quinta-feira, setembro 29, 2011

A GUERRA NOS GIBIS

Combate Inglório: a pioneira e censurada revista contra a guerra

Em 1965, quando os protestos contra a guerra no Vietnã mal tinham começado nos Estados Unidos, uma revista em quadrinhos se adiantou e ousou se insurgir contra a ideia de enviar soldados americanos ao conflito, o falso patriotismo disfarçado de manipulação ideológica e contra a própria ideia de guerra.

Por tudo isto, Blazing Combat só durou quatro números – mas entrou para a história.

E as razões para tal honraria são muitas. Todas elas estão disponíveis para o leitor brasileiro conferir no álbum Combate Inglório, que reúne os quatro únicos números de Blazing Combat em uma edição caprichada, que chegou há pouco às livrarias.

Para começar, os criadores envolvidos na empreitada foram alguns dos melhores da história das narrativas sequenciais.

O responsável por todos os roteiros foi Archie Goodwin (1937- 1998), um dos mais prolíficos roteiristas e editores das HQs norte-americanas. Pense em qualquer título da Marvel ou da DC, e a mão de Goodwin certamente passou por ele.

Narrativa precursora

Entre os desenhistas, só “monstros sagrados” como Alex Toth (designer dos melhores desenhos da Hanna-Barbera), Gene Colan (A Tumba do Drácula), Wally Wood (Mad), John Severin (Kull), Al Williamson (Star Wars) e Gray Morrow (Void Indigo), entre outros. As capas eram de Frank Frazetta.

O resultado foi uma revista que, além da ousadia política que lhe custou a própria existência, legou alguns dos melhores contos de guerra em quadrinhos de todos os tempos.

Pode-se dizer, sem medo de errar, que Blazing Combat foi influência decisiva para os criadores que vieram a revolucionar o gênero nos anos 1980, como Alan Moore e Frank Miller.

É impossível ler histórias como Mantendo a Posição e Paisagem e não perceber que a sofisticada técnica de decupagem e narrativa cinematográfica de obras como Monstro do Pântano, Watchmen e Cavaleiro das Trevas já estava criada, 20 anos antes.

Combate Inglório / Archie Goodwin, A. Toth, J. Severin, W. Wood e outros / Gal Editora / 208 p. / R$ 42 / www.galeditora.com.br



Gen Pés Descalços é relato genial e sem retoques de Hiroshima

Sob qualquer ângulo que se analise, o mangá Gen Pés Descalços, de Keiji Nakazawa, é um marco.

É este dramático relato de sobrevivência na Hiroshima pré e pós-bomba atômica que finalmente chega ao Brasil em sua versão completa de dez volumes, traduzida diretamente do japonês pela Conrad.

No reino do mangá, Gen só pode ser comparada à obras magnas do gênero, como O Lobo Solitário, Akira e às fantasias de Osamu Tezuka (1928-1989), uma espécie de Walt Disney japonês, considerado o “Deus do Mangá”.

E em relatos de tempos de guerra de caráter autobiográfico nos quadrinhos, Gen só pode habitar no mesmo patamar de Maus: A História de um Sobrevivente (Cia. das Letras), o comovente relato de Art Spiegelman sobre como seus pais sobreviveram à Auschwitz.

Não a toa, é o próprio Spiegeman quem assina o prefácio do primeiro volume (de dois já lançados): “Eu me peguei lembrando das imagens e acontecimentos de Gen como se fossem memórias da minha própria vida, em vez de Nakazawa. (...) Gen lida com o trauma da bomba atômica sem hesitação. Não há godzillas ou supermutantes, somente realidades trágicas”, escreve.

Grandeza após o sofrimento

Keiji Nakazawa, assim como seu personagem principal, Gen Nakaoka, era apenas uma criança quando o Enola Gay largou a bomba sobre Hiroshima.

Assim como Gen, ele e sua mãe viram seu pai e seus irmãos soterrados, ainda vivos, serem queimados até a morte no incêndio que tomou a cidade e devastou o que a bomba não destruiu.

Desse sofrimento indizível, Nakazawa tirou a força para criar uma obra gigantesca, que analisa a loucura da guerra no Japão antes e depois da bomba, um tempo em que a maior honra para uma família era oferecer os próprios filhos em sacrifício à grandeza do Japão e seu Imperador.

Na narrativa de Nakazawa, a loucura e a morte são expostas sem retoques.

Gen Pés Descalços / Keiji Nakazawa / Conrad / 280 pgs. (em média) / R$ 24,90 cada volume/ www.lojaconrad.com.br




HQ utiliza referências fotográficas reais

Álbum de estreia do brasileiro Julius Ckvalheiyro, Guerra 1939-1945 é uma HQ diferente sobre a 2ª Guerra Mundial. Fruto de intensa pesquisa nos arquivos de Nuremberg e da BBC de Londres, o autor conta uma história para cada ano do conflito, sempre a partir da visão em primeira pessoa de um soldado (ou um piloto de avião, ou um prisioneiro). A arte é toda em cima de referências fotográficas reais, com bom resultado visual em algumas HQs, e em outras, nem tanto. Guerra 1939-1945 / Conrad / 136 p. / R$ 29,90 / www.lojaconrad.com.br

terça-feira, setembro 27, 2011

CANÇÕES SOBRE A PASSAGEM DO TEMPO

Há duas semanas, a banda baiana Theatro de Seraphin (foto de Fernando Udo) fez um show no Bar Póstudo para lançar seu segundo disco, No Fim de Maio.

A ocasião foi especial por diversas razões. A primeira foi poder degustar o novo trabalho de uma das bandas mais maduras e de personalidade mais forte do chamado “roque baiano”.

A segunda é celebrar a volta do grupo aos palcos locais após um bom tempo longe, período em que a banda perdeu o guitarrista Cezar Vieira (ex-brincando de deus) e reintegrou o membro fundador Candido Soto Jr. (ex-Cascadura).

“Teve uma demora enorme mesmo. Começamos a gravar há quase um ano. Por outro lado, isso ajudou a dar uma amadurecida, no sentido de deixar o repertório mais redondo, fechou os arranjos, amadureceu o disco como um todo”, observa o baixista Marcos Rodrigues.

Produzido por Luis Fernando Apú Tude, No Fim de Maio foi gravado no esquema “ao vivo no estúdio” – decisão acertada, que construiu uma sonoridade coesa, enxuta, casando bem com a proposta da Theatro.

“Foi uma decisão estética do produtor. Gravamos baixo, bateria, guitarra base e voz guia. Depois acrescentamos solos, voz definitiva e os instrumentos convidados, como o violoncelo de Fernanda Monteiro e o piano de Luisão Pereira (ambos Dois Em Um) e o trompete de Alex Pochat, por exemplo”, cita.

No Fim de Maio não chega a ser um disco temático, mas seu nível de amadurecimento e coesão são tão evidentes que sugerem o tema da passagem do tempo.

“De fato, a melancolia, a coisa de lidar com o tempo é algo bem recorrente nas nossas músicas”, admite Marcos.

“Mas eu não diria que é um tema do disco. É um tema da banda. Há aí uma densidade que é nossa característica. Essa pegada existencialista é a cara de Arthur – minhas próprias letras não são muito distantes disso. Talvez, num terceiro disco, haja um outro direcionamento”, analisa o músico e arquiteto.

Com dois veteranos da década de 1980 (Artur, ex-Treblinka e Marcos, ex-Via Sacra) e um dos anos 90 (Cândido) na formação, o grupo tem uma visão bem crítica do atual estado do rock baiano.

(Foto Maritza / fotolog.com.br/candidosottojr)

“A cena rock está estilhaçada. Nem é exatamente uma cena. Você tem um monte de bandas cavando lugares para tocar, por que não há um circuito. Não há rádios. E fora um ou dois blogs, não há muitos jornalistas cobrindo o que está acontecendo”, nota Marcos.

Mas para ele, o pior de tudo nem é tudo isso, e sim, a prevalência de bandas cover tocando na noite.

“Lamento muito que hoje a gente abra o jornal e veja vinte bandas fazendo cover. Não digo que não deveria existir, mas agora elas são a maioria. As autorais é que deveriam prevalecer”, afirma.

A onda de bandas recorrendo às influências de MPB e música regional é outro ponto de discordância para Marcos.

“Nesse sentido, temos um certo radicalismo purista. A Theatro é uma banda de rock e acabou. Aqui não tem dendê”, demarca.

“Somos daqui, cantamos em português, nossa sonoridade nos situa como banda baiana e brasileira. Sempre seremos isso, independente de qualquer coisa. Por que tem essa onda regionalista aí que acho equivocada no sentido de que virou uma procura, uma busca para se encaixar na moda”, crê.

“Tudo bem, podemos não soar nada de mais para a maioria das pessoas, mas a gente gosta de dizer que somos uma banda de rock, e que, ainda por cima, tem uma linguagem que ainda consegue extrair algo desse estilo musical. E isso nos deixa orgulhosos”, conclui.

Perfeição na maturidade

Dizem que “rock maduro” é uma contradição em termos – mas gênios como Lou Reed e Neil Young estão aí para provar que não é bem assim.

A Theatro de Seraphin, banda local cujo vocalista, o poeta Artur Ribeiro, já passou dos 50, é o nosso melhor exemplo nesse sentido.

Autor de letras magistrais, impressiona também pela interpretação plena de dor – expressa na voz rouca que parece vir das entranhas mais profundas. Tudo emoldurado por arranjos minimalistas, em uma obra de sonoridade sofisticada e suave.

Só uma banda com músicos tão experientes e bem formados poderia cometer um disco deste porte: coeso, de peso poético evidente e sonoridade exata, precisamente adequada à proposta.

O guitar hero Candido Soto Jr. é outro destaque, com intervenções melodiosas, preciosas. Um disco perfeito, para ouvir do início ao fim. Ouça hoje.

No Fim de Maio / Theatro de Seraphin / Independente / Download gratuito em MP3 de alta qualidade e encomendas do disco físico no site: http://theatrodeseraphin.com

sexta-feira, setembro 23, 2011

A GARRA DO MISTÉRIO

Um cientista com cara de caveira, louco e cruel, e suas aventuras entre múmias, robôs, mulheres fatais e investigadores de polícia são um prato cheio para qualquer apreciador de histórias pulp com altas doses de fantasia. Mais interessante ainda é se tudo isto ainda tiver uma origem incerta, misteriosa.

Isto é Garra Cinzenta (Conrad), uma pioneira HQ brasileira de horror e mistério dos anos 1930, que volta às livrarias em edição luxuosa de capa dura e uma interrogação ainda a ser respondida: quem a escreveu?

Publicada em capítulos de uma página entre 1937 e 1939 no jornal paulista A Gazeta, a HQ leva as assinaturas de Francisco Armond (roteiro) e desenhos de Renato Silva (1904 -1981).

O último é razoavelmente conhecido. É o ilustrador de um clássico da literatura infanto-juvenil brasileira: Cazuza (1938), de Viriato Correia – além da conceituada série didática A Arte de Desenhar.

Mas quanto ao roteirista Francisco Armond, ninguém sabe de quem se trata. A principal “suspeita”, até pouco tempo, recaiu sobre a poeta e jornalista carioca Helena Ferraz de Abreu (1906- 1979).

Procurado pelo jornal Estado de São Paulo, o filho de Helena, Arnaldo (hoje com 80 anos) negou que sua mãe seja a autora de Garra Cinzenta.

O mistério persiste. O dono (ou dona) da mente perturbada da qual saíram as aventuras sinistras do personagem ainda é desconhecido(a).

Seu legado, porém, sobreviveu ao tempo como uma preciosa raridade da cultura pop brasileira, muito graças ao esforço de colecionadores como Worney Almeida de Souza, que adquiriu 70% das chapas de impressão originais de outros colecionadores, recolhidas através das décadas.

Em 1998, Worney publicou a série completa em um fanzine com tiragem limitada de 500 cópias.

E agora, nesta edição de luxo que só saiu graças ao seu trabalho anterior, assina o texto de apresentação, dando conta do tamanho da influência e do alcance da obra, que foi, inclusive, publicada no exterior.

“Sabe-se, com certeza, de pelo menos duas edições internacionais: uma (...) na revista belga Le Moustique, e outra mexicana, da editora Sayrol. Mas é quase certo que existiram outras edições, graças ao poder divulgador da pirataria”, escreve Worney.

Segundo o pesquisador, o personagem ainda parece ter influenciado personagens das HQs americanas (o vilão Caveira Vermelha, da Marvel) e italianas (nos anti-heróis Satanik e Kriminal).

Cria direta da literatura pulp norte-americana, Garra Cinzenta se revela uma leitura até dinâmica e interessante – se o leitor ocasional souber contextualizar a narrativa criada nos moldes de mais de 70 anos atrás.

Com a história ambientada em Nova York, os personagens são chamados de Higgins, Miller, Katy e outros nomes estrangeiros. Os diálogos e textos, conservados do jeito que foram escritos em 1937, guardam expressões involuntariamente engraçadas, como “cair na esparrela”, entre outras.

Mas os desenhos de Silva, contudo, captam muito bem o contexto sombrio, tipo “vilão de cinema mudo” da série, e evoluem visivelmente ao longo da narrativa, atingindo grande impacto visual, especialmente na segunda metade da HQ.

GARRA CINZENTA / Francisco Armond e Renato Silva / Conrad / 128 p. / R$ 39,90 / www.lojaconrad.com.br

quarta-feira, setembro 21, 2011

GLAMOUR NO RAIO-X

Nos últimos 10 ou 15 anos, as obras culturais mais impactantes produzidas nos Estados Unidos não saíram do cinema (cada dia mais infantilizado), nem da música ou mesmo da literatura – mas sim, do mais subestimado dos veículos: a televisão, especialmente através dos canais a cabo.

Após a pequena revolução causada pela série / marco Família Soprano (1999-2007), os espectadores ficaram cada vez mais exigentes.

A bola da vez é Mad Men, série ambientada no período histórico que mitificou a propaganda como uma profissão glamourizada: os anos 1960 pré-contracultura.


6: Mad Men - Opening Title Sequences por HatakTRAILERS

Atualmente em sua quarta temporada, a espetacular série do canal AMC (o mesmo das amplamente elogiadas Breaking Bad e The Walking Dead), que está fazendo tanto sucesso que teve dois livros publicados simultaneamente no Brasil: Mad Men - Comunicados do Front Publicitário (Record) e O Guia Não Oficial de Mad Men - Os Reis da Madison Avenue (Best Seller).

O primeiro é o livro de memórias do redator Jerry Della Femina. Foi nele que Matthew Weiner, ex-roteirista dos Sopranos e criador de Mad Men, se baseou para criar a série.

Lançado originalmente em 1970, é um magnífico painel do mundo publicitário norte-americano dos anos 60. Tornou-se um clássico do gênero e andava meio esquecido. Como seu livro serviu de inspiração à série, Della Femina ainda atuou como consultor técnico na primeira temporada.

Já O Guia Não Oficial, de Jesse McLean, é justamente o que seu título promete: um manual de tudo o que se relaciona diretamente com Mad Men, relatando desde os bastidores da criação da série, até biografias dos atores, fichas técnicas e apreciações críticas de todos os episódios das duas primeiras temporadas.

"OS CIGARROS E O DESEJO DE MORTE FREUDIANO"

Uma das razões do sucesso estrondoso de Mad Men, a série, talvez resida no fato de que relatos sobre períodos de apogeu (ou decadência, dependendo do ponto de vista) sempre exerçam grande fascínio.

E uma narrativa ambientada no centro nevrálgico do auge do capitalismo (as agências de propaganda da Madison Avenue nos anos dourados de John Kennedy), definitivamente se encaixa nesta descrição.

O choque causado pelas mudanças dos costumes dos anos 1960 para cá é outro ponto de atração de Mad Men. É inevitável se chocar, especialmente quando se acompanha a série desde o início (as três primeiras temporadas estão disponíveis em DVD).

Fumar, beber e trair a esposa eram, praticamente, exigências sociais – e o ambiente de trabalho é um dos locais preferidos para essas atividades. Fumava-se em reuniões de negócios, restaurantes, escritórios, cinemas e até em aviões.

O episódio piloto é emblemático, pois ambienta o espectador no clima da série em sua forma mais pura.

Nele, os funcionários da agência Sterling Cooper, centro da narrativa, queimam os neurônios para driblar as dificuldades que tem pela frente nas campanhas do cigarro, já que o governo proibiu as agências de usarem o argumento – hoje, ridículo – de que eles são bons para a saúde”.

O mais engraçado é que uma pesquisadora da agência chega a antecipar aos “criativos” que o fascínio dos cigarros está intimamente ligado a um “desejo freudiano de morte”, já que, desde aquela época, já se sabia que os cigarros, na verdade, são nocivos.

O argumento é a base de toda a propaganda de cigarros desde então, ligando-os a estilos de vida esportivos e radicais – mas Don Draper, o diretor de criação, rejeita a ideia. E joga o relatório da pesquisadora no cesto de lixo.

Ato contínuo, acende um cigarro e serve-se de um drinque – embora ainda seja de manhã.

Momentos de ironia finíssima como este fizeram de Mad Men um clássico televisivo instantâneo.

PRÊMIOS, GUIAS E GOLPES BAIXOS

No domingo passado, Mad Men, mais uma vez, bateu a concorrência fortíssima de seriados como Boardwalk Empire (de Martin Scorsese), Dexter e Game of Thrones, faturando o quarto prêmio Emmy (conhecido como o “Oscar da televisão americana”) consecutivo, de Melhor Série Dramática.

O feito ilustra bem a estabilidade alcançada por Matthew Weiner na confecção da série. Mad Men, com sua narrativa constante, pontuada por momentos de introspecção e silêncios – que revelam mais sobre o interior dos personagens do que qualquer diálogo – nunca foi um estrondoso sucesso de audiência, nem nos Estados Unidos.

Porém, como revela Jesse McLean no Guia Não Oficial, “a vantagem de ser exibida em um canal a cabo pequeno como o AMC (HBO, no Brasil) é que Mad Men jamais precisou se preocupar com a audiência, indulgência concedida sob a condição de que a série continue acumulando prêmios”, escreve.

Para Jesse, a combinação do ambiente de uma agência de propaganda com os anos 1960 – além do extraordinário apuro dos roteiros, atores e direção de arte – é o segredo do sucesso do programa.

“Através do prisma das aventuras do independente e solitário Don Draper no mundo da publicidade dos anos 1960 em Nova York, o roteirista permite à audiência enxergar as várias facetas da cultura norte-americana, que vivenciou uma transformação devastadora naquela época excitante”, observa.

A realidade da propaganda

Sobre o livro que inspirou a série, Mad Men - Comunicados do Front Publicitário, ele é mais indicado aos interessados em propaganda (e na sua história e desenvolvimento) em si do que aos fãs do programa. Nele, não há Don Draper, Peggy Olson ou Pete Campbell.

Volume de memórias de Jerry Della Femina, há 50 anos no ramo da publicidade, seu texto flui com muita facilidade e agilidade, sempre com muito bom humor, contando tudo sobre os meandros do meio publicitário naqueles tempos analógicos, pré-revolução contracultural.

Estão lá em suas páginas todas as loucuras inerentes ao meio: os golpes baixos para roubar contas alheias, a censura, o consumo desenfreado de álcool e drogas, a neurose dos redatores, os egos descontrolados dos diretores de criação e atendimento, métodos pouco ortodoxos de estímulo criativo etc – com um estilo ágil e franco, sem censura.

É de se imaginar o rebu que deve ter causado no meio, à época de seu lançamento...

O GUIA NAO OFICIAL DE MAD MEN / Jesse McLean / Best Seller / 288 p. / R$ 29,90 /www.record.com.br




MAD MEN - COMUNICADOS DO FRONT PUBLICITÁRIO / Jerry Della Femina / Record / 288 p. / R$ 32,90 / www.record.com.br

domingo, setembro 18, 2011

MICRO-RESENHAS DE PRIMAVERA (MAS SEM VIADAGEM!)

Grande estreia aos 63 anos

Nem só da espetacular Sharon Jones (que só faltou botar o Teatro Castro Alves abaixo em junho último), vive o selo Daptone, especializado em black music. O fenomenal soulman (e encanador!) Charles Bradley lança seu álbum de estreia somente agora, aos 63 anos. E como diz o velho clichê, antes tarde do que nunca. O vozeirão rasgado ora lembra James Brown, ora evoca Otis Redding. Bem acompanhado pela Menahem Street Band, crava, sem favor algum, um dos melhores álbuns do ano, pleno de feeling, suor, sangue, sexo e verdade. Charles Bradley / No Time For Dreaming (Importado) / Daptone Records / R$ 63

Um sonzão de big band

Ex-membro da banda oitentista Squeeze, o pianista inglês Jools Holland se notabilizou como o bonachão apresentador do programa musical Later... da BBC. Esperto, sempre aproveita para fazer jams com os convidados. Neste disco, algumas das melhores colaborações entre Jools, sua orquestra de rhythm & blues e nomes como Solomon Burke, Eric Clapton, Dr. John, Richard Hawley, Tom Jones e Michael “Egg in the mouth” McDonald. Sonzão de big band na caixa, Finding The Keys é um bálsamo de música real, tocada por gente de verdade. Jools Holland & His R&B Orchestra / Finding The Keys: The Best of / Warner music / R$ 31,90

Álbum cheio de vazio

Surgida no resto do tacho do estouro do rock alternativo, na segunda metade dos anos 1990, o Incubus sempre foi uma banda abaixo da média, o que não impediu que conseguisse dialogar com sua geração e amealhar um séquito de fãs. Em seu sexto álbum de estúdio, apresentam mais do mesmo e fazem os ouvintes perguntarem se esses caras estão vivos mesmo. If Not Now, When? é um disco que não causa absolutamente nada em que se dispõe a ouvi-lo. Não há vibração, não há riffs marcantes, não há emoção, refrãos, nada. Nem para irritar essa banda serve. Fazer o que? Incubus / If Not Now, When? / Sony Music / R$ 24,90

Perfis de Chuck

Cultuado pelo (superestimado) livro / filme O Clube da Luta, Chuck Palahniuk tem aqui uma razoável coleção de artigos e reportagens escritos para jornais e revistas. Destaque para um festival de sexo em Montana, um duelo de máquinas agrícolas e os perfis de Juliette Lewis e do escritor Ira Levin. Mais estranho que a ficção / Chuck Palahniuk / Rocco / 272 p. / R$ 36,50 / rocco.com.br








HQ ou storyboard pré-fabricado?

Só por que uma ideia parece original, não quer dizer que ela vá render. É isso que acontece com a HQ Cowboys & Aliens, que combina western com ficção científica e gerou um filme com Harrison Ford e Daniel Craig. Na verdade, parece que única finalidade da HQ foi esta: vender a ideia para o cinema. Os desenhos (do brasileiro Luciano Lima) são muito feios e a narrativa é capenga. Melhor esperar logo o filme, que estreia no dia 9 de setembro. Cowboys & Aliens / Rosenberg, Van lente, Foley, Lima, Calero / Galera Record / 112 p. / R$ 42,90 / galerarecord.com.br










Testemunho arrepiante


Há um sutil toque de tragédia na voz roufenha de Gil Scott- Heron (1949-2011), o bluesman que, por declamar – ao invés de cantar – ácidos manifestos sócio-políticos, foi frequentemente apontado como precursor do rap. “Não sei se devo levar a culpa por isto”, era sua resposta. Morto em maio ultimo, o homem que preconizou (ainda nos anos 1970) que a “revolução não será televisionada” deixa como testemunho final este último álbum, um arrepiante prenúncio do fim. Os arranjos minimalistas emolduram com perfeição Me and The Devil (de Robert Johnson), New York is Killing Me e On Coming From a Broken Home. Para corações fortes. Gil Scott-Heron / I'M NEW HERE / Lab 344 - XL Recordings / R$ 28,90

Homenagem à altura

No ano em que completaria 75 anos, um elenco de primeiríssima se reúne para homenagear o grande Buddy Holly (1936-1959), um dos pioneiros do rock ‘n’ roll. O tributo se inicia com a melhor banda da atualidade, The Black Keys, mantendo a simplicidade (e a pungência) de Dearest. Sir Paul McCartney, sangue no olho, se esgoela em It’s So Easy. Patti Smith emociona com Words of Love, My Morning Jacket idem com True Love Ways e Lou Reed experimenta (sem chatear) com Peggy Sue. Há ainda Julian Casablancas, She & Him, Cee-Lo Green e mais. Discaço. Vários artistas / Rave On Buddy Holly / Universal / R$ 29,90

Anarquistas literários, graças a Deus

Organizado por Antonio Arnoni Prado, Cláudia Leal e Francisco Hardman, este livro recupera textos de autores anarquistas escritos no Brasil, a maioria por imigrantes italianos e espanhóis, entre fins do século XIX e a década de 1930. Documento importante, ideologica e historicamente falando. Contos anarquistas / Vários autores / WMF Martins Fontes / 340 p. / R$ 49,80/ wmfmartinsfontes.com.br









Fuego en la bacurita

Mulher a frente do seu tempo, a escritora francesa Anaïs Nin (1903-1977) perseguia desejos como crianças correm atrás de pombos na praça. No terceiro volume de seus diários, ela deixa Paris para se afastar do marido e do amante (o escritor Henry Miller), vai para Nova York atrás de outro, o seu próprio analista, Otto Rank – mas o calor na bacurinha fala mais alto e, logo, lá vai ela de volta a Cidade Luz. FOGO: DIÁRIOS NÃO EXPURGADOS 1934 - 1937 / Anaïs Nin / L&PM / 480 p. / R$ 24 / lpm.com.br




Os guarda-chuvas do delírio

Segundo volume da série de HQs de Gerard Way e do premiado desenhista brasileiro Gabriel Bá, traz de volta sua equipe de seres ultrapoderosos em uma intrincada trama que mistura psicopatas com máscaras fofinhas, viagens no tempo e a conspiração do assassinato de Kennedy. Delirante. The Umbrella Academy: Dallas / Gerard Way e Gabriel Bá / Devir / 184 p. / R$ 29,50 / devir.com.br















Dama do rock de volta

Aos 62 anos de idade, a cantora norte-americana Stevie Nicks (ex-Fleetwood Mac), retorna a cena, depois de dez anos sem lançar nada inédito. Produzida por Dave Stewart (Ex-Eurythmics, Super Heavy), a dama do folk rock estradeiro volta em boa forma, com o que tem sido considerado seu melhor trabalho em décadas. Se os anos conferiram uma certa rispidez a sua voz, as composições continuam delicadas, como Secret Love e Wide Sargasso Sea. Annabel Lee é o poema de Edgar Allan Poe, com um belo arranjo de guitarras e cordas. Deve ganhar uns Grammys. Stevie Nicks / IN YOUR DREAMS / WARNER MUSIC / R$ 29,90

Transcendendo a tosquidão


À primeira vista, o duo The Kills é só mais uma daquelas bandas de casal fazendo rockinho de garagem tosco (vade retro, Ting Tings!). Porém, em seu quarto álbum, até que eles acertam a mão e transcendem a tosquidão e os hypes vazios em um punhado de faixas. A faixa de abertura Future Starts Slow traz um cativante riff em delay, emoldurado por uma batida quase tribal, enquanto Nail In My Coffin é hit pronto para a pista. Já a linda Baby Says, com riff surf saturado de fuzz, é trilha sonora para pegar a estrada, sem destino. No geral, um bom disco de rock contemporâneo – o que, hoje em dia, não é pouco. The Kills / Blood Pressures / LAB 344 - Domino Records / R$ 27,90

Fusão popular / vanguarda

Em seu segundo álbum, Manuela Rodrigues, dona de voz espetacular e rica em matizes, conseguiu sintetizar, com rara fluência, uma fusão de popular com vanguarda. Multitarefas, atua também como compositora e coprodutora (com Tadeu Mascarenhas e Mou Brasil), em obra que vale por um liquidificador de sensações: é capaz de seduzir (Doce de Limão), de sensibilizar (Por Um Fio), de divertir (Barraqueira), de desconstruir (Berimbau, hit do Olodum, é aqui um tour de force de acento jazzístico) e mais. Tudo sem perder o rebolado. Manuela Rodrigues / Uma Outra Qualquer Por Aí / Garimpo Música / R$ 21,60



Na zumbilândia madrilenha

Considerado o “Stephen King espanhol”, Manel Loureiro emprega sua prosa ágil e enxuta a serviço do apocalipse zumbi, nesta série de arrepiar os pelos da nuca. O segundo volume, Os Dias Escuros, relata a missão suicida de alguns sobreviventes para saquear um hospital em Madri. Apocalipse Z: Os dias escuros / Manel Loureiro / Planeta / 320 p. / R$ 39,90/ editoraplaneta.com.br










King Kubert das Selvas

Mestre universal das HQs, Joe Kubert tem o 2º volume de sua espetacular fase com Tarzan publicado no Brasil. Ultradinâmicos e repletos de movimento, seus roteiros e desenhos acompanham o Homem Macaco em aventuras nas ruas de Paris, no deserto argelino e na cidade proibida de Opar. Tarzan: a Volta do Rei das Selvas e Outras Histórias / Joe Kubert / Devir/ 216 p. / R$ 49,50/ devir.com.br











Quem tá no rock é pra se...

Já ouviu falar do Superguidis? Não? Agora é tarde, eles já acabaram. A ótima banda gaúcha, na ativa desde 2002, anunciou o fim de suas atividades no final de junho, depois de três bons discos em que praticaram indie rock com guitarras no talo, boas letras em português e zero de pose. É mesmo uma pena, já que eram melhores do que – basicamente – qualquer coisa que se diga rock e ganha milhões no mainstream. Neste EP de despedida, disponível para download, versões demo e ao vivo de algumas músicas favoritas dos fãs. Todos os 15 ou 17. Superguidis / Epílogo / Independente / Download gratuito: tramavirtual. uol.com.br/superguidis

CD para quem usa bigode

Esclarecedora, essa coletânea: a propósito das comemorações dos 10 anos do site Chic, da consultora de moda Glória Kalil, o CD ficou no meio termo. De um lado, aquele repertório que já fez muito coroa pagar mico em festa de 15 anos, como Dancin’ Days (Frenéticas), Le Freak (Chic) e (a auto- homenagem?) Gloria (Laura Brannigan) Do outro, hits supostamente “alternativos”, para despistar e ficar bem com o povo fashionista: A Cause des Garçons (Yelle), Jager Yoga (CSS) e Blind (Hercules and Love Affair). Indicado para quem usa bigode. Vários artistas /CHIC 10 ANOS - GLORIA KALIL / Warner Music / R$ 31,20

Em decadência evidente

Espécie de elo perdido entre o progressivo tardio do Marillion e o progmetal virtuoso do Dream Theatre, a banda norte americana Queensryche já foi o supra sumo do heavy metal “inteligente”, com declaradas pretensões artísticas. Em seu 12º álbum de estúdio, contudo, os dias de glória parecem ter ficado para trás. Dedicated to Chaos soa burocrático, frio e sem peso (pecado mortal para uma banda do gênero) desde a primeira música (e faixa de trabalho), Get Started, até a última, Big Noize. Com generosidade, dá pra dizer que The Lie lembra os bons tempos. QUEENSRYCHE / DEDICATED TO CHAOS / Roadrunner - Warner / R$ 31,20

Ninguém chamou de volta

Banda fetiche da rapaziada cuca fresca da ensolarada Califórnia, o trio Sublime havia encerrado as atividades em 1996, quando seu líder e vocalista, Brad Nowell, morreu de overdose. Mas eis que um belo dia, os membros remanescentes resolvem chamar um substituto e retomar a banda. Entra em cena o jovem Rome Ramirez e o resultado é esta caricatura de Sublime. Há o ska punk de sempre (Panic, Lovers Rock), o hardcore de Los Angeles (My World), o folk beira de mar a la Jack Johnson (Spun, PCH) e assim vai. Só o que não há é interesse – ou originalidade. Sublime With Rome / Yours Truly / Fueled by raymen - Warner / R$ 31,20

sexta-feira, setembro 09, 2011

LEMMY, 49% FODE-MÃE, 51% FDP

Existem pessoas que, seja por extrema eficiência, seja por destino, são referência em certas áreas. Por exemplo: Ozzy Osbourne é uma referência do heavy metal, uma lenda viva do rock. Há outros, porém, que parecem encarnar com tamanha paixão e autoridade aquilo que representam que acabam por se tornar aquela própria coisa.

Desta forma, se Ozzy é uma referência do rock, considerado até mesmo o Príncipe das Trevas, Lemmy Kilmister, o líder do Motorhead, pode, sem equívocos, ser considerado “O Rock ‘n’ Roll” em pessoa – ou, como já foi dito, “O Rock em carne, ossos e Jack ‘n’ Coke” (o seu drinque diário de preferência, uísque Jack Daniel’s com Coca-Cola).

É esta visão que o documentário em DVD Lemmy: 49% Motherf**ker, 51% Son of a Bitch (Coqueiro Verde, 2011) passa ao espectador. O pior (ou o melhor) é que, mesmo para incrédulos, ao final do filme fica bem difícil discordar dela.

Dirigido pela dupla Greg Olliver e Wes Orshoski, o filme, elogiadíssimo pela crítica mundo afora, abrange todas as facetas do homem por trás do mito: o letrista, o colecionador (e profundo conhecedor) de artefatos bélicos, o viciado (em jogo, álcool e drogas – até hoje), o pai relutante (a mãe do seu filho é uma ex-groupie que perdeu a virgindade com John Lennon) e, por fim, a pessoa um tanto melancólica e solitária que ele acaba se revelando.

Resultado de três anos em que os diretores viveram grudados em Lemmy, o documentário vai fundo na história e na personalidade do homem, rastreando desde sua infância, passando pela juventude, bandas por que passou, amigos e por fim, sua vida atual, vivendo em um apartamento minúsculo, atulhado de bugingangas em Los Angeles.

Com quase duas horas, o filme apresenta dezenas de entrevistados ilustres, como o já citado Ozzy Osbourne, Mick Jones (Clash), Joan Jett, Slash, membros do Metallica, Anthrax, The Damned, Billy Bob Thornton, Steve Vai, Dave Navarro e até insuspeitos, como Jarvis Cocker (do clássico brit pop Pulp) e Peter Hook (New Order).

Os diretores conseguiram entrevistar até mesmo ex-membros dos The Rockin' Vickers e Hawkwind, as bandas que ele integrou antes de fundar o Motorhead, ainda menino.

Mas nenhum depoimento é tão significativo quanto o de Dave Grohl (Foo Fighters): “Dane-se Keith Richards e os caras que sobrevivem do que fizeram nos anos 1960, com seus jatinhos e supermodelos em hotéis cinco estrelas de Paris. Enquanto isso, sabe o que Lemmy está fazendo? Bebendo Jack & Coke e escrevendo outro álbum”, vocifera.

E está mesmo. Em diversas passagens, a câmera acompanha o dia a dia de Lemmy, que vai religiosamente todos os dias (menos quando está em turnê) a um bar a duas quadras de sua casa, aonde se senta sozinho para tomar seus drinques e jogar no caça-níqueis.

Mesmo sendo um ícone, os donos do bar garantem que ele é um cara acessível, que dá autógrafos e tira fotos com qualquer um que o aborde em seu canto.


Cheio de causos hilariantes e momentos tocantes, Lemmy, o filme, é um documento inesquecível sobre um ser humano incomum, alguém que já deveria estar morto há décadas.

Não a toa, Ozzy Osbourne, alguém que de fato entende do assunto, é quem melhor define Lemmy: “Ele é o homem de ferro”.

LEMMY - 49% MOTHERF**KER, 51% SON OF A BITCH / Documentário dirigido por Greg Olliver e Wes Orshoski / 116 minutos / Legendado / Não apresenta extras / Coqueiro Verde / R$ 24,90

terça-feira, setembro 06, 2011

THE BAGGIOS LANÇA DEBUT VIA VIGILANTE (DECKDISC) E FAZ QUATRO SHOWS DE LANÇAMENTO NA BAHIA

Dois caras, uma guitarra e uma bateria. A dupla sergipana The Baggios só precisa disso para fazer um dos melhores sets de rock ‘n’ roll brasileiro que se tem notícia na última década.

Com o auto-intitulado primeiro CD recém-lançado nacionalmente pelo selo Vigilante, da gravadora Deckdisc (a mesma de Pitty), Júlio Andrade (guitarra e voz) e Gabriel Carvalho (bateria) voltam à Bahia para uma série de três shows de lançamento (mais um de covers do White Stripes), antes de descer para o Sudeste.

“A gente gravou o disco em São Paulo, no começo de 2010”, conta Júlio. “No meio do ano, começamos a mixar em Aracaju. Foi um processo lento, feito aos poucos. Em dezembro de 2010, já tava pronto. Pouco depois, o Rafael Ramos (da Deckdisc) nos procurou e disse que queria lançar pelo selo dele”, detalha.

A demora até o lançamento do disco, em agosto, se deveu à “parte burocrática de selo, contrato, prensagem. Só na fábrica levou foi mais de um mês”, conta o guitarrista.

Gravado ao vivo no estúdio, o álbum captura com perfeição o som blues rock cru e porradão da dupla, uma abordagem moderna que alia tanto a influência clássica do Led Zeppelin, quanto a bandas contemporâneas, como (a recentemente extinta) White Stripes e Black Keys.

“Na gravação, ficamos eu e Gabriel em uma sala e os amplificadores em outra. A gente ouvia o que tocava no fone de ouvido”, detalha Júlio.

“Isso deixa o som mais isolado, mais fácil de mixar depois. Só a voz foi gravada separadamente. As participações com teclado e gaita foram gravados aqui em Aracaju”, acrescenta.

Como se sabe, a Deckdisc comprou a Polysom, última fábrica de discos de vinil do Brasil – o que levanta a hipótese do disco dos Baggios também sair em LP, a exemplo de Pitty, Matanza e outros contratados.

“Conversei com Rafael sobre isso, mas a possibilidade por enquanto tá descartada. É muito caro. Se rolar, deve ser só ano que vem. Tem que deixar o disco circular, fazer caixa”, conclui.

The Baggios / Etapa Bahia dos shows de lançamento do CD The Baggios (Deck / Vigilante) / Dia 6: Casa de Taipa (Camaçari) / Dia 7: San Domingo (Feira de Santana), com Acord, Clube de Patifes e Magdalene And The Rock And Roll Explosion. 17 horas, R$ 10 / Dia 9 (cover do White Stripes): Groove Bar, com Acord (cover dos Rolling Stones), 22 horas, R$30 ou R$20 (Lista Groove) / Dia 10: Ali do Lado Bar Musical, com Acord e Clube de Patifes, 21 horas, R$ 12 / Download gratuito do disco: www.thebaggios.com.br

NUETAS DA VÉSPERA DO 7 DE SETEMBRO

Les Royales no Pós

A banda de rockabilly Les Royales (dos Retrofoguetes Rex e Morotó) tocam hoje no Bar Póstudo, às 20 horas. No repertório, Eddie Cochran, Gene Vincent, Buddy Holly, Elvis Presley, Carl Perkins, Johnny Cash e outros menos cotados. R$ 10.

Candice & Ícaro

Também hoje, a dupla Candice Fiais e Ícaro Britto faz set de blues acústico no Balthazar Grill & Bar, às 21 horas. Livre na varanda, R$ 10 (salão) R$ 15 (mezanino).

Damm e FFM no PC

Véspera de feriado é assim mesmo: opção de reggae é o que não falta. No Portela Café, Damm & A Formidável Família Musical lançam, finalmente, seu primeiro álbum, Damm apresenta: Formidável Família Musical Estéreo, com um show completo. O disco poderá ser adquirido no local. Hoje, 22 horas, R$ 20 a entrada.

NUETA EXTRA DO SHOW DO BRANFORD MARSALIS QUARTET: VIRTUOSE E TUBERCULOSE

Uma plateia seleta, que não chegou a lotar o Teatro Castro Alves, foi brindada na noite de domingo com um show espetacular do saxofonista norte-americano Branford Marsalis e seu trio de acompanhamento (na foto de Adenor Gondim / Divulgação).

No repertório, peças de autoria própria e standards de Thelonious Monk e John Coltrane. Foi um show enxuto de arranjos espartanos, nos quais não parecia haver uma única nota sobrando ou fora de lugar.

Um tanto contido, Branford falou pouco, mas tocou muito. O baterista Justin Faulkner, um prodígio que parecia ter oito braços, maravilhou a plateia.

Só duas coisas incomodaram. A primeira foi um problema com o contrabaixo acústico, que teve de ser levado de volta à coxia por duas vezes, para os devidos acertos.

A segunda coisa foi o constrangedor surto de tuberculose que pareceu tomar parte da plateia durante quase toda a apresentação. Não houve um momento sequer em todo o show em que não havia alguém tossindo como um tuberculoso na plateia – o que foi bastante irritante, especialmente durante os números em que Branford e o pianista tiveram que segurar a onda sozinhos, devido ao já citado problema com o baixo.

A impressão que me deu é que o jazzista ia interromper o show a qualquer momento: "Peraí, mas que porra é esta? Só tem tuberculoso aqui na Bahia, é? Pára tudo que eu vou embora, não quero pegar essa merda, não"! Seria merecido....