quinta-feira, agosto 09, 2012

ASTROS NO ZÊNITE CRIATIVO

Que mané Roswel, que nada.

Foi em Londres, há exatos 40 anos, que os homens que vieram do espaço sideral caíram na Terra.

Ziggy Stardust, o líder dos extraterrestres denominados Aranhas de Marte, não veio pedir a ninguém que o levassem ao “nosso” líder.

Ziggy, na verdade, veio salvar a Terra, que se acabaria dentro de cinco anos.

É sério, o cara na televisão até chorou quando deu a notícia. Acompanhado de sua banda (os Aranhas), Ziggy caiu na estrada e levou a todos a mensagem de amor e união que salvaria o planeta.

Tragicamente, Ziggy caiu nas inúmeras tentações que cercam os rock stars, entrou em depressão e acabou por cometer suicídio, tornando-se o Rock ‘n’ Roll Suicide definitivo.

Essa é – mais ou menos – a narrativa completa de um dos álbuns mais geniais e influentes da história do rock: The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, do astro inglês David Bowie (foto: Brian Ward).

Lançado originalmente em 6 de junho de 1972, uma nova versão remasterizada acaba de chegar às lojas brasileiras – infelizmente, sem as várias faixas extras que abrilhantaram relançamentos anteriores, como a versão Sound + Vision, de 1990.

Mas nada que diminua o valor da obra, que se sustenta – e como! – por si só, claro.

Além de, finalmente, catapultar Bowie ao estrelato mundial – o homem já vinha tentando estourar há, pelo menos, uns seis anos antes disso – Ziggy Stardust garantiu ao seu criador um posto definitivo no panteão dos grandes gênios do rock, ombro a ombro com os Beatles, Stones, Hendrix etc.

Fatores diversos

Quando um avião cai, os especialistas sempre dizem que não foi por causa de um único fator, mas vários, que se acumularam e levaram a tragédia.

Da mesma forma, nunca é por causa de apenas  uma razão que uma obra de arte se destaca sobre todas as outras.

Ziggy Stardust é presença certa em qualquer lista de melhores álbuns de todos os tempos principalmente por que conjugou sofisticação conceitual e lírica com acessibilidade.

Ou seja: em que pesem suas elaboradíssimas letras, composições  e arranjos, tudo isso junto parece falar diretamente com cada ouvinte, sem que este precise fazer grandes esforços para entender, para penetrar na obra.

Criado pleno auge da febre do chamado “álbum conceitual” – terreno restrito a dinossauros progressivos como Yes, Genesis e King Crimson – Ziggy conseguiu contar sua história sem aborrecer ninguém.

Sem contar a banda d'Os Aranhas de Marte, uma coisa realmente de outro mundo, com o genial guitarrista Mick Ronson, Trevor Bolder (baixo) e Mick Woodmansey (bateria).

O resultado é um sentido de maravilhamento que toma o ouvinte faixa após faixa, da abertura desesperada de Five Years (o mundo vai acabar!) ao gran finale emocionante de Rock ‘n’ Roll Suicide, Ziggy Stardust realmente nos carrega para outros mundos – e sem sair do lugar.

Que mané Roswell.

 
The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars / David Bowie / EMI / R$ 29,90 
 

Habilidoso na pilhagem musical, Kravitz estourou com Mama Said

Se Ziggy Stardust foi o disco que catapultou David Bowie ao estrelato, pode-se dizer que Mama Said fez o mesmo pelo seu autor, o cantor norte-americano Lenny Kravitz (foto: James Calderaro).

A principal diferença entre os dois – além da geração – é que, ao contrário de Ziggy, Mama nada tinha de original.

Tudo neste disco –  tudo mesmo – foi pescado por Kravitz de outros discos e músicos dos anos 1970, de Jimi Hendrix aos Beatles, passando por nomes menos óbvios, como o soulman Curtis Mayfield (as faixas It Ain’t Over ‘Til It’s Over – o hit do disco – e  What Goes Around Comes Around são descaradamente Mayfield) e as bandas Procol Harum (do hit A Whiter Shade of Pale) e Mother's Finest.

O que não quer dizer que Mama Said não tenha seus méritos. Assim como seus contemporâneos da banda  Black Crowes, Kravitz conhece muito bem suas fontes e como utiliza-las.

Eminentemente um LP de baladas, Kravitz acertou ao convidar Slash, o icônico guitarrista do Guns ‘n’ Roses (então no auge),  para solar em Always on The Run, um dos dois ou três hard rocks do álbum.



Recheado, o CD duplo comemorativo traz lados B de singles e muitas faixas ao vivo gravadas na época.

Mama Said - 21st Anniversary Deluxe Edition / Lenny Kravitz / Virgin - EMI / R$ 44,90 (álbum duplo) 


30 comentários:

Franchico disse...

Vou tentar conter minha negatividade / fúria anarquista / raiva destruidora deste post em diante....

Franchico disse...

Taí, sou meio desconfiado com as bandinhas dessa galera, mas essa música é uma das melhores que ouvi esse ano:

http://www.youtube.com/watch?v=o_qFaFl7JVc

Dirty Projectors - Gun Has No Trigger.

O arranjo vocal é simplesmente espetacular.

Rodrigo Sputter disse...

eu vi isso num blog e lembrei de vc meu camará:

http://morangosazedos.blogspot.com.br/2010/10/pra-que-tinta-se-voce-tem-sangue.html

falando em novo rock, já te mandei esse link meu velho?

http://soundcloud.com/dezoeosdementes

banda daqui de garotos entre 19 e 22 anos...tão começando a fazer música própria...ouvi uma e gostei...tive no ensaio ontem...garage punk é isso aí...

Franchico disse...

A Porn Queen, banda dos baianos residentes em Luxemburgo Lucas Ferraz e Fred Barreto, vai abrir os shows de Slash no Brasil:

http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/banda-de-rock-formada-por-baianos-vai-abrir-shows-de-slash-no-brasil-em-novembro/

Franchico disse...

Há um pequeno movimento tentando encaixar um show na Concha com Slash e Porn Queen. Obviamente, eu duvido que aconteça. Mas se rolar, beleza.

Márcio A Martinez disse...

Lindo texto Chicaço!

Este Bowie legítimo, qual um puro blend Escocês estará em breve nas minhas mãos numa elogiadíssima versão em vinil + DVD em 5.1 canais pra extrapolar o que já é definitivo!

Pode?!?

cebola disse...

Fiz uma vez uma enquete sobre os melhores de todos os tempos há alguns anos no meu inativo blog. Ziggy foi o numero um de minha lista. Lá vou eu torrar alguns caraminguás. Sim, eu compro cds. Chicangry, nada de ficar doce e gentil. Já tá cheio de rasgação de seda por aí. Contenha, isto sim, este seu novo ímpeto politicamente correto. Afinal, como diria joãozinho: Angry is an energy! Abrss.

rodrigo sputter disse...

a rapeize da dezo vai tocar no coletivo nas ruas...qq novidade posto aqui...

Franchico disse...

Márcio, obrigado, meu velho. E pode, não: DEVE!

Cebola, talvez por isso eu esteja acumulando tanta raiva. Tá sobrando por aí, no ar. Aí eu absorvo. E libero tudo por aqui.

Vou conferir o Dezo, Sputter! A propósito: por favor, me mande por email o contato deles, para futura referência...

Franchico disse...

Por falar em politicamente incorreto, nosso pensador-fetiche, o doidão Jijek escreve lindamente sobre o Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge:

http://boitempoeditorial.wordpress.com/2012/08/08/ditadura-do-proletariado-em-gotham-city-artigo-de-slavoj-zizek-sobre-batman-o-cavaleiro-das-trevas-ressurge/

É a ditadura do proletariado em Gotham! Yeah!

Franchico disse...

Esquerda festiva é isso aí, porra!

Franchico disse...

É o que? Dona Coisa?

http://omelete.uol.com.br/quarteto-fantastico/quadrinhos/quarteto-fantastico-tera-duas-novas-series/

Dona Coisinha?

Franchico disse...

Para quem veio de debaixo da terra, o céu é o limite...

http://omelete.uol.com.br/walking-dead/quadrinhos/walking-dead-bate-recorde-de-venda-nos-quadrinhos/

Franchico disse...

Assisti ontem este filme. E estou até agora me perguntando por que já não o fiz há muitos anos...

http://blogs.estadao.com.br/luiz-zanin/o-conformista/

Franchico disse...

Pesquisando sobre O Conformista, topei com este blog:

http://cinemaitalianorao.blogspot.com.br/

Um pouco acadêmico, mas ótima fonte de críticas....

Franchico disse...

Terceiro volume de Sandman absolute da Panini chegando nas prateleiras...

http://www.universohq.com/quadrinhos/2012/n10082012_06.cfm

Mas é coisa para privilegiados - entre os quais não me encontro: "Sandman - Edição Definitiva - Volume 3 tem 620 páginas e custa R$ 145,00".

O orçamento não prevê....

Franchico disse...

Desde já um dos filmes mais desejados para 2013 por este sem-noção que vos escreve....

http://omelete.uol.com.br/cinema/filme-do-fim-do-mundo-de-simon-pegg-e-edgar-wright-contrata-sua-primeira-atriz/

Old School disse...

Esse papo ai me remeteu(la nele) a uma recordacao muito boa la dos idos de 87,quando o PIL tocou no Canecao eles abriram com "Rise",e nao eh q o microfone falhou justo quando o Joaozinho foi cantar "anger is an energy"!Coincidencia?Ele ficou com cara de bunda virando o microfone de cabeca pra baixo como se fosse uma garrafa vazia(ja estavamos na era dos mic sem fio).Isso foi no primeiro dia,no segundo funcionou direito.

Franchico disse...

Tio Alan nos ensina o real valor do $$$$$......

http://omelete.uol.com.br/watchmen-2/quadrinhos/alan-moore-diz-que-negou-cerca-de-us-2-milhoes-para-abencoar-antes-de-watchmen/

Franchico disse...

RIP CARLO RAMBALDI

http://omelete.uol.com.br/cinema/morre-carlo-rambaldi-o-designer-de-alien-e-et/

Rodrigo Sputter disse...

rapá...terminei esquecendo de falar do som...foi massa...rock embaixo de chuva até umas 5 da matina...o resultado é que estou aqui, queimando de febre, com os músculos fudidos (tb inventei de ir na casa de uns amigos de bike, nitapuan...2 horas e meia no total...

passei pra vc o contato dos caras...

e tu viu o link q te passei com o cara do flaming lips?

Franchico disse...

RIP Joe Kubert:

http://omelete.uol.com.br/quadrinhos/joe-kubert-morre-um-dos-maiores-nomes-dos-quadrinhos-nos-eua/

Master!

Franchico disse...

Essa é demais: Frank Miller é candidato a vereador. Em São Paulo:

http://www.bleedingcool.com/2012/08/12/frank-miller-running-for-council-in-brazil/

E pelo PT?!?!?!?!?!?!?!?!?

Tudo bem que hj, essa sigla não significa mais nada, esquerda no Brasil hj é miragem, conversa pra boi dormir, mas se fosse candidato a alguma coisa no Brasil, Mr. Miller real seria de algum partido ligado à TFP, né?

abre a rodinha (do rock) disse...



Orlando Pinho

RODA DO ROCK NA TVE: BROCHA N' ROLL

acabou à pouco um brocha n'roll na tve, chamado roda do rock.
uma espécie de balanço dos sucessivos fracassos da cena local.
papo circular e bom mocista que não revolveu nada, pede políticas públicas para o rock, puta quiparium, e termina com os meninos, raul seixando no final. fraco.
...

marcelo nova, me veio de imediato: "falta cultura pra cuspir na estrutura". williams martins ainda tentou falar da debilidade do texto e da atitude das atuais bandas, e performers, mas foi censurado por um gorducho que partiu em defesa das letras emo do que ele considera bons autores atuais. e assim o papo foi seguindo redundantemente flácido até o fim.
para além do que é rock ou não, falta-nos, ousadia, dúvida, ceticismo, atitude. invenção: política, existencial, e estéticamente falando. e pra sair da merda da média que medra, precisa ser extremista. ir além da clonagem de todos os gêneros já cansados batidos, mortos.
peçam lições à smetack, tom zé, marcelo nova, e ao melhor raul, aos titãs quando fendiam e fediam. vão à arrigo, itamar. o mundo ainda está todo aí pra ser mudado. ou não, como diria o dúbio caetano.
e parem de pedir esmola ao estado. sustentem-se, ou morram.
e se não acharem uma saída, é porque o mundo da representação não tem mais finalidade nenhuma, mesmo.
vão pro mato.
tudo pede revolução, e não renovação pelos mesmos canis e canais.
inclusive esta besteleitoral.

Orlando Pinho



Franchico disse...

Amanhã, terça 14.08, post novo.

Ou meu nome não é Joselito de Jesus da Anunciação.

Franchico disse...

A propósito, está aí a reflexão perfeitamente razoável de Orlando, na qual não posso de deixar de concordar em alguns pontos, com todo respeito aos eventuais participantes que também são leitores deste blog.

A questão é: por que será que debates como aquele (e aí incluo também o debate do Mê de Música em que eu mesmo participo) não rendem?

Será que ainda é razoável debater o rock baiano, para começo de conversa?

Ou será que já está na hora de deixar esse pobre cadáver descansar em paz?

Não consigo deixar de achar que alguma coisa muito errada existe em uma cena que a) nunca se sustentou sozinha e b) por nunca ter conseguido se sustentar sozinha, agora depende – em boa parte – da boa vontade de políticos no poder e seus burocratas de gabinete. Pior: tanto em nível local, quanto nacional (com o FdE e seus obscuros planos de poder político).

Que então tal admitir a derrota?

As vezes é preciso morrer para nascer de novo. Acabar, para recomeçar.

Na boa, só jogando um pouco de gasolina na fogueira.......

Ernesto Ribeiro disse...

RÁ! Só mesmo investigando na net (e quebrando alguns dedos no melhor estilo Rorschach) pra achar um PUTA site de VERDADEIRO ROCK & ROLL que nos dá orgulho de manter a heróica resistência dos Clash City Rocker de Soterópolis.


Parabéns a todos vocês, galera!


Bota Pra Fuder!

Ernesto Ribeiro disse...

A propósito, de fuder a fotona RARÍSSIMA de Mr. David Jones, aka Bowie. Antes de raspar as sobrancelhas, Ziggy já era um alien rocker de assombrar.


Uma coisa que sempre admirei é que toda a obra de David Bowie possui teor ADULTO: nada é realmente pop, nem fácil, nem há finais felizes maniqueístas, do tipo Bem vence o Mal.


No cinema, ele só faz filmes cult. O Homem Que Caiu na Terra é um atormentado confundido com espião da KGB e que ao final se torna alcóolatra --- depois de gravar um disco (!!!) O Rei dos Duendes era ao mesmo tempo o vilão, amante e educador de Jennifer Connely, ensinando-a a amar o irmãozinho.


No teatro, só biscoitos finos de dramaturgos intelectuais: interpretou o Baal de Bertold Brecht, e por aí vai.


Na música, seus personagens têm destinos igualmente trágicos. Major Tom enlouquece e se perde no vácuo sideral. O Homem que Vendeu o Mundo morre solitário ao encontrar a si mesmo numa estrada. Ziggy Stardust se mata ao se deixar ser despedaçado pelos fãs que queriam um pedaço dele.


Misture Scott Walker, Jean Jenet, T.S. Elliot, Andy Warhol, Bob Dylan, Lou Reed, Iggy Pop, teatro de sombras indonésio, teatro Kabuki japonês, a mímica de Lindsay Kemp, a filosofia do "Übermensch" de Friedrich Nietszche (na letra de "Life on Mars" e "The Man Who Sold The World") e o que nós temos?


O primeiro pop star erudito e alquimista a realizar o milagre da fusão de TODAS as mídias num show: isso é David Bowie.

Ernesto Ribeiro disse...

Franchico,

É duro ter que dar a mão á palmatória (a dos roqueiros baianos, claro). Mas você está certíssimo em meter o dedo na ferida.


Chega de passar a mão no zumbi do rock baiano.

Chaga de bancar o bombeiro. É hora do fogo purificador.


Em tempo: já que tocou no asunto, acredito que você já leu esse artigo no Blog de Frank Miller:


O quadrinista punk Frank Miller vira direitista e ataca a esquerda e o islamismo.


Anarquia


http://unbconservadora.blogspot.com/2011/11/frank-miller-vs-ocupe-wall-street.html


Traduzido em Português.


Uma delícia poética do gênio punk dos quadrinhos.

Franchico disse...

Obrigado pelos elogios, Ernesto. Fique a vontade e volte sempre.

Só uma coisa: não concordo nem com uma vírgula sequer desse texto do Frank Miller, que já tinha lido alguns meses atrás.

Sinto muita raiva por tudo que vejo e sinto quando ando pelas ruas de Salvador, mas não se engane: meu perfil não é conservador - longe disso.

Meu credo hj é um só: VOTO NULO e TIJOLADA NA TESTA DOS POLÌTICOS. TODOS ELES. Não importa o partido.

Se as ideologias estão mortas, está na hora dessa gentalha começar a cair tb.

Basicamente, é isso.

Abraço!