sexta-feira, dezembro 02, 2011

MICRO-RESENHAS DE PAPAI NOEL 2011

O testamento de Raulzito

Os dois últimos LPs de Raulzito voltam às lojas em um  lançamento da série Bilogia (EMI). Uah-Bap-Lu-Bap- Béin-Bum! (1987) é o melhor dos dois, com hits como Cowboy Fora da Lei, Quando Acabar O Maluco Sou Eu e I Am (versão em inglês de Gita). Já o subestimado  A Pedra do Gênesis (1988), testamento do gênio, traz sua verve ainda intacta (apesar do seu péssimo estado de saúde à época), em faixas como Check-Up e Não Quero Mais Andar na Contramão (versão de No No Song, hit de Ringo Starr). Ambos os títulos, porém, sofrem com a brega sonoridade  oitentista. Bilogia Raul Seixas / Coppacabana - EMI / R$ 29,90


A independência do Brasil

Este  álbum, lançado originalmente em 1958 e relançado agora pelo selo Discobertas, é um marco. Além de se tratar do primeiro disco independente brasileiro, traz 14 músicas de Pacífico Mascarenhas, um esquecido porém maravilhoso compositor mineiro. Oriundo da burguesia de Diamantina, Pacífico recrutou uma banda com cantor (Marcus Vinícius), pianista (Paulo Modesto), baterista (Dario) e baixista (Alvarenga) para executar suas composições. O resultado é esta linda coleção de boleros, pré-bossas e jazz latino cheios de suíngue, que remetem ao son cubano. Curta com a patroa. Paulinho & Seu Conjunto / Um Passeio Musical / Discobertas / R$ 19,90

A delicadeza do brucutu

Sim, os brutos também amam. Revelado há quase duas décadas por Ozzy Osbourne, o super guitarrista (e armário ambulante) Zakk Wilde brinda os fãs com este belo álbum acústico com versões de canções de sua própria banda, Black Label Society, e mais alguns covers. A base de pianos e cordas, ele manda bem nas versões de Junior’s Eyes (Black Sabbath), Helpless (Neil Young) e Can’t Find My Way Home (Blind Faith). A surradíssima Bridge Over Troubled Waters (Simon & Garfunkel) não acrescenta e  poderia ter ficado de fora. Mas o saldo, que fecha com um número instrumental natalino, The First Noel, é bem positivo. Black Label Society / The Song Remains Not The Same / Lab 344 / R$ 24,90



Adoráveis neuróticas em sequência

Se alguém quiser se iniciar na literatura suja e louca de Charles Bukowski, este romance é um dos melhores pontos de partida. O livro é o relato de uma sequência de affairs do alter ego do autor, Henry Chinaski, com diversas mulheres – uma mais insana do que a outra. A obra-prima de um grande autor, no auge da forma. Mulheres / Charles Bukowski / L&PM/ 320 p./ R$ 19/ lpm.com.br







Menos Coldplay, Vanessa


A cantora e pianista norte-americana Vanessa Carlton até que impressiona nas primeiras faixas do seu quarto álbum,  Rabbits on The Run. Registradas ao vivo no estúdio,  Carousel e I Don’t Want to Be a Bride impressionam na ambientação  – ela claramente gravou as canções em um salão, concedendo ao som uma grandiosidade quase eclesiástica, como se estivesse numa igreja. Apoiado nos belos arranjos de piano e cordas, o disco soa bem, mas começa a cansar ali pela metade. Talvez se ela ouvisse menos Coldplay e mais Dr. John... Vanessa Carlton / Rabbits on the run/ Lab 344/ R$ 24,90


Canção para o fim da inocência

Pungente epitáfio para o fim da adolescência e da era das gangues de casaco de couro, o clássico de Susan Hinton de 1975 mantém o (des)encanto sensível que levou Francis Coppola a adaptar as agruras de Rusty James e seus amigos  para o cinema em um de seus melhores filmes. Bem vinda republicação. O Selvagem da Motocicleta  / Susan E. Hinton / Benvirá/ 152 p./ R$ 19,90/ benvira.com.br






Super desconhecidos


Alex Ross, o desenhista de estilo realista que estourou com Marvels (1994), volta em seu tema preferido: a mitologia super-heroica. Aqui, ele traz de volta vários supers da época da 2ª Guerra (direitos em domínio público) para novas aventuras nos sombrios dias atuais. Bela HQ, típica de Ross. Projeto Superpowers / Alex Ross, J. Krueger, C. Paul,  S. Sadowski,  Klauba / Devir/ 256 p./ R$ 48,50/ devir.com.br

 



Devia ser adodato em escolas

Em tempos de obscurantismo religioso galopante, ler o filósofo inglês Bertrand Russell (Nobel de Literatura 1950) pode ser revigorante. Ao negar o conforto pós-morte do Cristianismo, Russell oferece uma chave para a maturidade definitiva: o homem é quem deve se responsabilizar pelos seus atos. Por que não sou cristão / Bertrand Russell / L&PM/ 256 p./ R$ 17/ lpm.com.br






365 risadas

Quadrinista baiano maior, Antonio Cedraz continua publicando as tiras da sua Turma do Xaxado em ordem cronológica, chegando agora ao Ano 4. Aliando humor inteligente para todas as idades e crônica social mordaz ambientada no sertão baiano, Cedraz mostra por que não é multipremiado a toa. Xaxado ano 4 / Antonio Cedraz / Editora Cedraz/ 96 p./ Preço não informado/ xaxado.com.br
 



Trio de bravos marinheiros

 Parte da cada vez mais numerosa  cena de rock instrumental da Bahia (será uma crise de discurso?), o Tentrio lança seu primeiro álbum para download gratuito e confirma sua vocação para criar grandes épicos sônicos / cinematográficos. E bota épico nisso: inspirados nas seiscentas e tantas páginas de Moby Dick, de Herman Melville, o trio navega ora em calmaria tropical (Bairro Sujo), ora em mares encapelados (Cachalote), sobre águas misteriosas (Mamba Negra II) e até mesmo encarando densas tempestades (9000 Zumbis). Bela estreia. TenTrio / Melville / Big Bross Records / Download gratuito: tentrio.blogspot.com


A metade da missa soul

Quando a lourinha neo hippie Joss Stone surgiu em 2003 com o hit Super Duper Love, apreciadores de soul music prenderam a respiração: uau, o estilo ainda está vivo? Estava. E ainda não sabíamos da missa a metade, já que um ou dois anos depois, uma judia de Londres (não tão bonita, porém mais talentosa), fugitiva da clínica de reabilitação (Rehab) traria o soul definitivamente de volta a ordem do dia. E Joss? Continuou na dela (com um detalhe importante: viva), construindo uma carreira bastante respeitável. Nesta coletânea, seus primeiros hits. Joss Stone / The best of joss stone 2003-2009 / EMI Music / R$ 28,90

Pelas ruas de Curitiba

Lançamento da coleção A Arte da Crônica, de cronistas contemporâneos, esta coletânea do curitibano Pellanda percorre as ruas da capital paranaense enfocando fatos e personagens ora cômicos, ora perversos. Boa oportunidade para ler outros cronistas,  fora do eixo Rio-SP. Nós passaremos em branco / Luís Henrique Pellanda / Arquipélago/ 192 p./ R$ 34/ arquipelagoeditorial.com.br





Pelas ruas de BH

Um dos primeiros títulos da coleção A Arte da Crônica, este livro traz uma boa amostra da produção do jornalista  mineiro Humberto Werneck. Exímio contador de histórias, ele transita com desenvoltura entre o cômico e o sensível, com um texto econômico e elegante. Esse inferno vai acabar / Humberto Werneck / Arquipélago/ 192 p. / R$ 34/ arquipelagoeditorial.com.br






Agora tu me quer, né?


Último romance da cultuada autora inglesa, Persuasão aborda a temeridade que é dar (e seguir) conselhos. Foi seguindo o conselho de uma amiga que Anne Elliot dispensou o pobretão (porém charmoso) Frederick Wentworth. Sete anos depois, já solteirona, Anne reencontra Frederick, agora um distinto capitão da marinha britânica. Daí vem as inevitáveis reflexões, conjecturas, arrependimentos. Persuasão / Jane Austen / L&PM/ 192 p./ R$ 15/ lpm.com.br



Cartas para ninguém

Moses Herzog está na pior. Sua mulher o traiu com seu melhor amigo. Ele está na crise da meia-idade e também na profissão. Intelectual refinado, ele abraça a insanidade e escreve cartas (nunca enviadas) aos parentes e pessoas que admira. Lançado em 1961, Herzog é um clássico moderno. Herzog / Saul Bellow / Companhia das Letras/ 400 p./ R$ 56/ companhiadasletras.com.br










Sexo, drogas & matança

Em tempos de Wall Street ocupada, a versão pocket deste livro chega em boa hora. Patrick Batemann ganha milhões trabalhando durante o dia em Wall Street. A noite, veste Armani, cheira cocaína, bebe champanhe francês e diverte-se nas boates mais chiques de Manhattan. Na saída, assassina prostitutas e mendigos para  espantar o tédio. O Psicopata Americano / Bret Easton Ellis / L&PM - Rocco/ 480 p./ R$ 16/ lpm.com.br






Caçada humana

Baseado em fatos reais, o romance de estreia de James Ellroy foi resultado da obsessão do autor pela história de uma jovem estuprada, torturada e assassinada em Los Angeles, em 1947 e apelidada “Dália Negra”. A busca pelo assassino gerou uma das maiores caçadas humanas da história da Califórnia. Dália Negra / James Ellroy / Best Bolso/ 448 p./ R$ 19,90/ record.com.br

 




O velho Gordy não merecia

Aqui está uma coisa incomum: uma dupla de electro hip hop (oi?) formada por tio e sobrinho – sendo que um deles, o DJ Redfoo, é filho de Berry Gordy, o fundador da Motown. Já SkyBlu é neto de Gordy. A bizarrice (descontados os óculos e roupas esdrúxulas) para por aí, já que o LMFAO (Laughing My Fucking Ass Off) não vai  além de nada que Black Eyed Peas e demais representações de som playboy de boate já não tenha feito. Parece que esse povo segue uma cartilha. Som genérico para pessoas genéricas (mas que juram serem muito originais).  LMFAO / Sorry for Party Rocking / Universal / R$ 24,90
 


O folk carioca de Momo

Momo é o nome artístico de Marcelo Frota, músico carioca enturmado com a nova geração de compositores pop brasileiros, como Lucas Santtana (que toca flauta em duas faixas aqui) e Domenico Lancellotti (percussão e bateria em outras duas). Bastante elogiado por parte da crítica, Momo tem seus momentos neste CD bilíngue, como Blue Bird (melancólica, com bela guitarrinha fuzz)e Pescador. Apesar da voz suave e bonita, dos belos arranjos acústicos e tal, um certo sentimento de tédio se sobrepõe à medida que o álbum avança. Deve ser uma coisa de geração. Momo / Serenade of a sailor  / Pimba - Tratore / R$ 23,90


Fecha a conta, passa régua

Principal nome da onda disco punk que assolou Nova York na primeira metade da década passada, o LCD Soundsystem, projeto do músico James Murphy, dá adeusinho (pelo menos até o próximo revival) com este álbum, gravado ao vivo em um estúdio de Londres. Com versões longas (de até oito minutos), os melhores momentos ficam com a especialidade de Murphy – as faixas de pista –, como Us Vs Them (funk de branco de responsa), Drunk Girls, o synth-funk  Get Innocuous! e, claro, a tresloucada Daft Punk is Playing At My House. A joydivisioniana All My Friends também soa bem resolvida. LCD Soundsystem / London Sessions / EMI - DFA / R$ 29,90


Viva a FC Brasuca!

A pioneira utopia futurista-tropical  Zanzalá (1936), de Afonso Schmidt (1890-1964), abre esta antologia de novelas de FC brasileira, editada por Roberto de Sousa Causo. A Escuridão, de André Carneiro, O 31º Peregrino, de Rubens T. Scavone (1925 -2007) e A Nós o Vosso Reino, de Finísia Fidelli, fecham o rico painel desta produção. As Melhores Novelas Brasileiras de Ficção Científica  / Vários Autores / Devir/ 224 p./ R$ 29,50/ devir.com.br

14 comentários:

Rodrigo Sputter disse...

Essa banda eletro funk aí se inspirou no éo tchan pra fazer a capa-ehhehehe

Não sei a explosão de bandas instrumentais é falta de discurso...eu particularmente odeio discurso...prefiro as palavras...ou a poesia...afinal, o silêncio seria a resposta pra notas e letras, pois a canção gravada tem seus 100 anos ou + . . .seria incapacidade de fazer letras? modismo? pongação na onda?
Sei que este não é o caso da Tentrio...conheço muito bem a competencia do Thiago Jende como músico e ele já toca há caras...um cara gente boa da porra, sincero, sem malícias/politicagens/falsidade,como poucos na "cena".

Pra mim o que importa é como a música lhe toca...não importando a letra e o estilo...

Márcio A Martinez disse...

Sputter, o éotchan também "toca" em muita gente...

Franchico disse...

Sputter, "discurso", na forma como usei, se refere ao que as pessoas tem a dizer hj em dia.

(As vezes me parece que estamos mesmo passando por uma grande crise de discurso. É só dar uma olhadinha nos twitters mundo afora. Não há mais discurso, ideias reais sendo debatidas. Apenas o ruído de um monte de gente xingando muito, querendo posar de inteligente, irônica, "foda" e tal).

Mas, no sentido mais amplo, em tudo há "discurso". Até no blá blá blá poser babaca das redes sociais (Ô coisa que eu ODEIO!) e em bandas de música instrumental. Em tudo. Discurso não é só aquela conversa mole que político faz no palanque quando quer se eleger.

Franchico disse...

Mas só para deixar claro - acho que já o fiz no texto - gostei do CD do TT. Música descomprometida com modinhas.

Nei Bahia disse...

A história de Lobão parece que não é totalmente verdade, vai ter Rapa logo antes do Foo figherts e Marcelo Nova e outras pessoas não confirmam o que ele falou!!!

Rodrigo Sputter disse...

oxe chiconga, meu comentário foi censurado?
num foi.
hehehehehe
será q colocaram esses 2 nomes aí pra queimar o Lobão? tipo num ia rolar, mas depois q ele falou colocaram?
mas sinceramente...tou cagando pro lulapálusa...
só fico especulando pela manipulações de opniões e da mídia...das pessoas...

Franchico disse...

Sputter, pra mim foi isso mesmo. Acharam que neguinho ia aceitar na boa. Qdo viram o escarcéu que Lobão aprontou, eles reviram os horários dos artistas brasileiros nas grades. Não acho que Lobão ia inventar esse bafafá todo se simplesmente tivessem dado um horário razoável para ele ("no fim de tarde", como ele mesmo disse em entrevista à Folha). Enfim, mais uma vez: não sou pró-Lobão, mas acho que ele venceu essa parada - mesmo que não se apresente mais no festival - e todos os brasileiros que conseguiram horários dignos estão agora em dívida com ele.

Franchico disse...

Alan Moore faz picadinho das declarações imbecis de Frank Miller sobre o movimento Occupy.

http://www.universohq.com/quadrinhos/2011/n05122011_04.cfm

Taí um sujeito que nunca me decepciona. Coerência total, ideias claras e 100% prafrentex. Moore é O Cara, não tem jeito.

Franchico disse...

A entrevista completa com Alan Moore está aqui:

http://www.honestpublishing.com/news/honest-alan-moore-interview-part-1-publishing-and-kindle/

E em outra, ele diz que a Liga Extraordinária contina após a saga Século, cujo volume 2, 1969, acaba de sair no Brasil.

http://omelete.uol.com.br/quadrinhos/liga-extraordinaria-alan-moore-planeja-mais-historias-apos-seculo/

Minha resenha sobre 1969 sai terça-feira 6, no C2. Mais pro fim da semana, publico por aqui, para a apreciação dos rockloquistas...

Márcio A Martinez disse...

Já estou lendo no seu periódico predileto, Chico Agáquê.

Quando publicares, comentarei-lo...

osvaldo disse...

Chicão, fontes fidedignas ( recebam...) me contaram bastidores do lance de Lobão e ... ele pisou na bola de novo! Ele negociou a apresentação dele e voltou atras fazendo escarceu. Outros artistas desde o inicio, sem saberem qual era a negociaçào de Lobão, recusaram a proposta inicial, receberam uma contra-proposta, e chegaram a um acordo, sem fazer escarceu, e antes de Lobão chutar o balde. O Rappa então,desde o inicio recebeu o tratamento de "estrela". Em tempo: Não será surpresa para nosotros se Lobão amenizar o discurso.

Franchico disse...

Porra, Brama! Não se pode elogiar mesmo!... Ainda mais quando se trata do velho Lobo, né? Duh! Alguém me arruma uma pomada preu passar na minha língua queimada?

Franchico disse...

Hoje ainda (terça, 6), no máximo amanhã, post novo no pedaçis. Se ligai-vos!

cebola disse...

E óia que eu tentei ponderar láááá atrás, em algum coment perdido...Mas ninguém ouve cebola...nem ele mesmo!!