quinta-feira, dezembro 27, 2012

SIN CITY - A CIDADE DO PECADO VOLTA EM REEDIÇÃO COM NOVA TRADUÇÃO


Em 1991, o quadrinista norte-americano Frank Miller estava no topo da sua fama e glória.

Foi nesse ano que, surpreendendo a todos, ele lançou uma série  independente e distante dos super-heróis que lhe valeram sua fortuna: Sin City - A Cidade do Pecado  – que agora, volta às prateleiras em reedição com nova tradução pela Devir.

Naquele momento, Miller tinha seu passe disputado a peso de ouro pelas grandes editoras de quadrinhos (Marvel e DC) e até pela indústria cinematográfica, que lhe ofereceu os roteiros de Robocop 2 e 3.

Foi ele o responsável por alguns dos quadrinhos mais influentes dos anos 1980 até os dias de hoje, como Batman - O Cavaleiro das Trevas, Ronin,  Batman - Ano Um, Elektra Assassina e outros, além de uma longa e espetacular fase inicial na revista do Demolidor (Marvel).

Fase esta que lhe rendeu a notabilidade para desenvolver estes outros trabalhos citados. Só que, após este período de trabalho febril e ultracriativo, Miller deu uma sumida.

O que aconteceu foi que, nos bastidores da indústria, criadores como ele, Alan Moore (Watchmen), Howard Chaykin (Black Kiss) e Marv Wolfman (Crise nas Infinitas Terras) começaram a brigar com as grandes editoras, as quais não apenas detinham o direito sobre suas criações, como ainda exerciam  censura.

Miller, Moore e Chaykin se encheram e pularam fora desta indústria por um bom tempo.

Descida ao inferno

Foi assim que, a partir  199o, Miller começou a lançar trabalhos por editoras independentes, nas quais manteria a propriedade intelectual sobre seus esforços,  como Hard Boiled - A Queima Roupa, Liberdade: Um Sonho Americano e Sin City - A Cidade do Pecado.

Sin City, a HQ em questão aqui, foi inicialmente publicada em capítulos na revista Dark Horse Presents, da editora indie Dark Horse, sendo mais tarde lançada completa nesta coletânea, agora em nova edição.

Nela, somos apresentados à fictícia Basin City e ao seu universo de personagens – todos sem caráter, envolvidos com o submundo local e sempre com o dedo no gatilho, prontos para matar ou morrer.

Em glorioso preto & branco (sem tons de cinza), Miller demonstrou a evolução da sua narrativa gráfica, que sempre esteve  muito próxima ao cinema – no caso, ao noir dos anos 1930 / 40, bem como à sua retomada moderna na década de  1980.

Nesta HQ inaugural de uma longa série, o foco está no personagem Marv, um grandalhão de tendências psicopatas que, após uma noite de sexo com uma prostituta, acorda no dia seguinte com a moça morta ao seu lado.

Ressaqueado, Marv não se lembra de nada. Foi ele mesmo que a matou? Ou não? Mais noir, impossível.

A partir daí, dá-se uma frenética descida ao inferno que é o submundo de Sin City, habitado por gangsters, traficantes, políticos corruptos, polícia idem e mais prostitutas.

O sucesso foi tamanho que, em 2005, Sin City ganhou fidelíssima adaptação ao cinema pelo diretor Robert Rodriguez (Machete).

Ele ainda convidou o próprio Miller para co-dirigir o filme, baseado nesta HQ (também conhecida pelo subtítulo em inglês The Hard Goodbye) e mais dois volumes posteriores: O Assassino Amarelo (That Yellow Bastard) e A Grande Matança (The Big Fat Kill).

Uma continuação, Sin City: A Dame To Kill For (baseada no volume A Dama Fatal) já está sendo rodada em 3D por Rodriguez e Miller no Texas, com estreia prevista para 4 de outubro de 2013 nos EUA.

Sin City - A Cidade do Pecado / Frank Miller / Devir/ 216 p./  R$ 44/ www.devir.com.br

PÓS-COREIA, QUARTETO DE CINCO SOLTA EP PARA DOWNLOAD GRATUITO

Bem apreciada pela rapaziada alternativa local, a banda Quarteto de Cinco (foto: Agnes Cajaíba) está de volta ao cenário após um hiato de alguns meses, nos quais gravaram o EP Recompensa, disponibilizado para download gratuito.

Com cinco músicas inéditas mais a faixa-bônus Boa Viagem, gravada para o álbum A Cara e o Coração (tributo a Guilherme Arantes), o disquinho foi gravado pouco tempo depois da viagem do grupo à Ásia, em novembro de 2011.

O grupo foi a Seul (capital do Coreia do Sul) como  finalista do concurso Yamaha Brazilian Beats e fez bonito representando a Bahia em um show.

“Ah, essa viagem com certeza marcou muito nossa ainda curta trajetória e nosso currículo. Muita gente ainda pergunta pra gente como foi, Foi um grande passo pra gente e pro rock baiano. Fomos muito bem tratados e nos divertimos muito”, conta João Victor, o vocalista.

O que vier, eles estarão lá

No show em Seul, ele até arriscou falar coreano. “Foi bem engraçado. Iniciamos o show com a  música Ela, que começa com um toque de agogô. Todo mundo começou a bater palma. Aí quando entraram as guitarras eles adoraram, bateram palmas, dançaram. Aí quando eu disse  ‘boa noite’ e ‘obrigado’ em coreano, eles ficaram bem surpresos”, descreve João.

Na sexta-feira passada, a banda se apresentou no Portela Café com Vivendo do Ócio e Velotroz, parceiras de geração, diante de uma casa cheia – e em janeiro, já há uma data para eles (a ser divulgada em breve) em uma das praças do Pelourinho.

“Tinha sete meses que a gente não tocava aqui. Desde que voltamos dessa viagem, só fizemos um show aqui (em abril) e outro em Vitória da Conquista. Por isso o nome do EP é Recompensa. É nosso agradecimento ao público  por estar nos dando um feedback tão positivo desde que começamos”, diz.

Formada por  João (voz), Silvio de Carvalho (guitarra e voz), Beto Calasans (guitarra), Coelho (baixo) e Thiago Gomes (bateria), a Quarteto de Cinco espera conseguir entrar em estúdio ainda em 2013 para gravar seu primeiro álbum cheio.

“No que depender de nossa boa vontade sai em 2013 mesmo. Estamos muito esperançosos. Queremos formar mais publico. Nosso trabalho é sério e  nossa prioridade agora é rodar a cidade, o interior, São Paulo, Rio... o que vier, estaremos lá” conclui o entusiasmado João.

www.quartetodecinco.wix.com/recompensa

terça-feira, dezembro 25, 2012

O ROAD MOVIE E O BAIXISTA PERDIDO DOS FAB FOUR

Existem poucas verdades universais verificáveis e incontestes, como, por exemplo, “o céu é azul” ou “Beatles nunca é demais”. Ao menos, não para os fãs.

Dois lançamentos recentes vem corroborar esta segunda verdade – e certamente, estarão amanhã, empacotados, sob muitas árvores de Natal.

O primeiro é aquele adorável registro do auge da psicodelia em película: Magical Mystery Tour, o filme de 1967 produzido e dirigido pelos próprios Beatles, restaurado, remasterizado e lançado em DVD e Blu-ray.

O segundo é a HQ Baby’s In Black: O Quinto Beatle, do quadrinista alemão Arne Bellstorf.

Curiosamente, ainda que este último não seja um produto Beatles “oficial”, ambos, filme e HQ, jogam luz sobre dois dos momentos menos documentados da banda de Liverpool – se é que isso ainda é possível.

Psicodelia à bordo

Produzido como um especial de TV com pouco mais de 50 minutos e exibido pela BBC em 26 de dezembro de 1967 – há exatos 45 anos, portanto – Magical Mystery Tour foi considerado tão ruim, à época, que a emissora cancelou uma segunda exibição previamente agendada.

Compreensível: a coisa toda era tão sem pé nem cabeça, além de obviamente movida a fartas doses de LSD,  que foi demais para a tradicional família britânica – Real ou plebeia.

Basicamente, o filme mostra os quatro Beatles e mais um elenco de adoráveis maluquetes de várias idades em excursão pelo countryside inglês, partindo de Liverpool em direção à Blackpool, Noroeste do país.

Não havia roteiro. Apenas situações nonsense, como a de Ringo (Beatle mais engraçado em cena), que passa quase que o filme inteiro às turras com “Tia Jessie”, uma senhora interpretada pela atriz Jessie Robins.

Ringo brilha novamente na parada que o ônibus faz em um quartel, aonde o grupo é “regulado” por um sargento histérico, que fala sem parar.

Só que ele fala tão rápido e sem sentido que a legendagem em português abre um parêntese e se desculpa: “Oficial do exército diz coisas incompreensíveis”.

Quando ele termina de falar, Ringo candidamente pergunta: “Por que”? – para total desconcerto do milico.

Não a toa, o filme foi muito comparado aos da trupe inglesa de comédia Monty Python, e com razão.

Entre um esquete nonsense e outro, clipes da genial trilha sonora, que inclui clássicos como I Am The Walrus, Fool on The Hill e a faixa-título.

Nos extras, making of, trilha de comentários do diretor Paul McCartney e outras delícias.

O trágico destino de Stu

Já a HQ Baby’s in Black: O Quinto Beatle rebobina a fita até os primórdios da banda, em 1960, quando esta ainda contava com Pete Best na bateria e Stuart Sutcliffe no baixo.

A história em si é conhecida, especialmente por quem que já assistiu ao filme Backbeat: Os Cinco Rapazes de Liverpool (1994), de Iain Softley.

Stuart Sutcliffe, melhor amigo de John Lennon, foi o primeiro baixista dos Beatles na sua fase inicial, quando a banda ganhava a vida tocando nas espeluncas mais mal-afamadas de Hamburgo, Alemanha.

Após conhecer a jovem Astrid Kirchherr, Stuart resolve sair da banda – mas um destino trágico o aguardava logo em seguida.

A HQ de Bellstorf, longe de apenas quadrinizar os fatos (ou o filme), desenvolve uma narrativa intimista e até mesmo poética para o episódio, o que gera uma HQ de leitura bastante fluida, agradável e, de certa forma, emocionante.

O único senão fica para  o estilo dos desenhos de Bellstorf, um tanto derivativo do clichê "HQ indie sensível" para não dizer do já clássico Persépolis, de Marjane Satrapi.

Magical Mystery Tour / Beatles / Emi / R$ 49,90 (DVD) / R$ 89,90 (Blu-ray) / www.thebeatles.com / www.emimusicbrasil.com

Baby’s in Black: O Quinto Beatle / Arne Bellstorf / 8Inverso/ 208 p./ R$ 51/ www.8inverso.com.br


domingo, dezembro 23, 2012

MICRO-RESENHAS DE NATAL VOL. 2 (DE DOIS)

"Eu tô tristão, tô sofrendo pra caralho"...


Em seu segundo álbum, Dylan Leblanc,  jovem (22) revelação do folk,  segue sua trilha de canções semiacústicas lentas, tristes e belas, naquela linha Cowboy Junkies, Townes Van Zant etc. Esqueça o folk hype fajuto de Munford & Sons: o lance aqui é sério. Canções de partir o coração como Part One: The End, Chesapeake Lane e a faixa-título já valem o álbum inteiro. Dylan Leblanc / Cast The Same Old Shadow / Lab 344 / R$ 34,90








Bad Santa

Autor de hits como Crazy e  F**k You, o soulman CeeLo Green ressurge com o disco de Natal mais suingado de todos os tempos desde A Soulful Christmas (1968), de James Brown. Tem até Noite Feliz (Silent Night). Participações de Rod Stewart, Trombone Shorty, Christina Aguilera e... dos Muppets. Ceelo Green / Ceelo’s Magic Moment / Warner / R$ R$ 34,90

 






Gringa bossa nova

Apaixonada pelo Brasil, a cantora norte-americana de jazz Stacey Kent solta CD duplo gravado ao vivo no La Cigale (Paris). No repertório, standards ianques (It Might As Well Be Spring) e brasucas (Coração Vagabundo, Samba de Verão), cantados em português claro – uma raridade, em se tratando de cantora gringa. Stacey Kent / Dreamer In Concert - Ao Vivo Sonhando / EMI / R$ 34,90

 





Viola fever


Noel Andrade é violeiro da nobre estirpe folclórica brasileira que já nos rendeu mestres como Almir Sater e Tião Carreiro. Suas modas são fruto de ampla pesquisa e vem  ao som de violas caipiras, flautas, rabecas e lindas vozes. Música brasileira em sua forma mais pura e bela. Noel Andrade / Charrua / Tratore / R$ 27,90







O fotógrafo do cangaço

Autor de Estrelas de Couro: A Estética do Cangaço (2010), Mello volta ao tema com a biografia do árabe Benjamin Abrahão, secretário do Padre Cícero, além de fotógrafo autorizado de Lampião. Trabalho de fôlego, com mais de 50 páginas de fotografias. Benjamin Abrahão: Entre Anjos e Cangaceiros /  Frederico Pernambucano de Mello / Escrituras/ 352 p./ R$ 45/ www.escrituras.com.br







Nova galhofa

E se os Três Reis Magos fossem criminosos sanguinários fugitivos do Oriente? O galhofeiro Seth Grahame-Smith (Orgulho e Preconceito e Zumbis, Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros) parte dessa ideia esdrúxula para cometer outra obra maluca e intensamente divertida. Como se Tarantino tivesse escrito a Bíblia.  Breve no cinema. Noite Infeliz / Seth Grahame-Smith / Intrinseca /  272 p. / R$ 29,90 / e-book: R$ 19,90 / www.intrinseca.com.br

 





O Spirit da coisa Vol. 2


Segundo volume das HQs do Spirit de Will Eisner publicadas em 1998 por grandes autores. Aqui, Paul Chadwick (Concreto), John Ostrander (Grimjack), Paul Pope (Batman: Ano 100), Eddie Campbell (Do Inferno),  Joe R. Lansdale (Jonah Hex) e outros emprestam seu talento ao personagem. The Spirit: Mais Aventuras / Vários autores / Devir/ 128 p. / R$ 43,50 / R$ 56,25 (capa dura) / www.devir.com.br
 






Quem sabe faz ao vivo

Marceleza relê seu repertório (Camisa e solo) em belo show no Bolshoi (Goiânia), com sua banda, bastante competente. Cansa um pouco a mania de estender as músicas, mas é um registro importante desta figura fundamental. Também em Blu-ray. Marcelo Nova / Hoje no Bolshoi - Ao Vivo / Unimar Music / R$ 29,90 (DVD), R$ 49,90 (Blu-ray), R$ 27,90 (CD duplo) 







Rockomédia

Da capa às letras, passando pela interpretação, tudo é comédia no novo CD da banda do ator Jack Black. Como paródia de classic rock, bate um bolão, mas não espere mais que isto, até por que, quem não sabe inglês não vai sacar. Para fãs do Meat Loaf. É mais negócio ver os clipes, que são de rachar, como o de Low Hangin' Fruit. Tenacious D / Rize of The Fenix / Sony / R$ 27,90

 






Eterno em Dallas

Com mais de 40 anos de muito blues rock e boogie woogie no juízo, o power trio mais casca-grossa do Texas volta em grande estilo com um CD em que retoma sua melhor forma, cortesia do produtor Rick Rubin. O som dos bares mais sujos e mal frequentados de Dallas, para deitar e rolar. ZZ Top / La Futura / Universal / R$ 34,90








O poder da gata

Veio da revista Spin a  melhor definição da cantora Cat Power: “Agonia soft tem sido seu idioma desde os anos 90”. Senhora da tristeza convertida em música ora doce, ora sombria, ela é sempre intensa. Para ouvir já: Nothin But Time (com Iggy Pop), Cherokee e Manhattan. Cat Power / Sun / Lab 344 /R$ 29,90








Primórdios do rala 'n' rola (lá ele)

Quem acha que o rock nasceu com Elvis terá uma  surpresa com este livro. O pesquisador Mazzoleni rastreia os primórdios do gênero, remontando aos anos 1930, através de ritmos negros como boogie woogie, swing jazz e, claro, o blues. Trabalho de fôlego, ricamente ilustrado. As raízes do rock / Florent Mazzoleni / Companhia Editora Nacional/  224 p./ R$ 49,90 / www.ibep-nacional.com.br






Um novo dia para cantar

Tão matador quanto James Bond é o seu  legado musical. Estão aqui do tema clássico de John Barry à gemas de Shirley Bassey, Tom Jones, Louis Armstrong, Nancy Sinatra, Paul McCartney e outros com licença para cantar. Vários Artistas / Best of Bond... James Bond - 50Th Annyversay Ed. / EMI / R$ 29,90








Mais um hype fuleiro

Adorado na Europa e coqueluche entre (cof, cof) hipsters, o trio inglês The XX tenta passar na prova do 2º álbum. Pelas críticas gringas, passou. Melancólico grau dez, o som privilegia arranjos eletrônicos minimalistas e cresce a cada audição. Mas está muito longe de ser algo genial, como fazem crer os chegados em hype. The XX / Coexist / Lab 344 / R$ 34,90 






Nordeste espetacular

Injustamente pouco comentado, o novo álbum dos paraibanos da Cabruêra traça uma espantosa e espetacular rota Nordeste - Índia, com o help da cítara de Alberto Marsicano. Vem com belíssimo livro de fotografias, Nordeste Desvelado. Nota dez. Cabruêra / Nordeste Oculto / Independente / R$ 30

 





Laços de família

Fim de jornada para Miss Vega: com este volume 4, de canções dedicadas ao tema família, ela fecha  Close-Up, a série em que reviu e regravou sua carreira de 30 anos. Adorável audição, traz seu violão dedilhado e sua voz em grande forma. Suzanne Vega / Close Up, Vol.4 - Songs of Family / Lab 344 / R$ 29,90

sexta-feira, dezembro 21, 2012

EQUILIBRADO, NASI LANÇA SEU MELHOR TRABALHO SOLO


Uma das personalidades mais fortes do rock brasileiro desde sempre, Nasi tem longa folha de serviços prestados ao gênero desde os tempos do Ira!.

Com seu novo CD solo, Perigoso (Trama Virtual / Coqueiro Verde), se mostra tão relevante hoje quanto nos saudosos Dias de Luta.

Gravado em apenas um mês nos estúdios da gravadora Trama, o álbum foi lançado em CD pelo selo Coqueiro Verde. Conciso, traz dez faixas.

“Esse projeto da Trama Virtual é muito legal. Ela dá ao artista um mês de estúdio, sendo que você passa parte do tempo monitorado ao vivo pelo fãs”, conta Nasi, por telefone.

“(Um mês) Não é muito tempo, mas também não é pouco. Então esse esquema fez com as gravações rolassem com  bastante intensidade e crueza. O som é o de um disco de banda ao vivo”, acredita o cantor.

Metade do repertório é de faixas inéditas, parcerias do próprio cantor com seus músicos Johnny Boy (vários instrumentos) e Nivaldo Campopiano (guitarra), além do letrista Carlos Careqa, na linda balada  Não Vejo Mais Nada de Você.

A outra metade é de releituras. As cinco são pérolas mais ou menos conhecidas, como As Minas do Rei Salomão (Raul Seixas e Paulo Coelho), Não Há Dinheiro que Pague (Renato Barros, hit na voz de Roberto Carlos), Como É Que Vou Poder Viver Tão Triste (Demetrius), Tudo Bem (Garotas Suecas) e Dois Animais na Selva Suja da Rua (Taiguara).

“Essas faixas são coisas que passei muito tempo escutando até chegar a esta seleção. Primeiro, fiz uma lista com vinte candidatas. Depois, dez. Finalmente, cheguei nessas cinco”, conta Nasi.

“Na verdade, o projeto original era lançar este disco com minha autobiografia (A Ira de Nasi, Ed. Belas Letras, lançado em setembro), Inclusive, o livro e o disco tem a mesma foto de capa”, acrescenta.

“Mas quando o livro saiu, eu ainda estava terminando as letras, que acabaram saindo com um  tom bem confessional. A autobiografia deu essa atmosfera. Ele  poderia ser ouvido como uma trilha para o livro”, vê.

Macaco velho, dono de talento inegável, Nasi conseguiu um feito e tanto em Perigoso ao conseguir estabelecer um equilíbrio entre seu repertório autoral e standards de Raul, da Jovem Guarda e Taiguara.

Passa-se de uma faixa a outra com leveza e fluidez numa audição bastante agradável, sem abrir mão da visceralidade que é a marca registrada de Nasi.

“O (Marcelo) Sussekind (produtor, ex-Herva Doce) uma vez disse que disco a gente não acaba. A gente desiste”, ri Nasi.

“Sempre tem um detalhe, uma filigrana,  mas sim, o disco  está intenso e resume bem minha música hoje”, acredita.

Tempo de vinil e oração

Ele, que sempre foi da marca de roqueiro “direto ao ponto”, fez questão de refletir essa atitude na própria duração do álbum, com menos de 40 minutos no total.

“Investi na tempo do vinil. Na época, trabalhávamos com tempo limitado. Era vinte minutos por lado”, lembra.

“Com os CDs, veio uma pressão para fazer discos com 14, 16 faixas. Antigamente, pré-produzia-se 15 ou 16 músicas e escolhíamos dez. Com o CD, diluiu-se muito  o resultado final, por que a verdade é que nem tudo o que se compõe vale a pena ser gravado”, admite.

Surpreendentemente, uma das melhores faixas autorais, Ori, é  uma oração. É que Nasi é iniciado no culto de Ifá pelo sociólogo nigeriano Babá King.

“Ori é, literalmente, ‘cabeça’, mas  no orixá é a divindade pessoal da cada um,  o eu superior. Fiz a letra baseado numa interpretação dos versos de Ifá que consultei no acervo do Mestre King, sociólogo da Usp que desenvolve um culto tradicional de orixá”, conclui o hoje espiritualizado cantor.

Perigoso / Nasi / Trama Virtual - Coqueiro Verde Records / R$ 27,90 / www.nasioficial.uol.com.br




quarta-feira, dezembro 19, 2012

EM SUPERDEUSES, GRANT MORRISON DESVENDA OS SUPER-HERÓIS SOB VIÉS (BEM) PSICODÉLICO


Um dos responsáveis por transformar HQs de super-heróis em um milionário commodity transmídia, o escritor escocês Grant Morrison (Photo by Kin Lui) faz, no seu livro Superdeuses (Seoman), um rico painel em que mistura a história e a análise desta indústria, sua autobiografia, iniciações ocultistas, viagens psicodélicas  e o relato de encontros com seres de outra dimensão.

Subintitulado Mutantes, Alienígenas, Justiceiros Mascarados e o Significado de Ser Humano na Era dos Super-Heróis, o livro  reflete muito bem a mente fragmentada e delirante do escritor, conhecido pelas HQs ambiciosas – por vezes, até mesmo dadaístas – e com absoluto desprezo pela narrativa linear.

Autor de HQs hoje clássicas como Os Invisíveis, Homem Animal, Asilo Arkham, Como Matar Seu Namorado, We3 e dezenas de outras em uma carreira de mais de 30 anos, Morrison foi uma das estrelas da chamada “Invasão Britânica”, que mudou a cara dos quadrinhos americanos na década de 1980.

Ao lado de nomes como Alan Moore (autor de Watchmen e desafeto a quem reserva espetadas em diversas passagens), Neil Gaiman (Sandman), Peter Milligan (Skreemer) e Alan Grant (Juiz Dredd), Morrison ajudou a cristalizar uma revolução que, na verdade, já vinha em curso nos quadrinhos americanos desde os anos 1970, quando as HQs mainstream começaram a namorar com temas “adultos”, como drogas, violência urbana, especulação imobiliária, racismo, guerra do Vietnã e a filosofia hippie.

Para cada super, um mito

Multifacetado, Superdeuses começa com Morrison, na introdução, constatando a atual explosão de popularidade dos supers na grande mídia: “Nomes que já foram xiboletes arcanos agora estão à frente de campanhas de marketing global”, observa.

A partir daí, narra o nascimento da indústria de quadrinhos de super-heróis com o lançamento da revista Action Comics, que trazia a primeira aparição do Superman.

Só a capa da revista, Morrison leva umas dez páginas analisando minuciosamente, como se fosse um manuscrito do Mar Morto: “Perceba como a composição se baseia em um X mal escondido, que dá estrutura sólida e apelo gráfico. O X subliminar sugere o desconhecido e intrigante, e é exatamente isso que Superman era: o enigma encapuzado no olho da tempestade da Pop Art”, afirma.

Isso é só o início de uma longa viagem em que Morrison sustenta que os super-heróis, hoje, são o equivalente dos arquétipos e deuses de civilizações antigas, os mais altos ideais a que a humanidade pode almejar em um mundo fadado ao caos.

Superman, segundo o escocês, é o Jesus Cristo da era atômica, enviado por seu pai à Terra para nos salvar. Ele ainda o compara a Moisés, Apolo (deus do Sol) e Karna (deus hindu).

Já o velocista Flash é Mercúrio (deus mensageiro romano), Hermes (sua contraparte grega), Ganesha (indiano), Toth (egípcio), Legba (vodu) e por aí vai.

Para cada herói, Morrison saca diversas referências arquetípicas ao mesmo tempo em que narra a evolução da indústria e traça pequenos perfis biográficos dos escritores, desenhistas e editores envolvidos.

(Vale lembrar que essa abordagem não é inédita. Em 2010, a editora Cultrix lançou o livro Nossos Deuses São Super-Heróis, de Christopher Knowles, fonte básica sobre as origens ocultas mitológicas dos super-heróis, bem como ampla investigação sobre as ligações dos quadrinistas com ordens secretas de supostos manipuladores do mundo, como a Maçonaria etc. Veja mais sobre o livro, leitura recomendadíssima, aqui).

Mas nada supera a descrição de Morrison para suas viagens psicodélicas interdimensionais empreendidas através do uso indiscriminado de substâncias não aprovadas pela Constituição, como ácido lisérgico, psilocibina, cogumelos variados e ecstasy, entre outras.

Em Catmandu, numa viagem hedonista, ele conta ter sido visitado em seu quarto de hotel por “bolhas de puro metamaterial holográfico ondulado, baboso, de anjos ou extraterrestres”. Esses seres o transportaram a um outro plano de existência, no qual lhe foi revelado o “segredo do universo”.

Ele conta qual seria esse segredo no livro, mas é algo tão complexo e extravagante que não vale a pena expor aqui.

O que fica  é a impressão de que, sim, Grant Morrison é dono de uma das imaginações mais férteis do mundo. Leitura recomendada a qualquer fã de cultura pop, não só HQ:  “Os super-heróis me ajudaram a entender que tudo é real, inclusive nossas ficções”.

Superdeuses ainda guarda muito mais para o leitor atento e ligado em cultura pop. Esses pontos aqui levantados são apenas alguns. Para descobrir outros, vale a leitura.

Superdeuses / Grant Morrison / Seoman / 496 páginas / R$ 59,90 / R$ 47,92 no site da editora / www.editoraseoman.com.br



Abaixo, o documentário sobre Grant Morrison, Talking With Gods, legendado em português


terça-feira, dezembro 18, 2012

É HOJE: ROCKABILLY SESSIONS TEM LES ROYALES, BIG BROSS, DJ ANDYE IORE E SUA MOSTRA PSYCHOTIC IMAGES



Há mais ou menos um ano, Salvador abriga uma festa mensal muito especial: a Rockabilly Sessions, sempre com a banda local Les Royales e o DJ / produtor Rogério Big Bross Brito.

A edição de hoje conta com ambas as atrações, mais uma outra, vinda do Paraná: Andye Iore.

DJ, jornalista, agitador cultural, Andye vai discotecar, expor sua mostra fotográfica Psychotic Images e colher imagens para seu documentário sobre bandas de rock nordestinas, intitulado Porreta!, que sairá em 2013.

(Acima, uma das fotos da exposição de Andye: o baixista Kim Nekroman [e seu fabuloso coffinbass], da banda dinamarquesa / norte-americana Nekromantix.)

Sobre o Porreta!, “Foco basicamente em bandas do rock independente. O foco é rock´n´roll, sem essa bobagem de misturar rock com ritmos regionais. A ideia é mostrar ao Sul e Sudeste quantas bandas boas tem aqui e que não chegam lá por  várias dificuldades, como grana, distância geográfica etc”, conta.

"Não há nenhum critério específico. Escolhi bandas que tenho contato desde a década de 1990 com os fanzines, bandas atuais que não conhecia e recebi indicações, bandas que já acabaram e que eu gostava. Certamente algumas bandas importantes ficarão de fora. Meu objetivo não é mostrar as melhores ou maiores bandas. É só dar um panorama geral e fazer algumas relações", detalha Andye.

De Salvador, ele mostra bandas como Les Royales, The Dead Billies e brincando de deus (as duas últimas já extintas), entre outras.

“Daqui  vou pra Aracaju, depois Maceió, Recife e João Pessoa”, acrescenta.

“Aí fecho as filmagens em São Paulo, com o (cantor) Daniel Belleza, que mora lá há muito tempo, mas é paraibano de Caruaru (Pernambuco), um exemplo de como a cultura do Nordeste influencia o rock em outras regiões”, acredita.

Quem comparecer também pode conferir a exposição de fotos que Andye vem produzindo desde os anos 1990 no Psycho Carnival, festival curitibano de rockabilly, que sempre tem bandas gringas e do Brasil.

"Trago também a exposição Pschotic Images, já que fotografo o Psycho Carnival todos os anos. A cada ano, exponho as imagens que fiz no ano anterior.Para poder viajar, fiz 17 reproduções menores, para caber na mochila", diz Andye.

Na discotecagem, Andye pega leve e dá a preferência a sons mais dançáveis.

"Toco rockabilly mesmo, que é mais dançável, não boto coisas mais pesadas. Um que vai rolar com cereteza é o Caio Durazzo, da banda Crazy Legs, que lançou agora mesmo um disco novo bem legal. Tem também o Mistery Trio, que faz drumless rockabilly (sem bateria), é som som acustico muito legal", conta.

A night fecha com o show do Les Royales (foto: La Fotita), formada por Morotó Slim (guitarra), Rex (bateria), Camilo Aggio (voz) e Rogério Gagliano (baixo acústico).

Banda de rock exclusivamente dos anos 1950, sem frescura, a rapaziada detona covers de Eddie Cochran, Gene Vincent, Buddy Holly, Elvis Presley, Carl Perkins e Johnny Cash, além de artistas menos conhecidos como Billy Riley, Warren Smith e Carl Mann.

A única exceção (que não é dos anos 50) é, claro, Stray Cats.

Rockabilly Sessions com Les Royales, DJ Big Bross, DJ Andye Iore, Mostra de fotográfica Psychotic Images por Andye Iore / Portela Café / Hoje, 20 Horas / R$ 10 (lista amiga) / R$ 15 Na portaria, somente em espécie

TEASER DO DCUMENTÁRIO PORRETA!



SAIBA MAIS: http://www.zombilly.blogspot.com.br/

EVANDRO LISBOA E SEUS BELOS FRASEADOS DE GUITARRA PARA AS LETRAS DO REVERENDO T.

O rock baiano tem disso: filhos desgarrados que podem levar décadas distantes da cena, cuidando de suas vidas,  e que, um belo dia, ressurgem.

O guitarrista e compositor Evandro Lisboa (foto: Wilson Santana) é uma dessas figuras.

Insuspeitado guitarrista de belos fraseados, ele acaba de lançar o disco solo Sangue, Suor & Rock pela  parceria Brechó / São Rock Discos, para download gratuito, mas também disponível no formato físico (CD).

No início dos anos 1980, Evandro integrou a formação original da banda Guerra Fria, de meteórica passagem pela cena, então dominada pelo Camisa de Vênus.

“Éramos eu na guitarra, Tony Lopes (o Reverendo T) na bateria e o irmão de Tony, André, no vocal. Nosso primeiro ensaio foi em 1983, na casa de Antônio Risério (articulista de A TARDE), em Itapuã”, relata Evandro.

Infelizmente, André morreu pouco depois disso e a banda entrou em hiato. “Voltei para minha cidade, Santa Maria da Vitória. Lá continuei estudando música e compondo”, conta.

Roqueiro até Bob

Apaixonado por guitarras – com predileção pela Fender Stratocaster – Evandro também passou vários anos adquirindo instrumentos e equipamentos como amplificadores, gravadores de quatro (depois oito) pistas e outros “brinquedos”.

Tudo graças ao suor do seu trabalho como servidor público estadual da Secretaria da Fazenda.

Finalmente, só no ano 2000, Evandro gravou e lançou seu primeiro trabalho independente.

“O pessoal reclama que eu demoro muito pra criar, mas meu negocio é  resultado. O som tem que agradar a mim  primeiro”, reivindica.

Fã de reggae, esse primeiro trabalho e o seguinte seguiam a linha do chacundum jamaicano. No novo trabalho, seu terceiro, voltou às raízes roqueiras.

“Ouvi tanto Deep Purple em 1973 que me curava até a gripe! Sempre fui roqueiro, até aparecer Bob Marley”, relata.

Com letras do já citado Reverendo T., Sangue Suor & Rock deverá ganhar show de lançamento ainda no verão. “Janeiro eu recruto a banda. Fevereiro eu já quero fazer show”, planeja.

Guitarrista de mão cheia (mas não do tipo atleta olímpico), Evandro cometeu um bonito álbum de rock adulto. Confira.

Baixe: www.brechodiscos.wordpress.com

NUETAS


Futchers no Irish Pub
Se o mundo não acabar na sexta-feira (21), sábado (22) tem The Futchers no Dubliner’s Irish Pub. Trata-se da segunda banda de Rodrigo Sputter Chagas (Honkers), de blues-punk-garage-primitivo. As bandas Deaf, Teenage Buzz, Whatever e Artigo 163 também tocam. O legítimo som do rock underground local, puro e sem gelo. Esquema matinê, a partir das 14 horas. R$ 10.

Antes do fim, festa
É o fim do mundo e  nos sentimos bem. Quinta-feira (20) tem Falsos Modernos e Suinga na Festa do Fim do Mundo. Donna Cheffa, 22 horas, R$ 20 (rapazes), R$ 15 (moças).

VdÓ, Velotroz e Q5

 Já Vivendo do Ócio, Velotroz e Quarteto de Cinco fazem a trilha para o fim (ou não) do mundo, na própria sexta-feira (dia 21). Portela Café, 22 horas. R$ 20 (lista amiga), R$ 25 na hora.

Mensageiros no Pelô
A incansável Mensageiros do Vento, banda liderada pelo Buda baiano Fábio Shiva (é sério, o homem só falta levitar), faz dois shows gratuitos no Pelourinho, neste sábado (22) e no próximo (29). Intitulado Música da Década, trata-se de um espetáculo em duas partes, no qual os Mensageiros vão repassar canções clássicas dos últimos 60 anos (!), “enfatizando o importante papel desempenhado pela música na construção da identidade social”, informa o material de divulgação. No Largo Quincas Berro D’água, sábados (22 e 29), 21 horas, com entrada gratuita.

ExoEsqueleto no Café
A ExoEsqueleto toca sábado no  Café Atelier JC Barreto (São Caetano), com Linha de Fogo Groove e Dendê Dub. 19 horas, R$ 3. Janeiro tem som às sextas, com Tentrio (dia 04), Declinium (11), Pastel de Miolos (18) e Theatro de Séraphin (25).

sábado, dezembro 15, 2012

MICHEL HOUELLEBECQ ESTÁ (METAFORICAMENTE) MORTO. VIVA MICHEL HOUELLEBECQ!

Psicologia infantil básica: toda criança terrível sabe que, a partir do momento em que seus pais já não dão a mínima para suas travessuras, elas automaticamente perdem a graça, sua própria razão de ser.

O escritor francês (nascido na Ilha de Reunião) Michel Houellebecq (foto Alexandra Olivotto / Reuters), que fez da sua condição de enfant terrible profissão de fé, deve estar, desde 2010, se debatendo com este dilema.

Explica-se: naquele ano, seu livro mais recente, O mapa e o território, lançado no Brasil pela Editora Record, foi o grande vencedor do Prêmio Goncourt, a maior premiação literária do país de Balzac.

Para alguém conhecido por disparar, aqui e ali, opiniões misóginas e até mesmo racistas (em relação aos muçulmanos), tamanho reconhecimento deve ter  efeito equivalente a castração para um sujeito galinha.

Apontada como “obra-prima” pela crítica literária mundo afora, O mapa e o território narra a vida e a obra do artista visual parisiense Jed Martin, provavelmente o sujeito mais estoico da literatura desde a Bíblia (Jó).

Instalação de arte visual

Martin, cuja mãe se suicidou quando ele ainda era criança, tem uma relação distanciada com o pai, um arquiteto mal humorado.

O problema é que a relação dele com tudo (e todos) mais que o cercam é igualmente distante, fria.

Sua obra, que inclui “apropriações” de objetos ultrapasados pela tecnologia (máquinas de escrever), mapas dos famosos Guias Michelin e uma série de telas em que retrata desde padeiros a Bill Gates, é minuciosamente examinada por Houellebecq em longas digressões que poderiam se tornar maçantes, mas – e aí está a graça do livro – estão carregadas de ironias disparadas ao mundo da arte visual, da publicidade, da comunicação e a sociedade europeia como um todo.

Não por acaso, o autor foi vítima de acusações de plágio, já que teria se "apropriado" - de novo? - de trechos inteiros de textos dos Guias Michelin, da Wikipedia e outras fontes.

Mas a suprema ironia se dá mesmo é ali pela metade do livro, quando o galerista de Jed, Franz, sugere ao primeiro que ele convide um famoso escritor para assinar o texto do catálogo de sua mostra da série “Profissões”.

O escritor convidado é ninguém menos que o próprio Houellebecq (acima, em foto TVRinfo.ro), que descreve a si mesmo com um misantropo repugnante, pouco chegado em banho e com doenças de pele.

Ainda mais irônico é o destino que o escritor dá a si mesmo no livro, um golpe de mestre literário fatal, inesperado e divertidíssimo.

O mapa e o território é, no fim das contas, uma obra de arte tão moderna quanto as instalações artísticas que ironiza: intriga antes de emocionar, faz rir diante da desgraça e nos informa sobre o ciclo de vida das moscas com propriedade científica.

Reconhecido e aclamado, resta saber que travessura sobrou agora a  esta criança terrível.

O mapa e o território / Michel Houellebecq / Tradução: André Telles / Editora Record / 400 pgs. / R$ 49,90

VINCE DE MIRA: INCUBADOR DE AÇÕES CULTURAIS

Um dos sujeitos mais atarefados do cenário cultural independente, o cantor / produtor / agitador cultural baiano Vince de Mira (foto Tiago Lima) tem estado mais ocupado do que nunca ultimamente.

O rapaz toca uma meia dúzia de festivais (na capital e no interior), vai reinaugurar uma casa de shows e está prestes a lançar seu primeiro CD solo, O Batuque do Vigia,  cujo primeiro single, Um Batalhão, ele solta esta semana, para download gratuito.

Produzido pelo experiente guitarrista Juninho Costa (ou Junix 11, cujo currículo apresenta serviços prestados a nomes completamente díspares quanto Ivete Salnagalo, Subaquático e Cirque de Soleil), o álbum traz oito faixas de autoria própria e em parceria com Roberto Barreto (Baiana System), Edson Rosa (ex-Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta), Nikima (ex-Lampirônicos), o próprio Junix e outros.

De quebra, regrava A Ver Navios, clássico underground da banda Saci Tric (do já citado Ronei, pinçada do álbum Ao Vivo no Theatro XVIII) e Caia na Madrugada, faixa dos Lampirônicos que ele gravou na sua breve fase como vocalista daquela banda.

“Olha, pode até ser que (o CD) não caia no gosto de ninguém, mas eu tinha que gravar”, afirma, modesto.
“Até para não me desalinhar da produção artística, que é a real razão de eu ter começado a desbravar essa história toda”, acrescenta.

Incubadora de Festivais

Vince não vê mais aonde termina o artista  e começa o produtor cultural. Até por que, nas duas atividades, seus objetivos são os mesmos: “Tem gente que busca recursos públicos para produzir aquelas grandes festas populares”, observa.

“Nós (na Maquinário, sua produtora) trabalhamos para desembrutecer o cidadão, sensibilizar as massas para a arte e para distribuir renda entre os artistas independentes”, reivindica, sem receio de soar paternalista. Até por que respaldo não lhe tem faltado.

Recentemente, a Maquinário foi contemplada no Prêmio Economia Criativa – Edital de Fomento a Iniciativas Empreendedoras e Inovadoras da Funarte (Ministério da Cultura).

“Essa premiação é um mecanismo de investimento em determinadas iniciativas, como a nossa. Inscrevemos um combo de projetos que transversalizam diversas linguagens e se amarram entre si,  como a Incubadora de Festivais, criação de conteúdos e circulação de artistas. Aí todo esse recurso é investido na empresa”, esclarece Vince.

Quem tem acompanhado a agitada cena de festivais como Futurama, Lado BA e Zona Mundi pode até não desconfiar, mas é Vince e seus associados que estão por trás do movimento.

“Dá para atingir o quantitativo através do qualitativo”, aposta.

A Incubadora de Festivais é um exemplo. Dentro da Maquinário ela tem a função de “articular, produzir e consolidar um circuito de festivais de música na Bahia”, informa seu site.

“Implantamos festivais em cidades pólo como Juazeiro (o Umbuzada), Vitória da Conquista (Avuador) e Itacaré (Stereo Sul). Abrimos seleção para produtores locais para qualificar a mão de obra, por que os locais é que tem todas as condições de selecionar atrações locais, escolher os fornecedores etc”, diz.

Reinauguração em janeiro

Em meio a tudo isso, ele agiliza a reforma na casa da Rua da Fonte do Boi que já abrigou o Farol do Rio Vermelho para reinaugurá-la em breve, com novo nome: Commons.

“Estamos requalificando a casa. Vai ter shows e festas, claro, mas também será um espaço de compartilhamento de tecnologias de produção, gestão e linguagens artísticas”, diz.

“Teremos cursos e oficinas com gente daqui e de fora, de roteiro, fotografia, gravação de áudio etc. A previsão é que abra dia 11 de janeiro”, avisa.

Com tantos ações, a verdade é que Vince é hoje peça-chave na cultura jovem local. “Vejo Vince como um articulador fundamental nesse novo momento da música baiana”, afirma Junix.

“Ele é essa mistura rara de produtor e artista. Ele entende o lado funcional, sem perder de vista como funciona o lado do artista também, deixando fluir a energia criativa”, conclui.

Ao lado, a capa divulgada d'O Batuque do Vigia, do sempre sensacional artista gráfico / guitarrista Edson Rosa (capas de Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta e Pitty, entre outros).

Ouça / baixe a faixa inédita Um Batalhão



Saiba mais: http://maquinarioproducoes.com.br/

quarta-feira, dezembro 12, 2012

JORNALISTA BAIANA LANÇA LIVRO SOBRE ARMANDINHO MACEDO

Um verdadeiro monumento vivo da cultura baiana, Armandinho Macêdo – homem e obra – ainda está por ser devidamente desvendado, estudado e homenageado.

Essa lacuna começa a ser preenchida com o livro A voz de Armandinho Macêdo.

Assinado pela jornalista baiana Simone Caetano (autora de Major Cosme de Farias: Vida e Memória), ela define o livro como um “perfil biográfico”.

“Eu me detive basicamente na carreira artística de Armandinho, desde o início com o pai dele, Osmar, ensinando-o a tocar, passando pelo Trio Elétrico Armandinho Dodô & Osmar, pela banda A Cor do Som e carreira solo”, descreve Simone.

A ideia do livro surgiu há alguns anos, após Simone assistir a um DVD d’A Cor do Som.

“Entrei em contato com ele pela internet e depois consegui agendar uma entrevista, para propor o livro e conseguir sua autorização”, relata.

“Descobri que ele é uma pessoa  muito simples e generosa. Com o OK dele, tivemos várias entrevistas entre 2008 e 2010. Em paralelo, fui entrevistando as pessoas que ele indicava”, detalha a jornalista.

Entre os ouvidos por Simone, há depoimentos de Caetano Veloso, Mú, Luiz Caldas, Perfilino Neto, Walter Queiroz, Betinho, Morotó Slim e Durval Lelys, que também escreve texto de apresentação, além de  um prefácio do jornalista Achel Tinoco.

Parte fundamental

Estrelas maiores do Carnaval baiano entre a década de 1970 e parte dos 80, Armandinho, a guitarra baiana e o   Trio Elétrico Dodô & Osmar perderam muito espaço a partir da explosão da axé music, por volta de 1985.

“O grande lance do trio  foi a guitarra baiana. Através dela, Armandinho trouxe o rock para o Carnaval. Nos anos 80, a axé music veio com os teclados. Mas como ele mesmo fala, foi uma coisa que agregou. O trio deve ser um palco para vários instrumentos. Era até prevista essa inovação”, arrisca Simone.

“Ele continuou fazendo a música dele. Todo ano ele faz turnê solo pela Europa, Israel, Japão e outros cantos do mundo. E continua brilhando no Carnaval. As pessoas esperam que ele permaneça. Não tem mais o destaque de antes, mas é parte fundamental da festa”, conclui a autora.

A Voz de Armandinho Macêdo / Lançamento: hoje, 18 horas / Livraria Saraiva / Shopping Barra

A Voz de Armandinho Macêdo / Simone Caetano /  Vento Leste / 300 p. / R$ 49 / Vendas: Saraiva, Pérola Negra