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Hoje, o estilo experimenta uma certa visibilidade os quadrinhos. No Brasil, duas obras recentes o namoram com notável eficiência, ainda que com abordagens bem distintas: Mesmo Delivery (de 2009), de Rafael Grampá, e a recém-lançada A Balada de Johnny Furacão, de Sama, pseudônimo do quadrinista, ator e artista plástico mineiro Eduardo Filipe.
Inspirado em uma antiga canção de Erasmo Carlos, A História de Johnny Furacão ("Tudo pronto / não falta nada / só a vitória e o beijo da namorada"), Sama criou uma HQ que transcende o mero fetiche do road movie com ares rock 'n' roll e aborda um tema universal, o valor da amizade.
Os surpreendentes caminhos que ele toma para chegar até seu tema central, no entanto, é o que dá toda a graça da HQ. Há corridas em automóveis estilosos, vilões motoqueiros-clichê de filme americano, perseguições e tiroteio em alta velocidade, um elefante (!), sexo como punição e uma certa porção de magia e surrealismo (possivelmente, uma herança de Coração Selvagem, de David Lynch).
Veloz como o Porsche Spider que matou James Dean, a narrativa segue, de forma paralela, acompanhando diversos personagens aparentemente sem ligação, até faze-los convergir no ato final da história.
"O argumento original era uma historia de estrada, parti desta ideia. O que deixei em aberto foram os eventos que ocorriam no decorrer do livro", conta o autor em entrevista.
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Fã de um bom filme de estrada, como não poderia deixar de ser, ele aponta as mais diversas influências na sua obra, de Zabriskie Point (de Michelangelo Antonioni, 1970) a Christine O Carro Assassino (de John Carpenter, 1983), passando pelo "episódio da corrida alpina do Speed Racer" e contos de Ray Bradbury e até mesmo os baianos Raul Seixas, Camisa de Vênus e Retrofoguetes.
Não a toa, ele criou e postou no You Tube, com o auxílio técnico de Felipe Facini, um trailer animado com as imagens do livro, utilizando, como trilha sonora, a faixa Surf-O-Matic, um clássico do repertório dos Retrofoguetes. "Fui eu mesmo que escolhi a música dos Retrofoguetes. Escolhi pela identificação, pelo teor de aventura sugerida, pela crueza, pela textura e pelo aspecto referencial de uma época onde ainda havia misterio", elogia.
Bem relacionado, Sama tem entre os fãs do seu trabalho, o autor Selton Mello, que assina o texto da contracapa e é colecionador dos seus quadros, instalações, desenhos, pinturas e colagens.
Em 2004, Sama venceu o 15º Salão Carioca de Humor na categoria charge, com o polêmico trabalho Bradesco Bin Laden, um “ready made”, no qual adicionou dois aviões à logomarca do banco, transformando-a numa analogia ao atentado do 11 de Setembro.
Como ator, trabalhou em diversas novelas da Globo nos anos 1990, como A Próxima Vítima e A Viagem. No teatro, atuou em O Ateneu, Os 12 trabalhos de Hércules e Adoráveis Picaretas, esta de sua autoria. No cinema, protagonizou Era uma Vez, de Arturo Uranga e o média-metragem A Cartomante.
Com tantas atividades tão diversas entre si, não é de se espantar que tenha criado o pseudônimo "Sama" para abrigar sua porção quadrinista / artista visual.
"A persona do Sama me conecta mais facilmente a um mundo lúdico que habito quando crio. É uma senha que abre portas em locais estranhos que visito na minha mente. Locais que o Eduardo Filipe nem sempre gostaria de ir", revela o artista.
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A Balada de Johnny Furacão / 146 páginas / R$ 32 / Editora Flâneur
Um comentário:
Yeah! RED HOT RODS!!!
Voltou com tudo em Chicaço?!?
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