmo ou esses caras são muito bagaceira... Hospedados no Copacabana Palace, acabaram de tocar no festival mais importante do país e estavam ali comendo aquele cachorro quente da pior qualidade. Trocamos umas ideias, eles conheciam a Úteros e falamos sobre a possibilidade de tocar juntos.
No dia seguinte, após acordar, forrei o estomago com um churros e rumei à apoteose. Cheguei e fui direto pro bar em busca da “maravilha”. Calor da porra, caipirinha gelada e a doideira “carcomendo no front”.
As primeiras bandas da noite (nem lembro quais foram) não me interessavam, eu estava no aguardo do L7 e do Nirvana. Então, O L7 fez um show massa! Divertido e alto astral (as meninas estavam se divertindo mesmo, no dia anterior, tinham mostrado as bundas brancas queimadas de sol na janela do ônibus).
O show do Nirvana em SP uma semana antes tinha sido bizarro, João Gordo falou para Kurt que aquele era um festival capitalista vendido, patrocinado por uma marca de cigarros e transmitido para todo o país por uma rede de televisão de bosta.
Silêncio e lá vem o show do Nirvana, confesso que não estava entendendo muita coisa, as pausas pareciam longas demais, afinadas intermináveis, Kurt acendia um cigarro e ironizava o festival, tirava o pau pra fora e cuspia na câmera da rede globo...
A poucos metros de mim, uma ruivinha nariguda linda com uma faixa da banda na cabeça olhava meio entediada. Dei-me conta que tinha coisas interessantes além do palco... Duas ou três frases engraçadinhas e o show ficou melhor.
No dia seguinte, encarei o velho Itapemirim comercial (dessa vez sem opiáceo). Exausto, rumei para casa com a sensação de que só o show do RHCP e a caipirinha em lata já tinha valido tudo.
E se passaram 20 anos...
DIÁRIO DO ROCK 1 - 19 de janeiro de 1993:
Caganeira, caipirinha e pimentas ardidas
No início dos anos 90, o rock estava com gosto de querosene, inclusive em Salvador: MeioHomem, brincando de deus, Mütter Marie, Dr. Cascadura, Crack... Visceralidade e vontade de sobra. Duas rádios tocavam “rock” (96 FM e Cidade), mas MTV não pegava por aqui (que tardou, só chegou em 1995).
A gente tinha que se contentar em assistir ao Vídeo Jovem com Josenel Barreto como apresentador, soltando pérolas como: “O Metallica que acaba de ganhar o premio gremlins”. Quem tinha acesso a MTV? Só lembro dos irmãos Serravalle (Dalmo e Quinho, da brincando de deus), TV a cabo ainda era muito restrita.
Nessa época, o Brasil entrava na rota dos shows internacionais. O Hollywood Rock rolava no verão no Rio e em SP e concentrava grandes atrações em poucos dias de apresentação. Solução: o velho Itapemirim comercial, sem nenhuma dúvida... Avião não era pra roqueiro. E se não tivesse onde ficar, ficava na rua, ninguém quer mexer com um “maluco sujo”.
Época de uma leva de rock alternativo espetacular e nenhuma preocupação. A madrugada de 19 de janeiro de 1993, exatamente há 20 anos atrás, passei de caganeira . Comprei elixir paregorico (opiáceo usado pra diarréia... Minha mãe usou muito na minha infância. Acredito que hoje seja uma medicação controlada) e embarquei torcendo pra dá tudo certo.
O remédio deu um sono monstro e dormi quase que a viagem toda sem precisar do banheiro do buzú. Vinte e seis horas depois: o Rio. Mais um buzu rumo a Copacabana, onde Fernando Bueno (amigo baterista que morava no Rio com a sua banda Dead Easy) me cedeu um teto.
Banho básico, um pão com ovos e suco na esquina e vamos lá! “Praça da Apoteose”. O DeFalla abriu o festival com um show bem maluco, mas quando a gente é fã, acha tudo bonito.
Foi então que me apareceu meu amigo Cebola e me apresentou a maior invenção do verão de 93: “a
caipirinha em lata” (a partir desse momento não tenho certeza da real seqüencia dos fatos). Nos abraçamos e pulamos como cangurus endemoniados.
Na seqüencia, biquíni cavadão. Que beleza! Hora de ir pro bar e chapar o coco de caipirinha. Eu e Cebola já estávamos achando tudo lindo.
O Alice In Chains, com um puta de um show pesado e sombrio (e isso é um elogio, tá?), e eu curtindo. E aí que veio a porra! O Red Hot Chilli Peppers entrou no palco “botando prá vê táuba lascá”, rock do bom e muita disposição para chegar colado ao palco.
Fiquei emocionado, só senti coisa igual no Robert Plant (com Jimy Page) em 1994 e no Neil Young no Rock in Rio de 2001. O guitarrista não era o Frusciante... Acho que foi uma das poucas apresentações de
Cheguei na casa de Bueno com uma fome da porra. Nada perto dava esperança de alimento naquela hora da madrugada. Saí andando a esmo pelas ruas de Copacabana e no calçadão avistei uma barraquinha de cachorro quente. Quando cheguei me deparei com Edu K e Castor Daudt (DeFalla).
Pensei... Caralho, ou o mundo do glamour é uma farsa mesmo ou esses caras são muito bagaceira... Hospedados no Copacabana Palace, acabaram de tocar no festival mais importante do país e estavam ali comendo aquele cachorro quente da pior qualidade. Trocamos umas ideias, eles conheciam a Úteros e falamos sobre a possibilidade de tocar juntos.
No dia seguinte, após acordar, forrei o estomago com um churros e rumei à apoteose. Cheguei e fui direto pro bar em busca da “maravilha”. Calor da porra, caipirinha gelada e a doideira “carcomendo no front”.
As primeiras bandas da noite (nem lembro quais foram) não me interessavam, eu estava no aguardo do L7 e do Nirvana. Então, O L7 fez um show massa! Divertido e alto astral (as meninas estavam se divertindo mesmo, no dia anterior, tinham mostrado as bundas brancas queimadas de sol na janela do ônibus).
O show do Nirvana em SP uma semana antes tinha sido bizarro, João Gordo falou para Kurt que aquele era um festival capitalista vendido, patrocinado por uma marca de cigarros e transmitido para todo o país por uma rede de televisão de bosta.
Silêncio e lá vem o show do Nirvana, confesso que não estava entendendo muita coisa, as pausas pareciam longas demais, afinadas intermináveis, Kurt acendia um cigarro e ironizava o festival, tirava o pau pra fora e cuspia na câmera da rede globo...
A poucos metros de mim, uma ruivinha nariguda linda com uma faixa da banda na cabeça olhava meio entediada. Dei-me conta que tinha coisas interessantes além do palco... Duas ou três frases engraçadinhas e o show ficou melhor.
No dia seguinte, encarei o velho Itapemirim comercial (dessa vez sem opiáceo). Exausto, rumei para casa com a sensação de que só o show do RHCP e a caipirinha em lata já tinha valido tudo.
E se passaram 20 anos...
quarta-feira, janeiro 16, 2013
VOCÊ ME EXCITA VOLTA REFORMADA E REFORMULADA, COM PROPOSTA ELETRÔNICA
Surgida no cenário roqueiro local em 2010, a banda Você Me Excita (ao lado, em foto de Paula Cubilhas) logo se tornou um dos xodós da rapaziada descolê do Rio Vermelho.
Energética, a proposta do então quarteto seguia a linha indie disco punk de bandas como The Rapture e LCD Soundsystem, entre outras.
Muito jovens, contudo, os carinhas não seguraram a onda do hype: “Com o primeiro boom de resposta do público, de ser considerado aposta de 2010 até por sites de fora da Bahia, a gente meio que passou a viver uma certa tensão, um nervosismo que nem entendíamos direito. A gente ainda tava muito verde”, relata o baterista Tazzio P.
Naquele mesmo ano, a Você Me Excita implodiu, com cada membro seguindo seu caminho. No início de 2012, porém, resolveram se reunir.
Mais uma vez, não deu certo: “Não estava funcionando. Havia um sentimento de que a banda tinha voltado só por voltar”, diz.
Dos quatro membros originais, dois se desligaram e dois permaneceram: Tazzio e Mateus P. (guitarra e voz). Hoje, a banda é um trio, com a adição de Pedro Ozzy (guitarra, baixo e sintetizadores).
E apesar de manter o nome Você Me Excita, pode-se dizer que se trata de outra banda: essencialmente eletrônica, a VME atual se inspira na dance music contemporânea de bandas como Chromeo, Daft Punk, Chromatics e Glass Candy. “Esses são top influências pra gente”, avisa Tazzio.
Já, já, Jamaica
Trabalhando na cocó para não gerar pressão, o trio vem trampando a cerca de seis meses em um EP com cinco músicas intitulado Jamaica, a ser lançado ainda neste verão.
Como prévia, soltaram o single Roseta em dezembro último.
“O Jamaica tem um conceito muito forte. Pensamos nele para reviver a banda e nossa história. Queremos escrever uma história nova”, afirma Tazzio.
Cuidadoso, ele diz ainda não saber, porém quando a banda sobe no palco de novo: “Acho que em março já podemos fazer show, mas, por estarmos tão concentrados na gravação, ainda não sabemos. Precisamos terminar, aprender a tocar essas músicas ao vivo, ensaiar e, só então, subir no palco”, reflete.
“Fora que queremos controle total. Até na iluminação”, diz.
Ou ouça aqui: https://soundcloud.com/vocemeexcita
NUETAS
Esqueleto com Pastel, Esqueleto com Theatro
O punk furioso da Pastel de Miolos é a convidada da ExoEsqueleto no terceiro show da temporada do power trio de afro-rock no Café Atelier JC Barreto (Ladeira do Bambui, São Caetano). Sábado, 21 horas, R$ 3. No outro sábado (dia 25), a Theatro de Seraphin (foto: Emanuel Mirdad - veja vídeos aqui) encerra a temporada com muita classe.
Tabuleiro rodando
A Tabuleiro Musiquim faz as primeiras incursões fora de Salvador. São quatro datas, começando amanhã, no festival Rock Cordel em Souza, Paraíba, aonde também tocam as baianas Maglore, Vendo 147 e Sertanília. De lá, partem para João Pessoa, aonde fazem show, dia 17. No dia seguinte já tem som em Recife (PE). A miniturnê se encerra sábado (19), em Feira de Santana, no Festival Veraneio Fora do Eixo (Centro de Cultura Amélio Amorim), com Maglore, Vivendo do Ócio, Tangerina Jones e outras.
Mariella comanda
A incrível Mariella Santiago recebe Chico César, Mateus Aleluia, Laila Rosa e Lívia Matos na segunda edição dos seus Encontros de Verão no Museu de Arte Moderna (Solar do Unhão). Abertura e after por conta do coletivo de DJs Sistema Kalakuta. Domingo, 19 horas, R$ 16 e R$ 8.
Energética, a proposta do então quarteto seguia a linha indie disco punk de bandas como The Rapture e LCD Soundsystem, entre outras.
Muito jovens, contudo, os carinhas não seguraram a onda do hype: “Com o primeiro boom de resposta do público, de ser considerado aposta de 2010 até por sites de fora da Bahia, a gente meio que passou a viver uma certa tensão, um nervosismo que nem entendíamos direito. A gente ainda tava muito verde”, relata o baterista Tazzio P.
Naquele mesmo ano, a Você Me Excita implodiu, com cada membro seguindo seu caminho. No início de 2012, porém, resolveram se reunir.
Mais uma vez, não deu certo: “Não estava funcionando. Havia um sentimento de que a banda tinha voltado só por voltar”, diz.
Dos quatro membros originais, dois se desligaram e dois permaneceram: Tazzio e Mateus P. (guitarra e voz). Hoje, a banda é um trio, com a adição de Pedro Ozzy (guitarra, baixo e sintetizadores).
E apesar de manter o nome Você Me Excita, pode-se dizer que se trata de outra banda: essencialmente eletrônica, a VME atual se inspira na dance music contemporânea de bandas como Chromeo, Daft Punk, Chromatics e Glass Candy. “Esses são top influências pra gente”, avisa Tazzio.
Já, já, Jamaica
Trabalhando na cocó para não gerar pressão, o trio vem trampando a cerca de seis meses em um EP com cinco músicas intitulado Jamaica, a ser lançado ainda neste verão.
Como prévia, soltaram o single Roseta em dezembro último.
“O Jamaica tem um conceito muito forte. Pensamos nele para reviver a banda e nossa história. Queremos escrever uma história nova”, afirma Tazzio.
Cuidadoso, ele diz ainda não saber, porém quando a banda sobe no palco de novo: “Acho que em março já podemos fazer show, mas, por estarmos tão concentrados na gravação, ainda não sabemos. Precisamos terminar, aprender a tocar essas músicas ao vivo, ensaiar e, só então, subir no palco”, reflete.
“Fora que queremos controle total. Até na iluminação”, diz.
Ou ouça aqui: https://soundcloud.com/vocemeexcita
NUETAS
Esqueleto com Pastel, Esqueleto com Theatro
O punk furioso da Pastel de Miolos é a convidada da ExoEsqueleto no terceiro show da temporada do power trio de afro-rock no Café Atelier JC Barreto (Ladeira do Bambui, São Caetano). Sábado, 21 horas, R$ 3. No outro sábado (dia 25), a Theatro de Seraphin (foto: Emanuel Mirdad - veja vídeos aqui) encerra a temporada com muita classe.
Tabuleiro rodando
A Tabuleiro Musiquim faz as primeiras incursões fora de Salvador. São quatro datas, começando amanhã, no festival Rock Cordel em Souza, Paraíba, aonde também tocam as baianas Maglore, Vendo 147 e Sertanília. De lá, partem para João Pessoa, aonde fazem show, dia 17. No dia seguinte já tem som em Recife (PE). A miniturnê se encerra sábado (19), em Feira de Santana, no Festival Veraneio Fora do Eixo (Centro de Cultura Amélio Amorim), com Maglore, Vivendo do Ócio, Tangerina Jones e outras.
Mariella comanda
A incrível Mariella Santiago recebe Chico César, Mateus Aleluia, Laila Rosa e Lívia Matos na segunda edição dos seus Encontros de Verão no Museu de Arte Moderna (Solar do Unhão). Abertura e after por conta do coletivo de DJs Sistema Kalakuta. Domingo, 19 horas, R$ 16 e R$ 8.
ENTREVISTÃO LEO JAIME: "PRECISAMOS ATENDER ÀS INQUIETUDES CRIATIVAS"
As novas gerações, que só conhecem Leo Jaime como ator de Malhação, cronista do jornal O Globo ou apresentador de TV (nos programas Saia Justa e Detox do Amor) vão ficar espantadas: ele também canta?
Pois é, e fez muito sucesso, especialmente nos anos 1980, quando emplacou vários hits em rádios de todo o Brasil, como Sônia, O Pobre, A Vida Não Presta e outros.
Agora volta às lojas um disco seu de 1995, Todo Amor. Álbum de intérprete, traz releituras em clima intimista para canções como Minha Mulher (Caetano Veloso), Preciso Dizer Que Te Amo (Cazuza), Eu Amo Você (Cassiano) e outras, além da inédita Diz.
Nesta entrevista por email, ele fala do disco e da experiência em TV nos programas Saia Justa e Detox do Amor (canal GNT).
Por que esse disco em especial para ser relançado?
Leo Jaime: Esse disco marca a metade do percurso. Depois de 5 anos sem gravar, fiz um disco de intérprete, como acordo pelo tempo na geladeira. O disco saiu maravilhoso e apontava para um novo caminho diferente daquele do início da carreira. Pena que não teve sequência. Ainda. Tanto que Diz, a música bônus que foi gravada recentemente, é parte da ideia de dar continuidade àquela onda.
Você lembra como foi o critério de seleção das canções? O que te guiou, além de serem sobre um tema específico, no caso, amor? E quanto a inédita Diz?
LJ: Lembro que eu procurava canções que não fossem muito óbvias e que eu sentisse que podiam ser cantadas por mim como se fossem minhas. Experimentamos muitas ao longo dos ensaios para o disco. Marina e Felipe Abreu me ajudaram muito neste período. Durante a gravação apareceram outras, como Preciso Dizer Que Te Amo. E tinha um combinado de que teriam duas inéditas: Começo e Infiel. Gosto muito de cantar e queria uma sonoridade mais madura, que me possibilitasse mostrar um som e uma temática que tivessem a ver com o que eu estava vivendo. Amor foi o tema do disco que começa com Começo e acaba com Extravios, e passa por vários fragmentos do discurso amoroso. Aliás, o livro homônimo (Fragmentos de um Discurso Amoroso, de Roland Barthes) foi o ponto de partida. Diz é uma música que tem a ver com tudo o que ali se iniciou. Tenho vontade de fazer o Todo Amor 2.
Se fosse gravar esse disco hoje, faria diferente? Acha que há algum aspecto de produção que o deixa datado? Ou o faria exatamente como está?
LJ: Faria exatamente como está. Talvez a mixagem fosse um pouco diferente, com sons mais atuais. A sonoridade ali era atemporal. Uma das propostas era lidar com sentimentos e sonoridades atemporais. Mas a tecnologia ainda não oferecia tantas possibilidades como agora. Diz evidencia um pouco isto.
Hoje você é visto como multimídia, mas você já era "multi" desde os anos 1980, quando era (é) cantor de sucesso e fazia pontas em filmes.
LJ: Acho que demorou para que entendessem que isto era uma característica e não um defeito. A pluralidade era vista como falta de foco. Diziam que eu estava dando tiro para tudo quanto é lado. Mas eu penso em Caetano e Chico, sem me comparar, e vejo que fizeram o mesmo. Temos que atender às inquietudes criativas e não às expectativas do mercado. Mesmo que isto signifique, como foi o meu caso, criar um longo e tortuoso caminho distante dos refletores do sucesso. Fui sincero comigo mesmo. Paguei o preço e estou aí até hoje.
Você curte reality show? Como é apresentar o Detox do Amor? Você classifica o programa como reality ou é outra coisa?
LJ: É um reality, sim. Cria da casa! Não é um formato comprado. Assim como Amor & Sexo, este programa foi criado do zero e vai sendo aperfeiçoado a cada temporada. Tenho orgulho de ter feito parte da gênese dos dois. É uma pequena, mas sincera e efetiva contribuição para com o rico universo da nossa televisão. Adoro trabalhar em TV. Sempre gostei.
Já teve alguma situação difícil nesse programa, já que se trata de relacionamento de casais?
LJ: Este é um programa que trata de assuntos difíceis, da intimidade de famílias que não estão ali para buscar uma carreira na mídia, mas sim melhorar seus relacionamentos. É delicado o tempo todo! E conflitos acontecem e precisam acontecer. É pra isso que todos estão lá! Mas nunca ninguém perdeu a linha. Se bem que na temporada atual temos uma psicóloga, a Dra. Eda, pra cuidar das eventuais crises. Pra mim ficou claro na primeira temporada que esta era uma necessidade. Temos que ter como apagar os incêndios que provocamos.
E o Saia Justa? Você continua depois dessa temporada de verão só com os homens? Ele vai ser reformulação?
Vai ser reformulado, sim. E acho que a intenção do canal é mudar tudo. Vou sentir muita falta e imagino que o público também. Quem sabe não resolvem fazer um Saia Justa só com homens? Seria o Calça Arriada. (Risos).
Do que você mais gosta no Saia? Da conversa com as mulheres? Ou do papo entre homens, como agora?
LJ: Gosto é de bater papo com gente inteligente. Papos muito interessantes, por sinal. Não importa o gênero ou orientação sexual do interlocutor, nem mesmo a idade ou condição social. O papo inteligente é sempre bem vindo. Se podemos chamar isto de trabalho, aí passa a ser o trabalho ideal. Adoro fazer parte do Saia Justa. Saindo de lá, vou procurar outro programa parecido pra fazer.
Para quando pode-se esperar um CD com músicas inéditas?
LJ: Inéditas eu não sei. Sinto que devo um DVD para meu público e também adoraria seguir no projeto de um novo disco de intérprete. E sempre encaixar umas coisas novas minhas no meio.
Já pensou em voltar com Os Miquinhos Amestrados?
LJ: Eu gostaria muito que a gente se reunisse pra fazer algo. Mesmo que fosse só por uma noite. Adoro aquela banda!
Todo Amor / Leo Jaime / Warner / R$ 19,90 / www.leojaime.com.br
Pois é, e fez muito sucesso, especialmente nos anos 1980, quando emplacou vários hits em rádios de todo o Brasil, como Sônia, O Pobre, A Vida Não Presta e outros.
Agora volta às lojas um disco seu de 1995, Todo Amor. Álbum de intérprete, traz releituras em clima intimista para canções como Minha Mulher (Caetano Veloso), Preciso Dizer Que Te Amo (Cazuza), Eu Amo Você (Cassiano) e outras, além da inédita Diz.
Nesta entrevista por email, ele fala do disco e da experiência em TV nos programas Saia Justa e Detox do Amor (canal GNT).
Por que esse disco em especial para ser relançado?
Leo Jaime: Esse disco marca a metade do percurso. Depois de 5 anos sem gravar, fiz um disco de intérprete, como acordo pelo tempo na geladeira. O disco saiu maravilhoso e apontava para um novo caminho diferente daquele do início da carreira. Pena que não teve sequência. Ainda. Tanto que Diz, a música bônus que foi gravada recentemente, é parte da ideia de dar continuidade àquela onda.
Você lembra como foi o critério de seleção das canções? O que te guiou, além de serem sobre um tema específico, no caso, amor? E quanto a inédita Diz?
LJ: Lembro que eu procurava canções que não fossem muito óbvias e que eu sentisse que podiam ser cantadas por mim como se fossem minhas. Experimentamos muitas ao longo dos ensaios para o disco. Marina e Felipe Abreu me ajudaram muito neste período. Durante a gravação apareceram outras, como Preciso Dizer Que Te Amo. E tinha um combinado de que teriam duas inéditas: Começo e Infiel. Gosto muito de cantar e queria uma sonoridade mais madura, que me possibilitasse mostrar um som e uma temática que tivessem a ver com o que eu estava vivendo. Amor foi o tema do disco que começa com Começo e acaba com Extravios, e passa por vários fragmentos do discurso amoroso. Aliás, o livro homônimo (Fragmentos de um Discurso Amoroso, de Roland Barthes) foi o ponto de partida. Diz é uma música que tem a ver com tudo o que ali se iniciou. Tenho vontade de fazer o Todo Amor 2.
Se fosse gravar esse disco hoje, faria diferente? Acha que há algum aspecto de produção que o deixa datado? Ou o faria exatamente como está?
LJ: Faria exatamente como está. Talvez a mixagem fosse um pouco diferente, com sons mais atuais. A sonoridade ali era atemporal. Uma das propostas era lidar com sentimentos e sonoridades atemporais. Mas a tecnologia ainda não oferecia tantas possibilidades como agora. Diz evidencia um pouco isto.
Hoje você é visto como multimídia, mas você já era "multi" desde os anos 1980, quando era (é) cantor de sucesso e fazia pontas em filmes.
LJ: Acho que demorou para que entendessem que isto era uma característica e não um defeito. A pluralidade era vista como falta de foco. Diziam que eu estava dando tiro para tudo quanto é lado. Mas eu penso em Caetano e Chico, sem me comparar, e vejo que fizeram o mesmo. Temos que atender às inquietudes criativas e não às expectativas do mercado. Mesmo que isto signifique, como foi o meu caso, criar um longo e tortuoso caminho distante dos refletores do sucesso. Fui sincero comigo mesmo. Paguei o preço e estou aí até hoje.
Você curte reality show? Como é apresentar o Detox do Amor? Você classifica o programa como reality ou é outra coisa?
LJ: É um reality, sim. Cria da casa! Não é um formato comprado. Assim como Amor & Sexo, este programa foi criado do zero e vai sendo aperfeiçoado a cada temporada. Tenho orgulho de ter feito parte da gênese dos dois. É uma pequena, mas sincera e efetiva contribuição para com o rico universo da nossa televisão. Adoro trabalhar em TV. Sempre gostei.
Já teve alguma situação difícil nesse programa, já que se trata de relacionamento de casais?
LJ: Este é um programa que trata de assuntos difíceis, da intimidade de famílias que não estão ali para buscar uma carreira na mídia, mas sim melhorar seus relacionamentos. É delicado o tempo todo! E conflitos acontecem e precisam acontecer. É pra isso que todos estão lá! Mas nunca ninguém perdeu a linha. Se bem que na temporada atual temos uma psicóloga, a Dra. Eda, pra cuidar das eventuais crises. Pra mim ficou claro na primeira temporada que esta era uma necessidade. Temos que ter como apagar os incêndios que provocamos.
E o Saia Justa? Você continua depois dessa temporada de verão só com os homens? Ele vai ser reformulação?
Vai ser reformulado, sim. E acho que a intenção do canal é mudar tudo. Vou sentir muita falta e imagino que o público também. Quem sabe não resolvem fazer um Saia Justa só com homens? Seria o Calça Arriada. (Risos).
Do que você mais gosta no Saia? Da conversa com as mulheres? Ou do papo entre homens, como agora?
LJ: Gosto é de bater papo com gente inteligente. Papos muito interessantes, por sinal. Não importa o gênero ou orientação sexual do interlocutor, nem mesmo a idade ou condição social. O papo inteligente é sempre bem vindo. Se podemos chamar isto de trabalho, aí passa a ser o trabalho ideal. Adoro fazer parte do Saia Justa. Saindo de lá, vou procurar outro programa parecido pra fazer.
Para quando pode-se esperar um CD com músicas inéditas?
LJ: Inéditas eu não sei. Sinto que devo um DVD para meu público e também adoraria seguir no projeto de um novo disco de intérprete. E sempre encaixar umas coisas novas minhas no meio.
Já pensou em voltar com Os Miquinhos Amestrados?
LJ: Eu gostaria muito que a gente se reunisse pra fazer algo. Mesmo que fosse só por uma noite. Adoro aquela banda!
Todo Amor / Leo Jaime / Warner / R$ 19,90 / www.leojaime.com.br
sexta-feira, janeiro 11, 2013
ENTREVISTÃO ERASMO CARLOS - 50 ANOS DANDO NO COURO
Diretamente dos arquivos do Rock Loco, entrevistão com Erasmo Carlos feita em maio de 2012, na ocasião do lançamento do DVD 50 Anos de Estrada Ao Vivo no Theatro Municipal. A matéria foi publicada no Caderno 2+ do jornal A Tarde em 30 de maio de 2012, mas não lembro por que não a publiquei aqui antes. Lembrei dela e achei que seria muito egoísmo guardar esse belo material só pra mim. Foi minha segunda entrevista com o Tremendão e, como sempre, ele esbanjou sabedoria e generosidade - para não falar da simpatia com que tratou este humilde e honrado repórter. A primeira foi um ano antes, quando ele lançou o álbum Sexo (2011). Segue a transcrição completa do áudio da entrevista por telefone.
Uma trajetória tão espetacular quanto a de Erasmo Carlos merece uma comemoração à altura. O CD duplo / DVD 50 Anos de Estrada Ao Vivo no Theatro Municipal cumpre a missão com louvor, sem ceder à nostalgia ou emoções baratas.
Gravado no suntuoso palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o show traz o Tremendão em uma bela revisão de carreira, acompanhado de banda enxuta, porém afiadíssima, que inclui o power trio Filhos da Judith (Luiz Lopez, Pedro Dias e Alan Fontenele), Dadi Carvalho (na guitarra, uma raridade), Billy Brandão (guitarra), José Lourenço (maestro e teclados) e, em algumas faixas, a Orquestra de Cordas do Municipal.
Mesmo que às vezes pareça meio tímido no palco, Erasmo esbanja seu carisma natural e está com a voz em forma.
Os convidados são uma atração à parte: Marisa Monte (com quem canta Mais Um na Multidão, faixa que compuseram juntos) e claro, um Roberto Carlos mais solto e à vontade do que em 30 e tantos anos de especiais na Globo, cantando Parei na Contramão e É Preciso Saber Viver.
Desnecessário dizer que é o momento mais emocionante e especial do show, até por que, como Erasmo confirma nesta entrevista, não houve roteiro, o que gerou um ou dois divertidos momentos de desconcerto entre os velhos amigos.
Uma linda coleção de sucessos e o testemunho definitivo de um gênio da música popular.
Ficou satisfeito com o resultado? Com o show em si, com a direção do DVD?
ERASMO CARLOS: Senhor tá no céu! (Risos). Senhor é o Papai Noel, Dom Pedro II. Mas sim, Fiquei satisfeito sim, ficou bonito pra caramba, um dos dias mais felizes da minha vida.
Logo no início voccê diz à plateia que "nunca antes vocês viram um compositor mais feliz no palco". Você se sente mais compositor do que performer?
EC: Eu sou compositor, é minha profissão mesmo. Eu não sou cantor. Canto por consequencia de minhas composições, mas eu me considero mesmo é compositor.
Você se vê mais como compositor, então?
EC: Não, eu me vejo não: eu sou. O que eu sei fazer é música, né? Tudo o que gira em torno disso – show, cantar, gravar, dar entrevista – tudo é em função de eu ser compositor.
A coisa toda de ser um show comemorativo de 50 anos de estrada, de ser no Municipal etc - tudo isso chegou a te intimidar em algum momento? Você ainda fica nervoso antes de subir no palco?
EC: Nervoso a gente fica sempre. Em qualquer show, a gente fica. Mesmo sabendo tudo, tendo feito milhares de shows pela vida, mas é que cada dia é uma emoção diferente. cada público, cada cidade é diferente, sabe? Então isso dá a vontade que saia tudo perfeito, que não tenha problema nenhum no som, que o show ocorra tranquilo, que as pessoas entendam o amor que agente quer transmitir, que a gente consiga receber também o amor que as pessoas querem devolver, se não vai pifar nada, o instrumental... Então essa preocupação toda gera uma tensão muito grande, dá aquele nervoso na gente, que chamam de friozinho na barriga, que não é friozinho, é dor, mesmo! É dor na barriga mesmo (risos). Mas lá pela terceira música ela passa e o show caminha tranquilo.
É até uma coisa natural, é necessário para se manter atento a tudo, né?
É! Agora respondendo à sua outra pergunta, eu não sei hoje em diz o conceito que as pessoas tem do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, mas acontece o seguinte: quando eu comecei minha vida (artística) lá nos anos 1960, lá na Tijuca, menino sonhador, sabe, aventureiro, eu jamais imaginaria um dia poder pisar naquele palco, que é uma coisa tão grande, um templo sagrado que abriga as artes nobres, sabe? Então, eu jamais imaginaria, naquele tempo, pisar um dia no palco do Municipal – ainda mais cantando rock 'n' roll! Então, minha alegria, minha felicidade, no dia que eu fiz isso, foi inexplicável, inenarrável. Inclusive, cantar Festa de Arromba no Municipal, isso pra mim, foi a maior vitória que eu já tive na minha vida. Muito significativo pra mim. Na minha cabeça, todo mundo que eu falo em Festa de Arromba tava ali no palco comigo.
Você retomou a pegada rock 'n' roll nos últimos discos. O que motivou isso? Uma necessidade de retorno às origens, ou o senhor achou que tava na hora de mostrar a molecada como se faz? Por que tá faltando rock 'n' roll, né?
EC: É um misto disso tudo o que você falou e mais o seguinte: eu sou um compositor brasileiro, sabe? Então, você sabe que, aqui no Brasil, a gente sofre muitas influências, né? Na Inglaterra, o compositor é aquilo só. É só aquilo que tem, aquele negócio deles, lá. Eles não sabem outras coisas. Aqui, não. A gente é muito rico de influências, sabe? No Maranhão tem influência, Recife... A Bahia, então, nem se fala. Tem lá no Sul, no Centro-Oeste...
É, cada região tem suas músicas características, né?
EC: É, então, tudo isso influencia você. Assim como eu me influenciei na minha vida com todos os ritmos que apareciam... A minha estrada é assim, tão longa, que eu vivenciei o nascer de vários ritmos. Mambo, rumba, cha cha chá... Eu vi o nascer do rock 'n' roll e da bossa nova. É diferente de uma pessoa hoje em dia: "Como é que é essa tal de bossa nova?" Aí o menino vai ouvir e "Porra, é isso aí?" Ele ouve por ouvir, com o ouvido "frio" do menino de agora, sabe? Mas eu não, eu vi a magia do nascer da coisa. Eu ouvia os comentários nas ruas: "Já ouviu a música tal? Tem um cara aí que canta esquisito, com a voz baixinha, ele é desafinado pra caramba"! (Risos) As pessoas nem tinham noção. Eles confundiam a afinação de João Gilberto com desafinação. Então, essa maravilha toda, os comentários nas esquinas, os primeiros acordes novos, ia um ensinando pro outro, sabe? Era a magia do momento. Então eu vivi isso tudo, o rock 'n' roll, a bossa nova e outras coisas também. Então, hoje em dia, claro, eu sou um compositor brasileiro que sofre essas influências todas e isso me faz, de vez em quando, ir por outros caminhos. Aí daqui a pouco eu tô muito emepebista, depois faço um bolero... sei lá o que eu faço. Aí, de repente eu me toquei: porra, eu comecei minha vida cantando rock 'n' roll. Então eu deixei isso... apesar de nunca ter deixado de fazer rock 'n' roll, eu nunca mais tinha assumido mesmo a coisa. Eu sou isso. Apareci assim e vou ficar assim. E tem também isso aí que você falou. Porra, tá na hora de ensinar pros meninos o que é rock 'n' roll mesmo. Aí voltei, me dei muito bem e vou continuar.
Tava vendo o release do Arnaldo Antunes e ele diz que você surgiu apenas dez anos depois do rock 'n' roll em si. Como foi acompanhar o desenvolvimento do rock ao longo dessas décadas?
EC: Eu tive que acompanhar, né? Fui crescendo junto com ele, mas tenho que confessar que, dos anos 1970 em diante, nada mais me arrepiou, bicho. Eu parei nos anos 70 nesse lance de músicas preferidas, de me arrepiar com as músicas, de chorar pra caramba ouvindo uma música, eu parei ali. Nada me arrepiou nos anos 80, 90, 2000, hoje, nada me arrepia. Então meus discos preferidos são esses, meus rocks básicos, a bossa nova básica de João Gilberto, Marcos Valle, Tom Jobim, Vinícius, eu gosto dessas coisas assim.
O arranjo estilo 007 de Negro Gato ficou espetacular. Como surgiu?
EC: Os arranjos a gente vai fazendo... O maestro Zé Lourenço toma as iniciativas lá e todo mundo vai criando, bicho. Eu digo como é que eu quero mais ou menos a levada, não abro mão das minhas divisões e eles fazem o arranjo em cima delas. Por isso que é bom você contar com excelentes músicos criativos, sabe? Por que tem músico que não cria, só vai na água com açúcar. Pega a harmonia e pronto, vai tocando com a cifra, vai seguindo e não cria nada. Músicos criativos não, eles enriquecem seus arranjos.
O senhor tocou com uma banda compacta mas muito eficiente, os meninos da Filhos da Judith, Dadi, Billy Brandão...
EC: É mesmo, mas pô! Para de me chamar de senhor!
Ô, desculpe, é o costume!
EC: É respeito demais (risos)!
Aquela canção ecológica do sr. e do Roberto é antiga? O senhor diz que não ouviram vocês falando de ecologia nos anos 1970 por que vocês falavam em português.
EC: Aquela música é de 74 ou 76, se não me engano. Mas aquilo que eu falo é uma ironiazinha, sabe, daquilo que eu chama de "complexo de vira-lata". Eu chamo, não. Eu acho que foi o Nélson Rodrigues que criou esse termo. É esse eterno complexo que brasileiro tem de achar que tudo que é (norte) americano é melhor. De seguir os americanos em tudo. Logicamente que é um povo espetacular, defensor de uma liberdade legal pra caramba, mas também é um povo prepotente e arrogante. E o Brasil tem essa mania de achar que tudo que é americano é lindo e maravilhoso, ao ponto de dar um valor exagerado, eu acho, às coisas americanas, em desprestígio das nossas. Isso me causa uma certa chateação. Então aquilo que eu falo é um pouco de ironia em cima disso. Quando o cara fala em português, ninguém presta atenção, pensa que é besteira, "o cara tá maluco" (risos). Aí o outro fala em inglês, tem outra seriedade.
A participação da Marisa Monte ficou maravilhosa. Vocês gravaram aquela música juntos, né?
EC: Fizemos e gravamos juntos. Aí era óbvio que a gente cantasse, por que nunca tínhamos cantado ela juntos ao vivo. Foi bonito, um momento marcante e registrou pra sempre nós dois cantando nossa música juntos.
Como todo grande artista o senhor tem várias facetas: tem o Erasmo roqueiro, o Erasmo romântico, o Erasmo comentarista social - em qual pele o senhor se sente mais confortável, mais Erasmo?
EC: Olha, eu acho que, desde que eu goste do tema, eu acho que eu sou eu, sempre. Quando o tema calha de um tema que possa fazer ele com humor, ih, eu fico muito feliz, eu gosto muito de usar a ironia, o humor, de deixar alguma coisa no ar para as pessoas pensarem, sabe? Por exemplo: "Dizem que a mulher é o sexo frágil". Não sou eu que estou dizendo – "dizem". Então já bota a responsabilidade pro outro, sabe? Eu gosto muito desse jogo, do comentário. Eu sou cronista. Me considero um contista, eu conto coisas da vida, vistas pelo meu foco.
Aquela introdução com o senhor falando disfarçado, como nos jornais da TV, foi uma sacada muito inteligente que fala do preconceito contra os roqueiros aqui no Brasil, uma coisa que até eu, que só tenho 40 anos, sofri nos tempos da escola, já nos anos 80. O senhor sofreu muito com isso?
EC: Claro, sofri muito preconceito! Era terrível, rapaz! Contando assim, nem dá pra transmitir o que era. Por que no início, tinha a religião contra (o rock). Chamava de coisa do diabo (risos), dizia que o demônio entrava nas pessoas, eram contra a dança, contra a música, o ritmo... Então tinha movimentos. Aí na Bahia, por exemplo, eu fui com Renato & Seus Blue Caps, quando eu era da banda, a gente foi em Itabuna. Fizemos uma excursão por Itabuna, Feira de Santana e Salvador. A gente cantou no (Clube) Baiano de Tênis e, porra, não teve um aplauso, cara!
Foi mermo?
EC: Imagine você, uma banda acaba de tocar e ninguém aplaude. A juventude queria dançar: as meninas, os rapazes. Mas os pais estavam junto e eles tinham medo, sabe? Era muito preconceito sobre tudo, os costumes. E o gênero (rock 'n' roll) libertou essas pessoas. O rock 'n' roll libertou a juventude toda, por que era uma juventude presa, escravizada aos gostos dos pais. Até no modo de se vestir, o comportamento... e claro que a música também, ouviam o que os pais ouviam, os cantores antigos como Silvio Caldas, Orlando Silva e outros. E no Estados Unidos era Sinatra, as big bands, Glen Miller. Antigamente, quando morria uma pessoa do governo eram três dias de luto, parava de tocar tudo quanto era música nas rádios tocava só música clássica (risos). Então a gente teve essa vivência, o rock 'n' roll era completamente marginalizado. Tatuagem também, qualquer coisa que exprimisse liberdade era mal vista. E começava em casa, era mal visto pelos pais e pela sociedade em geral. Então, quem vivia daquilo, daquele ritmo que estava surgindo, quem abraçou e dedicou àquilo, sofreu pra caramba.
Ver o senhor e Roberto Carlos juntos no palco já é emocionante para qualquer brasileiro, imagino como dever ser para vcs dois. Como é para o senhor? Respira fundo, ou tira de letra?
EC: Imagina pra nós! Mas é bonito, respira fundo, engole a lágrima, o abraço é mais forte, por que você vê além da sua alegria, a alegria do outro que também está feliz naquele momento. Roberto foi de uma generosidade, de uma entrega maravilhosa, foi inesquecível pra mim. E ele estava muito solícito, olha que a gente já cantou por vários anos nos especiais dele na televisão, mas ali ele estava diferente comigo, sabe? De repente era por que era o meu show, minha relização e ele estava apenas participando. A entrega dele foi total. Foi um Roberto como eu nunca tinha visto antes comigo. Embora já tivessemos cantado tantas vezes antes juntos.
É verdade, ele estava mais solto, mais à vontade.
EC: Era como se estivessemos cantando em casa, e nada foi combinado. Diferente dos textos que a gente recebe nos especiais dele, por que vem o texto antes, sabe? Aí a gente improvisa em cima de um texto. Lá (no Municipal) não teve texto. Foi que vinha na cabeça a gente falava.
Por que o senhor e Roberto não fazem um projeto juntos?
EC: Isso é meio impossivel, muita coisa, muitos interesses paralelos, editoras e gravadoras diferentes, é meio complicado. As pessoas me cobram muito isso. 'Faz isso', 'faz aquilo', mas tudo o que a pessoa pensa já foi pensado por mim. Eu já pensei em todas as pessobilidades possiveis e impossiveis de gravar disco, mas tudo tem sua hora, se tiver que ser é, na minha vida eu não forço nada, tudo o que acontece é porque tem que acontecer mesmo. A vida botou na minha frente, aí cabe a mim dizer sim ou não, com a responsabilidade de, de repente, dizer não a uma coisa que dá certo. Ou dizer sim a uma coisa que não deu certo. Isso é a sorte, mas eu não procuro nada, não forço barra nenhuma, não pertenço a grupo nenhum, panela nenhuma. Eu sigo simplesmente minha vida fazendo minha música, e o que tem que acontecer, acontece.
Por que Wanderlea não participou?
EC: Por que... ela não... (Para e pensa um pouco) Não fui eu quem fez as escolhas. Seria muito óbvio, sabe? Acho que queriam fugir do óbvio, botar pessoas da Jovem Guarda, fica aquela coisa, DVD da Jovem Guarda. Não é, cara. Também não convidaram um monte de artistas para participar, por que não foi uma coisa feita para o Municipal. Foi o último show da temporada do disco Rock 'n' Roll. Então a gente ia fazer o último show aqui no Rio. Poderia ser em qualquer casa de show. Mas de repente, surgiu o Municipal. Aí fizemos e a coisa cresceu. Aí minha produção convidou o Roberto Carlos e a Marisa Monte. Foi surpresa até pra mim quando me disseram, "Ih, o Roberto vai!". Eu fiquei "É mesmo?" "A Marisa Monte também!". "Pô, que genial", num sei o que. Quer dizer, não foi uma coisa feita para o Municipal nem para os 50 anos de Estrada. Foi o último show da temporada Sexo & Rock 'n' Roll, que calhou de ser no Municipal.
O senhor vai correr pelo Brasil com esse show do DVD?
EC: Já fiz a Bahia, inclusive, uma semana antes do Municipal. Agora devemos voltar, mas não fechamos data ainda, já fizemos Rio, São Paulo e Belo Horizonte e agora vou pro Rock in Rio Lisboa, na volta vamos pensar a estrada desse show do DVD. (Fala com alguém ao lado) Hein? Ah, eu fiz um show semana passada aí, na Costa de Sauípe. No não sei o que da Mata, foi um evento fechado para uma firma lá, no Hotel Ibero Star.
O senhor já tem planos para um próximo trabalho?
EC: Não, não tenho nada ainda, bicho. Tô na estrada e devo ficar nela por mais um ano, pelo menos. Depois penso em coisa nova.
A Coqueiro Verde está botando muita coisa nova bacana no mercado. O que senhor tem ouvido?
EC: Cara não tenho mais muito tempo, é muita musica, muita gente, muita informação. Se eu parar para ouvir todo mundo, não faço mais nada. Na Coqueiro é meu filho, Leo Esteves, quem comanda. Ele me manda uns suplementos, mas nem dá pra ouvir todo mundo.
Erasmo, é sempre um prazer falar com você.
EC: Pô, pra mim, também, que eu posso falar um monte de mentira e você acredita. (Risos)
Espero ouvir muito mais mentira do senhor, ainda.
EC: Tá bom, bicho! Obrigado por tudo e fica com Deus.
Erasmo Carlos / 50 Anos de Estrada Ao Vivo no Theatro Municipal / CD: R$ 19,99 | DVD: R$ 24,99
Uma trajetória tão espetacular quanto a de Erasmo Carlos merece uma comemoração à altura. O CD duplo / DVD 50 Anos de Estrada Ao Vivo no Theatro Municipal cumpre a missão com louvor, sem ceder à nostalgia ou emoções baratas.
Gravado no suntuoso palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o show traz o Tremendão em uma bela revisão de carreira, acompanhado de banda enxuta, porém afiadíssima, que inclui o power trio Filhos da Judith (Luiz Lopez, Pedro Dias e Alan Fontenele), Dadi Carvalho (na guitarra, uma raridade), Billy Brandão (guitarra), José Lourenço (maestro e teclados) e, em algumas faixas, a Orquestra de Cordas do Municipal.
Mesmo que às vezes pareça meio tímido no palco, Erasmo esbanja seu carisma natural e está com a voz em forma.
Os convidados são uma atração à parte: Marisa Monte (com quem canta Mais Um na Multidão, faixa que compuseram juntos) e claro, um Roberto Carlos mais solto e à vontade do que em 30 e tantos anos de especiais na Globo, cantando Parei na Contramão e É Preciso Saber Viver.
Desnecessário dizer que é o momento mais emocionante e especial do show, até por que, como Erasmo confirma nesta entrevista, não houve roteiro, o que gerou um ou dois divertidos momentos de desconcerto entre os velhos amigos.
Uma linda coleção de sucessos e o testemunho definitivo de um gênio da música popular.
Ficou satisfeito com o resultado? Com o show em si, com a direção do DVD?
ERASMO CARLOS: Senhor tá no céu! (Risos). Senhor é o Papai Noel, Dom Pedro II. Mas sim, Fiquei satisfeito sim, ficou bonito pra caramba, um dos dias mais felizes da minha vida.
Logo no início voccê diz à plateia que "nunca antes vocês viram um compositor mais feliz no palco". Você se sente mais compositor do que performer?
EC: Eu sou compositor, é minha profissão mesmo. Eu não sou cantor. Canto por consequencia de minhas composições, mas eu me considero mesmo é compositor.
Você se vê mais como compositor, então?
EC: Não, eu me vejo não: eu sou. O que eu sei fazer é música, né? Tudo o que gira em torno disso – show, cantar, gravar, dar entrevista – tudo é em função de eu ser compositor.
A coisa toda de ser um show comemorativo de 50 anos de estrada, de ser no Municipal etc - tudo isso chegou a te intimidar em algum momento? Você ainda fica nervoso antes de subir no palco?
EC: Nervoso a gente fica sempre. Em qualquer show, a gente fica. Mesmo sabendo tudo, tendo feito milhares de shows pela vida, mas é que cada dia é uma emoção diferente. cada público, cada cidade é diferente, sabe? Então isso dá a vontade que saia tudo perfeito, que não tenha problema nenhum no som, que o show ocorra tranquilo, que as pessoas entendam o amor que agente quer transmitir, que a gente consiga receber também o amor que as pessoas querem devolver, se não vai pifar nada, o instrumental... Então essa preocupação toda gera uma tensão muito grande, dá aquele nervoso na gente, que chamam de friozinho na barriga, que não é friozinho, é dor, mesmo! É dor na barriga mesmo (risos). Mas lá pela terceira música ela passa e o show caminha tranquilo.
É até uma coisa natural, é necessário para se manter atento a tudo, né?
É! Agora respondendo à sua outra pergunta, eu não sei hoje em diz o conceito que as pessoas tem do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, mas acontece o seguinte: quando eu comecei minha vida (artística) lá nos anos 1960, lá na Tijuca, menino sonhador, sabe, aventureiro, eu jamais imaginaria um dia poder pisar naquele palco, que é uma coisa tão grande, um templo sagrado que abriga as artes nobres, sabe? Então, eu jamais imaginaria, naquele tempo, pisar um dia no palco do Municipal – ainda mais cantando rock 'n' roll! Então, minha alegria, minha felicidade, no dia que eu fiz isso, foi inexplicável, inenarrável. Inclusive, cantar Festa de Arromba no Municipal, isso pra mim, foi a maior vitória que eu já tive na minha vida. Muito significativo pra mim. Na minha cabeça, todo mundo que eu falo em Festa de Arromba tava ali no palco comigo.
Você retomou a pegada rock 'n' roll nos últimos discos. O que motivou isso? Uma necessidade de retorno às origens, ou o senhor achou que tava na hora de mostrar a molecada como se faz? Por que tá faltando rock 'n' roll, né?
EC: É um misto disso tudo o que você falou e mais o seguinte: eu sou um compositor brasileiro, sabe? Então, você sabe que, aqui no Brasil, a gente sofre muitas influências, né? Na Inglaterra, o compositor é aquilo só. É só aquilo que tem, aquele negócio deles, lá. Eles não sabem outras coisas. Aqui, não. A gente é muito rico de influências, sabe? No Maranhão tem influência, Recife... A Bahia, então, nem se fala. Tem lá no Sul, no Centro-Oeste...
É, cada região tem suas músicas características, né?
EC: É, então, tudo isso influencia você. Assim como eu me influenciei na minha vida com todos os ritmos que apareciam... A minha estrada é assim, tão longa, que eu vivenciei o nascer de vários ritmos. Mambo, rumba, cha cha chá... Eu vi o nascer do rock 'n' roll e da bossa nova. É diferente de uma pessoa hoje em dia: "Como é que é essa tal de bossa nova?" Aí o menino vai ouvir e "Porra, é isso aí?" Ele ouve por ouvir, com o ouvido "frio" do menino de agora, sabe? Mas eu não, eu vi a magia do nascer da coisa. Eu ouvia os comentários nas ruas: "Já ouviu a música tal? Tem um cara aí que canta esquisito, com a voz baixinha, ele é desafinado pra caramba"! (Risos) As pessoas nem tinham noção. Eles confundiam a afinação de João Gilberto com desafinação. Então, essa maravilha toda, os comentários nas esquinas, os primeiros acordes novos, ia um ensinando pro outro, sabe? Era a magia do momento. Então eu vivi isso tudo, o rock 'n' roll, a bossa nova e outras coisas também. Então, hoje em dia, claro, eu sou um compositor brasileiro que sofre essas influências todas e isso me faz, de vez em quando, ir por outros caminhos. Aí daqui a pouco eu tô muito emepebista, depois faço um bolero... sei lá o que eu faço. Aí, de repente eu me toquei: porra, eu comecei minha vida cantando rock 'n' roll. Então eu deixei isso... apesar de nunca ter deixado de fazer rock 'n' roll, eu nunca mais tinha assumido mesmo a coisa. Eu sou isso. Apareci assim e vou ficar assim. E tem também isso aí que você falou. Porra, tá na hora de ensinar pros meninos o que é rock 'n' roll mesmo. Aí voltei, me dei muito bem e vou continuar.
Tava vendo o release do Arnaldo Antunes e ele diz que você surgiu apenas dez anos depois do rock 'n' roll em si. Como foi acompanhar o desenvolvimento do rock ao longo dessas décadas?
EC: Eu tive que acompanhar, né? Fui crescendo junto com ele, mas tenho que confessar que, dos anos 1970 em diante, nada mais me arrepiou, bicho. Eu parei nos anos 70 nesse lance de músicas preferidas, de me arrepiar com as músicas, de chorar pra caramba ouvindo uma música, eu parei ali. Nada me arrepiou nos anos 80, 90, 2000, hoje, nada me arrepia. Então meus discos preferidos são esses, meus rocks básicos, a bossa nova básica de João Gilberto, Marcos Valle, Tom Jobim, Vinícius, eu gosto dessas coisas assim.
O arranjo estilo 007 de Negro Gato ficou espetacular. Como surgiu?
EC: Os arranjos a gente vai fazendo... O maestro Zé Lourenço toma as iniciativas lá e todo mundo vai criando, bicho. Eu digo como é que eu quero mais ou menos a levada, não abro mão das minhas divisões e eles fazem o arranjo em cima delas. Por isso que é bom você contar com excelentes músicos criativos, sabe? Por que tem músico que não cria, só vai na água com açúcar. Pega a harmonia e pronto, vai tocando com a cifra, vai seguindo e não cria nada. Músicos criativos não, eles enriquecem seus arranjos.
O senhor tocou com uma banda compacta mas muito eficiente, os meninos da Filhos da Judith, Dadi, Billy Brandão...
EC: É mesmo, mas pô! Para de me chamar de senhor!
Ô, desculpe, é o costume!
EC: É respeito demais (risos)!
Aquela canção ecológica do sr. e do Roberto é antiga? O senhor diz que não ouviram vocês falando de ecologia nos anos 1970 por que vocês falavam em português.
EC: Aquela música é de 74 ou 76, se não me engano. Mas aquilo que eu falo é uma ironiazinha, sabe, daquilo que eu chama de "complexo de vira-lata". Eu chamo, não. Eu acho que foi o Nélson Rodrigues que criou esse termo. É esse eterno complexo que brasileiro tem de achar que tudo que é (norte) americano é melhor. De seguir os americanos em tudo. Logicamente que é um povo espetacular, defensor de uma liberdade legal pra caramba, mas também é um povo prepotente e arrogante. E o Brasil tem essa mania de achar que tudo que é americano é lindo e maravilhoso, ao ponto de dar um valor exagerado, eu acho, às coisas americanas, em desprestígio das nossas. Isso me causa uma certa chateação. Então aquilo que eu falo é um pouco de ironia em cima disso. Quando o cara fala em português, ninguém presta atenção, pensa que é besteira, "o cara tá maluco" (risos). Aí o outro fala em inglês, tem outra seriedade.
A participação da Marisa Monte ficou maravilhosa. Vocês gravaram aquela música juntos, né?
EC: Fizemos e gravamos juntos. Aí era óbvio que a gente cantasse, por que nunca tínhamos cantado ela juntos ao vivo. Foi bonito, um momento marcante e registrou pra sempre nós dois cantando nossa música juntos.
Como todo grande artista o senhor tem várias facetas: tem o Erasmo roqueiro, o Erasmo romântico, o Erasmo comentarista social - em qual pele o senhor se sente mais confortável, mais Erasmo?
EC: Olha, eu acho que, desde que eu goste do tema, eu acho que eu sou eu, sempre. Quando o tema calha de um tema que possa fazer ele com humor, ih, eu fico muito feliz, eu gosto muito de usar a ironia, o humor, de deixar alguma coisa no ar para as pessoas pensarem, sabe? Por exemplo: "Dizem que a mulher é o sexo frágil". Não sou eu que estou dizendo – "dizem". Então já bota a responsabilidade pro outro, sabe? Eu gosto muito desse jogo, do comentário. Eu sou cronista. Me considero um contista, eu conto coisas da vida, vistas pelo meu foco.
Aquela introdução com o senhor falando disfarçado, como nos jornais da TV, foi uma sacada muito inteligente que fala do preconceito contra os roqueiros aqui no Brasil, uma coisa que até eu, que só tenho 40 anos, sofri nos tempos da escola, já nos anos 80. O senhor sofreu muito com isso?
EC: Claro, sofri muito preconceito! Era terrível, rapaz! Contando assim, nem dá pra transmitir o que era. Por que no início, tinha a religião contra (o rock). Chamava de coisa do diabo (risos), dizia que o demônio entrava nas pessoas, eram contra a dança, contra a música, o ritmo... Então tinha movimentos. Aí na Bahia, por exemplo, eu fui com Renato & Seus Blue Caps, quando eu era da banda, a gente foi em Itabuna. Fizemos uma excursão por Itabuna, Feira de Santana e Salvador. A gente cantou no (Clube) Baiano de Tênis e, porra, não teve um aplauso, cara!
Foi mermo?
EC: Imagine você, uma banda acaba de tocar e ninguém aplaude. A juventude queria dançar: as meninas, os rapazes. Mas os pais estavam junto e eles tinham medo, sabe? Era muito preconceito sobre tudo, os costumes. E o gênero (rock 'n' roll) libertou essas pessoas. O rock 'n' roll libertou a juventude toda, por que era uma juventude presa, escravizada aos gostos dos pais. Até no modo de se vestir, o comportamento... e claro que a música também, ouviam o que os pais ouviam, os cantores antigos como Silvio Caldas, Orlando Silva e outros. E no Estados Unidos era Sinatra, as big bands, Glen Miller. Antigamente, quando morria uma pessoa do governo eram três dias de luto, parava de tocar tudo quanto era música nas rádios tocava só música clássica (risos). Então a gente teve essa vivência, o rock 'n' roll era completamente marginalizado. Tatuagem também, qualquer coisa que exprimisse liberdade era mal vista. E começava em casa, era mal visto pelos pais e pela sociedade em geral. Então, quem vivia daquilo, daquele ritmo que estava surgindo, quem abraçou e dedicou àquilo, sofreu pra caramba.
Ver o senhor e Roberto Carlos juntos no palco já é emocionante para qualquer brasileiro, imagino como dever ser para vcs dois. Como é para o senhor? Respira fundo, ou tira de letra?
EC: Imagina pra nós! Mas é bonito, respira fundo, engole a lágrima, o abraço é mais forte, por que você vê além da sua alegria, a alegria do outro que também está feliz naquele momento. Roberto foi de uma generosidade, de uma entrega maravilhosa, foi inesquecível pra mim. E ele estava muito solícito, olha que a gente já cantou por vários anos nos especiais dele na televisão, mas ali ele estava diferente comigo, sabe? De repente era por que era o meu show, minha relização e ele estava apenas participando. A entrega dele foi total. Foi um Roberto como eu nunca tinha visto antes comigo. Embora já tivessemos cantado tantas vezes antes juntos.
É verdade, ele estava mais solto, mais à vontade.
EC: Era como se estivessemos cantando em casa, e nada foi combinado. Diferente dos textos que a gente recebe nos especiais dele, por que vem o texto antes, sabe? Aí a gente improvisa em cima de um texto. Lá (no Municipal) não teve texto. Foi que vinha na cabeça a gente falava.
Por que o senhor e Roberto não fazem um projeto juntos?
EC: Isso é meio impossivel, muita coisa, muitos interesses paralelos, editoras e gravadoras diferentes, é meio complicado. As pessoas me cobram muito isso. 'Faz isso', 'faz aquilo', mas tudo o que a pessoa pensa já foi pensado por mim. Eu já pensei em todas as pessobilidades possiveis e impossiveis de gravar disco, mas tudo tem sua hora, se tiver que ser é, na minha vida eu não forço nada, tudo o que acontece é porque tem que acontecer mesmo. A vida botou na minha frente, aí cabe a mim dizer sim ou não, com a responsabilidade de, de repente, dizer não a uma coisa que dá certo. Ou dizer sim a uma coisa que não deu certo. Isso é a sorte, mas eu não procuro nada, não forço barra nenhuma, não pertenço a grupo nenhum, panela nenhuma. Eu sigo simplesmente minha vida fazendo minha música, e o que tem que acontecer, acontece.
Por que Wanderlea não participou?
EC: Por que... ela não... (Para e pensa um pouco) Não fui eu quem fez as escolhas. Seria muito óbvio, sabe? Acho que queriam fugir do óbvio, botar pessoas da Jovem Guarda, fica aquela coisa, DVD da Jovem Guarda. Não é, cara. Também não convidaram um monte de artistas para participar, por que não foi uma coisa feita para o Municipal. Foi o último show da temporada do disco Rock 'n' Roll. Então a gente ia fazer o último show aqui no Rio. Poderia ser em qualquer casa de show. Mas de repente, surgiu o Municipal. Aí fizemos e a coisa cresceu. Aí minha produção convidou o Roberto Carlos e a Marisa Monte. Foi surpresa até pra mim quando me disseram, "Ih, o Roberto vai!". Eu fiquei "É mesmo?" "A Marisa Monte também!". "Pô, que genial", num sei o que. Quer dizer, não foi uma coisa feita para o Municipal nem para os 50 anos de Estrada. Foi o último show da temporada Sexo & Rock 'n' Roll, que calhou de ser no Municipal.
O senhor vai correr pelo Brasil com esse show do DVD?
EC: Já fiz a Bahia, inclusive, uma semana antes do Municipal. Agora devemos voltar, mas não fechamos data ainda, já fizemos Rio, São Paulo e Belo Horizonte e agora vou pro Rock in Rio Lisboa, na volta vamos pensar a estrada desse show do DVD. (Fala com alguém ao lado) Hein? Ah, eu fiz um show semana passada aí, na Costa de Sauípe. No não sei o que da Mata, foi um evento fechado para uma firma lá, no Hotel Ibero Star.
O senhor já tem planos para um próximo trabalho?
EC: Não, não tenho nada ainda, bicho. Tô na estrada e devo ficar nela por mais um ano, pelo menos. Depois penso em coisa nova.
A Coqueiro Verde está botando muita coisa nova bacana no mercado. O que senhor tem ouvido?
EC: Cara não tenho mais muito tempo, é muita musica, muita gente, muita informação. Se eu parar para ouvir todo mundo, não faço mais nada. Na Coqueiro é meu filho, Leo Esteves, quem comanda. Ele me manda uns suplementos, mas nem dá pra ouvir todo mundo.
Erasmo, é sempre um prazer falar com você.
EC: Pô, pra mim, também, que eu posso falar um monte de mentira e você acredita. (Risos)
Espero ouvir muito mais mentira do senhor, ainda.
EC: Tá bom, bicho! Obrigado por tudo e fica com Deus.
Erasmo Carlos / 50 Anos de Estrada Ao Vivo no Theatro Municipal / CD: R$ 19,99 | DVD: R$ 24,99
quinta-feira, janeiro 10, 2013
ORIGINAL OLINDA STYLE E EMICIDA CONFIRMADOS NO DIGITÁLIA 2013
O coletivo Original Olinda Style (foto pescada daqui) e o rapper paulista Emicida
(acompanhado de banda completa) são as primeiras atrações confirmadas
para a parte musical da edição 2013 do Digitália - Congresso e Festival de Música e Cultura Digital.
Os músicos vão se apresentar no dia 5 de fevereiro, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, como atrações principais da festa de encerramento do Digitália 2013, que acontece de 1º a 5 de fevereiro, com oficinas, conferências, cursos, apresentações de trabalhos acadêmicos e outras atividades, sempre em torno do tema das "novas tecnologias da informação e da comunicação, notadamente aquelas conformadas pela chamada Cultura Digital", conforme explica o site do evento.
Sobre as atrações: o Original Olinda Style consiste de um coletivo que une a banda pernambucana Eddie e a Orquestra Contemporânea de Olinda no mesmo palco. O resultado é uma grande festa no estilo do carnaval pernambucano.
Já o rapper Emicida (foto: Jordi Burch / Trip) é hoje um dos mais apreciados do gênero no Brasil.
Dono de articulada linguagem pop, já transcendeu o público do hip hop, mas sem deixar de agradar aos "manos" e "minas".
Pela primeira vez, Emicida se apresenta em Salvador acompnhado de banda completa e um convidado muito especial: Rael da Rima,o único MC que derrotou Emicida
em uma disputa de rimas.
(Na verdade, acabei de receber um telefonema da assessora do Emicida, que me disse que Rael nem participa de disputas de rimas. Ô Messias! Tá querendo me deixar doido? ;-) )
Na parte acadêmica, o Digitália já confirmou conferências de Gilberto Gil (pelo segundo ano consecutivo), Jon Pareles (o temido crítico de música e editor de cultura do New York Times) e Chris Kaskie, Presidente do Pitchfork Media, empresa responsável pelo famoso site www.pitchfork.com, referência mundial em música independente e / ou digital.
Os músicos vão se apresentar no dia 5 de fevereiro, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, como atrações principais da festa de encerramento do Digitália 2013, que acontece de 1º a 5 de fevereiro, com oficinas, conferências, cursos, apresentações de trabalhos acadêmicos e outras atividades, sempre em torno do tema das "novas tecnologias da informação e da comunicação, notadamente aquelas conformadas pela chamada Cultura Digital", conforme explica o site do evento.
Sobre as atrações: o Original Olinda Style consiste de um coletivo que une a banda pernambucana Eddie e a Orquestra Contemporânea de Olinda no mesmo palco. O resultado é uma grande festa no estilo do carnaval pernambucano.
Já o rapper Emicida (foto: Jordi Burch / Trip) é hoje um dos mais apreciados do gênero no Brasil.
Dono de articulada linguagem pop, já transcendeu o público do hip hop, mas sem deixar de agradar aos "manos" e "minas".
Pela primeira vez, Emicida se apresenta em Salvador acompnhado de banda completa e um convidado muito especial: Rael da Rima,
(Na verdade, acabei de receber um telefonema da assessora do Emicida, que me disse que Rael nem participa de disputas de rimas. Ô Messias! Tá querendo me deixar doido? ;-) )
Na parte acadêmica, o Digitália já confirmou conferências de Gilberto Gil (pelo segundo ano consecutivo), Jon Pareles (o temido crítico de música e editor de cultura do New York Times) e Chris Kaskie, Presidente do Pitchfork Media, empresa responsável pelo famoso site www.pitchfork.com, referência mundial em música independente e / ou digital.
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