terça-feira, setembro 18, 2012

TRANSITO LIVRE PARA ENIO NOGUEIRA

Hoje, muito provavelmente, não há em Salvador músico mais versátil e dinâmico do que o guitarrista, cantor e compositor Enio Nogueira.

Nascido em São Paulo, mas residente em Salvador desde os oito anos – hoje está com 33 – ele transita livremente, sem barreiras nem preconceitos, do semba de Magary ao rock pesado da Vendo 147, do axé de Alexandre Peixe ao som black do seu trabalho solo, Enio & A Maloca.

Recentemente contemplado em um Edital Setorial de Música da Fundação Cultural do Estado, Enio agora dá os últimos retoques no seu segundo disco. O primeiro, Unidade Móvel, produzido por andré t., é de 2006.

“O novo já está gravado e também foi produzido por andré, mas, na loucura das parcerias, resolvi incluir mais algumas coisas que produzi com JR. Tostói (músico carioca, atuou com Caetano Veloso, Lobão e muitos outros)”, conta Enio.

“E ainda tem uma música especial, que vou lançar para download gratuito antes do CD, chamada Axé. Por que eu sou roqueiro”, sorri, quase irônico. "“Uma vez me perguntaram se sou roqueiro bonzinho. Se ser do rock é seguir aquele velho clichê de ficar se drogando e fazendo besteira por aí, prefiro não ser”", arremata.


Com participação da Sanbone Pagode Orquestra, a faixa de arranjo soul  é a visão particular – ainda que não exatamente incomum – do artista para a vida: “Minha proteção é estar de pé / Se eu planto o bem /Eu colho felicidade / Sigo em sintonia de fé / Te mando um axé / Para ver se a gente fica do mesmo lado”, diz a letra.

Intencionalmente ou não, ela traduz à perfeição a postura livre e a filosofia de vida de Enio.

Dinheiro do céu

Filho de cearense com paulista, Enio chegou com a família em Salvador ainda na década de 1980, quando o pai foi transferido da capital paulista para trabalhar no Pólo Petroquímico de Camaçari.

Aos 12, encantou-se com a guitarra marca Tonante do seu vizinho.

Por obra e graça  da imponderabilidade, um dia, perambulando pelas cercanias do condomínio da Avenida Paralela aonde mora ainda hoje, achou dinheiro no chão. “Eram 150 dólares. Sério”, jura.

Atitude reprovável ou não, agora não importa mais: fissurado em guitarra, o garoto  não hesitou um segundo e pulou dentro de um táxi.

“Fui para o Orixás Center e comprei uma guitarra Tonante, um baixo Jennifer e uma bateria Taico. Botei tudo dentro do meu quarto”, relata, citando as marcas de instrumentos mais baratas que havia à época.

Aos 13, o fã de Metallica e Slayer formou sua primeira banda, de metal pesado. “Mas ao mesmo tempo, eu gostava muito de Luis Caldas”, pontua o músico.

“Uma das primeiras coisas que vi na minha vida foi Luis Caldas, no trio Camaleão. Era uma coisa meio Michael Jackson, do cara que era meio preto, mas fazia sucesso. Isso me inspirou. Acho que foi daí que veio  essa coisa de gostar de misturar tudo”, acredita.

Depois de algum tempo, Enio vendeu a guitarra, o baixo e a bateria e comprou sua primeira guitarra profissional.

“Aí comecei a tocar com todo mundo que me abria espaço. Toquei no Garage Rock (histórico festival de rock local), com minha banda de metal, a Helltracks. Ao mesmo tempo, era amigo de Jau, que cantava no Olodum na época e me foi apresentado pelo (reggaeman) Dado Brazzawilly”, recorda-se.

Carreira agitada

Desde então, Enio já passou pela banda do próprio Jau, pela Negracor, Netinho, Funk Machine, 2 Sapos & Meio e hoje, toca com Alexandre Peixe de um lado e a Vendo 147 do outro.

Ao mesmo tempo, teve músicas gravadas por Magary Lord, Tomate e Jau. “Tô em um momento muito positivo, tirando o que tem de melhor de  todas as possibilidades. Tenho minha banda, toco com Alexandre Peixe, saio do ensaio, faço música com Magary, levo essa experiência para a Vendo 147. Viver tudo isso ao mesmo tempo é legal demais”, felicita-se.

“Apesar de ser visto como sendo do rock, eu costumo dizer que faço música contemporânea brasileira”, define.

Sua banda, A Maloca, surgiu de um comentário de sua mãe que também diz muito de sua personalidade agregadora. “Minha mãe fala que eu só andava com maloqueiro, por que, daqui do condomínio, eu era o único que ia na invasão do Bate-Facho jogar bola. Depois que cresci, com meus amigos todos músicos, ela continuou dizendo que meus amigos eram maloqueiros. Aí não teve jeito. Chame de  A Maloca para não ficar Enio & Os Maloqueiros”, ri.

Com A Maloca, Enio tocou em todos os inferninhos roqueiros da cidade, além de se apresentar por três anos no palco “alternativo” do Festival de Verão.

“Ainda tocamos na Concha abrindo para Nação Zumbi, nas faculdades e até na Vaquejada de Serrinha. A ideia é  não ter limite para o som”, reivindica.

Pai de um bebê de sete meses, Enio teve o próprio pai morto em um assalto, perto de casa. Mas nunca deixou que esse tipo de coisa o deixasse amargo.

“Sabe, eu não faço questão que as pessoas gostem de minha música. Mas  de mim. Faço o melhor para todos que estão à minha volta. Talvez venha daí essa minha facilidade de circular. Acho que isso é o que vai ficar de mim”, crê.



OUÇA: www.enioeamaloca.com.br

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